COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

segunda-feira, 10 de março de 2014

CRACOLÂNDIA NA SERRA


ZERO HORA 10 de março de 2014 | N° 17728


GUILHERME PULITA


20 ANOS DE EPIDEMIA. Como é a vida em uma cracolândia na Serra




A epidemia do crack no Rio Grande do Sul completa 20 anos em 2014. A chamada droga da morte foi apreendida pela primeira vez no Estado em 1994, no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, a Vila do Cemitério. Foi a partir desse bairro de Caxias do Sul que o entorpecente espalhou seus tentáculos. Hoje, não é apenas a comunidade do Euzébio que sofre as consequências do enraizamento do crack na sociedade. A droga mudou o perfil do crime, dos bandidos e da segurança pública.

A cracolândia em que a reportagem se infiltrou fica na segunda linha de casas às margens da Rua Henrique Cia. O dono do ponto de tráfico criou uma estratégia para escravizar os viciados que proliferam na cidade: ele mantém uma casa para drogados usarem crack longe dos olhos da comunidade e da repressão policial. A estrutura da cracolândia é organizada. Divididos em turnos, viciados que trabalham para o traficante dividem as responsabilidades pela vigilância da boca e pelo tráfico.

– A boca ferve a mil graus. É 24 por 24 (24 horas por 24 horas). Se cair (se descoberta pela polícia), 10 minutos depois já tá de pé (funcionando) outra vez – explica o segurança.

Não é qualquer pessoa que pode entrar na “casinha”, como é chamada a cracolândia pelos viciados. O vigia externo é quem controla a entrada ao beco de acesso à casa. A construção é de dois pisos. No primeiro pavimento, crianças passam as tardes assistindo à TV e à movimentação dos drogados. No segundo andar, o cenário é triste. Uma casa suja, fétida, com dezenas de pessoas conversando ao mesmo tempo, discutindo, brigando e fumando crack sem parar. Neste espaço ainda existem sofás e colchões, usados por viciados para dormir quando o corpo já não aguenta mais os efeitos da droga. É comum drogados passarem dias ali.

– A gente é como uma família. Um apoia o outro. Todo mundo é viciado igual – conta uma prostituta das margens da ERS-453, que há sete anos fuma crack.




70% dos crimes envolvem crack, diz oficial da BM

À noite, o cenário é ainda pior. Viciados de outros pontos da cidade invadem o bairro em busca do crack, depois de passarem o dia vagando pelo Centro. Brigas são comuns e muitas já resultaram em assassinato. De acordo com o delegado Vítor Carnaúba, titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil, quase que a totalidade dos furtos acontecem na área central da cidade são cometidos para sustentar o vício no crack. Hidrômetros, placas de prédios e até semáforos são levados e vendidos como sucata.

– E como é um crime de menor potencial ofensivo. Eles podem praticar cinco, 10, 20 crimes antes de ficarem presos em definitivo – lamenta o delegado.

O comandante da Brigada Militar na Serra, tenente-coronel Leonel Bueno, diz que 95% das ocorrências atendidas pela corporação na cidade têm relação com drogas – 70% envolve consumo ou venda crack.

– Sem o envolvimento de todos os órgãos de assistência e de segurança fica difícil resolver essa epidemia – avalia o oficial.

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