COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

EU PRECISO DE TRATAMENTO

ZERO HORA 24/04/2014 | 13h45

"Eles trocam qualquer coisa por crack, eu preciso de tratamento", diz assaltante amarrado em Florianópolis. Homem diz que é usuário de crack e que nunca havia entrado no estabelecimento que assaltou


"Fumei tudo o que tinha", diz usuário de crack que assaltou comércio na CapitalFoto: Guto Kuerten / Agencia RBS


O homem de 33 anos, detido e amarrado por moradores de Florianópolis após um assalto frustrado a uma cafeteria, nega ter cometido outros delitos no mesmo lugar, como afirma a proprietária. Embora tenha duas passagens por roubo e seis por furto, ele diz que nunca havia entrado no estabelecimento que assaltou na manhã desta quinta-feira, no bairro Capoeiras.

O assaltante teria fingido estar armado para roubar uma quantia de aproximadamente R$ 107 e algumas caixinhas de suco do estabelecimento, localizado na rua Najib Jabor. Quando a vítima gritou, seis comerciantes que também abriam lojas na região perceberam o que acontecia e renderam o homem.

Eles o amarram ao corrimão de uma escada e aguardaram a chegada dos policiais militares. A PM encaminhou o assaltante à 3ª Delegacia de Polícia, no Estreito.

— Dormi normalmente essa noite e, quando acordei, saí caminhando até chegar à cafeteria. Foi uma escolha aleatória — relata o detido.

O autor do assalto também nega que o valor roubado ultrapasse os R$ 10, como informaram a polícia e os proprietários da cafeteria. Indagado sobre o que faria com as caixinhas de suco, disse que pretendia vender para comprar crack:

— Eles trocam qualquer coisa pelo crack. Se faltar R$ 2 e você oferecer a camisa, eles compram.

Ele conta que é usuário de crack há cerca de oito meses e que, nesse período, perdeu trabalhos, vendeu um carro e saiu da casa da mãe, com quem morava.

— Fumei tudo o que tinha, cometi um erro e preciso de tratamento.

Pai de vítima não defende "justiceiros"

O pai da garota assaltada nesta quinta-feira participou da detenção do assaltante, mas não concorda com quem faz "justiça com as próprias mãos". Ele conta que o homem foi amarrado para evitar que fugisse, e não para humilhá-lo.

A corda usada estava no carro do pai da vítima. Na delegacia, os policiais constataram que o assaltante não apresenta sinais de agressão.

— Sozinho, eu não faria isso. Foi uma coisa de momento. Mas a Justiça solta as pessoas rapidamente, quem não se sente amedrontado hoje em dia? — questiona o pai.

A cafeteria existe desde janeiro de 2012 e já sofreu três assaltos e dois arrombamentos nesse tempo. A proprietária diz que está pensando em fechar o estabelecimento depois de ser assaltada novamente.


DIÁRIO CATARINENSE

quinta-feira, 24 de abril de 2014

DA TERRA DO CRACK AO CAMPO DE REFUGIADOS

O Estado de S.Paulo 24 de abril de 2014 | 2h 06


*Auro Danny Lescher 


Há décadas o paulistano tem se acostumado a conviver com um fenômeno bizarro: centenas de pessoas, homens, mulheres e crianças, descalças, cinzas e esfarrapadas habitando um território do tamanho de três quarteirões bem no coração da cidade. De longe se observa um amontoado de zumbis vagando a esmo, ciscando o chão na busca frenética por mais uma pedra de crack.

A droga, que se cheira, se pica, se ingere ou se fuma, é a maneira muitas vezes desesperada que o sujeito tem para alterar a sua percepção sobre o mundo (externo e interno). É, também, um potente anestésico que ameniza a dor de quem vive a memória de uma grande ruptura: os exilados, os imigrantes, os soldados no front, os loucos, os moradores de rua. Podemos até afirmar que, nessas situações extremas, o exílio químico passa a ser uma fórmula eficaz para tornar suportável o insuportável.

Psicologicamente, é muito oneroso para a consciência coletiva e para a de cada cidadão quando somos obrigados a nos adaptar, a tornar "natural" algo que sabemos ser bizarro. Porque todos nós, os paulistanos inseridos e produtivos e os que vivem fissurados na Cracolândia, temos sempre muita fome de dignidade.

Até dois anos atrás, a metodologia prioritariamente utilizada pelos governantes, seja na esfera municipal, na estadual ou na federal, para o enfrentamento desse complexo fenômeno social vinha sendo a da truculência policial, a repressiva. É claro que essa abordagem continua sendo necessária quando estamos a enfrentar o tráfico de drogas e o crime organizado. Mas ela é absolutamente ineficaz para a revitalização daquele território, como os anos têm demonstrado, exatamente porque nega a complexidade da situação.

O Projeto Quixote, do qual sou coordenador, está em campo há 18 anos ajudando crianças e jovens exilados no centro da cidade de São Paulo a estabelecerem novas conexões consigo mesmos e com a sua comunidade e sua família de origem, na maioria das vezes localizada nos municípios da região metropolitana de São Paulo. A palavra-chave da nossa metodologia é "mátria". Um neologismo do poeta argentino Ernesto Sábato. Ele falava que, das experiências demasiado humanas, a que mais o emocionava era a cena do imigrante exilado que, da popa do navio, vê a costa da sua pátria se distanciando, sem ao menos saber se algum dia voltará a reencontrá-la. Tão forte, não deveria se chamar Pátria, mas Mátria.

Em nosso trabalho, esse termo se refere aos inúmeros aspectos físicos e emocionais relacionados à comunidade e à família de origem da criança, mas também a outros aspectos, mais profundos, psicológicos, relacionados à própria construção da identidade.

A metodologia do rematriamento surge da constatação de que essas crianças e jovens nas ruas são refugiados urbanos, à espera de oportunidades de retorno às suas mátrias. Acompanhamos, às vezes por anos, cada um desses pequenos refugiados, tecendo, juntos, sua história atual e passada e os seus desejos futuros (uma espécie de autobiografia autorizada). Acompanhamos também as famílias na conexão com a rede local de atendimento: saúde, assistência social, educação, lazer e cultura.

A Cracolândia é um campo de refugiados informal. É de lá que os exilados gritam, têm lugar, têm visibilidade, saem na mídia, entram na agenda dos políticos e governos. Eles batem à porta do inferno para não sucumbirem às armadilhas que a idade da pedra lhes impõe - o lado primitivo da sociedade que não ousa mudar e o do sujeito, que, sentindo-se e sendo tratado como resíduo, se refugia no crack.

Desde o início do ano passado, algo diferente começou a aparecer: trabalhadores da área da saúde se juntaram aos heróis da assistência social. A agenda do enfrentamento ao crack passou a ser prioridade dos governos. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou uma pesquisa estimando em 370 mil o número de pessoas que fazem uso do crack no Brasil. Convenhamos, um ponto a mais para a complexidade do problema.

Há ainda muito que caminhar, sobretudo porque a área da saúde também tem a sua truculência. A internação compulsória tem-se mostrado ineficiente, porque, como vimos, o uso do crack na Cracolândia não se trata pura e simplesmente de uma questão de dependência química. Por isso me parece ingênuo o jogo pseudoideológico segundo o qual quem se põe a favor da internação compulsória é contrário à estratégia de redução de danos, e vice-versa. Sejamos coerentes, em vez de pensarmos em salas de uso protegido do crack (como ocorre na Holanda e em outros países), devemos pensar em salas humanitárias, um híbrido de Poupatempo com Cruz Vermelha.

O que estamos acompanhando neste início de ano com o programa Braços Abertos é uma novidade que merece ser celebrada. Oferecer perspectivas de dignidade aos exilados da Cracolândia (bolsa/trabalho, uniforme, comida do Bom Prato, habitação em hotéis da região, etc.) é a metodologia mais eficaz. Trata-se de uma abordagem que poderíamos chamar de humanitária.

Os habitantes da terra do crack não são toxicômanos irreversíveis, mas pessoas que buscam no exílio a afirmação de sua vida e algum retorno às suas mátrias.

Temos a saudável tendência natural de aceitar como verdadeiro aquilo que pode ser enunciado. Trata-se do reencontro tenso e intenso de alguém consigo mesmo, e ser o narrador da própria história é vital para se sentir razoavelmente confortável dentro do próprio corpo. De corpo e alma. Esse reencontro tem que ver com o amor próprio, mãe e pai de todos os amores. Uma boa tradução para a palavra dignidade. Matéria-prima para a narrativa do sujeito, como ser autônomo, único, absolutamente singular, que se tece com uma linha que não separa, aliena nem esquarteja, mas alinhava, define e protege.


*PSICOTERAPEUTA, PSIQUIATRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, É COORDENADOR DO
PROJETO QUIXOTE

segunda-feira, 7 de abril de 2014

EMPRESÁRIO DE JOGADOR E CHEFE DO TRÁFICO

Do G1 Santos 07/04/2014 12h04

Empresário de jogadores é suspeito de chefiar quadrilha de tráfico. Operação da PF prendeu 20 pessoas que atuavam no Porto de Santos. Empresa de agente afirma que está à disposição das autoridades.





O empresário de jogadores de futebol Ângelo Marcos da Silva é suspeito de comandar uma quadrilha de tráfico internacional de drogas que atuava no Porto de Santos, no litoral de São Paulo. Uma operação da Polícia Federal ocorrida na última semana já prendeu 20 pessoas, mas outras 11 continuam foragidas, de acordo com reportagem exibida pelo Bom Dia Brasil desta segunda-feira (7).

Empresário de jogadores é suspeito de comandar
quadrilha de tráfico (Foto: Reprodução/TV Globo)

De acordo com a Polícia Federal (PF), o empresário era coordenador da quadrilha. Ele fazia contatos com fornecedores de cocaína e controlava a qualidade da droga. A PF monitorou mensagens do empresário – que já está preso – com outros membros do grupo, o que comprovaria a participação de Silva no esquema responsável por levar cocaína para o exterior.

Em uma dessas gravações, Silva combina com um comparsa a compra de um carregamento de droga. O empresário fala para o rapaz mandar uma foto, e o outro obedece. A cocaína vinha desenhada, como uma espécie de código. "Essa é uma forma de eles identificarem a qual organização pertence aquela droga que está sendo encaminhada e exportada para fora do Brasil", explica o delegado da Polícia Federal Reinaldo Campos Sperandio.

O empresário é sócio da empresa Plus Sports e Marketing Ltda, responsável pela carreira dos jogadores Luciano, do Corinthians, e Negueba, do Flamengo. As investigações, porém, não apontam elo entre o agenciamento dos atletas e o tráfico de drogas.

Silva foi policial militar durante cinco anos. Ele trabalhou no 2° Batalhão de Choque de São Paulo e foi expulso em 1997 por roubo. Em outubro do ano passado, virou sócio da empresa Plus Sports, que gerencia a carreira de jogadores de futebol. A Polícia Federal acredita que parte do dinheiro usado na compra da sociedade veio do lucro que a quadrilha tinha com o tráfico de drogas no Porto de Santos. Ainda segundo a PF, um barco no valor de R$ 5 milhões foi comprado com o dinheiro da cocaína. As investigações também se concentram em outros bens, como casas e empresas, para saber se eles foram comprados ou não com a venda de drogas.

Em nota, a Plus Sports afirma que está à disposição das autoridades para ajudar nas investigações e que os jogadores não vão se pronunciar sobre o assunto. Ainda segundo a empresa, o advogado de Silva não quer gravar entrevista.


Também por meio de nota, o Flamengo informou que a contratação de Negueba não foi negociada com o empresário preso, e sim com o advogado do jogador. Já o Corinthians não quis se pronunciar sobre o caso.

Operação
Na última segunda-feira (31), a Polícia Federal (PF) cumpriu 46 mandados de prisão e 80 mandados de busca e apreensão para desarticular quadrilhas que fazem tráfico internacional de drogas utilizando o Porto de Santos como acesso para o exterior.

Além dos presos, foram apreendidos mais de 3,7 toneladas de cocaína, 230 mil euros (R$ 721 mil) em dinheiro, 10 veículos, uma lancha, 19 armas curtas e dois fuzis. Segundo a PF, essa foi uma das maiores apreensões da história do Porto de Santos. As operações Hulk e Oversea começaram em maio do ano passado, e o total de cocaína divulgado é a soma da quantidade da droga apreendida nesse período, somando-se todas as operações.

Segundo a Polícia Federal, a quadrilha usava contêineres para transportar cocaína pura do Porto de Santos para a Europa, África e Cuba. Ainda de acordo com a PF, a droga era colocada em mochilas e sacolas, que eram inseridas nos contêineres por funcionários particulares, sem o conhecimento dos donos das cargas ou dos navios. A droga seguia junto com um lacre clonado. No local de destino, membros da organização criminosa rompiam os lacres, recuperavam a cocaína e colocavam os lacres clonados, para não provocar suspeitas.

Segundo os delegados Reinaldo Sperandio e Ivo Roberto, responsáveis pela divulgação da operação, as investigações começaram em maio de 2013. "Não havia facilitação. Eles tinham um esquema. De qualquer forma, nossa investigação apontou que não havia participação de funcionários dos terminais portuários no esquema", diz Sperandio.

Ainda de acordo com Sperandio, a quadrilha também tem participação em vários crimes na cidade de São Paulo. "No último ano, foram apreendidas 4 toneladas de cocaína. Essa é a maior dos últimos tempos, mas ainda vamos levantar para ver se existiram outras dessas. Tivemos prisões na Baixada Santista, em São Paulo e em Mato Grosso do Sul", afirma o delegado.
Policia Federal apreendeu grande quantia em dinheiro (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
Corrente de ouro foi apreendida durante operação (Foto: Divulgação/Polícia Federal)

Quase 4 toneladas de cocaína foram apreendidas (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
No total, foram apreendidas 3,7 toneladas de cocaína (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
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