COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A DERROTA DO BRASIL PARA O CRACK

Visca 

FOLHA.COM 30/12/2013 - 03h00

Antônio Geraldo da Silva



Neste mês, o programa Crack, É Possível Vencer, do governo federal, completou dois anos. No entanto, infelizmente, a vitória não é uma realidade. Nem mesmo está próxima.

O ministro da Justiça disse que o programa foi o segundo em verbas aplicadas pela pasta da qual é titular. A afirmação é assustadora, pois dos R$ 4 bilhões prometidos para o combate ao crack, apenas R$ 368 milhões foram de fato empregados.

Recente pesquisa da Universidade Federal de São Paulo estima em 2,8 milhões de usuários de crack em todo o país. Esse número dobra a cada dois anos.

Afinal, como as autoridades estão enfrentando esta que já é a mais grave epidemia da história recente do Brasil? Trata-se de uma derrota em três frentes: política, estratégica e de saúde pública.

Política porque, segundo deputados da base aliada da presidente Dilma Rousseff, apesar de o assunto ser uma prioridade, há resistência interna dentro do próprio governo que ela lidera.

O segundo escalão do Ministério da Saúde é contra o programa Crack, É Possível Vencer, inclusive defendendo a liberação das drogas. No Ministério da Justiça, dois secretários tiveram que deixar suas funções depois de declarações desastrosas acerca do assunto. Uma torre de Babel: há uma corrente ideológica ligada ao governo que defende o contrário do que a presidente fala.

Se a articulação política é uma questão grave, a estratégia de proteção de fronteiras é ainda mais urgente. O Brasil não planta uma única folha de coca. Como então temos tanta droga circulando no país?

Depois que Evo Morales –pasme, presidente da Confederação dos Cocaleiros– assumiu a Presidência da Bolívia, a área plantada de coca aumentou quatro vezes, totalizando quase 50 mil hectares. Sua política de liberar o plantio por lá criou um pico do consumo do crack por aqui.

Além disso, o Uruguai acaba de legalizar a maconha, sem ninguém ter certeza de como isso impactará na saúde e na segurança do país e, em última instância, do continente. A maconha não é uma droga simples. É uma bomba de aditivos e componentes químicos que causam comprovados transtornos mentais.

Outros países que fizeram movimentos semelhantes foram obrigados a recuar. A Suécia, por exemplo, é o país que mais reprime o uso de drogas e conseguiu eliminar a tempo a epidemia de crack que tomou conta do país logo após a malsucedida legalização das drogas.

O terceiro escorregão do governo ocorre no terreno da saúde pública. A educação é capenga. A Universidade de Michigan fez um estudo com a duração de 35 anos sobre o consumo de maconha nos Estados Unidos. Nesse período, notaram que quanto maior a percepção do risco, menor o consumo. Ou seja, informação é fator primordial. Quando há informação cruzada –de que a maconha não faz mal–, aumenta o consumo e os números de dependentes.

Cerca de 37% dos jovens que usam maconha ficam viciados. É uma loteria cruel, especialmente com essa faixa etária, ainda não madura o suficiente para ter a dimensão das consequências dos seus atos. E que não tem acesso às informações das verdadeiras ações deletérias dessa droga maldita.

Há uma incompreensão de que a dependência química é de altíssima complexidade. Enquanto o tratamento da dependência de crack no sistema privado é digno e obtém boa resposta, o dependente pobre está entregue à própria sorte ao despreparo da maioria dos serviços disponíveis na rede pública.

O governo reconhece que ainda não entendeu o problema do crack. A política pública não pode ser só internação compulsória, pois parece apenas a preocupação em "limpar as ruas". Qual é a consequência do tratamento? O que fazer com esses dependentes depois da internação? Como reinseri-los na sociedade de forma produtiva? Quais as diretrizes de tratamento?

A Associação Brasileira de Psiquiatria já se colocou e se coloca à disposição do governo federal para esclarecer dúvidas e colaborar nas diretrizes a serem seguidas. Até agora, nada. Devem saber o que estão fazendo.

A única constatação possível é que o Brasil enxuga gelo quando o assunto é o combate ao crack e outras drogas.

ANTONIO GERALDO DA SILVA
, 50, é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA


23 de dezembro de 2013 | 2h 06


CARLOS ALBERTO DI FRANCO - O Estado de S.Paulo



O Uruguai, que já permitia o consumo de maconha, legalizou a produção e a venda da droga. A nova lei foi aprovada no Senado por 16 votos a 13 e deverá entrar em vigor no primeiro semestre de 2014. Pela nova legislação, os uruguaios e estrangeiros que residem no país e têm mais de 18 anos poderão comprar até 40 gramas da erva por mês em farmácias credenciadas pelo governo. Os defensores da liberação, armados de uma ingenuidade cortante, acreditam que a legalização reduzirá a ação dos traficantes. Mas ocultam uma premissa essencial no terrível silogismo da dependência química: a compulsividade. O usuário, por óbvio, não ficará no limite legal. O tráfico, infelizmente, não vai desaparecer.

A psiquiatra mexicana Nora Volkow é uma referência na pesquisa da dependência química no mundo. Foi quem primeiro usou a tomografia para comprovar as consequências do uso de drogas no cérebro. Desde 2003 na direção do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow é uma voz respeitada. No momento em que recrudesce a campanha para a descriminalização das drogas, suas palavras são uma forte estocada nos argumentos politicamente corretos.

A cientista foi entrevistada pela revista Veja, em março de 2010. A revista trouxe à baila um crime que chocou a sociedade. O cartunista Glauco Villas Boas e seu filho foram mortos por um jovem com sintomas de esquizofrenia e que usava constantemente maconha e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um chá conhecido como Santo Daime. "Que efeito essas drogas têm sobre um cérebro esquizofrênico?" A resposta foi clara e direta: "Portadores de esquizofrenia têm propensão à paranoia, e tanto a maconha quanto a DMT (presente no chá do Santo Daime) agravam esse sintoma, além de aumentarem a profundidade e a frequência das alucinações. Drogas que produzem psicoses por si próprias, como metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta e veloz", sublinhou a pesquisadora.

Quer dizer, a descriminalização das drogas facilitaria o consumo das substâncias. Aplainado o caminho de acesso às drogas, os portadores de esquizofrenia teriam, em princípio, maior probabilidade de surtar e, consequentemente, de praticar crimes e ações antissociais. Ao que tudo indica, foi o que aconteceu com o jovem assassino do cartunista. A suposição, muito razoável, é um tiro de morte no discurso da ingenuidade.

Além disso, a maconha, droga glamourizada pelos defensores da descriminalização, é frequentemente a porta de entrada para outras drogas. "Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva", diz Nora Volkow. "Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes." Pode, efetivamente, causar ansiedade, perda de memória, depressão e surtos psicóticos. Não dá para entender, portanto, o recorrente empenho de descriminalização. Também não serve o falso argumento de que é preciso evitar a punição do usuário. Nenhum juiz, hoje em dia, determina a prisão de um jovem por usar maconha. A prisão, quando ocorre, está ligada à prática de delitos que derivam da dependência química: roubo, furto, pequeno tráfico, etc. Na maioria dos casos, de acordo com a Lei n.º 9.099/95, há aplicação de penas alternativas, tais como prestação de serviços à comunidade e eventuais multas no caso de réu primário.

Caso adotássemos os princípios defendidos pelos lobistas da liberação, o Brasil estaria entrando, com o costumeiro atraso, na canoa furada da experiência europeia. Todos, menos os ingênuos, sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. É raro encontrar um consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante, mas que muito cedo se transforma em dependente crônico. Afinal, a compulsão é a principal característica do adicto. Um cigarro da "inofensiva" maconha preconizada pelos arautos da liberação pode ser o passaporte para uma overdose de cocaína. Não estou falando de teorias, mas da realidade cotidiana e dramática de muitos dependentes. Transcrevo, caro leitor, o depoimento de um dependente químico. Ele fala com a experiência de quem esteve no fundo do poço.

"Sou filho único. Talvez porque meus pais não pudessem ter outros filhos, me cercavam de mimos e realizavam todas as minhas vontades. Aos 12 anos comecei a fumar maconha, aos 17 comecei a cheirar cocaína. E perdi o controle. Fiz um tratamento psiquiátrico, fiquei nove meses tomando medicamentos e voltei a fumar maconha. Nessa época, já cursava medicina e convenci os meus pais de que a maconha fazia menos mal que o cigarro comum. Meus argumentos estavam alicerçados em literatura e publicações científicas. Eles mal sabiam que estavam sendo enganados, pois, além de cheirar, também passei a injetar cocaína e dolantina, que é um opiáceo. Sofri uma overdose e só não morri porque estava dentro de um hospital, que é o meu local de trabalho. Após essa fatalidade, decidi me internar numa comunidade terapêutica e, hoje, graças a Deus, estou sóbrio. O uso moderado de maconha sempre acabava nas drogas injetáveis. Somente a sobriedade total, inclusive do álcool, me devolveu a qualidade de vida que não pretendo trocar nem por uma simples cerveja ou uma dose de uísque." A.S.N., médico de Ribeirão Preto (SP), é ex-interno da Comunidade Terapêutica Horto de Deus (www.hortodedeus.org.br).

As drogas estão matando a juventude. A dependência química não admite discursos ingênuos, mas ações firmes e investimentos na prevenção e na recuperação de dependentes. A todos, um feliz Natal!


DOUTOR EM COMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE DE NAVARRA, É DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR

CRACOLÂNDIA À LUZ DO DIA. MORADORES PEDEM SOCORRO!


Cracolândia à luz do dia em plena Zona Sul de Niterói. Praça do Vital Brazil é tomada por consumidores de drogas, e moradores do entorno pedem socorro

ISABEL DE ARAUJO
RENATO ONOFRE
O GLOBO:23/12/13 - 6h00

Adolescente consome crack na Praça Vital Brazil, na Zona Sul de Niterói Agência O Globo / Eduardo Naddar


NITERÓI - Agachada num canto da Praça do Vital Brazil, uma menina que aparenta ter 10 anos mantém a cabeça erguida e os olhos atentos à movimentação da rua. Enquanto ela observa o vaivém de veículos e pedestres, suas mãos esfarelam rapidamente pequenas pedras dentro de um cachimbo improvisado num copo de plástico. Ao terminar o preparo do crack, acende um isqueiro e, segundos depois, já dá sinais de que está drogada. A cena foi registrada na última quarta-feira, pouco depois das 16h.

A praça, que fica em frente ao Instituto Vital Brazil, virou a nova cracolândia de Niterói. O corpo franzino e a aparência subnutrida passam a impressão que estamos diante de uma menina, mas, na verdade, ela é uma adolescente de 14 anos. As roupas largas, masculinas, também atrapalham a identificá-la como tal. Mas quem reside na região já a conhece bem, pois se acostumou a vê-la todos os dias consumindo drogas no local com outros moradores de rua.

Cerca de dez pessoas vivem na praça, incluindo a adolescente e o pai dela. Moradores de casas do entorno contam que a área de lazer está abandonada desde o começo do ano: não é cuidada por equipes de limpeza nem conta com policiamento, apesar de denúncias de tráfico de drogas terem sido feitas à PM. No local, ainda são vendidos produtos que, segundo algumas pessoas, foram roubados de pedestres em Icaraí e no Centro.

— Eu morava no Morro da Coruja com meu pai, mas viemos para a praça no começo do ano. Fico aqui mais para dormir. Passa gente toda hora, não gosto disso — contou a adolescente, que preferiu não falar sobre o consumo de drogas.

Quando O GLOBO-Niterói foi à praça para checar informações passadas por moradores do Vital Brazil, não encontrou apenas a jovem fumando crack em plena luz do dia: flagrou também um casal consumindo a droga e se deparou com uma mulher que tentava resgatar a filha. Ela implorava, em vão, para uma jovem ruiva de 19 anos acompanhá-la na volta para casa.

A jovem, visivelmente sob efeito de drogas, cambaleava e parecia não reconhecer a mãe nem ouvir seus suplícios.

— Minha filha estudava numa escola particular, tinha o sonho de trabalhar na área cultural. Ela sempre fez balé e cursos de teatro. Era uma menina linda e amorosa, com planos e sonhos. Hoje, não sabe quem eu sou. Não sei dizer qual droga começou a usar nem a idade que tinha quando fez isso. Só quero que volte logo para casa, já faz um ano que ela vive nessa praça — disse, emocionada, a mulher, que mora em Santa Rosa.

Os apelos feitos pela mãe desolada ganharam o inesperado apoio de um outro viciado que vive na praça. Visivelmente abaixo do peso ideal, um rapaz mulato, que aparenta ter 17 anos e mede menos de 1,60 metro, chegou perto da jovem com uma postura de dono do pedaço. É o chefe da boca de fumo da área, de acordo com moradores do Vital Brazil. Usa um colar dourado com um pingente no formato de uma metralhadora e nunca fala baixo. Adotou um tom imperativo ao se dirigir à moça.

— Você tem que respeitar sua mãe — disse ele. — Prefere morar para sempre aqui, na cracolândia? — questionou, sendo ignorado pela jovem, que se limitou a resmungar.

Sentindo-se vulneráveis, moradores de prédios e casas do entorno da praça afirmaram que deram vários telefonemas para a polícia e a prefeitura, pedindo uma solução.

— Presenciamos brigas constantes entre os moradores de rua e tememos virar alvos de atos de violência — afirma um dos vizinhos da praça, pedindo anonimato.

Adesão a programa federal “Crack, é possível vencer” é criticada e anda a passos lentos na cidade

Os programas para tratamento de usuários de drogas, principalmente crack, estão sendo conduzidos a passos lentos, relatam profissionais das áreas de saúde mental e assistência social de Niterói. Porém, a prefeitura nega, e afirma que ações contra o uso de entorpecentes se intensificaram após a adesão da cidade ao programa federal “Crack — É possível vencer”.

Serviços prestados nos últimos dez anos, como o Consultório de Rua e o trabalho de agentes comunitários em áreas críticas de consumo da drogas, entraram em fase de restruturação e, de acordo com denúncias, estão praticamente parados. Há relatos de que o Centro de Assistência Psicossocial em Álcool e outras Drogas do Fonseca enfrenta uma constante falta de equipamentos e insumos.

— A adesão, em junho, ao programa federal era necessária devido à possibilidade de a cidade receber mais investimentos, mas está representando o fim de serviços — afirmou um médico da área de saúde mental, que pediu para não ser identificado.

Para a secretária-executiva da prefeitura, Maria Célia Vasconcellos, as reclamações de profissionais da rede não correspondem à realidade do trabalho em curso na cidade. Ela destaca que, no próximo mês, será inaugurada uma casa de acolhimento para usuários de crack, com capacidade para atender dez pessoas. Também em janeiro, a equipe da Guarda Municipal que atua no “Crack — É possível vencer” deverá receber do governo federal um ônibus e duas motos.

— A implantação do programa está em curso. Não há atrasos ou paralisações dos serviços. O que houve foi uma aglutinação de esforços entre as secretarias e uma reorganização de ações por regiões. O Consultório de Rua, por exemplo, era um projeto exclusivo de profissionais de saúde e passou a contar com agentes de assistência social e da Guarda Municipal — disse Maria Célia.

Ainda segundo a secretária, haverá a implantação de três Centros de Apoio Psicossocial (CAPs), sendo um deles voltado para crianças e adolescentes, uma Unidade de Acolhimento Adulto (UAA), uma Unidade de Acolhimento Infantojuvenil (UAI) e um Centro de Referência Especializado de Assistência Social. No entanto, não há prazos definidos para essas iniciativas.

Maria Célia e o comandante do 12º BPM (Niterói), tenente-coronel Gilson Chagas, disseram que têm conhecimento da situação da Praça do Vital Brazil e afirmaram que preparam ações conjuntas no local.

— Participei de reuniões com a prefeitura para estruturarmos estratégias. Para o recolhimento dos viciados, é preciso o apoio da PM, pois alguns reagem com violência — afirmou Chagas.

Segundo Maria Célia, depois da ocupação policial no Morro do Palácio, no Ingá, houve uma migração de usuários de crack que viviam na comunidade.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NÃO LEGALIZAR. SIM ENFRENTAR

ZERO HORA 19 de dezembro de 2013 | N° 17649

ARTIGOS

Osmar Terra*


É comovente o esforço dos que propõem a liberação das drogas em travestir de novidade a patética tentativa do governo uruguaio de liberar a maconha. Não existe novidade! Todos os países do mundo, hoje, proíbem as drogas aqui ilícitas porque aprenderam, com muito sofrimento ao longo de suas histórias, que a liberação é devastadora para o convívio em sociedade. Japão, Suécia e China entre outros, passaram pela experiência de liberação, voltaram atrás pelas tragédias sociais causadas e hoje reprimem com muito rigor.

O transtorno mental que as drogas causam é a raiz do mal do tráfico e de todos os problemas sociais e de violência ligados a elas, e não o contrário. A violência do pai que incendeia os filhos, do filho que mata os pais a facadas, do marido que mata a mulher a pancadas é a mais frequente, e não é causada pelo narcotráfico. É fruto do transtorno mental e aumentará com a liberação.

Também beira o ridículo a desculpa do governo uruguaio de que age assim para acabar com a violência do tráfico. O tráfico continuará além dos limites estabelecidos para as cotas de maconha, e o aumento do seu consumo aumentará o consumo de outras drogas ilícitas, que continuarão proibidas e ainda muito mais traficadas. Não existem estudos sérios avalizando o que o Uruguai está fazendo. A declaração do presidente uruguaio na Zero Hora do dia 16/12 talvez explique seus verdadeiros motivos. Diz que não é um velho careta e ataca os “velhos reacionários” (referindo-se aos críticos da liberação) “que já não se apaixonam por garotas”! Quem sabe aí pode estar uma explicação “baseada em evidências”! Tenho pena da juventude uruguaia e brasileira, particularmente da fronteira gaúcha, que será muito mais vitimada pelas drogas.

No Brasil, ainda, estamos em plena epidemia do crack, turbinada pelo plantio livre de coca na vizinha Bolívia. Essa é a causa verdadeira do aumento astronômico e rápido de drogas nas ruas e do número de traficantes soltos e presos.

O Japão, para enfrentar a epidemia da metanfetamina nos anos 40 e 50, prendeu, num único ano, 56 mil pessoas acusadas de tráfico. Quatro anos depois, só 271. A epidemia havia sido cortada.

Drogas, um Código Penal frouxo e o sistema penitenciário em ruínas são as causas imediatas da terrível situação do Brasil como recordista mundial de homicídios e acidentes fatais. É um ciclo vicioso no qual as prisões, em condições deploráveis, justificam um afrouxamento das penas e a volta rápida de criminosos para a rua. E a maior parte dos crimes violentos é cometida por reincidentes.

Ou enfrentamos isso como uma prioridade, tirando a maior quantidade possível de drogas e traficantes das ruas, aumentando o rigor das penas contra crimes violentos e melhorando e ampliando nosso sistema penitenciário, ou ficaremos cada vez mais chorando os brasileiros inocentes, mortos pela nossa omissão!


*DEPUTADO FEDERAL (PMDB-RS)

domingo, 15 de dezembro de 2013

EFEITOS DEVASTADORES DA DROGA KROKODIL

NOTÍCIAS DA TERRA, DEZ/2013


Vídeo postado no You Tube mostra uma mulher sob os efeitos devastadores da drogaKrokodil, também conhecido como a "substância dos zumbis", em razão do comportamento habitual de seu usuários.

Apesar de conter cenas fortes resolvemos mostrar este vídeo para que sirva de alerta para aqueles que pensam em usar essa maldita droga. NÃO USE, É UM CAMINHO SEM VOLTA!

Krokodil é uma droga russa fabricada a partir da desomorfina. O nome vem de uma das consequências mais comuns ao uso, uma vez que a pele da pessoa passa a ter um tom esverdeado e cheia de escamas, como a de um crocodilo.

Krokodil é um substituto para uma droga de alto valor, a heroína. O princípio ativo doKrokodil, é a “desomorphine” que é vendida em alguns países da Europa (especialmente na Suiça) como substituto da morfina e é conhecida pela farmacologia desde 1932. A desomorphine é de 8 a 10 vezes mais potente do que a morfina. Trata-se de um opiáceo sintético que possui estrutura quase idêntica à da heroína.

A primeira aparição desta droga foi na Sibéria, em 1992. Seu consumo tem aumentado cada vez mais pois ela é uma alternativa barata quando comparada à heroína.

Seus efeitos colaterais são bizarros. Ela causa necrose no local onde é aplicada, expondo ossos e músculos. Casos de viciados precisando de amputação ou da limpeza de grandes áreas apodrecidas em seus corpos são cada vez mais comuns.

Largá-la é uma tarefa extremamente difícil. A desintoxicação é muito lenta e o usuário sente náuseas e dores por até um mês.

A Codeína, um narcótico disseminado pelo mundo inteiro e de fácil acesso pode ser transformado em desomorphine com algumas reações químicas relativamente baratas. Ela então é dissolvida e injetada pelo utilizador. Considerando que a heroína custa 150 dólares cada dose e o Krokodil pode ser obtido por menos de 10 dólares fica fácil entender a razão de sua existência.

Veja o vídeo (CENAS FORTES, RECOMENDAMOS CAUTELA):



Fonte: RT

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

EXPERIÊNCIA DESAFIADORA

ZERO HORA 12 de dezembro de 2013 | N° 17642


EDITORIAIS



Ao se tornar o primeiro país do mundo a legalizar a comercialização da maconha, o Uruguai se prepara para pôr em prática a polêmica tese defendida por alguns líderes mundiais: a de que essa é uma fórmula capaz de enfraquecer o narcotráfico, já que parece impossível eliminar o consumo. Políticas repressivas por parte do poder público, como as adotadas na imensa maioria dos países, de fato, têm se mostrado ineficazes. A dúvida, porém, é se o mesmo Estado que se mostra ineficaz para coibir um comércio diretamente associado ao crime organizado será capaz de fazer uma regulação com um mínimo de eficiência. E há ainda o risco de, na tentativa de combater o crime, a ousadia uruguaia acabar estimulando o consumo da droga, que pode até proporcionar prazer para os usuários, mas impõe danos comprovados à saúde.

Defensor da iniciativa, que, depois de aprovada pela Câmara, passou agora pelo Congresso e só depende de sua sanção para entrar em vigor, o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, deixou claro que não se trata de “um viva ao baseado”. É apenas uma tentativa de enfraquecer o narcotraficante. A ideia é garantir que cidadãos uruguaios ou residentes no país com mais de 18 anos possam comprar até 40 gramas de erva por mês, cultivá-la em casa ou em clubes específicos. Ainda na véspera da votação, porém, o próprio presidente lembrou que persistem muitas dúvidas, mas que elas não devem impedir a busca de “novos caminhos” para o enfrentamento do desafio.

Algumas tentativas semelhantes, vale lembrar, resultaram em incentivo ao consumo, levando países que adotaram legislações mais liberais a voltarem atrás, como ocorreu na Inglaterra. Mesmo em Estados norte-americanos como Colorado e Washington, nos quais foram postas em prática medidas similares às previstas para o Uruguai, com punições rigorosas para infratores, sobram relatos de burlas como a de adultos adquirindo a droga para o consumo de adolescentes. Prova de que não basta o rigor da lei se o poder público não tiver condições de fiscalizar adequadamente sua aplicação.

Diante do quadro atual de disseminação de drogas e de domínio do tráfico em algumas áreas do continente, a iniciativa uruguaia merece atenção e acompanhamento dos países, especialmente do Brasil. Mas não pode servir para mascarar verdades comprovadas pela ciência, entre as quais a de que a maconha é uma substância nociva à saúde e causadora de degradação física e moral, já que muitas vezes gera dependência e abre caminho para drogas mais pesadas. Ainda assim, a experiência precisa ser vista sem preconceito, porque seu principal propósito é combater um mal maior, que é a criminalidade resultante do comércio clandestino. Porém, se não alcançar os resultados pretendidos, deve ser revogada com a mesma coragem e a mesma ousadia que demonstraram agora os dirigentes políticos do país.

A legalização da maconha no Uruguai precisa ser vista sem preconceito, pois seu principal propósito é combater a criminalidade.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

SENADO DO URUGUAI LEGALIZA A MACONHA


ZERO HORA 11 de dezembro de 2013 | N° 17641

O DIA DO SIM. Parlamento aprova lei que regulamenta produção e comércio da Cannabis


O Uruguai, que já permitia o consumo de maconha, tornou-se o primeiro país a legalizar a produção e venda da droga. A nova lei foi aprovada ontem à noite, no Senado, por 16 votos a 13 e deverá entrar em vigor no primeiro semestre de 2014.

Em alguns dias, o presidente José Mujica deve sancioná-la. O mandatário repetiu ao longo do ano que a legalização era a única maneira de combater o tráfico de droga no país. Em julho, o projeto de lei havia sido aprovado na Câmara de Deputados por 50 votos a 46.

Pela nova legislação, os uruguaios e estrangeiros que residem no país e têm mais de 18 anos poderão comprar até 40 gramas da erva por mês em farmácias credenciadas. Para isso, o consumidor terá de se registrar – mas sua identidade fica preservada pela lei de proteção de dados.

O grama da maconha será vendido inicialmente a US$ 1 (R$ 2,31), mesmo preço praticado no mercado negro, segundo Julio Calzada, secretário-geral da Junta Nacional de Droga do país. O fornecimento da erva ficará a cargo de empresas ou clubes registrados junto às autoridades, com o limite de produção de 20 a 22 toneladas por ano.

O cultivo de Cannabis também fica liberado em casa, com o máximo de seis plantas, e em associações ou clubes que tenham de 14 a 45 membros. O cidadão que for pego plantando maconha sem autorização pode ser condenado a até 10 anos de prisão.

A lei proíbe o fumo em locais públicos fechados, assim como o cigarro, e não permite que o cidadão dirija sob o efeito da droga. Também estão vetados anúncios promovendo a substância. O governo uruguaio terá de se encarregar de ampliar a campanha de prevenção às drogas, alertando a população sobre seus efeitos.

Enquanto ocorria a votação, o presidente José Mujica falou à emissora Canal 4 sobre a regulamentação da maconha. Para Mujica, sobre o projeto “existe muita dúvida e a dúvida é legítima”, mas “não pode impedir que se ensaiem novos caminhos ante um problema que preocupa”:

– Vamos ser graduais e muito observadores da realidade. Quem disse que o tabaco é bom? E, mesmo assim, as pessoas fumam.

Mujica ressaltou que a medida “não é bonita”, mas que o governo não quer deixar os dependentes à mercê do narcotráfico.


G1 31/07/2013 23h47 - Atualizado em 01/08/2013 12h12

Câmara do Uruguai aprova a legalização da venda da maconha. Projeto, inédito e apoiado pelo presidente, agora vai ser enviado ao Senado.. Texto prevê criação de órgão estatal para gerenciar a cannabis.
Do G1, em São Paulo

Na Câmara, deputados aprovam a legalização da venda da maconha. (Foto: Miguel Roho/AFP)

A Câmara do Uruguai aprovou na noite desta quarta-feira (31) a legalização e a regulamentação da venda da maconha.

Agora, o projeto segue para o Senado.

Se aprovado, o que deve ocorrer, o país vai se tornar o primeiro do mundo a adotar tal medida.

O projeto, apoiado pelo presidente esquerdista José Mujica, prevê a criação de um órgão do governo para realizar o controle do Estado sobre a importação, o plantio, o cultivo, a colheita, a produção, a aquisição, o armazenamento, a comercialização e a distribuição da maconha e seus derivados.

A legislação prevê a criação de um Instituto Nacional de Cannabis para controlar a produção e distribuição da droga, impor sanções aos infratores e formular políticas educacionais para alertar sobre os riscos do uso de maconha.

Após o devido registro, os usuários poderão comprar até 40 gramas mensais de maconha nas farmácias, mas também será permitido o cultivo para consumo próprio ou em clubes de fumantes.

O polêmico projeto é rejeitado por 63% da população, segundo recente pesquisa do instituto Cifra.

Em outros países, como Holanda, Espanha e alguns estados dos Estados Unidos, é permitida apenas a produção, o cultivo em clubes ou o consumo com restrições de maconha, de acordo com os casos.

O texto foi aprovado após mais de 13 horas de caloroso debate, com 50 votos a favor e 46 contra, graças ao partido governista Frente Ampla (FA), que conseguiu impor uma maioria suficiente na Casa, impedindo a oposição de bloquear a proposta.

Como o governo tem uma maioria confortável no Senado, a expectativa agora é de uma aprovação fácil.
Câmara do Uruguai aprova legalização da venda
da maconha (Foto: Pablo Bielli/AFP)

O projeto uruguaio foi lançado em junho de 2012 ,como parte de uma série de medidas para combater o aumento da violência.

Mujica, ex-guerrilheiro de esquerda, diz que a lei vai controlar o comércio de maconha sob diretrizes rigorosas, ajudar a combater as quadrilhas de tráfico de drogas e enfrentar pequenos crimes.

Para evitar tornar o país um destino de turismo de drogas, apenas os uruguaios seriam autorizados a usar maconha.

"A venda de maconha por parte do Estado para os consumidores registrados é algo inédito em nível mundial", disse à agência France Presse Ivana Obradovic, que liderou o estudo de políticas públicas e sua avaliação no Observatório Francês sobre Drogas e Toxicomanias (OFDT).

Até agora, há modelos de legislação nos quais se permite o cultivo pessoal com fins recreativos, como no caso dos estados do Colorado e de Washington, nos Estados Unidos, da Espanha -com clubes sociais de maconha- e da Holanda, conhecida desde 1976 por seus históricos "coffee shops", lojas que vendem drogas.

Polêmica
O projeto uruguaio causou polêmica em meio à comunidade internacional, que nos últimos anos realizou um intenso debate sobre o assunto.

O governo uruguaio segue o plano da Comissão Global de Política de Drogas -integrada pelos ex-presidentes do Brasil Fernando Henrique Cardoso, da Colômbia César Gaviria e do México Ernesto Zedillo, entre outros- que defende que a guerra aberta contra as drogas fracassou.

FHC elogiou recentemente o projeto uruguaio, já que, segundo o ex-presidente, "não parece concentrar esforços em lucrar, e sim na promoção da saúde e da segurança pública".

Um pouco mais cautelosa, mas igualmente aberta ao debate sobre a legalização da droga é a posição da Organização de Estados Americanos (OEA), que em um recente relatório estabeleceu diferentes cenários para o futuro: um centrado na melhoria da saúde pública, outro na segurança e um terceiro em uma experiência com a regulação.

No dia 22 de julho o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, visitou o Uruguai para apresentar o projeto e disse a jornalistas que acredita que o país sul-americano está "em condições de testar políticas novas em matéria de drogas".

Por outro lado, o Órgão Internacional de Controle de Entorpecentes (OICS), organismo da ONU, manifestou sua "preocupação" com o projeto uruguaio, por considerar que viola os tratados internacionais sobre controle de drogas, ratificados pelo país sul-americano.

Outros críticos dizem que a medida corre o risco de contribuir para atrair os uruguaios para drogas mais pesadas e pode irritar outros países latino-americanos que lutam contra a violência relacionada às drogas, como Colômbia e México.

O Uruguai é um dos países mais seguros da América Latina e é considerado um pioneiro na legislação liberal.

"Estamos brincando com fogo", disse o deputado Gerardo Amarilla, membro do Partido Nacional, conservador, opositor ao projeto de lei.

"Você pode controlar a produção e venda, o que vai ocasionar seus próprios problemas, que terão de ser abordados", disse o deputado Julio Bango, um aliado de Mujica em favor da legislação. "Ou você pode ter o que você tem agora, que é o caos."

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

CRACK LEVA FILHO A ASSASSINAR OS PAIS


ZERO HORA 10 de dezembro de 2013 | N° 17640


EDUARDO TORRES


TRAGÉDIA FAMILIAR. Brutalidade de crime, em Guaíba, surpreendeu parentes, amigos e policiais


Diante dos policiais, na Delegacia da Polícia Civil de Guaíba, Dean Patrick de Souza Figueiredo, 19 anos, chorou, arrependido. Depois de mais de duas horas de depoimento, garantiu não se lembrar o momento exato em que esfaqueou os pais Darcílio Guterres Figueiredo, 53 anos (atingido quatro vezes na nuca), e Belonir Terezinha de Souza, 50 anos (esfaqueada oito vezes entre as mãos, o peito e o rosto). Eles foram encontrados no banheiro do imóvel onde residiam, no bairro Logradouro, em Guaíba

Na conversa com os policiais, Dean contou que retornou para casa, no sábado à noite, e encontrou os pais assistindo televisão. Foi à cozinha, colocou água para ferver e “apagou”. Lembra apenas que, ao “acordar”, estava com uma faca na mão, ensanguentada. O objeto usado para matar pai e mãe foi abandonado por ele ao lado dos corpos.

Já era final da madrugada de domingo quando Dean juntou alguns eletrodomésticos e a bolsa da mãe (de onde retirou todo o dinheiro que havia), pegou o Kadett da família e saiu de casa. Rodou pelas bocas de fumo de Guaíba e teria consumido crack durante todo o dia. Estava no fundo do poço de cinco anos de vício e dívidas acumuladas com traficantes locais.

Ao chegar à casa dos Figueiredo, no domingo à noite, a namorada de Dean, uma jovem de 19 anos, também usuária de drogas, se desesperou com o que viu.

Primeiros golpes foram dados no quarto do casal

Ela chamou a Brigada Militar, já imaginando que Dean pudesse estar envolvido. Por volta das 22h, o rapaz, ainda rodando com o carro da família, teve sua atenção chamada para a movimentação da polícia nas proximidades do bairro. Resolveu voltar até lá, mas nem chegou em casa. Teve o carro parado por populares.

Revoltados, eles o teriam arrancado de dentro do veículo e passaram a agredi-lo. Ele acabou salvo com a chegada dos policiais militares, que o prenderam.

A suspeita da polícia é de que a explosão violenta de Dean tenha sido provocada pela negativa dos pais em dar mais dinheiro para ele comprar drogas. E mesmo com os dois mortos, o rapaz foi alimentar o vício.

– Foi um crime extremamente brutal. Sabemos que o vício na droga pode causar reações violentas, mas este caso surpreendeu – afirma a delegada Sabrina Doris Teixeira.

Conforme a análise dos peritos, as agressões aos pais começaram no quarto do casal. Lá estavam as primeiras marcas de sangue e um rastro em direção ao banheiro.

– Acreditamos que o pai tenha sido atacado primeiro, depois de negar lhe entregar o dinheiro. Mesmo ferido, ele e a esposa tentaram se refugiar no banheiro. A mulher tem sinais de defesa. Provavelmente foi atacada já dentro do banheiro – diz a delegada.

Prestes a ser pai, Dean trabalhava como jardineiro e, segundo o seu depoimento, costumava consumir “pitico” (cigarro de maconha com crack) nos finais de semana.

Segundo Dean, apesar de os pais pressionarem para que ele parasse de usar drogas, as brigas não eram tão comuns. Ele alegou ter tido uma discussão mais forte com o pai dois meses atrás, mas sem agredi-lo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

VENDE OBJETOS DA CASA PARA COMPRAR DROGA

JORNAL NOROESTE  terça-feira, 3 de dezembro de 2013 08:05


Mãe desesperada

Filho de 15 anos vende objetos da casa para comprar droga.



Uma mãe residente na Vila Agrícola, compareceu durante a segunda-feira, 02, na Delegacia de Polícia para comunicar que seu filho, de 15 anos, está vendendo materiais da casa para comprar drogas.

Segundo relatos da comunicante, ao chegar em sua casa notou que faltava a máquina de lavar roupa. Após a mãe foi comunicada de que seu filho havia vendido o maquinário na vila, fato que se repete diariamente com outros objetos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

UM BEIJO DA MACONHA

ZERO HORA 08 de dezembro de 2013 | N° 17638

ARTIGOS

 Flávio Tavares*




A extravagância e o absurdo vestem, às vezes, roupa de festa e fingem que aquilo é um baile de gala. É o que ocorre, agora, com a legalização da maconha na República Oriental do Uruguai e a festança que alguns já celebram por aqui, como se a loucura do vizinho fosse exemplo a imitar, e não uma perigosa tolice a evitar.

Engraçado! Proíbe-se propaganda de cigarro na TV e rádio, os próprios maços advertem de que é cancerígeno, já não se fuma em locais fechados e todos concordam em que o tabaco é pernicioso e prejudicial. Mas há quem sugira legalizar a maconha, como se fosse algo benéfico a fazer parte do consumo diário, e não uma droga que cria dependência, nos manipula e provoca mais danos do que o tabaco.

O pretexto (travestido de “argumento”) é que a “legalização” terminará com a violência do narcotráfico. Ou seja: o mal estaria nas criminosas “gangs” do tráfico, não na essência do que é a maconha. A Cannabis em si seria saudável, quase uma dádiva divina, só que pervertida pela disputa violenta entre os traficantes... Esta falácia, ou reles mentira, esquece a essência perversa da droga, que escraviza pela dependência, altera o comportamento e afeta distintas funções orgânicas. A essência é que subjuga – o traficante é apenas o vetor, o transmissor do mal.

E se fosse possível legalizar a propagação do tifo, da aids ou da tuberculose, por acaso elas deixariam de ser doenças temíveis? E se legalizássemos o câncer, terminariam os problemas oncológicos? Estas perguntas absurdas se equivalem à fantasia tola de que a venda e uso legal da maconha põe fim à sua maldade intrínseca.

A Cannabis não é só porta aberta para as drogas pesadas, da cocaína ao crack. Nem só o início de um perigoso romance em que a autodestruição espreita na esquina. O uso aumenta o risco de transtornos psicóticos, provoca ansiedade e agressividade, perda de memória, letargia no raciocínio e na volição. Desvanece o erotismo e está relacionada a depressão e esquizofrenia. É caminho para o transtorno mental definitivo. Portanto, não pode ser encarada como bem econômico de produção, tal qual plantar arroz e soja, criar reses ou fundir aço.

De que lado estamos?

Pode até haver opção entre o bom e o mau, mas não há opção entre o bem e o mal. A neutralidade só existe para as coisas neutras – insípidas, incolores, inodoras e destituídas de sentido.

De que lado estamos? Pode-se admirar ou detestar um livro, uma doutrina ou obra de arte. Pode-se gostar ou não do sabor de um alimento ou de um vinho. Mas – indago – quando vemos à nossa frente o vício e a perversão, a dependência e o delito, devemos escolher de que lado estamos? Ou já sabemos por antecipação, como algo inato?

O pequeno Uruguai equivale à metade do Rio Grande do Sul, tem escassa população e boa escolarização. Assim, não serve de modelo a um país continental em que a vulgaridade ignorante domina boa parte dos nossos 200 milhões de habitantes. Nem é “vanguarda” (como chegam a dizer) por legalizar a droga e criar por lá o Instituto de Regulamentação e Controle da Cannabis, mais um órgão para a burocracia se deleitar, deitar e rolar num país entulhado de inúteis funcionários públicos. É a vitória da “burrocracia”, com dois erres!

De que lado estamos? Convido a todos a pensar. Em especial aos jornalistas e “formadores de opinião”. E até aos políticos, que há muito nada pensam, ou só pensam nas próprias pequenezes.

E a quem não queira pensar, permito-me sugerir um beijo de maconha. Se pousar os lábios num lábio com sabor e odor a maconha, irá acordar-se e vai pensar!

*JORNALISTA E ESCRITOR

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

UM DILEMA NACIONAL

ZERO HORA 05 de dezembro de 2013 | N° 17635

EDITORIAIS


Poucas vezes um estudo deu uma ideia tão realista da dimensão dos dramas provocados pelas drogas no país, como o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado esta semana. Um dos diferenciais do estudo é o de não se restringir a quantificar a tragédia constituída pelo elevado número de usuários e a violência que costuma estar associada ao narcotráfico. O que chama particularmente a atenção é o elevado número de pessoas com seu cotidiano prejudicado de alguma forma por dependentes químicos. A situação indica que, além de não ter conseguido atender satisfatoriamente quem já se escravizou às drogas, o país segue devendo algum tipo de ajuda mais eficiente para seus familiares e pessoas próximas.

Divulgado dois anos depois do lançamento do programa federal Crack, é Possível Vencer, que se comprometia, entre outros aspectos, a garantir assistência para dependentes, o estudo mostra um quadro ao mesmo tempo desolador e desafiador. Nada menos de 28 milhões de brasileiros, por exemplo – quase o equivalente a toda a população de um país das dimensões do Peru –, convive com algum usuário. Em muitos casos, essas pessoas são submetidas constantemente a agressões verbais e até físicas, têm seu patrimônio pessoal dilapidado e sofrem pressão psicológica constante, a ponto de muitas se abalarem emocionalmente com gravidade. São situações das quais dificilmente alguém consegue sair sozinho, o que demanda mais atenção por parte da sociedade e do poder público.

Alguns dados apontados pela pesquisa não deixam dúvida sobre o grau de desestruturação familiar em consequência do problema: nada menos de 58% dos entrevistados com algum usuário de drogas na família, por exemplo, têm afetada a habilidade de trabalhar ou estudar. E, o que é igualmente preocupante, 29% dos que foram consultados estão pessimistas quanto ao seu futuro imediato. Esses percentuais poderiam ser menores se o país tivesse se preocupado mais em investir em prevenção.

Chama a atenção na pesquisa que metade dos entrevistados sequer sabe o que são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPs) – unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) criadas para prestar atendimento aos dependentes químicos. E, o que é mais grave, mesmo quem tem conhecimento dessa alternativa não a utiliza como deveria. O país continua devendo assistência efetiva não apenas aos usuários de drogas, mas também a seus familiares, além de informações mais precisas sobre a quem podem recorrer em situações de crise.





 COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não adianta nada ter bons projetos em papel, reuniões de autoridades, publicidade na mídia, apresentação e boa vontade se não houver nada na prática como investimentos em sistema e estrutura para execução das ações, fiscalização e contrapartidas. Nas questões das drogas faltam centros de tratamento de dependências e equipes de saúde para prestar assistência ao doente e às famílias destas pessoas. O caos no ambiente familiar é tanto que todos acabam sofrendo as consequências e o abandono acaba em aliciamento pelo tráfico, domínio do crime e morte pelas mãos do tráfico ou em enfrentamento com a polícia.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TRÊS PILARES QUE SALVARÃO A CRACOLÂNDIA

FOLHA.COM 29/11/2013 - 03h30


Thiago M. Fidalgo


Não é de hoje que várias ações vêm sendo tomadas para tentar mudar a situação da região da cracolândia. Tais medidas, no entanto, embora realizadas continuamente, não se dão de forma articulada, ou seja, a ação atual não se coordena com a anterior e não se coordenará com a próxima. É nítida a falta de um planejamento coeso, que deixe de ter a segurança como foco central. O cenário retratado esta semana, em que o "casarão do crack" em São Paulo foi retomado pelos dependentes, é resultado desta ineficiência, já que nada do proposto está funcionando. Em janeiro de 2012, quando tiveram início as ações de dispersão dos usuários e dependentes da cracolândia pela Polícia Militar, diversas vozes se levantaram dizendo que se tratava de uma medida paliativa, cuja eficácia seria temporária, uma vez que não focava no cerne do problema. Hoje, quase dois anos depois, infelizmente essa previsão se confirma.

Nos primeiros meses deste ano, quando o foco passou a ser no tratamento dos dependentes, teve início um programa centrado na internação. É sim uma medida importante, muitas vezes necessária, mas que se destina a situações extremas, pontuais e que significa apenas o início de um tratamento longo, que deve primar pela reinserção do paciente na sociedade. A internação não pode ser a política de saúde privilegiada no manejo dos dependentes. O centro do cuidado deve acontecer nos Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (CAPS-AD), focados no atendimento de pacientes com problemas com álcool e drogas. É neste espaço que o tratamento multidisciplinar acontece e que a reinserção do paciente pode ser desenvolvida. É lá que o sujeito vai recuperar sua autonomia e se apoderar novamente de sua vida, retomando a liberdade para assumir suas próprias decisões.

A pesquisa da Fiocruz divulgada na última semana, no entanto, trouxe um dado revelador: 80% dos pacientes dependentes de crack desejam tratamento, mas somente 20% conseguem acessar o sistema de saúde. Isto só comprova a extrema importância do investimento em ações que façam a ponte entre a rua e a unidade de saúde. Os técnicos dos consultórios de rua, os agentes comunitários de saúde bem treinados, os redutores de danos que conhecem a fundo as cenas de uso, são eles os profissionais mais capacitados para essa ligação, que podemos chamar de primeiro pilar.

Não devemos esquecer, também, que a cracolândia, em vez de ser uma experiência de "legalização da droga" é na verdade uma experiência de abandono completo do Estado. As pessoas que ali estão precisam, além de todo o atendimento de saúde, de cuidados básicos como segurança alimentar, moradia, ou simplesmente alguém que os auxilie a tirar novamente seus documentos, que foram perdidos em meio à desorganização da dependência. O auxílio na busca por um emprego é outra etapa nesse processo de retomada da dignidade, que casa perfeitamente com as diretrizes de atuação do CAPS-AD. Um trabalho de assistência social forte é o segundo pilar fundamental para garantir uma solução permanente para o problema da cracolândia.

Por fim, é inegável que ações de segurança pública são importantes para coibir o tráfico e, consequentemente, a violência que sempre caminha junto com ele. Esse terceiro pilar, não pode, no entanto, ser o único e nem o mais importante. Caso contrário, continuaremos a viver a situação paradoxal atual, em que inúmeras medidas são tomadas, mas o problema se mostra longe do fim.

THIAGO M. FIDALGO, 29, é psiquiatra, coordenador do setor de Adultos e Adolescentes do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (PROAD/UNIFESP)

*

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

REDE DE PRODUÇÃO DE ECSTASY


ZERO HORA 28 de novembro de 2013 | N° 17628

COMBATE AO TRÁFICO

Polícia desarticula rede de produção de ecstasy

Foram feitas 30 prisões e houve apreensão de máquina que produzia droga


A polícia desarticulou ontem uma rede de produção e distribuição de ecstasy na região metropolitana de Porto Alegre. Com a Operação Rede, realizada pela 3ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (DIN), foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e 15 de prisão temporária em Porto Alegre, Viamão e Canoas. Ao todo, a polícia realizou 30 prisões desde o início da ação.

Aoperação investigou, durante seis meses, quadrilhas da Região Metropolitana que atuam de uma forma não usual, conforme o titular da 3ª DIN, delegado Marcus Viafore. Os criminosos se organizavam em rede, daí o nome da operação. Eram formadas diversas associações de tráfico na produção, transporte e distribuição das drogas, em destaque o ecstasy.

– São quadrilhas que não têm uma relação hierárquica. Muitas vezes, alguém trazia os comprimidos de Santa Catarina e vendia para uma rede de distribuição, que repassava ao varejo, que, por sua vez, negociava com os consumidores. Muitas vezes, quem vendia eram jovens de classe média e até alta – conta Viafore.

Ao longo da investigação, foi descoberto um laboratório de ecstasy na Vila Santa Maria, bairro Rubem Berta, na Capital. Além de prender 12 suspeitos, foi apreendida uma máquina de produção de ecstasy e 700 comprimidos da droga, maconha, cocaína e crack.

As ramificações de grupos criminosos se espalhavam por várias células de Porto Alegre e Região Metropolitana. Os principais pontos de distribuição eram festas rave e boates em geral, diz Viafore. E o consumo deste tipo de droga é feito por “um seleto grupo”, afirma o delegado.

Entre os presos na Operação Rede estão um homem natural da Bulgária, mas naturalizado brasileiro e um militar da Base Aérea de Canoas. Eles são suspeitos de integrarem grupos que recebiam a droga vinda de Santa Catarina e repassarem no varejo.

Um dos responsáveis pela distribuição dos comprimidos fabricados em cidades catarinenses, principalmente em Florianópolis, conforme revelou reportagem do Diário Catarinense em agosto deste ano, foi preso em casa em Águas Claras, em Viamão. Ao todo, 18 pessoas foram detidas na ação.

Conforme o delegado Viafore, o homem era um dos fornecedores do jovem búlgaro, que estudava Administração na PUCRS e morava no bairro Higienópolis, na Capital.

– É um perfil bem condizente com o tipo de traficante que trabalha com esse tipo de droga. O búlgaro fazia parte dessa rede. Recebia o produto de Santa Catarina e tinha vários contatos, ou seja, sua rede no Estado.



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

NARCOTRÁFICO PIOR QUE DROGA

ZERO HORA 27 de novembro de 2013 | N° 17627

LÉO GERCHMANN | ENVIADO ESPECIAL/MONTEVIDÉU

ENTREVISTA

José Alberto Mujica Cordano, Presidente do Uruguai

“O narcotráfico é pior que a droga”



De alpargatas, cabelos desalinhados, barba por fazer, o indefectível bigode de cantor de tango e a simplicidade que o mundo aprendeu a ver como autêntica, o presidente do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano, ou simplesmente Pepe Mujica, 78 anos, recebeu ontem Zero Hora em sua chácara de Quincho Varela, distante 20 minutos do centro de Montevidéu. Mujica é amável. Na entrada de madeira da propriedade, a já famosa cachorrinha perneta Manuela aproxima-se dos visitantes, aceita os afagos. Há outros dois cães e um gato à porta da residência, mas só ela acompanha o homem que governa 3,5 milhões de uruguaios.

A chácara é o recanto do ex-guerrilheiro tupamaro, em meio a livros, flâmulas e recordações. Ali, produz seu próprio Tannat e planta acelga, beterraba e flores. A única segurança à vista é um carro da polícia. Um furgão serve de transporte presidencial, em lugar do Fusca azul, ano 1987, que valeria algo como US$ 900, não fosse o ilustre proprietário.

Na entrevista, de 50 minutos, o presidente uruguaio define como um “teste social” a legislação que regula a produção e o consumo de maconha, aprovada pela Câmara dos Deputados e à espera de votação no Senado. Defende um mundo mais justo e sem preconceitos. Põe fé num Mercosul vitaminado, critica a Argentina e diz que o mensalão não ocorreria em seu país. A seguir, trechos da entrevista:

Zero Hora – Que sonhos de guerrilheiro o presidente José Mujica colocou em prática?

José Mujica – Creio que a motivação da preocupação social, de tratar de contribuir para conseguir uma sociedade com melhores relações humanas, mais justa, mais equitativa, onde o “meu” e o “teu” não separe tanto as pessoas. Essa maravilhosa aventura que é a vida, que, por ser tão cotidiana, as pessoas não se dão conta. Só valorizam o que têm. Estar vivo é quase um milagre. Procurar que as pessoas estejam o mais felizes possível. Essa é uma causa nobre. Naquela época (no período da luta armada), pertencíamos a um mundo que tinha seus arsenais de ideias, e entramos em outro mundo. Mas, na realidade, a causa que nos impulsiona é a mesma. Os caminhos, o que podemos tentar, são diferentes, mais complexos. Tudo ficou muito mais difícil, sobretudo é tudo a muito mais longo prazo do que o que poderíamos pensar em nossos tempos de juventude.

ZH – Por quê?

Mujica – Por causa da realidade. As mudanças culturais são enormemente difíceis. Existem classes sociais cuja cultura é muito difícil de mudar, custa muito esforço, muito conhecimento. Necessita-se de recursos difíceis de conseguir. Acredito que o mundo pode ir construindo uma sociedade mais justa, mais nobre. À medida que exista mais massificação do conhecimento e da cultura no nível das grandes massas, um país que tem muita gente e que está escravizado na sociedade de consumo vai ter a construção de uma sociedade melhor. Então, o que parecia ser impossível vai demorar um pouco mais.

ZH – A vida é uma construção?

Mujica – A vida é uma construção permanente, e isso dá sentido à vida. Pode-se viver a vida porque se nasceu, como um vegetal ou qualquer animal. Pode-se dar um conteúdo a esse milagre da vida. Então, nós nos sentimos felizes de participar dessa luta.

ZH – Nos anos 1990, houve na Argentina, com Carlos Menem, e no Brasil, com Collor, governantes que pensavam diferente do senhor. Acredita que, naquela década considerada auge do neoliberalismo, houve um retrocesso?

Mujica – O homem é um animal utopista. Há utopismo de esquerda e há utopismo de direita. Esse utopismo de direita, o neoliberalismo, é o sonho de acreditar que, pela via crônica de mercado, se solucionam todos os problemas. Esse é um utopismo de direita: a parte sagrada é o mercado. Se o mercado funciona livremente, tudo o mais se resolve. Nós acreditamos que isso seja um absurdo. Não é que o mercado não tenha importância, mas, ao lado do mercado, há outras coisas que têm importância. O assunto é mais complicado. O mercado tem certa participação na sociedade, mas também tem suas limitações. Precisa-se de políticas, políticas sociais. Deve-se contribuir para que o Estado trate de compensar aquilo que o mercado não soluciona. O mercado não distribui igualmente, ele concentra. Concentra a riqueza. Mesmo que gere muita riqueza, concentra-a tanto que acaba não distribuindo proporcionalmente a riqueza que se cria. O mercado também cria diferenças sociais enormes. Se o Estado não tem políticas que contribuem com eles, não acredito que o mercado... Esse foi o sonho dos utopistas de direita. Reduzir o Estado ao mínimo, não ter políticas sociais e deixar que o mercado, livremente, ajeite tudo. O utopismo de esquerda é acreditar que o Estado é capaz de fazer tudo e resolver tudo. E termina criando uma burocracia que também segue sendo terrivelmente injusta. Qual é o caminho? Bem, aí está a discussão. É preciso um pouco de mercado, é preciso um pouco de Estado. Mas se precisa, fundamentalmente, que as pessoas sejam dirigentes de si mesmas. Que tenham capacidade de se autogovernar em tudo que seja possível. Para mim, esse é o motor essencial da mudança: que as pessoas não precisem de um Estado que as governe tanto, nem de um mercado cego. Mas que cada um seja responsável em grande parte por seu destino, que possa se juntar com outros e conduzir os fenômenos econômicos, dirigir empresas etc., e não precisem ter de pilotar uns aos outros. Mas isso vai ser um processo...

ZH – Quando o senhor tenta legalizar a produção da maconha, é uma maneira de fazer com que um aspecto perverso do capitalismo, o narcotráfico, seja afastado do processo?

Mujica – Nós não legalizamos a maconha. Regulamos um mercado que já existe. Nós não inventamos esse mercado. Ele já existe. Hoje. Aqui. Tratamos de regular e intervir nesse mercado. Porque o narcotráfico é pior que a droga. O narcotráfico nos traz outros problemas sociais terríveis. Ele degrada o mundo delituoso. Arruma tudo com dinheiro ou morte. Há um lema: plata o plomo (dinheiro ou chumbo). O mundo delituoso também tinha uma escala de valores. O narcotráfico significa uma degradação na degradada consciência delituosa. É, dentro da cultura do delito, agravar o pior do delito. As consequências sociais vão além do narcotráfico. Toda a delinquência fica violenta, desproporcionalmente violenta. Nossa sociedade está coberta de uma violência irracional e estúpida, às vezes, por ser desproporcional. Sou capaz de matar um homem para tirar-lhe um dinheiro mínimo, de um trabalhador comum. No campo do delito, sempre houve uma certa proporção entre o que se podia fazer e o que não valia a pena. Isso se perde com o narcotráfico. Estamos tentando terminar com esse mercado, legalizando o consumo da maconha, mas controlando-o, dando uma ração mensal ao viciado. Se a pessoa quiser passar dessa ração, teremos de tratá-la. Se mantemos essas pessoas no mundo clandestino, não podemos identificá-las e as deixamos para o narcotráfico. Queremos combater o narcotráfico ao roubar-lhe o mercado e deixá-lo sem negócio. Se conseguiremos, não sei. O que pedimos é o direito de experimentar, diante do evidente fracasso, em todos os lugares, que a repressão teve. A repressão não chega, acredite. Queremos fazer política por outro lado. O narcotráfico é um fenômeno capitalista típico. Como tem alto risco, tem alta taxa de lucro. E por que tem alta taxa de lucro? Porque é um monopólio, poucos o praticam porque tem alto risco. Mas é um fenômeno que se alimenta a si mesmo. A repressão asssegura o monopólio para os poucos que estão no negócio. Não há concorrência, ou há muito pouca. Esse é apenas um aspecto de tantos. O que queremos fazer é um teste social.

ZH – Se essa medida uruguaia for um sucesso, pode ser um modelo para outros países?

Mujica – Pode ser que se aprenda alguma coisa, que outros países possam aprender alguma coisa. E se põe em xeque a ideia de que a única maneira de combater o narcotráfico é com a repressão. Acreditamos que temos de combinar. A repressão não é suficiente. Por um lado, é preciso reprimir, mas, por outro, é preciso dar uma alternativa conduzida.

ZH – Nos anos 1970 e 1980, a maconha tinha glamour. O senhor nunca fumou?

Mujica – Não, nunca fumei. Nesse anos, estava preso.

ZH – Mas o senhor conviveu com muitas pessoas...

Mujica – Sim. Não. A verdade é que não. As drogas são tão velhas quanto o mundo, sempre existiram. As Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860) na China, que sei eu? A drogas são velhas, o narcotráfico é que é um fenômeno moderno. É muito pior, degrada toda a sociedade. Não defendo o consumo de maconha, nem nenhum vício. Mas uma coisa é o que pensamos, e outra é o que a sociedade faz. Sabemos que o cigarro faz mal, mas quanta gente fuma? Se você toma dois, três, quatro uísques por dia, é suportável, mas se toma uma garrafa por dia, temos de tratá-lo, pois é um alcoólatra. Acredito que, com a droga, é a mesma coisa. Temos de ver a quantidade que, mesmo perigosa, pode ser suportável e quando temos de tratar. Isso não acontece com o álcool. Uma coisa é uma pessoa alcoólatra, outra é uma que bebe de vez em quando. Certo?

ZH – A presidente Dilma Rousseff falou com o senhor alguma vez sobre essa lei?

Mujica – Ela tem muito medo pelas dimensões do Brasil. Não vê outro caminho a não ser reprimir, agora.

ZH – É muito importante para o Uruguai o acordo comercial Mercosul-União Europeia?

Mujica – É importante ter diversidade. O mundo se está organizando em um grande bloco. A comunidade europeia tem 20 e tantos países, com história, idioma, cultura diferentes. Sem dúvida, por mais que se critiquem, estão se juntando. E criaram uma realidade econômica muito importante. Os Estados Unidos têm seu acordo com o Canadá e com o México. Do outro lado do oceano está a China, que é um Estado multinacional milenar. Tem a Índia. Esse é o mundo em que vivemos. Nesta região, o principal comprador que temos é a China. É o principal cliente do Brasil, nosso, do Paraguai e da Argentina. É inteligente não depender de um único país.

ZH – Há uma resistência muito forte da Venezuela, da Bolívia, do Equador e também da Argentina. Isso é um problema?

Mujica – Entendemos essa resistência, mas acreditamos na diversidade. No mundo de hoje, não se pode ser totalmente independente – e uso a palavra (independente) entre aspas. Temos de ser interdependentes para termos a maior margem de independência possível. Se dependemos de um somente, é perigoso. Se conseguimos diversificar, que nossa orientação exterior dependa de três ou quatro, e se possível mais, melhor. Então, sou a favor da política de diversificar.

ZH – Essa resistência da Argentina é o motivo de alguns desentendimentos?

Mujica – Não. Acredito que a Argentina tenha um projeto, e tem todo o direito de tê-lo, no estilo 1960. Acreditam em solucionar os problemas e vão se fechando cada vez mais. Posso entender se essa for a política geral de todo o Mercosul, mas fechar-se para os próprios países do Mercosul me parece que tira o sentido do Mercosul.

ZH – Agora, no Brasil, o ex-deputado José Genoino, que esteve na guerrilha, está na prisão. Como o senhor vê isso?

Mujica – Não gosto da prisão por motivos políticos. Precisamos lutar por uma humanidade que possa superar essa contradição. Mas, sobre esse assunto, não tenho informações para poder opinar.

ZH – No Brasil, há um sistema político no qual, para que o governo tenha a maioria, há muitas negociações, o que gerou o mensalão. No Uruguai, há um modelo diferente?

Mujica – Aqui não existe isso. No Uruguai, os partidos são muito sólidos. As pessoas não mudam de partido. Os partidos tradicionais são tão velhos quanto o país. E a nossa Frente Ampla, que está no governo, já tem 40 e poucos anos. Não existe essa prática. Aqui, não se compra ninguém nessas decisões. Estamos muito longe disso.

ZH – Esses partidos que existem há anos, essa raiz fortalece a ideologia?

Mujica – Acredito que temos de defender os partidos. Porque os partidos tendem a expressar vontades de caráter coletivo, que vão além das fraquezas individuais. Os indivíduos têm importância, mas não tanta quanto os partidos. Sei que o Brasil é muito grande, é um país continental, tem problemas de integração. E, às vezes, um Estado olha o mundo de maneira independente e aparecem coisas que podem ser criticadas. Mas é milagroso que um governo com minoria parlamentar tenha podido fazer as coisas que o governo Lula fez no Brasil. Isso não é fácil. Sei que lá as pessoas mudam de partido facilmente.


domingo, 24 de novembro de 2013

BLITZ FLAGRA ÁLCOOL COM ADOLESCENTES

ZERO HORA 24 de novembro de 2013 | N° 17624

CERCO DO MP


A ingestão de de álcool por adolescentes – proibida, mas nem sempre respeitada – foi alvo de uma operação do Ministério Público entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado, em Porto Alegre.

O órgão, com apoio da Brigada Militar, da Polícia Civil e da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), fez uma fiscalização na Avenida Cristóvão Colombo e arredores. Pelo menos 17 adolescentes foram flagrados consumindo álcool – três deles receberam atendimento médico devido à quantidade bebida.

Eles eram levados para um ônibus do MP estacionado em frente ao Shopping Total. Lá, um termo era assinado para ser enviado ao Conselho Tutelar, incumbido de aplicar medidas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como verificar a frequência escolar.

– Nossa preocupação é perceber o tamanho do problema, os riscos aos quais os jovens se expõem e unir forças para buscar uma solução – diz a coordenadora do Centro de Apoio da Infância e da Juventude do MP, Maria Regina Fay de Azambuja.


PORTAL DO MPRS - 02/07/2013 - Infância e Juventude

MP realiza operação de combate ao consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes


Fotos/Célio Romais

Panorama da operação, com fiscais da SMIC e servidores do MP

Vinte adolescentes atendidos e a apreensão de grande quantidade de bebidas alcoólicas. Esse foi o balanço de operação realizada entre a noite da última sexta-feira, 28, e a madrugada do sábado, 29, pelo Grupo de Trabalho da Fiscalização do Fórum Permanente de Prevenção à Venda e ao Consumo de Bebida Alcoólica por Crianças e Adolescentes, em frente à Danceteria Farm’s, no bairro Floresta, em Porto Alegre.

Durante mais de seis horas, integrantes do Ministério Público, Brigada Militar, Assessoria de Segurança Institucional, Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio, Asseprosul Segurança e do estabelecimento comercial estiveram apostos no entorno do Shopping Total, local conhecido pelo consumo excessivo de álcool entre adolescentes.

No decorrer da fiscalização, integrantes da Brigada Militar, comandados pelo Capitão Ezequiel Spacil Roehrs, interceptaram adolescentes que portavam bebida alcoólica e os conduziam até o ônibus do MP. Lá, a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, Maria Regina Fay de Azambuja; a Subcorregedora-Geral de Justiça do MP, Noara Bernardy Lisboa; e os Promotores de Justiça Inglacir Dornelles Clós Delavedova, da 7ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude – Articulação/Proteção; e Júlio Almeida, da 8ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude – Articulação/Proteção, realizaram os atendimentos.

Foram confeccionados Termos de Constatação de Adolescente em Situação de Vulnerabilidade por Ação/Omissão de Responsável de Conduta. Após os atendimentos dos jovens por uma equipe médica, que esteve no local durante toda a operação, os pais eram acionados pelo Ministério Público para que buscassem seus filhos.

Aos pais que compareceram ao local, os membros do Ministério Público explicavam os fatos e a intenção do Grupo de Trabalho que era a proteção dos adolescentes. Os adolescentes só foram liberados do local após o comparecimento dos pais ou responsáveis. Alguns adolescentes necessitaram de atendimento em uma ambulância que estava estacionada ao lado do ônibus do MP.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

JOVEM COM REVOLVER 45, ECSTASY, LSD, COCAINA E MACONHA

O PIONEIRO 19/11/2013 | 08h09

Jovem é preso com arma, cocaína, maconha, LSD e êxtase, em Caxias do Sul. Ele foi detido após agredir a namorada com arma de fogo



Um jovem de 23 anos foi preso por porte ilegal de arma de fogo e tráfico de entorpecentes na noite desta segunda-feira, em Caxias do Sul.

Douglas Andrey Lopes Ribas foi detido pela Brigada Militar às 19h22min, na rua Fernando Francisco Kaller, no bairro São Leopoldo, após agredir e ameaçar a namorada com uma arma de fogo.

Com ele, foram apreendidos um revólver calibre 45, quatro comprimidos de êxtase, 51 doses de LSD, além de uma quantidade de maconha e cocaína. Ele foi encaminhado à delegacia de polícia, onde foi lavrado o flagrante.


ZERO HORA 18/11/2013 | 21h29

Chefe de gabinete de vereador de Passo Fundo é preso suspeito de tráfico de drogas. Felipe Copich Machado, 28 anos, foi preso na Câmara de Vereadores pela Polícia Federal



O chefe de gabinete do vereador Eduardo Peliciolli (PSB) de Passo Fundo, foi preso nesta segunda-feira, pela Polícia Federal, na Câmara de Vereadores do município, suspeito de tráfico de drogas. Felipe Copich Machado, 28 anos, foi levado a delegacia e depois ao presídio de Passo Fundo, preso preventivamente.

Segundo o delegado Mário Vieira, a investigação começou com a prisão em flagrante de uma mulher, no início do mês de novembro. Com ela, foram apreendidos 300 gramas de crack.

— Temos um vídeo onde o carro dele foi filmado. Nestas imagens, a traficante que foi presa no início do mês está entrando no carro dele — afirma o delegado.

De acordo com a advogada do suspeito, Ana Paula Corrêa, 25 anos, a defesa vai tentar um habeas corpus ainda nesta terça-feira. A advogada também afirmou que ele só irá se pronunciar em juízo.




44 PRESOS POR TRÁFICO NO ALTO JACUÍ GAÚCHO

CORREIO DO POVO 19/11/2013 10:17

Operação prende 44 por tráfico no Alto Jacuí. Criminosos agiam nas cidades de Cruz Alta e Fortaleza dos Valos


A polícia prendeu 44 integrantes de quadrilhas de tráfico de drogas nas cidades de Cruz Alta e Fortaleza dos Valos, na região do Alto Jacuí, nesta terça-feira. Quarenta e duas delas foram presas em cumprimento a 46 mandados de prisão expedidos pela Justiça e outras duas em flagrante.

A ação envolveu mais de 350 policiais de Cruz Alta e Fortaleza dos Valos, além de agentes de 12 regiões com apoio do grupo de operações especiais e de um helicóptero da Polícia Civil. O objetivo é o cumprimento de 46 mandados de busca e apreensão, além dos 46 de prisão, de pessoas ligadas ao crime de trafico no Alto Jacuí.

O titular da Delegacia de Cruz Alta, delegado Cristiano Alvarez, informa que há grandes traficantes regionais detidos, que repassavam drogas para criminosos menores. O grupo comandava quadrilhas que fornecem, principalmente, cocaína e crack aos usuários. “Foi um trabalho bastante longo e intenso. Verificamos que havia entre alguns envolvidos a relação de subordinação, em outros de repasse de traficantes maiores para menores e conexão do trafico entre Cruz Alta e a cidade Fortaleza dos Valos”, declarou Alvarez à Rádio Guaíba.

As investigações da polícia duraram oito meses. A operação também apreendeu munição e drogas.


Fonte: Correio do Povo e Rádio Guaíba

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A CRIMINALIDADE LADO A LADO COM DROGADIÇÃO

JORNAL DO COMÉRCIO 11/11/2013

EDITORIAL


Que opção faria um adolescente vivendo nas favelas das grandes cidades brasileiras, sem respaldo familiar e educacional, caso pudesse escolher entre trabalhar dois turnos em uma empresa e receber R$ 900,00 mensais brutos, ou ser entregador avulso de drogas das quadrilhas do País no rastro do consumo em alta e receber R$ 500,00 por semana? Precisa-se de poucos segundos para chegar à triste e óbvia resposta, a segunda opção. Com as drogas, estão associados quase todos os crimes de morte praticados atualmente. Basta de discussões estéreis, quando nós mesmos não coibimos o sexo quase explícito na TV, a publicidade baseada na exposição do corpo de mulheres e aliada ao consumo de bebidas alcoólicas e aos desenhos violentos, uma cultura que é inculcada na mente das crianças.

Não temos muito tempo para mudar esse quadro, uma vez que os resultados levarão alguns anos para aparecer, da mesma forma que se passaram décadas para colhermos os frutos da licenciosidade, da impunidade, da desagregação familiar e da falta de orientação escolar e religiosa. A mediocridade tomou conta de alguns setores da vida pública e privada no Brasil, em que o que importa é exibir automóveis e roupas de marca por parte dos que têm egos para lá de inchados. Temos debates intermináveis para discutir assuntos em que o senso comum apontou soluções há anos, pois alguns não discutem o conteúdo dos problemas, apenas os seus rótulos.

Por isso, após crimes brutais, volta ao debate a questão da maioridade penal. A imputação de crimes como sendo de autoria de jovens com menos de 18 anos tornou-se um mantra. Na legislação vigente, são aplicadas penas que não ultrapassam três anos e medidas socioeducativas. Claro, o espírito da lei e do legislador foi o de não trancafiar menores nas infectas e superlotadas prisões por deslizes sem maior poder ofensivo. Mas não passou pela cabeça dos votantes das leis que elas serviriam para proteger bandos de adultos estruturados no crime. Não se conseguirá remediar os males da sociedade enquanto não se falar nem reconhecer as suas causas e origens imediatas. E é isso, justamente, que o Brasil quer discutir agora, já. Qualquer pessoa não é correta o suficiente se não tiver exemplos, caráter e probidade. Acrescentaríamos educação e trabalho.

A grande e justa inclusão social feita no País nos últimos anos não impediu a escalada de crimes. Cada vez mais desumanos e, segundo experimentados policiais, em busca de automóveis e armas, que são a forte moeda de troca por drogas, que rendem dinheiro e entram pelas nossas fronteiras das maneiras as mais diversas. Os crimes sempre existiram, em Porto Alegre, São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas jamais se viu tamanha periodicidade e crueldade. Paris, hoje visitada por multidões de turistas brasileiros, também foi uma cidade com suas mazelas, pecados, vícios e crimes. Paris foi considerada a cidade dos amantes, místicos, viciados, prostitutas, bêbados, criminosos, desajustados e boêmios. A palavra boemia surgiu em Paris, em torno de 1830, citada pelo poeta Baudelaire. Em 1500, as prostitutas faziam ponto em frente às mais famosas igrejas parisienses. Era quando o Brasil recém fora descoberto. Temos 500 anos de atraso, então.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

DROGAS, ESTOPIM DE UMA CHACINA FAMILIAR

CORREIO DO POVO, 07/11/2013 10:57

Uso de droga foi um dos estopins do crime, afirma delegado

Após jogar mulher pela janela, homem ateou fogo a apartamento, matando duas crianças e um vizinho




Uso de droga foi um dos estopins do crime, afirma delegado
Crédito: André Ávila


Um conjunto de fatores teria contribuído para a tragédia em que morreram duas crianças e um idoso na madrugada desta quinta-feira na zona Norte de Porto Alegre. Mas de acordo com o titular da 3ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado João Paulo de Abreu, "o uso da droga foi um dos estopins" do crime. Em entrevista à Rádio Guaíba, o delegado contou com riqueza de detalhes o depoimento do jovem de 22 anos que, após espancar e atirar a mulher de 19 anos pela janela, ateou fogo ao apartamento onde estavam os dois filhos dela.

Segundo o delegado Abreu, as brigas entre o casal eram constantes e o desentendimento ganhou ainda mais força com o término do relacionamento. "Ele não aceitou o fim da relação. Ainda durante a noite dessa quarta-feira, eles discutiram e ele saiu para comprar cocaína. Quando retornou, já sob efeito da droga, ele trancou as portas do imóvel e passou a agredir a mulher, enquanto os filhos estavam no quarto", disse.

Após o incêndio, Abreu acompanhou a mãe das duas crianças até o Hospital Cristo Redentor e lá conheceu mais detalhes do que ocorreu no apartamento da avenida Panamericana, no bairro Jardim Lindóia. "Segundo ela, durante as agressões, ele a colocou sobre um sofá-cama que fica na sala e sentou sobre ela. O jovem ainda puxou o pescoço para tentar quebrar e foi nesta hora em que ela perdeu os sentidos", comentou. "Ela voltou a si com o apartamento já em chamas e se deu conta que estava caindo do prédio. Só que o que a jovem não percebeu é que na realidade ela tinha sido empurrada do terceiro andar do prédio", acrescentou.

Logo depois de tomar conhecimento do crime, o delegado Abreu recordou que no primeiro momento o entendimento dos policiais militares e até da Polícia Civil era de que o incêndio tinha ocorrido por algum acidente dentro da casa. "O suspeito saiu do apartamento e tentou se passar por vítima. Mais tarde, no depoimento, ele tentou dizer que quem provocou o fogo foi a mulher, mas depois caiu em si e foi informado de que as crianças morreram. O rapaz ficou desesperado e contou a verdade, inclusive admitindo que empurrou a companheira do prédio", explicou.

Após o incêndio, a jovem está hospitalizada no Cristo Redentor em estado grave, com queimaduras e fraturas. Segundo, a assessoria de imprensa da instituição, ela está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

"Salvem as crianças", disse jovem

A subsíndica do prédio onde a família morava, Iracema Ciceri, conversou com a reportagem do Correio do Povo e lembrou que havia visto o suspeito com as crianças nessa quarta-feira. "Parece que não acordei ainda, porque ontem eu vi ele brincando com as crianças. A "menina" sempre foi super amorosa com elas. Mais tarde, todos entraram para o apartamento e por volta das 17h começou a briga", disse.

Iracema relatou que chegou a ver a jovem logo depois de ter sido jogada do próprio apartamento. "Ela estava agonizando, com parte do rosto queimado e algumas fraturas pelo corpo. Ela dizia: 'Salvem as crianças, as minhas crianças estão lá'", recordou.

De acordo com a subsíndica, o idoso Mario Ênio Pagliarini, que morreu no incêndio, podia ter escapado das chamas, mas tentou salvar as crianças. "O vizinho vinha descendo as escadas, mas quando ouviu os bombeiros, decidiu retornar para pegá-las. Era um senhor de idade e não sabemos se ele morreu por inalar a fumaça ou por outra coisa", afirmou.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

MÃES DO CRACK

FANTÁSTICO Edição do dia 27/10/2013

Mães dependentes de crack lutam para se livrar do vício e manter guarda das crianças. Por que é tão difícil um dependente químico parar de usar o crack? Há um ano, você conheceu no Fantástico as mulheres que, mesmo grávidas, continuavam na droga.




Por que é tão difícil um dependente químico parar de usar o crack? Há um ano, você conheceu no Fantástico as mulheres que, mesmo grávidas, continuavam na droga. O doutor Drauzio Varella reencontrou essas mães e mostra quem venceu e quem continua nessa luta tão dura.

No ano passado, o Fantástico contou a história de meninas dependentes de crack que engravidaram enquanto usavam a droga. Procuramos acompanhar o esforço que elas faziam para enfrentar a dependência, com a intenção firme de proteger seus filhos que estavam para nascer.

Exatamente um ano depois, o Fantástico foi atrás dessas meninas para saber como estavam elas e os bebês.

Um ano atrás, Letícia, Samara e Fabíola queriam largar o crack de vez. Elas estavam para dar à luz, e a maternidade parecia a última chance de recomeçar.

"Eu tenho medo de não conseguir, mas eu vou conseguir", acredita Samara Cristina dos Santos.

Quando Ester nasceu, Samara foi para casa da avó. Isso foi um ano atrás. Agora, a Ester está no mundo. E o que aconteceu com a Samara?

“Aconteceu que ela voltou pra rua. Abandonou a filha com 11 dias. Voltou primeiro para rua, aí ficou passando uns dias na rua, aí seis horas da manhã chegava em casa. Isso todo dia. Nós só brigávamos. Ela chegava drogada. Aí eu falei ‘então aqui cê não pode ficar não’”, conta Maria de Lourdes de Araújo, avó da Samara.

E a Ester ficou com dona Lourdes.

“Ainda tenho uma esperancinha ainda”, diz a avó Samara.

Samara não sumiu de todo. Três meses atrás, por telefone, ela deu notícias.

“Ligou, falou que tava em Ribeirão. Falou: "ô vó, não preocupe não que eu tô aqui em Ribeirão’”, diz a avó.

Acompanhamos dona Lourdes tentando encontrar a neta. Samara tinha dito que estava em um hotel no centro de Ribeirão Preto, cidade paulista, que como tantas outras no Brasil, tem uma cracolândia. Samara não está mais no hotel.

Funcionária do hotel: A última vez que ela veio aqui ela tava bem, graças a Deus.
Drauzio Varella: E para onde ela foi?
Funcionário da hotel: Ela falou uma pracinha.

A praça é a mesma da cracolândia que você acabou de ver. Nas imediações da praça, Samara já é conhecida.

Já é noite quando um vulto magro, vestido rosa, aparece na praça. Samara está chorando. Pergunta pela filha e logo em seguida diz que não ser filmada. Daqui a pouco você saber o que aconteceu com ela e com a menina.

Fantasma do crack continua assombrando a vida de Samara

Três meses atrás, encontramos Fabíola e o filho em Mogi Guaçu, interior de São Paulo. Artur nasceu em fevereiro em boas condições de saúde.

“Eu precisava de uma força maior, e Deus me deu essa criança, eu acho que para mudar minha vida mesmo”, conta Fabíola Fernandes da Silva.

Depois de viver com o filho em um abrigo da prefeitura, ela se casou com o André que também fumava crack. Agora, tudo parece bem.

“Hoje graças a Deus meu marido trabalha, me dá de tudo, sabe? Não falta nada pra mim nem pro meu filho”, revela Fabíola.

Mas o fantasma do crack continua assombrando.

“Tenho medo de voltar para o crack de novo. Morro de medo. Não sei explicar. É uma coisa aqui dentro, sabe? Dentro da gente. Que fica, que fica chamando assim, sabe? Se a gente não for forte, a gente volta, perde tudo”, afirma Fabíola.

Nesse período, ela teve uma recaída. É fácil conseguir crack perto dali. Uma semana depois da entrevista, Fabíola e o marido sumiram.

“Chegou um dia, ela tava aqui dentro com um moleque, o marido dela tava aqui também. Aí chegaram aí dois policiais, ou acho que é o oficial de justiça e o conselho tutelar. Chamaram, aí ela pegou, já viu e já começou a chorar, porque acho que ela já sentiu que ia pegar o moleque”, conta Maiara da Silva, vizinha de Fabíola.

O menino foi levado para um abrigo.

Drauzio Varella: Quando foi a última vez que você viu a Fabíola?
Maiara da Silva, vizinha de Fabíola: A última vez... olha, faz um tempinho já.
Drauzio Varella: Onde ela estava? Tava na rua!?
Maiara: Tava na rua.

Ficamos frustrados quando vemos alguém, que estava sem fumar crack há meses ou anos, volta para droga. Dizemos que essas pessoas não têm força de vontade, são fracas. Casos perdidos. Estamos errados. Não são casos perdidos nem se trata de fraqueza.

“No crack, no caso do crack acontecem muitas recaídas, mas em qualquer dependência química acontecem recaídas”, explica o doutor Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra - Unifesp.

As recaídas fazem parte da doença que a droga causa no cérebro. A recaída deve ser entendida como um colapso, uma falência na capacidade de resistir ao impulso de sentir o prazer intenso que o crack provoca.

“Por que o crack é tão forte? Ele já vai direto para o pulmão, para a absorção imediata, e ele atinge um alto nível no sangue em poucos segundos. Quanto mais rápida essa absorção, quanto maior essa intensidade dessa concentração no sangue, maior o efeito e maior a dependência. Também o efeito acaba mais rápido. A fissura pela droga aumenta quando tem essas características”, relata Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra - Unifesp.

Terapia em grupo para dependentes que lutam contra a recaída

A terapia em grupo é uma das formas de ajudar os dependentes químicos na luta contra a recaída.

“Você percebe que você não tá sozinho nessa empreitada, né? Eu, ouvindo o outro falar, eu percebo que eu também posso fazer. E também, quando eu falo e percebo que o outro aproveitou aquilo que eu tô falando como um exemplo pra ele, isso também me fortalece”, conta a psicóloga Yara Cunha, psicóloga.

As sessões acontecem em um dos 341 Centros de Atenção Psicossocial para Usuários de Álcool e Droga disponíveis no Brasil. São os chamados CAPS-AD.

Em um CAPS-AD de São Paulo, existe um grupo de prevenção à recaída.

Nesse local, conhecemos o Antônio dos Santos Filho, que tem 30 anos. Ele usa crack desde os 16. Desde então, passou por três internações.

Agora, Antônio frequenta o CAPS todos os dias e faz um curso de ajudante de cozinha.

“Graças a Deus está me ajudando e muito, porque eu tô aprendendo novas coisas, eu tô voltando a me integrar à sociedade, e, assim, o que me ajuda também aqui é o companheirismo, né?”, comemora Antônio.

“Isso é muito importante pra gente. É você fazer uma pessoa se sentir gente, se sentir capaz, se sentir que o mundo tá abrindo as portas pra ele”, diz a nutricionista Tânia Fonseca e Silva.

Quando fomos à casa dele, em Osasco, na Grande São Paulo, Antônio estava há 26 dias sem usar droga. Ele fumava em uma favela que fica do lado da casa.

Drauzio Varella: Antônio, é aqui que mora o perigo, né?
Antônio dos Santos Filho, 30 anos: Isso. É aqui mesmo que mora o perigo que, assim, eu tenho que evitar esses lugares que tão me fazendo cair, né?

“Às vezes só o fato de você ir naquele lugar já deflagra uma série de memórias, uma série de lembranças, e daí vem aquela compulsão para o uso. São aquelas memórias associadas ao consumo, que isso tem um papel muito central nas recaídas”, explica o psiquiatra Dartiu.

Sirlene encontra o fim das recaídas mesmo sem tratamento

Um ano atrás, você conheceu a história da Sirlene Rodrigues Ferreira.

“Eu tinha vergonha até de chegar perto da minha filha”, diz Sirlene.

Depois de dar à luz o segundo filho, Sirlene foi morar no sítio da mãe, longe do crack.

A partir desse dia, mesmo sem tratamento, nunca mais teve recaídas. Nem saiu do sítio.

Drauzio Varella: Sirlene, você não tem medo do contato com a cidade outra vez, de cair em tentação.
Sirlene Rodrigues Ferreira: Ah, eu tô me preparando, viu, Drauzio. Eu tô me preparando, então acho que psicologicamente. Eu tenho pra mim que não, não posso, né? Não posso.
Drauzio Varella: O crack dá uma onda de prazer muito intenso na hora que você fuma, não é?
Sirlene: Na hora, sim.
Drauzio Varella: E agora você não tem mais essa onda de prazer. Sente falta dela, não? Nessa atividade comum aqui de rotina...
Sirlene: Não. A minha onda de prazer agora é meu filho me abraçando, me beijando, minha filha olhando pra mim, meu bebê me chamando de mamãe.

Não é fácil vencer a droga, e os filhos do crack também podem ter uma luta difícil pela frente.

“Dependendo da dose que foi utilizada durante a gravidez, pode ter afetado, pode ter destruído algumas células do sistema nervoso central. isso vai repercutir no futuro”, explica Coríntio Mariani Neto, diretor da maternidade Leonor Mendes de Barros.

Pesquisa sobre as consequências da droga para o desenvolvimento de crianças

Nos Estados Unidos, uma pesquisa que durou 20 anos é a mais completa que já se fez sobre as consequências da droga para o desenvolvimento dessas crianças.

O estudo foi feito com famílias de baixa renda. Em um grupo, mães que não usavam drogas. No outro, usuárias que fumaram crack durante a gravidez. Ao longo dos anos, foram aplicados vários testes padronizados.

O trabalho mostrou que filhos do crack têm os mesmos problemas de desenvolvimento e conhecimento que os filhos de quem não consome drogas, mas vivem em situação de pobreza, em famílias desestruturadas e sujeitas à violência.

Só que os resultados dos testes foram piores que os das crianças de classe média, como diz a chefe da pesquisa, doutora Hallam Hurt, neonatologista da Universidade da Pensilvânia.

“Crianças pobres que foram expostas ao crack e crianças pobres que não foram expostas ao crack são iguais, mas não vão bem. Isso não é uma coisa boa”.

Fomos ao Alabama, Estados Unidos, conhecer a Jaimee, que participou da pesquisa. A mãe dela fumou crack até entrar em trabalho de parto. Apesar do consumo pesado da mãe, Jaimee conseguiu ser boa estudante. Tem 23 anos e está na universidade. Segundo ela, o sucesso vem de um grande incentivo para seguir em frente:

“Minha irmã. Ela ficou com a minha guarda e do meu irmãozinho, éramos nós três no mundo. Se não fosse pela minha irmã, provavelmente ia ser mais difícil pra mim. Ela permitiu que eu tivesse uma vida sadia e estável”, diz Jaimee Drakewood, estudante.

Um olhar para o amanhã

Ainda é cedo para sabermos o que vai ser dos filhos de Sirlene, Fabíola, Samara e também de Letícia, que você viu no início desta reportagem.

A Letícia chegou a gravar, mas depois pediu para a entrevista não ser exibida. Depois do parto, teve uma recaída. E até hoje consome crack. A guarda do filho está com a tia.

A bisavó continua com a guarda da filha de Samara, e ela ainda não conseguiu evitar recaídas.

A Fabíola está vivendo numa comunidade religiosa no interior de São Paulo. O marido também estava lá.

“Fumei uma vez e não consegui parar. Eu usava minha droga, mas, nossa, eu cuidava do meu filho. Nunca deixei meu filho passar fome, nunca deixei meu filho com ninguém”, conta Fabíola.

Hoje o filho da Fabíola está em um abrigo em Mogi Guaçu. O menino é o quinto e último filho dela. Os outros quatro ela foi perdendo por causa do crack. Estão vivendo com famílias adotivas.

Fabíola não pode mais dar à luz, fez laqueadura. Nos próximos meses, assistentes sociais vão avaliar se ela tem condições de reconquistar a guarda do bebê que você viu no início da reportagem.

Drauzio: Por que com ele você acha que foi uma coisa mais forte, assim, essa coisa da maternidade?
Fabíola: Porque eu realmente queria cuidar dele. É o meu último filho. Eu não tive condição de cuidar dos outros, né? Então eu queria fazer tudo que eu não fiz para os outros pra ele.

“Quero que ela seja internada em um hospital, que ela não sai, não fuja e que ela faça o tratamento para ela não mexer com isso mais”, conta a avó de Samara.

“Quero ser um cozinheiro, quero tomar conta duma cozinha e futuramente abrir meu restaurante”, planeja Antônio.

“Quero voltar a trabalhar. Nossa, o meu maior sonho agora é seguir minha vida”, acredita Sirlene.

REFÉNS DO CRACK


ZERO HORA 30 de outubro de 2013 | N° 17599

LETÍCIA COSTA E VANESSA KANNENBERG

Criança de três anos mostra onde pai guardava a droga. Filho de um casal de Teutônia, no Vale do Taquari, comoveu policiais que participaram de ocorrência


Em meio a uma ocorrência envolvendo uma briga de casal, um menino de três anos surpreendeu dois policiais militares ao apontar o local onde o pai escondia 18 pedras de crack. Induzida pela mãe, a criança buscou um cano PVC, no pátio de casa, que abrigava a droga. O homem foi autuado em flagrante por tráfico de entorpecentes.

Chamada para atender a situação de violência doméstica por volta das 3h de ontem, a Brigada Militar (BM) de Teutônia, no Vale do Taquari, presenciou uma discussão de casal em que um acusava o outro de usar e traficar drogas. No meio da confusão estavam três crianças – um menino de nove anos, uma menina de oito anos e um menino de três anos. Ao sentar no colo da mãe, o filho mais novo foi indagado sobre onde estaria escondida a droga.

– Eu sei onde tá! – disse o menino de três anos à mãe.

A ação aconteceu na frente dos policiais militares, enquanto eles também procuravam drogas pela casa. Conforme relato do soldado Rodrigo do Nascimento, a criança conduziu a mãe até o pátio e, na volta, a mulher entregou à BM um cano fino com buchas de crack.

– É a primeira vez que presencio a situação de a criança apontar o local e colaborar. Sou pai de uma criança de cinco anos e, como pai, senti bastante. Não tem como não ficar chocado – comenta Nascimento.

Ao atender ao pedido da mãe e agradá-la, o menino não tinha intenção de prejudicar o pai, comenta a psicóloga de crianças e adultos, Aidê Knijnik.

– O que ele fez foi obedecer à mãe, mas não tem consciência de que aquilo é droga e de que estaria contra o pai. Com três anos a criança está ainda com muita fantasia, começando a adquirir a consciência moral, que só aos seis anos estará bem clara – explica Aidê.

Homem foi autuado e levado para Presídio de Lajeado

A ocorrência, levada ao delegado Humberto Roehrig, da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado, resultou na autuação em flagrante por tráfico de drogas do pai, que foi levado ao Presídio Estadual de Lajeado. A mãe foi liberada. Os nomes dos envolvidos não são publicados em obediência ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que preserva a identidade da crianças.

– Não tinha elementos contra ela, até porque entregou a droga. A investigação agora ficará a cargo da delegacia de Teutônia – diz Roehrig.

Filhos irão para abrigo

Conforme o soldado Rodrigo do Nascimento, a droga faz parte da rotina da família. Tanto o pai quanto a mãe seriam usuários de crack, e as crianças teriam conhecimento do consumo.

Ontem, ao verem o pai sendo preso, as crianças choraram assustadas. Acionado pela Brigada Militar, o Conselho Tutelar de Teutônia acompanhou todo o caso. Uma equipe permaneceu com as crianças enquanto a ocorrência era apresentada no plantão em Lajeado. Após o retorno da mãe, a conselheira tutelar Betina de Borba explica que os filhos foram entregues a um familiar de confiança e serão encaminhadas para um abrigo.

A psicóloga Aidê Knijnik afirma que a situação de discórdia entre os pais e o ambiente carregado, com a presença da droga, é o maior prejuízo para o desenvolvimento das crianças, que podem apresentar sintomas de estresse.