COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

quarta-feira, 26 de março de 2014

QUANDO O AMOR NÃO BASTA


ZERO HORA 26 de março de 2014 | N° 17744


ARTIGOS


por Gilda Pulcherio*




O consumo de drogas permeia a história da humanidade. E, com muita tristeza, deparamos, ainda, com verdadeiras tragédias que envolvem este consumo. Algumas são tragédias anunciadas. Não só pelo comportamento violento do usuário, mas também pela ausência de tratamento. É comum que um dos cônjuges pense que, com seu afeto, poderá ajudar o outro a sair da dependência.

Eis a questão! Dependência implica doença. E, neste caso, a doença implica tratamento médico e psicológico. Assim como muitos minimizam ou desconhecem o conceito de dependência. É um diagnóstico! Não se trata de amor ou ódio. Quando há doença clínica como hipertensão arterial ou diabetes, ninguém tem dúvida quanto à necessidade profissional. Mas, quando os problemas são de ordem psicológica ou psiquiátrica, ainda há muitas resistências. E muitas quando se trata do consumo de drogas que sempre vão existir. Os cuidados e a prevenção são eternos.

Neste momento, anuncia-se a chegada de novas drogas ao país. E, em alguns casos, com um alto preço a pagar. Até quando vamos nos deixar ficar passivamente à espera de desfechos nas situações acima? Hoje, todos sabemos dos riscos e conse-quências do consumo de substâncias psicoativas. Sabemos hoje o que não tínhamos ideia há décadas atrás. Atualmente estão mais “pesadas” do que há 20 anos. Mesmo assim, jovens e adultos continuam consumindo largamente drogas lícitas e ilícitas. As mulheres unem-se aos homens, até porque agora estão podendo. Mas as consequências para as mulheres podem ser mais nefastas do que para os homens. A síndrome alcoólica fetal é um legado feminino. E tudo com o conhecimento e a permissão da sociedade.

Embora já tenhamos lei que proíba a venda de alcoólicos para menores, eles continuam sendo vendidos e todos fazemos “vistas grossas”. Enquanto não nos preocuparmos com a prevenção, vamos ter que carregar as consequências. Alguns para o resto de suas vidas.

O emocional orienta nossas ações. Senão, seríamos meros robôs. Por isso é tão importante que estejamos abertos para o entendimento de que a vida nos traz muitos conflitos em seu pacote e que o tratamento, quando indicado, é importante para a vida, para nos ajudar a sermos pessoas melhores e satisfeitas com nossas escolhas.

*PSIQUIATRA

segunda-feira, 24 de março de 2014

TOLERÂNCIA

O Estado de S.Paulo 24 de março de 2014 | 2h 07


Denis Lerrer Rosenfield* 




Os costumes alteram-se e com eles, certas noções corriqueiras do bem e do mal, do vício e da virtude. Comportamentos que eram considerados "maus" tornam-se socialmente aceitos, enquanto outros que eram admitidos não são mais compartilhados. Processos desse tipo são inerentes ao desenvolvimento das sociedades. Daí não se segue, porém, que o "novo" seja melhor que o "velho" ou que haja necessariamente "progresso" nessas mutações. Devemos ter o maior cuidado em não identificar o último na ordem do tempo com o melhor para o conjunto da sociedade.

O Brasil vive um momento particularmente interessante de sua História, numa espécie de frenesi pelo novo que ganha contornos de uma realização do "bem". A predominância do politicamente correto funciona como um tipo de parâmetro que deveria ser universalmente válido, como se as pessoas não fossem mais capazes de fazer por conta própria o que consideram o melhor para si ou para a sociedade no seu conjunto. Impera a emulação, a repetição do que vem a ser tido por socialmente aceitável.

Dentre essas transformações dos costumes têm ganho especial relevância em certos formadores de opinião diferentes pressões para a legalização da maconha, como se tal medida fosse capaz de reduzir seu mercado ilegal. Mais que isso, começam a surgir argumentos sobre seus supostos benefícios para a saúde, segundo hipotéticos estudos científicos. Aliás, torna-se uma prática corrente nos meios jornalísticos considerar uma mera hipótese de trabalho como verdade definitiva. Ato seguinte, os defensores políticos dessas ideias passam a propagar tal "verdade" como se "científica" fosse. Trata-se, de fato, de uma empulhação.

Exemplos começam a se multiplicar. O Uruguai passou a ser considerado um país "progressista" por ter legalizado o consumo da maconha, abrindo as portas para que seu comércio se torne legal. Nesse sentido, esse país representaria o "progresso", enquanto seus adversários seriam a concretização do "atraso". O respaldo é ainda reforçado por modificações legislativas em alguns Estados americanos, como se estivéssemos diante de algo inexorável.

Inexorável talvez seja a tendência hoje vigente de considerar qualquer mudança nos costumes como a encarnação do bem. A questão que se coloca é se uma maior tolerância ao consumo de drogas como a maconha deva traduzir-se por sua liberação. Uma coisa consiste em a sociedade aceitar certos comportamentos como nocivos, sem se preocupar demasiado em coibi-los, uma vez que toda sociedade deveria ser capaz de conviver com a diferença e mesmo com comportamentos desviantes em relação aos padrões usualmente aceitos. Uma repressão muito forte pode dar ensejo a formas violentas de reação. Já a tolerância indiscriminada pode levar à contaminação de toda a sociedade.

Os extremos devem ser evitados. Já dizia Aristóteles que a virtude está no termo médio.

Acontece que esse tipo de acolhimento do "novo" e da "diferença" é fortemente contrastado com a condenação de outros comportamentos, como os do consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas. É deveras curioso. Os que defendem o consumo da maconha agora começam a apregoar que ela é menos nociva que o do tabaco e do álcool. Logo, ela deveria ser bem mais favorecida!

Observem o paradoxo. A maconha deveria ter seu consumo legalizado - aí, portanto, incluindo sua produção e seu comércio. Deveriam os produtores e comerciantes pagar impostos, o que, na visão de seus defensores, iria reduzir, se não eliminar, o tráfico de drogas - ao menos dessa droga. A tolerância seria implementada, ainda conforme os mesmos defensores, com o reconhecimento da "diferença".

Contudo a mesma ideia de tolerância não é aplicada ao tabaco e ao álcool, cada vez mais tidos por um problema comportamental e de saúde pública que deveria ser equacionado. E equacionado por meio de campanhas que só se têm intensificado, aumentando, inclusive, sua tributação.

Caso particularmente paradigmático é o do tabaco. O consumo e a produção - esta envolve 160 milhões de agricultores familiares - estão sendo desestimulados mediante políticas frequentemente coercitivas. É como se o comportamento saudável devesse ser imposto pelo Estado, restando aos indivíduos apenas a obediência e a tutela, como se fossem incapazes de decidir por si mesmos. Qual é o problema de uma pessoa que gosta de fumar e beber? Não é a livre escolha uma opção sua? Será que as pessoas necessitam de controladores de consciência?

O contraste é ainda mais acentuado quando se procura legalizar a maconha, fazendo do seu consumo um negócio como outro qualquer, passando o tráfico a mudar de natureza, tornando essa droga um produto comercializável, enquanto se faz o processo inverso no que diz respeito ao tabaco.

O tabaco passa a ser fortemente tributado, criando um mercado negro, o do contrabando, que já representa 30% do mercado total. Empregos estão sendo perdidos. O que antes era tido por tráfico passa a ser considerado como "legal", enquanto o que era e é legal passa a ser objeto de "contrabando", comércio ilegal que só favorece, na verdade, o Paraguai. O consumo de álcool, a continuar essa tendência, seguirá pelo mesmo caminho.

Tudo isso se deve a uma espécie de cruzada do politicamente correto. Este toma o que considera "bom" ou "progressista" como algo que deve ser simplesmente imposto aos que não querem seguir a nova forma de "virtude".

Bernard de Mandeville, célebre libertário do século 17, naquele então denominado libertino, já advertia contra os reformadores sociais, os reformadores dos costumes, que, em nome da virtude, terminavam produzindo formas de desestruturação econômica e social. A imposição do bem pode produzir daninhas consequências. É a marcha da intolerância.

*Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na UFRGS. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

300 MENORES NA FESTA DOS HORRORES


08/03/2014 , por Jornalismo Rádio Uirapuru

Trezentos menores de idade são flagrados na Festa dos Horrores em Passo Fundo. Na copa havia uma expressiva quantia de uísque, cachaça, energético e cerveja, além de preservativos e vestígios de entorpecentes



Créditos: Lucas Cidade - Rádio Uirapuru

Na madrugada deste sábado (08), uma operação conjunta desencadeada pelo Conselho Tutelar e Brigada Militar flagrou a festa dos horrores em Passo Fundo.

Várias denúncias foram repassadas ao Conselho Tutelar e para a Sala de Operações da Brigada Militar informando que em um ginásio, localizado na rua Pedro Vancini no bairro Dom Rodolfo, seria realizada uma festa para adolescentes e que as bebidas alcóolicas e entorpecentes seriam distribuídos livremente.

Ao receber as denúncias o conselheiro Fernando Daré, juntamente com o Tenente Daisson da BM e com o apoio de guarnições do 3º Batalhão de Operações Especiais (BOE), capitaneadas pelo Sargento Almeida, realizaram a batida no ginásio.

No momento em que os policiais interromperam a festa foi constatada a veracidade da denúncia, pois aproximadamente 500 jovens estavam no local, sendo que trezentos eram adolescentes menores de idade e muitos apresentavam visíveis sinais de embriaguez.

O ginásio onde estava ocorrendo o evento não tinha o mínimo de segurança e as condições eram precárias.

Na copa do estabelecimento havia uma expressiva quantia de whisky, cachaça, energético e cerveja, além de preservativos e vestígios de entorpecentes.

Um menino de 17 anos e duas meninas, de 16 e 15 anos, se apresentaram para os policiais como os responsáveis pelo evento.

Os jovens maiores de idade foram revistados e liberados. Todos os trezentos adolescentes foram entregues para os pais ou responsáveis que compareceram ao local e efetuaram o preenchimento de um cadastro junto ao Conselho Tutelar.

Os adolescentes organizadores da festa foram conduzidos até a Delegacia de Pronto Atendimento da Polícia Civil, onde foi registrada a ocorrência e entregues para os responsáveis.

Todo o procedimento realizado pelo Conselho Tutelar será encaminhado ao Ministério Público que irá instaurar um processo para investigar o caso.

Confira o boletim do Repórter Lucas Cidade, que acompanhou a operação:



 

CRACOLÂNDIA NA SERRA


ZERO HORA 10 de março de 2014 | N° 17728


GUILHERME PULITA


20 ANOS DE EPIDEMIA. Como é a vida em uma cracolândia na Serra




A epidemia do crack no Rio Grande do Sul completa 20 anos em 2014. A chamada droga da morte foi apreendida pela primeira vez no Estado em 1994, no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, a Vila do Cemitério. Foi a partir desse bairro de Caxias do Sul que o entorpecente espalhou seus tentáculos. Hoje, não é apenas a comunidade do Euzébio que sofre as consequências do enraizamento do crack na sociedade. A droga mudou o perfil do crime, dos bandidos e da segurança pública.

A cracolândia em que a reportagem se infiltrou fica na segunda linha de casas às margens da Rua Henrique Cia. O dono do ponto de tráfico criou uma estratégia para escravizar os viciados que proliferam na cidade: ele mantém uma casa para drogados usarem crack longe dos olhos da comunidade e da repressão policial. A estrutura da cracolândia é organizada. Divididos em turnos, viciados que trabalham para o traficante dividem as responsabilidades pela vigilância da boca e pelo tráfico.

– A boca ferve a mil graus. É 24 por 24 (24 horas por 24 horas). Se cair (se descoberta pela polícia), 10 minutos depois já tá de pé (funcionando) outra vez – explica o segurança.

Não é qualquer pessoa que pode entrar na “casinha”, como é chamada a cracolândia pelos viciados. O vigia externo é quem controla a entrada ao beco de acesso à casa. A construção é de dois pisos. No primeiro pavimento, crianças passam as tardes assistindo à TV e à movimentação dos drogados. No segundo andar, o cenário é triste. Uma casa suja, fétida, com dezenas de pessoas conversando ao mesmo tempo, discutindo, brigando e fumando crack sem parar. Neste espaço ainda existem sofás e colchões, usados por viciados para dormir quando o corpo já não aguenta mais os efeitos da droga. É comum drogados passarem dias ali.

– A gente é como uma família. Um apoia o outro. Todo mundo é viciado igual – conta uma prostituta das margens da ERS-453, que há sete anos fuma crack.




70% dos crimes envolvem crack, diz oficial da BM

À noite, o cenário é ainda pior. Viciados de outros pontos da cidade invadem o bairro em busca do crack, depois de passarem o dia vagando pelo Centro. Brigas são comuns e muitas já resultaram em assassinato. De acordo com o delegado Vítor Carnaúba, titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil, quase que a totalidade dos furtos acontecem na área central da cidade são cometidos para sustentar o vício no crack. Hidrômetros, placas de prédios e até semáforos são levados e vendidos como sucata.

– E como é um crime de menor potencial ofensivo. Eles podem praticar cinco, 10, 20 crimes antes de ficarem presos em definitivo – lamenta o delegado.

O comandante da Brigada Militar na Serra, tenente-coronel Leonel Bueno, diz que 95% das ocorrências atendidas pela corporação na cidade têm relação com drogas – 70% envolve consumo ou venda crack.

– Sem o envolvimento de todos os órgãos de assistência e de segurança fica difícil resolver essa epidemia – avalia o oficial.

quinta-feira, 6 de março de 2014

DROGAS INCENTIVAM A CRIMINALIDADE VIOLENTA




JORNAL DO COMÉRCIO 06/03/2014

EDITORIAL



A criminalidade está avançando em todo Brasil. É lastimável e não se noticia apenas o negativo, porém, atualmente, o fato negativo está predominando. A criminalidade avança com a falta de escrúpulos, desde os altos escalões em Brasília, os benefícios autopromulgados em favor das elites dirigentes e a diferenciação de classes que existe no País. É que existem pessoas que se consideram com mais valor do que têm. Outras desconhecem o quanto valem.

Temos uma geração criada da maneira mais irresponsável possível, sem pai nem mãe, literalmente, sem exemplos, sem boas companhias e sabendo de falcatruas ali no vizinho, na esquina ou, o pior, nas camadas dirigentes nacionais. E não é de hoje, nem deste século que recém está completando pouco mais de 13 anos. Além dos marginais há pessoas que devem combatê-los mas se tornam cúmplices de assassinatos, roubos e no tráfico de drogas. Isso é confirmado quando divulga-se que o consumo de cocaína mais que dobrou no Brasil em menos de 10 anos e é quatro vezes superior à média mundial, segundo órgão da ONU. A maconha continua sendo a droga mais consumida na América do Sul, por cerca de 14,9 milhões de pessoas. O número é 4,5 vezes o total dos usuários de cocaína, com destaque para o Brasil.

Por isso é que a guerra no Rio e em São Paulo está direta entre agentes policiais e marginais, com mortes de ambos os lados. Diz-se que registros de autos de resistência são forjados por policiais, nas duas grandes cidades, enquanto bandidos atacam as promissoras Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, atirando a esmo e matando sem dó nem piedade. A integração das polícias militar e Civil é fundamental, como sempre, para fazer um trabalho de inteligência. Além disso, por exemplo, a rápida chegada da polícia científica para periciar o local está diretamente relacionada com as possibilidades de solução de um homicídio. Temos que voltar, no Rio Grande do Sul, às taxas bem inferiores de homicídios e latrocínios, que só têm aumentado. O que importa é a prevenção, mas feita em diversas frentes.

O tecido social é formado por variáveis que não dependem apenas de policiamento. Começa na educação curricular e nas famílias. Ser criado em um ambiente com bons exemplos, mesmo que com dificuldades financeiras, é básico. Escolas estruturadas para apontar não apenas o saber, mas o que é certo ou errado é importante.

Orientar para o esforço, a disciplina e aplicar os deveres antes dos direitos também ajudará a formarmos jovens na senda do trabalho, da organização, da fraternidade e do correto no amplo e geral sentido. Não podemos continuar convivendo, em Porto Alegre, com favelas em que a promiscuidade infecciona mentes e corpos. Ali, onde o tráfico faz a sua hedionda colheita de usuários e fornecedores antes dos 18 anos.

Temos que reagir, como sociedade organizada - dando moradia, trabalho, e educação -, mostrar o que é bom ou ruim e balizar que o crime não compensa. O problema, no Brasil, é que, aqui e acolá, às vezes o crime tem compensado e muito, e isso alimenta a fantasia de adolescentes malpreparados para a vida, que buscam no crime a senda que lhes parece mais fácil para ganhar dinheiro.