COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

APREENSÃO DE 220 KG DE MACONHA NO RS



DIÁRIO GAÚCHO 05/12/2014 | 05h59


Polícia Civil apreende 220kg de maconha em Novo Hamburgo. Quadrilha era investigada há cinco meses



Foto: Denarc, divulgação


Pedro Quintana, Rádio Gaúcha


O Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc) apreendeu 220kg de maconha no final da noite desta quinta-feira, em Novo Hamburgo. A droga estava em uma residência no bairro Santo Afonso, no limite com São Leopoldo, conforme informações da Rádio Gaúcha.

Dois homens e mulher foram presos e um adolescente de 15 anos foi apreendido. As investigações do Denarc se iniciaram há cinco meses. Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, a quadrilha fazia a rota do interior do Estado, especialmente de Bagé até Novo Hamburgo e era responsável por abastecer traficantes de toda a Grande Porto Alegre.


A origem da droga era o Paraguai. Foram presos dois homens, de 39 e 27 anos, uma mulher de 19 anos e apreendido um adolescente de 15 anos. Um dos detidos estava foragido acusado de latrocínio.


Foto: Denarc, divulgação


RÁDIO GAÚCHA

terça-feira, 25 de novembro de 2014

BELEZA ESCONDIDA



ZERO HORA 25 de novembro de 2014 | N° 17994


CRACOLÂNDIA. Viciada, ex-modelo vive nas ruas de SP



LOEMY, 24 ANOS, saiu de Mato Grosso em 2012 em busca de trabalho e foi vencida pela drogaUma ex-modelo de Mato Grosso, que foi a São Paulo em busca de oportunidades para a carreira, encontrou um outro caminho quando chegou à maior cidade do país: o crack. Loemy, 24 anos, 1m79cm de altura e olhos verdes, chama atenção em meio à sujeira do local conhecido como cracolândia, no centro da capital paulista. A revista Veja São Paulo conversou com a jovem na semana passada. A reportagem destaca que, quando ela não está sob o efeito de drogas, é lúcida e articulada, consciente de sua situação.

– Quando me mudei para São Paulo e descobri que existia um lugar como a cracolândia, fiquei horrorizada com aquelas pessoas na rua. Hoje, eu é que estou nessa situação – disse à revista.

Loemy consome cerca de cinco pedras de crack por dia, a um valor de R$ 10 cada. Para conseguir o dinheiro, ela se prostitui. A ex-modelo contou à Veja que se sente humilhada ao pedir esmola e que, uma vez, tentou roubar uma senhora. No entanto, ao empurrá-la para pegar a bolsa, sentiu-se mal ao vê-la cair no chão e prometeu nunca mais fazer isso.

Ela lembra o dia e horário em que fumou crack pela primeira vez: 15 de setembro de 2012, às 4h da manhã. Loemy disse que estava em um táxi e, em vez de ir direto para a casa onde morava com outras duas jovens, desviou o caminho e desceu perto da Praça Júlio Prestes para comprar maconha. Contudo, foi assaltada, e o desespero por ter perdido o pouco dinheiro que tinha tomou conta.

– Até que colocaram um cachimbo na minha boca. Foi como uma tomada para carregar – compara.

A ex-modelo nasceu em um município de aproximadamente 50 mil habitantes, no interior do Mato Grosso. É a filha mais nova de uma empregada doméstica e um garimpeiro. A mãe, Elizabeth, conversou com a revista e contou que foi a São Paulo em junho de 2013 para tentar convencer Loemy a voltar para a cidade onde nasceu, para se tratar, mas não obteve sucesso. Agora, apela às orações.

– Já tentei interná-la, mas não deu certo. Toda noite fico de joelhos e oro por duas horas, pensando em quantas noites ela dorme com fome. A única solução é conseguir um tratamento em São Paulo – falou à reportagem Elizabeth, que é fiel da igreja evangélica Congregação Cristã no Brasil.

SONHO DE VOLTAR A ESTUDAR SOBREVIVE

Além da mãe, outras pessoas também tentaram tirar Loemy das ruas. Ofereceram-lhe casa e tratamento, mas o vício sempre a leva de volta à cracolândia. Em 2013, passou por um centro de tratamento na capital paulista, mas se negou a ser internada e não quis passar por atendimento psicossocial.

Na infância, foi abusada sexualmente pelo padrasto. Nas ruas, também já foi violentada. A vaidade dos tempos de modelo não existe mais. Apesar da situação em que vive e do passado do qual lembra alternando dores e alegrias, deseja sair dessa e voltar a estudar.

– Quero ser engenheira, acho que estou velha demais para ser modelo – diz esperançosa.

domingo, 16 de novembro de 2014

DENTISTA ENVOLVIDA COM TRÁFICO DE ARMAS E DROGAS


Dentista é presa por suspeita de tráfico em Curitiba. Marina Stresser de Oliveira diz desconhecer a existência das armas encontradas em seu consultório


ZERO HORA 15/11/2014 | 22h05




Dentista foi presa enquanto recebia uma espingarda calibre 12 e uma pistola 9 mm Foto: Cícero Back / Estadão Conteúdo


Presa em flagrante na terça-feira, 11 de novembro, quando recebia uma espingarda calibre 12 e uma pistola 9mm, a dentista paranaense Marina Stresser de Oliveira diz desconhecer a existência das armas e drogas apreendidas em sua casa e consultório.

No clínica onde atendia os pacientes, na região sul de Curitiba, foram encontrados 30 projéteis de fuzil. Já na casa de Oliveira, havia uma submetralhadora, uma pistola, 15 quilos de maconha e 1,3kg de crack.


A delegada que está cuidando do caso, Camila Ceconello, acredita que a dentista estivesse dando continuidade ao "trabalho" do marido, que foi preso a cerca de um ano e meio sob suspeita de tráfico de drogas. O nome dele não foi divulgado.

Segundo as investigações, a dentista, que tem 26 anos, usava o consultório para distribuir drogas e armas.

Quando foi apresentada à imprensa, Marina foi irônica: "Agenda só no ano que vem".

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

DIA PARA DEBATER NOVA LEI DE COMBATE ÀS DROGAS



ZERO HORA 10 de novembro de 2014 | N° 17979

ENTREVISTA

LUIZ MATIAS FLACH
Presidente do Instituto Crack Nem Pensar



Primeiro delegado de tóxicos do Rio Grande do Sul, Luiz Matias Flach defendia, no final dos anos 1960, a repressão como medida mais eficiente no combate às drogas. Aos 72 anos, o juiz aposentado, que também foi presidente dos conselhos estadual e federal de entorpecentes e secretário nacional de Entorpecentes no governo Itamar Franco, mudou sua perspectiva sobre o tema. Flach preside, desde abril, o Instituto Crack Nem Pensar, que promove hoje o seminário Tendências e Propostas para a Nova Lei de Drogas, na Capital.

Como o senhor define o projeto de lei que está no Congresso?

É uma lei ambiciosa. A questão substancial é se representa avanço ou não. Essa é a grande controvérsia. Com certeza, essa pretende ser uma legislação severa, estabelecendo um reforço dos controles, não só do tráfico, mas com relação a toda a administração que envolve drogas.

Qual o tratamento ao usuário?


O autor da lei (deputado Osmar Terra) diz com ênfase que não muda nada, que a atual legislação de drogas estabelece ainda a incriminação do portador para uso próprio de drogas proibidas, com penas alternativas, que não a prisão. Mas haverá aumento dos prazos de medidas alternativas de prestação de serviços e medidas pedagógicas, além de restrições que eram inexistentes, como de horários para frequentar boates. Sobre internações involuntárias, até se aceita que, em determinadas situações, os usuários estão de tal forma envolvidos com a droga que os familiares não têm outra forma de tentar um enfrentamento do que a determinação da internação compulsória. Está previsto, e tem uma palavrinha inquietante: poderá ser requerida pela família, ou por terceiros. Por terceiros, pode-se imaginar que seja a partir de setores do poder público.

Quais são as políticas mais consistentes?

Eu fui um delegado severo, em uma época em que imaginei que se poderia, com a repressão, obter resultados interessantes. Com o tempo, fui mudando minha concepção. Verifiquei que a atividade do Estado – polícia, Justiça, cadeia – é inócua. Se gasta praticamente todo o dinheiro disponível na repressão que atinge substancialmente pessoas de pouca importância na cadeia produtiva de drogas, carecendo de recursos para prevenção, tratamento e recuperação. A repressão tem suas finalidades, mas deveria atingir patamares elevados da criminalidade e reconhecer isso como um fenômeno econômico, um enorme caixa dois. Estamos em um momento em que valeria a pena evoluir.

Em que é preciso evoluir?

Que se valorize a prevenção, as políticas públicas que vão ao encontro do usuário. Os dependentes estão em sofrimento e precisam de auxílio, e não repressão – embora não se deva confundir dependente e usuário, pois a maioria não é dependente e não se tornará. O usuário não deveria ter qualquer tipo de punição penal – desde que não interfira na vida dos outros. Punir o consumo individual de drogas sob pretexto de saúde pública se entende como equívoco histórico.

És a favor da legalização?

Nesta altura da minha vida, não sou a favor, nem contra nada. Há argumentos para tudo.

COMO PARTICIPAR
-Seminário Tendências e Propostas para a Nova Lei de Drogas, com o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS),o diretor-presidente do Instituto Avante Brasil, Luiz Flavio Gomes, e a antropóloga Alba Zaluar
-Hoje, das 14h às 18h
-Local: Escola Superior da Magistratura – Ajuris/RS, na Rua Celeste Gobbato, 229, em Porto Alegre
-Informações: pelo telefone (51) 3284-9164 e no site icnp.org.br

domingo, 9 de novembro de 2014

DROGAS LIBERADAS



ZH 09 de novembro de 2014 | N° 17978


PAULO SANT’ANA




Leio que um juiz mandou soltar o chefe do tráfico no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e o secretário da Segurança carioca ficou indignado.

A respeito disso, nunca entendi direito por que prendem os produtores de drogas e os traficantes de drogas, e não prendem os consumidores de drogas.

Afinal, nesse elo entre produtores, traficantes e consumidores, o vértice mais importante desse triângulo são os consumidores. Se estes não existissem, não iria haver os produtores e consumidores. Traficar e produzir para quem?

Mas como o consumo de drogas está espalhado e enraizado na sociedade, iria ser um deus nos acuda mandar prender os usuários de drogas. Acabaria alguém da nossa família ou do nosso círculo mais íntimo sendo levado à cadeia.

Isso se tornaria perigoso para nós todos.

Deduzo, então, que os consumidores de drogas não são presos porque são eles que sustentam esse elo entre a traficância e o consumo, eles é que pagam pelo vício. Os produtores e os traficantes são pagos por eles.

Quando se fala em liberar as drogas, parece que uma bomba é lançada sobre a sociedade e muitos alegam que o consumo de drogas então seria alastrado como uma grande e maior praga social da que agora assim se configura.

Mas uma coisa é certa nisso tudo: fossem liberadas as drogas, morreria muito menos gente, ou melhor, não morreria ninguém assassinado. E tantas pessoas são assassinadas no Brasil por causa das drogas.

Eu, se fosse importante, faria esta experiência: liberar as drogas. Tenho quase certeza de que a situação social melhoraria.

Para começar, acabariam os traficantes. Todo mundo iria comprar suas drogas no comércio legal e licenciado.

Não seria de se fazer essa experiência? Só em escrever isso, sei que arrepio muita gente. Mas essa gente não se arrepia agora com as drogas proibidas?

Isso que nunca usei droga em minha vida.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

JOVENS SÃO PEGOS COM 74 DOSES DE LSD

 

CORREIO DO POVO 22/10/2014

Dupla é pega com 74 doses de LSD dentro de shopping, na Capital. Menor de idade foi encaminhado para a DECA e o jovem para a 14ª DP


Hygino Vasconcellos 



Um adolescente de 16 anos foi apreendido e um jovem de 20 anos foi preso em flagrante com 74 doses de LSD na tarde desta quarta-feira. Segundo o titular da 14ª Delegacia de Polícia, Tiago Baldin, os dois estavam em um shopping center, na zona norte da Capital, onde, uma adolescente os encontraria para efetuar a compra dos entorpecentes, o que acabou não ocorrendo.

Após a venda frustrada a dupla foi para o estacionamento do shopping, onde foram abordados. Em seguida, os agentes se deslocaram para a residência do jovem de 20 anos, onde foram localizados uma balança de precisão, cerca de 200 gramas de maconha e duas buchas de droga sintética em pó para dissolução em bebidas, além de celulares e dinheiro.

A polícia estava monitorando o adolescente, após informações de que ele estaria vendendo drogas próximo de escolas da zona norte de Porto Alegre.

O menor foi encaminhado ao Departamento Estadual da Criança e Adolescente (DECA) e o jovem para a 14ª DP, onde foi autuado em flagrante por tráfico de drogas e corrupção de menor.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

JUÍZES A FAVOR DA MACONHA



JORNAL DO COMÉRCIO 22/09/2014 - 14h46min


Juízes condenam em audiência no Senado proibição ao uso da maconha

Agência Brasil


Juízes condenaram hoje (22) a proibição do consumo da maconha no Brasil. Eles participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado para discutir a regulamentação do uso recreativo, medicinal e industrial da maconha. No debate desta segunda-feira, o tema foi o impacto do uso da droga para a Justiça.

"O proibicionismo fracassou. Eu não vou dizer que a regulamentação é a solução, muito menos como seria essa regulamentação, que é extremamente complexa, mas o proibicionismo fracassou em relação ao álcool, nos Estados Unidos, e está fracassando em relação à droga no mundo inteiro", disse o juiz Roberto Luiz Corcioli Filho.

Para o magistrado Carlos Maroja, os usuários de drogas não devem ser considerados criminosos, mas pessoas que precisam de ajuda. Segundo ele, as quatro varas de entorpecentes no Distrito Federal têm juntas cerca de 10 mil processos envolvendo traficantes - a maioria formada por usuários que começam a comercializar a droga para suprir o próprio vício. "O sistema penitenciário infelizmente não ajuda a educar as pessoas, e o problema grande aqui é [falta] de educação."

A proibição da substância também foi criticada pelo juiz João Batista Damasceno, representante da Associação de Juízes para a Democracia. Ele destacou que defender a regulamentação do uso da maconha não significa incentivar o consumo. "A regulamentação da produção, do comércio e uso de drogas pode ser o começo para passarmos a tratar da questão à luz do dia - e a luz do sol é o melhor desinfetante - e vislumbrarmos os efeitos danosos do proibicionismo."

Além de juízes, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), responsável por elaborar um parecer - favorável ou não à elaboração de projetos de lei sobre o assunto - ouviu mais especialistas e representantes da sociedade civil que se manifestaram contrários à regulamentação do uso recreativo da droga.

Entre as posições contrárias à liberação está a do procurador da República, Guilherme Schelb, que citou dados de pesquisas internacionais. "Na questão da prostituição, a incidência do consumo de drogas é total. As crianças e adolescentes exploradas sexualmente recorrem intensamente ao consumo de drogas. É intenso o consumo de drogas também associado à prostituição e ao estupro. Trago uma pesquisa dos Estados Unidos que revelou que, em 90% dos casos de violência sexual e estupro, nas universidades americanas, o autor, a vítima, ou ambos estavam sob o efeito de drogas."

A professora Maria Alice Costa, de Brasília, também fez um apelo contrário à regulamentação do uso recreativo da maconha. Ela contou a experiência com a filha, que é dependente química."Ela experimentou para recrear. Ela experimentou para se divertir. Só que isso a levou ao vício. Ela não conseguiu mais se libertar da maconha. E como consequência de ela não conseguir se libertar da maconha, ela começou a procurar outras drogas mais pesadas, até o crack."

A próxima audiência pública para discutir o assunto na Comissão de Direitos Humanos do Senado está marcada para o dia 13 de outubro.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

É MELHOR LEGALIZAR DO QUE REPRIMIR

"É melhor legalizar as drogas do que simplesmente reprimir", diz Olívio Dutra Divulgação/Divulgação

ZH 16 de setembro de 2014 | N° 17924


BRUNA VARGAS


ELEIÇÕES 2014
“É melhor legalizar do que reprimir”

OLÍVIO DUTRA é o quarto entrevistado da série que confronta os candidatos a temas polêmicos


Para a gravar sua participação na série multimídia da cobertura das eleições 2014 de ZH com os principais candidatos ao Senado, Olívio Dutra (PT) aproveitou uma brecha durante uma caminhada pela Vila Cruzeiro, ontem à tarde, na Capital.

O objetivo é fazer os concorrentes se posicionarem sobre cinco temas considerados polêmicos: casamento gay, legalização das drogas, fim da reeleição, passe livre para estudantes e redução da maioridade penal. São questões que o candidato, caso eleito, poderá ter de votar contra ou favoravelmente se algum projeto de lei chegar para apreciação do Senado.

As entrevistas foram gravadas em vídeo conforme a disponibilidade dos concorrentes. Eles têm 30 segundos para se posicionar sobre cada tema. Na semana passada, Pedro Simon (PMDB) abriu a série, seguido por Simone Leite (PP) e Lasier Martins (PDT).






segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NOVE ANOS, FUMA CRACK E 20 OCORRÊNCIAS NO JUIZADO

GLOBO TV, FANTÁSTICO, Edição do dia 14/09/2014


Menino de 9 anos fuma crack e tem 20 ocorrências no Juizado de GO. Em quatro anos de convivência com bandidos, menino bebe cachaça, fuma crack e já está jurado de morte. Juíza quer recolher Mauro para um abrigo.




O Fantástico mostra uma história breve e cujo final caberá a cada um de nós escrever. É a história de um menino sem destino. Deram-lhe o nome de Mauro, mas não lhe deram futuro.

Tem 9 anos e, desde os 5, vive fugindo pelas ruas de Goiânia. Como aqueles brinquedos de corda que, desnorteados, batem e tropeçam nos obstáculos do caminho. Sempre em busca de um que esteja livre, uma saída, pelo menos enquanto corda houver.

O pai do Mauro foi assassinado quando o menino tinha apenas três meses. O Mauro tem um irmão mais novo e uma avó preocupada. Desde que o menino começou a apresentar problemas de comportamento na escola, a mãe diz que não tem interesse em ficar mais com ele.

Mãe: Eu queria colocar ele em um lugar, eu sei lá, para ele sair aos 18.
Fantástico: Sair aos 18 anos?
Mãe: Eu estou cansada de pedir isso.

E não teve muito tempo para sonhar e viver a inocência dos primeiros anos. Fugiu da escola, onde aprendeu a roubar. Ganhou as ruas. Foi criado nas calçadas. Ficou conhecido como o menino ladrãozinho do bairro. E começou a tomar cachaça. E começou a fumar crack. Ficou dependente. E entrou no crime.

Menino teria se desentendido com traficante e está ameaçado de morte

Os traficantes usavam o menino para entregar drogas na área do Estádio Serra Dourada. Traficando no estádio onde as crianças descobrem o futebol. E assim ele construiu uma extensa lista de delitos, uma lista de gente grande. Aos nove anos de idade, quatro de convivência com a bandidagem, mais de 20 registros de ocorrências no Juizado de Menores.

Uma gravação foi feita no fim do mês passado, quando a criança foi levada mais uma vez para o Conselho Tutelar. O menino teria se desentendido com um traficante no bairro onde mora e agora está ameaçado de morte.

Policial: Se ele sair da cadeia ele disse que vai fazer o que contigo?
Mauro: Mata.

O último acolhimento foi esta semana e mais uma vez o Juizado de Menores não sabe o que fazer com ele. Recolhido a um abrigo, certamente o Mauro voltará às ruas na segunda-feira.

Fantástico: Ele é um perigo a sociedade, na sua visão?
Dácio Oliveira, conselheiro tutelar: Eu acredito que ele não é um perigo à sociedade. Ele tem nove anos de idade. É uma criança. Mas ele pode se tornar um perigo. Hoje em dia ele não é um perigo. Mas se ele continuar com os mesmos atos, com as mesmas amizades, continuando com o uso de droga, eu acredito que ele possa se tornar um grande perigo para a sociedade.

Juíza quer recolher Mauro para um abrigo e fazer uma desintoxicação

A juíza da Infância e da Adolescência de Goiás Mônica Neves Gioia diz que tomou conhecimento do caso no final de junho. Ela quer recolher Mauro para um abrigo para fazer uma desintoxicação e tentar livrá-lo das drogas.

Fantástico: A senhora tem esperança de que esse menino consiga a recuperação?
Mônica Neves Gioia: Se a intervenção for feita nesse momento, em caráter, assim, de urgência, de forma efetiva, sim, eu acredito que ele tenha.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, menores de 12 anos não podem ser internados. A guarda dos pais deve ser mantida e a criança tratada. “Esse menino é resultado de uma omissão de projetos sociais, de ações governamentais, de todo um contexto. No fundo cada um de nós colocou ele nessa situação. A sociedade como um todo é responsável pela situação”, ressalta a juíza.

“Tem conserto se alguém ajudar. Meu maior sonho como avó é ver esse menino daqui uns anos bem estudado e ser um rapaz direito, para cuidar da mãe dele quando ela estiver mais velha”, diz a avó de Mauro.

E como em um jogo de tabuleiro, uma caça ao tesouro imaginário, é o peão que não consegue avançar. Vai ficando para trás. Perdeu qualquer chance. Perdeu. Mauro é uma criança de nove anos que perdeu a infância. E que a sociedade, o Estado, a Justiça, não sabem como tratar, como ajudar, como recuperar para a maior das brincadeiras: a vida.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

PRESA POR TRÁFICO DIVULGA FOTOS COM ARMA E DROGAS NA INTERNET

DIÁRIO GAÚCHO 03/09/2014 | 08h33

Marilicie Daronco

Jovem presa por tráfico divulga fotos com arma e drogas na internet. Mulher foi presa em flagrante com quantidade de crack suficiente para fazer 600 pedras da droga



Foto: Facebook / reprodução



Uma ocorrência que começou com uma prisão em flagrante por tráfico de drogas acabou tendo um desfecho surpreendente na tarde desta terça-feira em Santa Maria.

A jovem de 18 anos flagrada em um bar, na Rua Felicidade, na Vila Renascença, tentando esconder 77 gramas de crack (quantidade suficiente para a produção de 600 pedras da droga) usava as redes sociais para divulgar fotos suas com armas e drogas.

Depois de prender a jovem e levá-la à Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), policiais do 2º Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar descobriram que ela tinha um perfil no Facebook. Na página, a suspeita divulga fotos com muitas notas de dinheiro, com um revólver na cintura e até uma atrás das grades. Em outras imagens, que são abertas para visualização pública, a jovem aparece em cenas sensuais e que dão a entender que está com uma trouxinha de droga na mão.

Entre os comentários da jovem e de outras pessoas nas fotos há pedidos de compra de entorpecentes. Em um desses comentários, a suspeita escreve: "entrei nessa vida simplesmente à toa", "dinheiro fácil nem sempre é bom" e "o mundo das drogas não passa de ilusão".

Depois de ser ouvida pela delegada Luiza Sousa, a jovem foi levada para o Presídio Regional de Santa Maria. 

Além do crack, os policiais acharam 61 gramas de maconha com ela.

As imagens e as declarações no Facebook serão usadas pela Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) na investigação do caso.

sábado, 23 de agosto de 2014

MUDANÇA QUE VALE A PENA


ZERO HORA 23 de agosto de 2014 | N° 17900


LUIZ CARLOS CORRÊA DA SILVA*


Esta reflexão vale especialmente para o leitor que ainda fuma. Não falarei de problemas da saúde por serem mais do que conhecidos. São 6 milhões de mortes anualmente, no mundo, devido a doenças relacionadas ao tabaco, particularmente do coração, das artérias – sobretudo os derrames cerebrais, dos pulmões e o câncer. Fumar aumenta 30 vezes a chance de ter câncer de pulmão. Um em cada cinco fumantes tem enfisema pulmonar. Os danos são muitos, culminando com a perda de mais de 10 anos de vida e da qualidade de vida. A propósito, você conhece alguém que se arrependeu de parar de fumar? Chico Anysio declarou não se arrepender de nada que fez na vida a não ser ter fumado.

Não chamarei atenção para os prejuízos profissionais. As empresas sabem que fumantes representam perda de produtividade, maior absenteísmo e menor preferência dos clientes, na sua maioria não fumantes.

Nem lembrarei seu desafio diário, pois sabe que faz mal, quer parar de fumar, mas não consegue tomar esta decisão. E sabe por quê? Porque a dependência o controla e dificulta sua mudança de comportamento. Se admitisse ter uma doença, como acontece com quem tem pneumonia ou pressão alta, aceitaria procurar ajuda e fazer um tratamento.

Não insistirei muito com você, pois costuma fugir desta abordagem. Talvez, nem esteja mais me lendo. Evitarei falar da sua autoestima, corroída pela dependência que só trará prejuízos e danos. Nem vou lembrá-lo do seu convívio social, prejudicado por não mais poder fumar nos ambientes fechados. Contenção e constrangimento acontecem no seu dia a dia.

Vou falar, sim, dos seus maiores valores. Da sua vida, dos seus entes queridos e dos seus sonhos. Seus planos poderão ser prejudicados, perdidos ou simplesmente nunca se realizar. E, convenhamos, em troca de quê?

Por favor, pare, pense em você, considere as pessoas que ama e não quer ver sofrer, esqueça a mídia e as pressões, use apenas a sua cabeça de maneira independente, inteligente e objetiva. Seja egoísta ao extremo para com sua saúde e tome imediatamente a decisão que será um marco na sua vida e, talvez, sua salvação!

*Médico da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

LUIZ CARLOS CORRÊA DA SILVA

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

TRAFICANTE DE DROGAS SINTÉTICAS EM POA

DIÁRIO GAÚCHO 18/08/2014 | 08h58

Preso um dos principais traficantes de drogas sintéticas da Capital. Apreensão de material para fazer comprimidos de ecstasy é a maior realizada no Estado



Foto: Denarc / Divulgação


O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) prendeu um homem apontado como um dos maiores traficantes de drogas sintéticas de Porto Alegre. Na ação da 4ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico, os policiais apreenderam 102g de metilenodioximetanfetamina (MDMA), material para fazer comprimidos de ecstasy, um quilo de maconha e um Celta.

A prisão por tráfico de drogas do homem de 27 anos, cujo nome não foi divulgado, ocorreu na madrugada de sábado, na Zona Norte, após um dia inteiro de campana. O homem retornava de uma viagem a Florianópolis (SC).


Conforme o delegado Cleomar Marangoni, essa foi a maior apreensão da droga no Estado:

— A quantidade do material apreendido é suficiente para a produção de cerca de 3,5 mil comprimidos de ecstasy. Também pode ser vendido puro, em festas de música eletrônica, por até R$ 400 o grama.

O diretor da Divisão de Investigações do Narcotráfico (Dinarc), delegado Cléber dos Santos Lima, diz que as investigações iniciaram há dois meses.

— O homem é um dos maiores traficantes de drogas sintéticas da capital gaúcha. Estávamos tentando pegá-lo com o entorpecente e, neste final de semana, conseguimos — conta Lima.

Após autuação em flagrante, ele foi conduzido ao Presídio Central de Porto Alegre.

sábado, 9 de agosto de 2014

PACIENTE COLOCOU FOGO EM HOSPITAL GERAL

ZERO HORA 07/08/2014 | 10h30

Paciente colocou fogo em hospital de São Francisco de Assis. Instituição confirmou que homem que estava internado em leito do SUS usou isqueiro para atear fogo

por Pâmela Rubim Matge


Foto: SBR Tiradentes / Divulgação


A direção do Hospital Caridade Santo Antônio, de São Francisco de Assis, na Região Central, confirmou nesta manhã que foi um paciente o responsável pelo incêndio que queimou um quarto do Sistema Único de Saúde (SUS) no começo desta madrugada. O local foi isolado e aguarda a chegada da perícia.

Conforme a direção, o homem de 41 anos usou um isqueiro para atear fogo nos lençóis da cama onde estava. As chamas se alastraram e atingiram o colchão, a estrutura da cama e as paredes além de provocar a queima da canalização de oxigênio do quarto 32, do leito do SUS.

O paciente estava internado no local. Ele é natural do município e sofreu queimaduras nas pernas, mas passa bem e segue em recuperação no mesmo hospital. Os outros dois pacientes que estavam no quarto não sofreram ferimentos. Já os dois policiais militares, de 30 e 41 anos, que controlaram o fogo foram encaminhados ao Hospital de Caridade de Santa Maria já que inalaram muita fumaça. Eles passam bem.

O quarto queimado está isolado aguardando a chegada de Instituto Geral de Perícias.


N

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

MACONHA: SIM OU NÃO


ZERO HORA 07 de agosto de 2014 | N° 17883


CÉSAR AUGUSTO TRINTA WEBER


Sabemos que a proibição do consumo de drogas lícitas, como o tabaco e o álcool, a menores é pouco eficaz tanto aqui quanto nos Estados Unidos. Assim, acreditar que a proibição da venda da maconha para essa faixa etária impediria o consumo seria pura candura.

Sem consenso, a favor da legalização da maconha há os argumentos do uso medicinal baseado em estudos científicos que sustentam ser o canabidiol – substância química encontrada na maconha –, em determinados quadros clínicos, de boa resposta terapêutica, sobretudo, para doenças neurológicas. Com indicação precisa, em doses terapêuticas adequadas, com o uso controlado e a devida comprovação dos benefícios frente aos riscos, tudo indica ser justificável a sua utilização para um melhor bem-estar do paciente.

Contra, o fato de que, legalizada, poderia ter um efeito estimulador ao uso deliberado. A circunstância da legalização, associada ao fato de que, em nosso meio, o uso da maconha vem se mostrando culturalmente aceito, pode ter um efeito catalisador para o primeiro uso ou para o uso esporádico.

Amparado por lei, o usuário desfrutaria livremente dessa experiência. Nessa perspectiva, estar-se-iam aumentando as chances de o uso se tornar abuso, podendo ter consequências mais nefastas, entre elas, o caminho para drogas mais pesadas ou ainda a indesejável dependência.

Agora, para aqueles que fazem uso abusivo ou são dependentes químicos, a liberação em nada influenciaria, pois nesses casos o que importa são o preço e a disponibilidade da droga. Fica a questão: legalizar ou não?

Médico

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

INTERNAÇÕES SEM EFEITO




ZERO HORA 04 de agosto de 2014 | N° 17880

MARCELO GONZATTO


SAÚDE. Depois da alta, retorno ao crack

PESQUISA REALIZADA NO Rio Grande do Sul mostra que quase 90% dos adolescentes voltam a usar a droga nos três meses que se seguem a um período de tratamento, demonstrando a ineficácia do atual modelo de tratamento para dependentes



De cada 10 adolescentes internados pelo sistema público de saúde para combater o vício do crack no Rio Grande do Sul, em média nove voltam a usar a droga até três meses depois de receber alta.

Além disso, um terço necessita de uma nova internação, e outros 36% se envolvem com a prática de crimes nesse período, conforme um estudo apresentado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O trabalho indica que, apesar do investimento de R$ 1,4 bilhão apenas do governo federal para reforçar a rede de atendimento aos dependentes, o serviço não oferece a eficácia desejada.

Em sua tese de doutorado, a psicóloga e doutora em Ciências Médicas Rosemeri Siqueira Pedroso acompanhou dois grupos distintos de usuários de crack. Ao longo de três meses, observou o índice de recaída entre 88 adolescentes após a alta e monitorou um outro contingente, de 293 jovens e adultos, para determinar quantos precisaram de repetidas internações para combater a droga ao longo de três anos.

No grupo de adolescentes, 86,4% voltaram a usar crack em até três meses. Entre o grupo de adultos, 43,4% tiveram de se reinternar até cinco vezes ao longo de três anos.

Essas descobertas aprofundam o conhecimento sobre o tema no país. Os poucos trabalhos já realizados indicam que cerca de um terço dos usuários de crack consegue concluir o tratamento com sucesso. As pesquisas sobre esse tema são raras em razão da dificuldade de acompanhar um grande número de dependentes após a alta – muitos não têm telefone ou endereço fixo e perdem contato com os pesquisadores.

Por isso, o levantamento gaúcho oferece revelações importantes sobre o impacto do tratamento oferecido pela rede pública aos usuários.

FALTAM AÇÕES PARA AJUDAR NA ABSTINÊNCIA

A autora do trabalho considera que ficou “cientificamente comprovado” um número excessivo de reinternações no sistema de saúde, o que coloca em xeque a eficácia do modelo atual.

– Quando o usuário sai do hospital, muitas vezes não tem onde morar, volta para a boca de fumo, não tem trabalho ou um aparato psicossocial para ajudá-lo na abstinência. Isso ainda é precário no Brasil – avalia Rosemeri.

O psiquiatra Flavio Pechansky, orientador da tese, concorda com essa preocupação:

– Os dados mostram que, apesar dos milhões de reais gastos pelo poder público nessa área, os índices de recaída e reinternação são elevados.

Para realizar o estudo com os adolescentes, a psicóloga acompanhou a internação desses jovens no Hospital Psiquiátrico São Pedro e na Clínica São José, em Porto Alegre. Depois da alta, seguiu monitorando a situação de cada um dos pacientes por meio de visitas, telefonemas e informações de parentes.

Para medir o grau de reinternações dos adultos, a pesquisadora monitorou todas as vezes em que os participantes do estudo ingressaram em algum serviço de saúde psiquiátrica no Estado. Isso levou a outra constatação: poucos dependentes (13%) procuram os serviços ambulatoriais que deveriam desafogar as clínicas e instituições hospitalares destinadas à internação para desintoxicação.

Em resposta a questionamentos de ZH, o Ministério da Saúde divulgou uma nota listando investimentos recentes e melhorias na rede de atendimento aos usuários de drogas. O texto afirma que o governo federal aplicou R$ 1,5 bilhão na execução do plano de enfrentamento ao crack – R$ 1,4 bilhão deles destinados à ampliação dos serviços que atendem dependentes químicos pelo SUS.



Especialistas sugerem mudança de métodos


Especialistas no combate ao crack afirmam que os elevados índices de recaída e reinternação reforçam a necessidade de aprimorar o método de tratamento. Segundo eles, o sistema público oferece poucos leitos e períodos curtos de internação. Além disso, não consegue acompanhar o usuário após a alta.

Um dos problemas, para o psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel, são as “altas precoces”. Geralmente, a internação autorizada pelo SUS é inferior a um mês.

– O ideal é que o prazo dependa apenas da condição do paciente. O que se faz hoje é absurdo – afirma.

Coronel diz que, conforme os levantamentos realizados no país, cerca de um terço das mortes de usuários de crack têm como origem altas antecipadas. Outra dificuldade é a falta de leitos psiquiátricos – que já chegaram perto de 200 mil no país e hoje são 32 mil. Segundo relatório elaborado por sete entidades médicas, o Estado perdeu 36,7% dos leitos de psiquiatria entre 1993 e 2013.

Em consequência, dependentes como Solon Santos da Silva Filho, 37 anos, recorrem a sucessivas internações e lidam com uma frequente falta de vagas. Ele está em seu quinto tratamento desde 2010: já passou por três internações em clínicas pelo SUS e encontra-se na segunda temporada em uma comunidade terapêutica – a Acolher, de Gravataí. Nas clínicas, conseguiu ficar no máximo um mês, o que considera “muito pouco”. Também precisou superar obstáculos para garantir leito:

– Na minha segunda internação, tive de recorrer a uma ordem judicial para conseguir vaga. Não adiantou e recaí. Agora, já estou há oito meses e 10 dias na comunidade terapêutica – conta.

O presidente da Associação de Psiquiatria do Estado, Carlos Salgado, defende que é necessário investir em ações como medicina comunitária, que permitam acompanhar o dependente fora do hospital, aumentar a oferta de leitos e aprimorar o treinamento dos profissionais.



Solon, hoje em uma comunidade terapêutica, considerou muito curtas as suas internações, de apenas um mês

quarta-feira, 30 de julho de 2014

OCUPAÇÕES URBANAS VOLTAM À CENA NA GRANDE PORTO ALEGRE

ZH 30/07/2014 | 05h03

por Taís Seibt

Famílias se instalaram em pelo menos quatro áreas privadas da capital gaúcha em julho


Na antiga Avipal, na Zona Sul, centenas buscam abrigo, cansados de esperar por reassentamentoFoto: Diego Vara / Agencia RBS


Enquanto a Copa concentrava a atenção do país, centenas de famílias da Capital carregavam meia dúzia de pertences para tentar recomeçar a vida em outro lugar. Ao menos quatro áreas particulares foram ocupadas por sem-teto no começo de julho.

É destaque a velocidade com que a população das novas vilas se multiplica, mas os órgãos que acompanham as ações não identificaram atuação organizada de movimentos de luta por moradia nessas áreas, como ocorria décadas atrás. A nova leva viria de comunidades atingidas por obras ou enchentes, cansadas de esperar pelas promessas do poder público.


No caso de Lenemar Bastos, líder comunitário no bairro Cristal, a espera é por casa prevista no Projeto Integrado Socioambiental (Pisa), da prefeitura. Apesar de a construção do dique estar expulsando famílias da beira do Arroio Cavalhada e de a verba federal para as moradias ter sido aprovada em 2009, o reassentamento até agora não saiu. O Departamento Municipal de Habitação (Demhab) diz aguardar aprovação dos projetos pela Caixa. Saíram de lá as primeiras 200 famílias da chamada Ocupação Avipal, na Zona Sul, uma das maiores da Capital.


A vendedora autônoma Aline Coelho não consegue firmar contrato de locação, pois não tem renda fixa. Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

Em poucos dias, a população no terreno hoje pertencente à construtora Melnick Even quadruplicou, com a chegada de pessoas como a vendedora autônoma Aline Coelho, 30 anos. Despejada da casa que alugava, ela tem dificuldade para firmar novos contratos de locação, já que não tem comprovante de renda fixa – situação parecida com a de Vanderlei de Almeida, 27 anos, afastado do trabalho como gesseiro por problemas de saúde. Com pendências de crédito, é difícil para ele usufruir de programas como aluguel social.

Reintegração de posse foi suspensa

O número de ocupações recentes é difícil de determinar, especialmente por estarem em áreas privadas. Uma, no bairro Hípica, teve reintegração de posse iniciada nesta terça-feira, mas foi cancelada, segundo a Brigada Militar, porque o proprietário não ofereceu meios para retirar as casas do local. O terreno está em nome de Hele Nice Bernardes Petkov. Representantes da família alegam que foram disponibilizados seis caminhões, mas houve atraso de meia hora na chegada dos veículos, e a BM não quis esperar. A família insistirá na reintegração.

Nos casos envolvendo imóveis particulares, a intervenção do poder público é limitada. Estado e município só entram em diálogo com as comunidades se procurados por representantes. A Defensoria Pública entra como mediadora do conflito. Muitas vezes, é a partir dessa negociação que as demandas das comunidades chegam ao Estado, que oferece como alternativa os programas habitacionais existentes. Ainda assim, há casos como os de Aline e Vanderlei, que ficam sem solução.

Ocupação ou invasão

ZH optou pelo termo ocupação, e não invasão, para caracterizar o fenômeno urbano descrito nesta reportagem porque a palavra ocupação é mais aceita para descrever o ato de instalar moradia, ainda que de forma irregular, em imóvel sem uso pelo proprietário.

Já o termo invasão costuma ser atribuído a casos em que há conflito para dominação à força de um território, o que não ocorreu nos casos aqui abordados.


Família Toledo vive em prédio ocupado e tem dificuldade de bancar mudança. Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

Movimento comemora desapropriação no Centro

Um edifício de sete andares com vista para o Guaíba poderá finalmente ser destinado a sua função original e virar moradia social para cerca de 40 famílias. É o que prevê o decreto assinado neste mês pelo governo do Estado.

Construído com recursos do extinto Banco Nacional de Habitação, o prédio acabou sendo repassado à Caixa Econômica Federal e foi esvaziado nos anos 1990. Desde 2005, foi ocupado pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) quatro vezes. A última, em agosto passado, ficou conhecida como Ocupação Saraí.

– Para nós, é uma vitória – comemora o coordenador nacional do MNLM, Beto Aguiar.

Das 24 famílias que residiam no local, quase a metade já deixou o prédio graças ao aluguel social. Alguns ainda não sabem para onde ir, como o operário da construção civil Lauro da Paz Toledo, 54 anos, que vive com a mulher e cinco filhos. A maior dificuldade é encontrar imóvel no valor do benefício (R$ 500, no máximo) perto da escola das crianças.

– A lógica da casa como mercadoria afasta essas pessoas dos centros urbanos – critica a coordenadora do MNLM em Porto Alegre, Ceriniani Vargas.

Em São Paulo, a ação do movimento motivou a prefeitura a analisar a desapropriação de 41 edifícios da região central para moradia social. Em Porto Alegre, o Saraí ainda é um caso isolado. A política não está nos planos do Demhab nem do governo do Estado.

– A continuidade de iniciativas semelhantes dependerá da avaliação futura do projeto em curso – diz o secretário estadual de Habitação, Marcel Frison.

Outros três edifícios conquistados pelo MNLM na área central de Porto Alegre estão em processo de regularização. São prédios de órgãos federais.

48 mil é o número de domicílios vagos em Porto Alegre, segundo o IBGE

35 mil é o déficit habitacional na Capital, segundo o Demhab

R$ 29,9 milhões foi o valor investido pelo Estado, desde 2011, como complementação de convênios firmados com cooperativas habitacionais

14 mil é o número de unidades habitacionais construídas com esses recursos

Número de ocupações

Bairros de Porto Alegre
Partenon - 8
Sarandi - 4
Cristal - 2
Santa Tereza - 2
Outros - 11

Região Metropolitana
Gravataí - 5
Eldorado do Sul - 4
Canoas - 3
Sapucaia do Sul - 2
Cachoeirinha - 1


ENTREVISTA

BEATRIZ TAMASO MIOTO

"Há uma periferização sem precedentes", diz especialista

Doutoranda pela Unicamp, a economista Beatriz Tamaso Mioto está na Universidade de Nova York para complementar seus estudos sobre desenvolvimento econômico e políticas habitacionais na América Latina. Por e-mail, falou com ZH.

O governo do Rio Grande do Sul anunciou a desapropriação de um prédio para garantir moradia social. É uma boa alternativa?
A desapropriação é mais que uma alternativa. É um instrumento legal e democrático que poderia garantir diversos direitos aos cidadãos e melhorar as condições de vida na cidade. A diminuição da dicotomia entre periferia e bairros de classe média e da desigualdade de acesso à moradia mitigaria dois grandes problemas urbanos: violência e mobilidade.

Há outros efeitos da política de desapropriação?
Melhores condições de habitação, principalmente em áreas mais bem localizadas, significam melhores oportunidades de emprego, educação, assistência social e serviços públicos em geral. A aproximação entre moradia e trabalho inibe a utilização de transportes individuais e reduz o tempo de deslocamento.

Qual a principal dificuldade desse processo?
A principal dificuldade é política. A terra no Brasil sempre foi uma forma segura e fácil de valorizar o patrimônio e manter a dominação política. A segunda é na esfera jurídica, de execução dos mecanismos do IPTU progressivo e da desapropriação. Do ponto de vista econômico, o que se reclama é do valor pago pela desapropriação. Outro ponto importante é de natureza orçamentária dos municípios.

Você tem estudado a questão em outras metrópoles da América Latina. Os desafios são semelhantes?
O patrimonialismo em relação à terra, a imensa desigualdade e a segregação socioespacial são traços comuns. Essas metrópoles também se parecem no que se refere às restrições orçamentárias, à destinação de parte relevante das receitas do governo para pagamento de dívidas e em relação aos problemas sociais nas cidades e seu planejamento.

E as políticas habitacionais na América Latina também têm aspectos semelhantes?
Salvo poucas exceções, essas políticas têm seguido as determinações dos organismos internacionais, como o Banco Mundial. Esses organismos pregam como solução a expansão do crédito e de subsídios para que as famílias acessem o mercado imobiliário. No Brasil, isso tem levado, em diversas metrópoles, a uma periferização sem precedentes.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

JORNAL DEFENDE A LEGALIZAÇÃO DA MACONHA NOS EUA




ZH 28 de julho de 2014 | N° 17873


DEU NO NEW YORK TIMES. Jornal reflete mudança nos EUA e defende legalização da maconha. 
NO PRIMEIRO DE uma série de editoriais, um dos diários mais respeitados do mundo solicita que o governo americano revogue a proibição da droga para fins medicinais e recreativos em todo o país


Uma das mais prestigiosas publicações do mundo assumiu sua posição na briga pela legalização da maconha nos Estados Unidos. Com uma série de seis editoriais que começou a ser publicada ontem em sua versão impressa, o jornal The New York Times pediu que o governo federal autorize o uso da droga – um importante marco no debate nacional sobre o tema. O jornal se torna o maior do país a assumir tal posição. “O governo federal deve revogar a proibição à maconha”, crava o editorial. A atitude reflete uma mudança de opinião que vem se processando na sociedade americana ao longo das últimas décadas – em 1991, 78% dos cidadãos eram contrários à legalização. Em 2014, 54% a defendem. Dois Estados permitem o uso medicinal e recreativo: Washington e Colorado.

TRÊS QUARTOS DOS ESTADOS JÁ ADOTARAM MUDANÇAS

O Times reconhece que “não há respostas perfeitas às preocupações legítimas da população sobre o uso da maconha”. “Mas também não há essas respostas sobre o tabaco ou o álcool, e nós acreditamos que, em todos os aspectos – efeitos para a saúde, impacto na sociedade e temas de ordem pública – a balança pende para o lado da legalização nacional”, defende o jornal. Com isso, o Times observa, as decisões sobre permitir a produção e o uso para fins medicinais ou recreativos se darão no nível correto: o estadual.

Segundo o texto, a posição do jornal foi tomada “depois de uma grande discussão entre os membros do conselho editorial do Times, inspirado num movimento que vem se expandindo rapidamente entre os Estados por reformas das leis sobre maconha”.

Quase três quartos dos 50 Estados americanos (34 e mais o Distrito de Columbia) já adotaram alguma mudança sobre o uso e a produção. O mais recente foi Nova York, que liberou, no último mês, a produção e o uso medicinal sob estritas regras.

Para o Times, as evidências de que a dependência é um problema relativamente menor, especialmente se comparado ao álcool e ao tabaco, são “esmagadoras”. O jornal chama de “fantasiosos” os argumentos de que a maconha é uma porta de entrada para drogas mais perigosas. “O uso moderado da maconha não parece colocar em risco adultos saudáveis”, afirma o jornal, que destaca defender a proibição do uso para menores de 21 anos.

O Times compara a proibição federal da maconha com os 13 anos da Lei Seca nos EUA (1920-1933), em que os “as pessoas continuaram bebendo” e a criminalidade cresceu. “Foram 13 anos até que os EUA caíssem em si e acabassem com a Lei Seca. (...) Já são mais de 40 anos, desde que o Congresso aprovou a proibição da maconha, prejudicando a sociedade ao proibir uma substância tão menos perigosa que o álcool.”



Lei desperta a rejeição de 64% dos uruguaios

Discussões acaloradas sobre a legalização da maconha seguem em curso em outras partes do mundo. No Uruguai, que em 2013 aprovou uma lei que permite o consumo, a venda e a produção de maconha, uma pesquisa divulgada na quarta-feira passada mostra que o assunto segue enfrentando forte resistência da população.

De acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Cifra, 64% dos uruguaios são contra a lei. O índice é pouco inferior, apenas dois pontos percentuais, ao resultado obtido em pesquisa de 2012, quando 66% das pessoas disseram se opor à medida. A sondagem atual também revela que 27% dos habitantes do país vizinho ao Brasil se declaram a favor da lei. A comercialização da droga deve começar no final deste ano.

SERVIDOR PÚBLICO É PRESO POR TRÁFICO DE DROGAS


ZH 27/07/2014 | 23h37

por Marcelo Monteiro


Servidor público é preso por tráfico de drogas em Horizontina



Preso por volta de 8h15min da manhã deste domingo após tentar escapar de uma barreira policial no interior de Horizontina, no noroste do Estado, o diretor de Serviços da Secretaria de Infraestrutura, Logística e Trânsito da prefeitura do município, Marcos Piesanti, foi conduzido ao Presídio Regional de Santo Ângelo. Em seu carro, um automóvel Corolla 2007 (placas DWB-2990), o servidor transportava 6,5 quilos de maconha e seis litros de cerveja.

A prisão foi efetuada por policiais militares na localidade de Esquina Bonita, a dois quilômetros do bloqueio da Brigada Militar (BM), em uma estrada no interior de Horizontina, a 505 quilômetros de Porto Alegre. Preso em flagrante por tráfico internacional de drogas – o material era proveniente da Argentina –, em depoimento à Polícia Federal de Santo Ângelo, o servidor municipal reservou-se ao direito de falar apenas em juízo.

– Era uma abordagem de rotina. Demos ordem de parada, mas ele tocou por cima da guarnição e saiu em alta velocidade. Vimos ele jogando objetos para fora do carro. Depois, ao vistoriarmos o local onde ele havia jogado os objetos, achamos 6,5 quilos de maconha – contou o soldado Ivan Back, que participou da prisão de Piesanti.

Empregado em um cargo de confiança na prefeitura de Horizontina, o servidor estava sendo investigado havia alguns meses pela polícia da região. O prefeito de Horizontina, Nildo Hickmann, que estava em férias até este domingo, reassume o cargo na segunda-feira, 28, e deverá exonerar o servidor.



PANAMBI NEWS, 27/07/2014


Diretor da Prefeitura de Horizontina é preso pela BM, por tráfico de drogas



O horizontinense Marcos Piesanti foi preso na manhã deste domingo (27) por volta das 8h15min na localidade de Esquina Bonita, divisa com Doutor Maurício Cardoso, após fugir de uma abordagem da Brigada Militar. De acordo com os policiais o homem não atendeu as ordens de parada, fugindo em alta velocidade, sendo visto pela Guarnição jogando objetos para fora do veículo.

O Corolla ano 2007 foi acompanhado e abordado dois quilômetros após ter furado a barreira policial. Dentro do automóvel estavam 6 litros de Cerveja Budweiser oriunda da Argentina e em vistoria ao local onde o condutor foi avistado jogando objetos para fora do seu carro, localizados seis tijolos de maconha pesando aproximadamente 6,5 kg.

O condutor foi preso e conduzido a Polícia Federal de Santo Ângelo onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante. O veículo foi recolhido ao Depósito do DETRAN de Horizontina pela infração de trânsito cometida e ficará a disposição da Polícia Federal.

Marcos Piesanti ocupa cargo de confiança como Diretor de Serviços na Secretaria de Infraestrutura Logística e Trânsito na Prefeitura Municipal. Nossa reportagem contatou o Prefeito Municipal Nildo Hickmann que está retornando de seu período de férias e reassume o Executivo na manhã desta segunda-feira.

O mandatário disse que tomaria as medidas de confirmação oficial dos fatos para adotar os procedimentos de exoneração do servidor. Piesanti também integra a Executiva Municipal do PSB.

Fonte BM/Horizontina

domingo, 20 de julho de 2014

SINAL AMARELO PARA A MACONHA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2330 | 18.Jul.14

Enquanto a indústria da cannabis legal cresce nos EUA, a Casa Branca se preocupa com o fato de os adolescentes desconhecerem os malefícios da droga, e o Uruguai adia seu projeto de legalização

Fabíola Perez 


A indústria da maconha, recém-legalizada e com potencial bilionário, enfrenta os primeiros problemas de ordem prática nos Estados Unidos. A liberação do uso recreativo da erva nos Estados do Colorado e Washington tem feito os governos arrecadarem milhões em impostos cobrados em cima de uma das drogas mais populares do mundo. A criação de leis para regular o mercado e a elaboração de campanhas preventivas, entretanto, não seguem o mesmo ritmo. Estimativas da consultoria ArcView Market Research apontam que as vendas legais da maconha passarão de US$ 1,4 bilhão para US$ 2,34 bilhões neste ano. Mas o vigor do mercado despertou uma preocupação na Casa Branca: um relatório nacional sobre estratégias para o controle de drogas recém-divulgado mostrou que um dos desafios mais sérios da política do governo Obama nessa área é a percepção crescente entre adolescentes de que a maconha é pouco prejudicial à saúde. A revelação mostra a necessidade de acompanhar e fiscalizar uma indústria nova e historicamente irregular. “Como a droga está sendo legalizada, é natural que a percepção dos jovens sofra alterações”, diz Lucas Maia, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). “O uso medicinal da maconha fez com que ela perdesse o glamour e deixasse de ser uma substância, sobretudo, ligada à rebeldia e à identidade de grupos.”


ALERTA
Dos adolescentes que apresentam desempenho ruim na escola,
66% já fumaram maconha. Abaixo, loja onde a cannabis é vendida
legalmente para maiores de 21 anos nos EUA



O documento foi publicado um dia após entrar em vigor em Washington a nova legislação para abertura das lojas que comercializam a droga. No Colorado, a substância é vendida legalmente desde o início do ano. Nos dois Estados, porém, vale a regra de que só pode adquirir maconha recreativa quem tem mais de 21 anos e em uma quantidade-limite de 28 gramas. Ainda assim, milhões de americanos mais jovens têm acesso à droga. As consequências disso, segundo o relatório, são negativas. Dos adolescentes que apresentam desempenho ruim na escola, por exemplo, 66% já fumaram maconha. Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Cristiano Maronna, assim como todas as drogas lícitas, o uso da cannabis requer prevenção. “Uma das regras tem de ser dificultar o acesso a menores de idade”, diz. A previsão do governo Obama é destinar para o próximo ano US$ 25 milhões em políticas contra as drogas, mas as inovações da iniciativa privada exigem políticas eficientes para conter o consumo indiscriminado. “No Colorado, surgiram produtos comestíveis de maconha com altos índices de THC, composto mais potente da maconha”, diz Maronna. “Precisa haver uma preocupação em limitar a quantidade de THC na erva.”


OPOSTOS
Mujica, presidente do Uruguai: controle total da cadeia de produção da cannabis.
Obama, presidente dos Estados Unidos: indústria nas mãos da iniciativa privada



O modelo adotado nos EUA é o oposto daquele que o presidente do Uruguai, José Mujica, deseja colocar em prática. O governo uruguaio pretende ter o controle total da cadeia de produção enquanto o governo americano deixa a comercialização e a distribuição nas mãos da iniciativa privada. Por ter uma proposta mais complexa, Mujica decidiu adiar para 2015 a legalização da maconha no país, antes prevista para ocorrer este ano. “Se fizermos tudo de qualquer jeito, assim como os EUA estão fazendo, é moleza”, disse. “Não basta tirar a nossa responsabilidade e deixar que o mercado se ajeite. Se fizermos isso, as empresas vão tentar vender a maior quantidade possível.” Maia, da Unifesp, concorda: “Sem a fiscalização necessária para controlar a ganância dos produtores, a indústria da maconha pode se transformar no que é hoje a indústria do álcool e do tabaco”, acredita.

Para os cofres públicos, a maconha legal tem trazido benefícios. Economistas da Universidade Estadual do Colorado estimam que a cannabis movimente US$ 605,7 milhões no Estado, o que geraria uma arrecadação de US$ 10,1 milhões em impostos. Com mais dinheiro em caixa, é possível investir em campanhas educacionais e ajudar os dependentes. “Os investimentos são sempre insuficientes, e os mercados regulados têm mais condições de aplicar recursos em tratamentos, conscientização e informação”, diz Luciana Boiteux, coordenadora do grupo de pesquisa em Política de Drogas e Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um efeito colateral benéfico da legalização pode ser constatado no México. Lá, o cultivo da erva caiu drasticamente, o que impactou positivamente a luta contra o narcotráfico.



Fotos: Shutterstock; Michael Macor; MARIO GOLDMAN/AFP PHOTO; Brendan SMIALOWSKI/AFP PHOTO

segunda-feira, 7 de julho de 2014

GRÁVIDAS, USUÁRIAS DE CRACK SE PROSTITUEM PARA MANTER VÍCIO

R7 - DOMINGO ESPETACULAR - 7/7/2014

Grávidas, usuárias de crack se prostituem para manter vício no Rio; veja vídeo. O repórter especial Vinícius Dônola acompanhou a rotina de quatro dependentes químicas

Do Domingo Espetacular, com R7


Maioria dessas mulheres nem sabem sequer o pai dos bebêsReprodução/Rede Record

Uma reportagem especial de Vinícius Dônola, exibida no Domingo Espetacular, no domingo (6), mostrou o drama de quatro mulheres viciadas em drogas grávidas. Todas já foram mães outras vezes, são moradoras de rua e, frequentemente, fazem uso de entorpecentes como o crack.

As mulheres não fazem o tratamento pré-natal. Isso aumenta as chances de os bebês nascerem doentes.

Taiana não sabe quem é o pai do bebê que espera. Ela faz programa para sustentar o vício do crack e engravidou de um dos clientes.

— Eu tenho namorado, mas engravidei de um programa.

Mesmo grávida, Taiana continua a se prostituir. A mulher cobra de R$ 20 a R$ 30 reais por programa.

Por determinação da Justiça do Rio, crianças recém-nascidas dessas mães são levadas para um abrigo público, que fica em um bairro vizinho a uma das principais cracolândias do Rio.

Para Jair Braga, diretor da maternidade-escola, as mães não têm a menor condição de cuidar dos bebês.

— É muito importante que essas crianças recebam o cuidado devido e isso não pode ser oferecido por essas moradoras de rua.


R7 - 04/7/2014 às 19h49

O drama vivido por grávidas viciadas em drogas. O programa revela detalhes da ação que tira destas mulheres a guarda dos filhos recém-nascidos



Do R7

Reprodução/Rede Record

No Domingo Espetacular deste domingo (06), o drama de mulheres grávidas que não conseguem se livrar das drogas. Uma reportagem especial mostra os riscos que o vício traz aos bebês e a difícil luta destas mães para deixar de lado drogas devastadoras como o crack. E revela detalhes da polêmica ação que tira a guarda destas mães logo que as crianças nascem. A equipe do programa visita o lugar para onde são levados estes recém-nascidos.

A série sobre mitos e verdades de alimentos que fazem parte do dia a dia do brasileiro nesta semana tem como destaque uma fruta, a laranja. A atração questiona se ela realmente ajuda na digestão e se todo mundo pode tomar o suco. A reportagem mostra as diferentes variedades da espécie e dá dicas para usá-la até mesmo em pratos salgados.

O Domingo Espetacular destaca ainda as mansões milionárias e a vida de luxo dos famosos. Jardins, piscinas e quartos a perder de vista. A atração descobre onde ficam as casas mais caras que as celebridades escolheram para viver.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

DROGAS SINTÉTICAS EM RAVES NO RS

Do G1 RS 03/07/2014 14h30

Polícia desarticula quadrilha suspeita de vender drogas sintéticas em raves. Ação foi realizada pela polícia de São Leopoldo, no Vale do Sinos, RS. Segundo delegado, grupo operava nas maiores festas rave do estado.

Fábio Almeida


Mandados foram cumpridos em três lugares no início da manhã de quinta (Foto: Fábio Almeida / RBS TV)



A Polícia Civil de São Leopoldo, no Vale dos Sinos, desarticulou na manhã desta quinta-feira (3) uma quadrilha suspeita de vender drogas sintéticas em festas e raves. Na operação, cinco homens foram presos e a namorada de um deles foi detida para prestar esclarecimentos. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas residências dos suspeitos e em uma lan house no centro da cidade.

Marcas utilizadas em 'balas' de ecstasy chamaram a atenção dos policiais (Foto: Fábio Almeida / RBSTV)
Marcas utilizadas em balas de ecstasy chamaram
a atenção dos policiais
(Foto: Fábio Almeida / RBSTV)

De acordo com a polícia, foram encontrados 300 comprimidos de ecstasy, 48 pontos de LSD e 15 doses de ketamina, droga conhecida como "special k". A polícia encontrou também material de divulgação das festas e uma quantia em dinheiro.

Segundo o delegado da 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo, Mário Souza, o grupo operava nas maiores raves do estado, tendo como clientes pessoas de classe média alta. “Eles ajudavam na divulgação de festas promovidas na capital e na Região Metropolitana, tendo contato direto com usuários da faixa etária entre 18 e 30 anos. Muitas vezes a pessoa ia ao local comprar o ingresso e eles já vendiam também a droga”, afirma ele.

Depois das interrogações, os homens devem ser encaminhados ao Presídio Central de Porto Alegre.

Polícia apreendeu drogas durante operação no RS (Foto: Fábio Almeida/RBS TV)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

PRÍNCIPE HENRY VISITA A REGIÃO DA CRACOLÂNDIA EM SÃO PAULO

GLOBO.COM. EGO NOTÍCIAS, 26/06/2014

De acordo com jornalista Richard Palmer, herdeiro do trono real quis saber como a cidade está lidando com o problema do vício em drogas.

Do EGO, em São Paulo



Príncipe Harry e Fernando Haddad (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)

Após participar de jantar em comemoração ao aniversário da Rainha, o Príncipe Harry visitou, nesta quinta-feira, 26, a região da Cracolândia em São Paulo, onde conhece o projeto "Braços Abertos". O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, acompanhou a visita.


Segundo o jornalista Richard Palmer, que está acompanhando todos os passos de Harry pelo Brasil, o quarto na linha de sucessão ao trono real real quis saber como as autoridades da cidade estão controlando o uso da droga e como têm encontrado emprego, moradia e o tratamento necessário para os dependentes. Harry conheceu ex-usuários, que são pagos para limpar as ruas como parte da sua reabilitação.

O repórter ainda falou que a situação no local, antes da chegada de Harry, era tensa. O policiamento foi reforçado. 

O príncipe volta para Inglaterra, nesta quinta-feira, 26. Esta é a segunda visita de Harry ao Brasil. A primeira aconteceu em 2012, quando ele conheceu o Rio de Janeiro e Campinas.

Desta vez, ele esteve em Brasília, onde visitou o Hospital de Reabilitação da Rede Sarah e ainda fez canoagem com funcionários e pacientes do hospital. Ele também esteve em Belo Horizonte, onde conheceu o centro de treinamento olímpico da Inglaterra para as Olímpiadas 2016 e assitiu à partida entre a Inglaterra e Costa Rica no Mineirão.

Príncipe Harry com ex-usuário de drogas (Foto: Reprodução/ Twitter)



Príncipe Harry chega à Cracolândia para visitar projeto (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)

Príncipe Harry chega à Cracolândia para visitar projeto (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)

Príncipe Harry chega à Cracolândia para visitar projeto (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)

Príncipe Harry chega à Cracolândia para visitar projeto (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)


Príncipe Harry chega à Cracolândia para visitar projeto (Foto: Thiago Duran e Marcelo Brammer/AgNews)

Príncipe Harry no centro de comando da polícia na Cracolândia (Foto: Reprodução/ Twitter)

Príncipe Harry na Cracolândia (Foto: Reprodução/ Instagram)

UM PRÍNCIPE NA CRACOLÂNDIA


ZERO HORA 27 de junho de 2014 | N° 17842

PASSEIO REAL



A realeza britânica esteve ontem na Cracolândia, em São Paulo. Pela manhã, o príncipe Harry visitou a região, interagiu com dependentes químicos e conheceu as instalações do programa Braços Abertos, coordenado pela prefeitura, que busca oferecer dignidade aos dependentes químicos por meio de trabalho e hospedagem em hotéis da região sem obrigá-los a deixar de usar drogas.

Harry chegou acompanhado por uma escolta de 10 carros (entre seguranças e policiais federais). Conversou e tirou fotos com dependentes químicos e, depois, seguiu para o galpão dos garis contratados pela prefeitura, onde conheceu alguns dos 394 inscritos no programa. Um deles era Evandro Martins da Silva Júnior, 28 anos, que disse ter pesquisado sobre Harry antes de conhecê-lo pessoalmente:

– Sei que é filho da princesa Diana, esteve no Afeganistão e já fumou maconha.

Sem usar drogas há três meses, a gari Ieda Santos da Silva, 56 anos, foi uma das que conseguiu uma foto com o príncipe:

– Me senti muito especial. Ele fez questão de colocar a mão no meu ombro, sorrir para a câmera e me cumprimentar. Vou lembrar para o resto da minha vida.

Cerca de 30 minutos após Harry ir embora, a rotina do bairro voltou ao normal e os dependentes químicos retornaram às ruas para consumir droga na Cracolândia.


sábado, 14 de junho de 2014

FACES OCULTAS DA MALDADE


ZERO HORA 14 de junho de 2014 | N° 17828

NILSON MARIANO


DESASSISTÊNCIA SOCIAL COMBINADA com impunidade alimenta crimes e maus-tratos, dos mais rumorosos aos que, de tão corriqueiros, tornam-se invisíveis



As pessoas se horrorizam quando veem na TV as crianças feridas por bombardeios na já prolongada guerra civil da Síria, no Oriente Médio. Ficam indignadas quando alguém atira uma pedra num cachorro de rua e depois se põe a rir dos ganidos do bicho a capengar. Mas até que ponto se consegue perceber as maldades ocultas? Ou aquelas que, de tão rotineiras, já anestesiaram nossos sentimentos?

A crueldade humana é ancestral, repete-se à exaustão, mas pode assumir faces quase invisíveis – e nem por isso menos devastadoras. Um convite à reflexão foi feito no início do mês, em Porto Alegre, durante a 11ª jornada de saúde mental promovida pelo Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins (CelpCyro). A proposta foi alertar para as perversidades atuais, especialmente as silenciosas e que se alongam até virar parte da paisagem.

Presidente do CelpCyro, o psiquiatra Cláudio Meneghello Martins destaca que uma das maldades em andamento, e que parece não comover os brasileiros, é a epidemia de crack. Adverte que os 2,6 milhões de viciados no país – o cálculo é da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e inclui os dependentes de cocaína – rumam para um genocídio anunciado.

– A história mostrará esse exército de zumbis – diz Cláudio Martins, filho do escritor e psicanalista Cyro Martins (1908-1995).

Durante a II Guerra Mundial, ignorou-se o holocausto dos judeus nos campos de concentração nazistas, a humanidade demorou para notar a tragédia. Ressalvadas as proporções, Cláudio entende que miopia similar ocorre em relação aos acorrentados pelo crack. Pondera que os fantasmas do entorpecente vagando pelas cidades resultam de uma nova forma de maldade: a falta de assistência pública à saúde.

– São os maus-tratos da desassistência. Quando tiram o recurso público para a assistência, estão fazendo um maltrato geral – diz Cláudio, também diretor secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).


sexta-feira, 13 de junho de 2014

NOVA APREENSÃO RECORDE DE ECSTASY NO RS

DIÁRIO GAÚCHO, 12/06/2014 | 23h43

Polícia realiza nova apreensão recorde de ecstasy no Estado. Um homem de 24 anos foi preso com 1.315 comprimidos



Foto: Divulgação / Delegacia de Homicídios de Canoas


Carlos Ismael Moreira

A Delegacia de Homicídios (DH) de Canoas apreendeu nesta quinta-feira a maior quantidade de comprimidos de ecstasy da história do Estado. É a segunda vez que o recorde é quebrado em menos de uma semana.

Um homem de 24 anos foi preso com 1.315 comprimidos nas cores vermelha e bege, além de R$ 2,5 mil, por volta das 17h, quando embarcava na estação do Canoas do trensurb, com destino à Capital.

De acordo com o titular da DH de Canoas, delegado Marco Antônio Guns, o homem teria escolhido o horário da estreia da Seleção Brasileira no Mundial por acreditar que não haveria policiamento. Após receber uma denúncia, contudo, os agentes capturaram o suspeito.

— Todos os elementos informativos iniciais apontam que a droga iria abastecer a fan fest em Porto Alegre — afirmou Guns.

A droga estava embalada em uma folha de um jornal do Rio de Janeiro e a polícia suspeita que os comprimidos tenham sido trazidos daquele Estado. Segundo o delegado, o preço de cada unidade pode variar de R$30 até R$100.

O preso foi encaminhado para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Canoas para registro do flagrante e, depois, levado para o Presídio Central de Porto Alegre.

A maior apreensão de ecstasy no Estado havia sido realizada na noite de sexta-feira. Agentes do Denarc prenderam um homem de 38 anos, no Bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo, com 916 comprimidos nas cores laranja, bege, rosa e vermelha.

domingo, 8 de junho de 2014

ECTASY, A MAIOR APREENSÃO DA HISTÓRIA DO RS

DIÁRIO GAÚCHO 08/06/2014 | 11h05

Denarc faz a maior apreensão de ecstasy da história no Estado. Dono de estacionamento de Novo Hamburgo foi flagrado com 916 comprimidos da droga sintética. Suspeita é de que ecstasy seria distribuído em festas durante a Copa



Foto: DENARC / Polícia Civil

Eduardo Torres


Um homem de 38 anos, proprietário de um estacionamento e lancheria no Bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo, foi preso na noite de sexta com uma quantidade recorde, para o Estado, de comprimidos de ecstasy. Foram apreendidos 916 comprimidos nas cores laranja, bege, rosa e vermelha. Os agentes da 4ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (4ªDin), do Denarc, encontraram a droga escondida entre o forro do escritório da empresa e um armário na casa do suspeito.

A operação denominada "Sem bala na Copa" foi desencadeada depois de um mês de investigações. O homem preso é apontado como o maior distribuidor de drogas sintéticas no Vale do Sinos.

De acordo com o delegado Cleomar Marangoni, a suspeita é de que os comprimidos eram buscados em balneários de Santa Catarina - a principal porta de entrada da droga vinda da Europa - e seriam distribuídos a traficantes, em maior intensidade, durante as festas públicas da Copa do Mundo em Porto Alegre.

Além do ecstasy, os policiais apreenderam 32g de maconha, 4,9g de cocaína, 25 pontos de LSD, uma pistola calibre 6.35, munição e pouco mais de R$ 1,2 mil. Também foram recolhidos um caderno de anotações do tráfico e um veículo Megane.

A maior marca de ecstasy apreendida em uma única ação da polícia no Estado havia acontecido em 2009, quando foram apreendidos 800 comprimidos no Bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.


DIÁRIO GAÚCHO

segunda-feira, 2 de junho de 2014

JOVENS, RICOS E TRAFICANTES

GQ BRASIL 31/05/2014

POR BRUNO ABBUD


UM EM CADA 10 TRAFICANTES DE SÃO PAULO É DE CLASSE ALTA, APONTA UM LEVANTAMENTO INÉDITO OBTIDO PELA GQ. ACOMPANHAMOS A ROTINA DE TRÊS DESSES JOVENS NASCIDOS EM FAMÍLIAS MILIONÁRIAS PARA ENTENDER COMO ELES ABANDONARAM UMA VIDA DE LUXO EM BUSCA DE ENRIQUECIMENTO RÁPIDO E PRESTÍGIO NO MUNDO DO CRIME



DE ELITE: RAFAEL* (FOTO) FOI SEIS VEZES CAMPEÃO DE HIPISMO E ESTUDOU NOS MELHORES COLÉGIOS DE SÃO PAULO. AINDA ASSIM, OPTOU POR VENDER DROGAS E ACABOU PRESO (FOTO: PEDRO ABBUD)



Todas as câmeras de vigilância das mansões vizinhas funcionam perfeitamente quando Daniel*, no terceiro andar da casa onde mora com os pais no Jardim América, bairro nobre de São Paulo, apoia a sola do sapato sobre a cama king size, escala um armário e apanha do esconderijo a pistola automática austríaca Glock 17.9 milímetros, comprada por R$ 3 mil no mercado negro. Daniel empunha a arma com a mão direita, volta a sentar e diz, com vaidade: “Sempre deixo carregada”. Segundos depois, ele se levanta e se estica novamente para guardar a ferramenta que costuma servir mais para assustar clientes negligentes do que para cuspir balas. Aos 23 anos, três escolas particulares no currículo (entre elas o conceituado colégio italiano Dante Alighieri) e um curso de administração pela metade, o traficante está prestes a enfrentar 14 horas de estrada até a fronteira com o Paraguai, onde integrará uma reunião com dois fornecedores da maconha que compra todas as semanas. Em um carro popular – “É para não chamar atenção”, justifica –, Daniel pisa no acelerador até o ponteiro ultrapassar os 170 km/h. Ele tem pressa. O rugido do motor na noite vazia é interrompido para a compra de energéticos. Ao chegar a Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira, ele estaciona em uma churrascaria, cumprimenta os contrabandistas, senta-se à mesa e pede, além de uma Coca-Cola, uma amostra da erva. Caminha até o carro, enrola um cigarro, fuma. Ao voltar à negociação, ele recusa a oferta. Irritado por ter perdido tempo, Daniel explica àGQ – que o acompanhou na viagem – que a maconha não tem qualidade o bastante para a classe alta paulistana.

Daniel nasceu e foi criado em uma mansão de 23 cômodos e três empregados do Jardim América, que hoje também lhe serve de escritório para o tráfico. A adolescência foi marcada por episódios de indisciplina, como no dia em que furtou e capotou o carro do pai na Marginal Tietê. Aos 18 anos, começou a comprar maconha para vender nas imediações da universidade que frequentava no centro de São Paulo. Desde então, o jovem percorreu um caminho evolutivo no mundo do tráfico. Aprendeu que, para ganhar dinheiro, era preciso trabalhar com um produto de qualidade. Com alguma sorte, encontrou o caminho que leva à maconha pura. Um de seus fornecedores em São Paulo começou a lhe dever dinheiro, e sugeriu uma única forma de pagamento: apresentar o garoto rico aos contrabandistas que comercializavam grandes quantidades de maconha no Paraguai. Compensou.

Nos últimos meses de 2013, especialmente por conta das festas de fim de ano, Daniel lucrou R$ 150 mil por mês com a venda de maconha orgânica para a alta sociedade paulistana. Ele é um traficante de elite, um mordomo poderoso que controla a entrada de suprimentos em regiões nobres de São Paulo – especialmente os Jardins, onde nasceu. Vai pessoalmente às plantações, acompanha a produção da carga e paga R$ 1 mil a um “mula” que transporta a encomenda até São Paulo. Na capital paulista, Daniel tem distribuidores que repassam a erva aos consumidores finais – tem em sua lista filhas de empresários, netos de banqueiros, celebridades.

O negócio nunca esteve tão bom – apenas nos últimos meses, lucrou pelo menos R$ 500 mil. Seu plano é continuar no patamar em que sempre esteve durante a vida. Por isso não para com a atividade – que além de cédulas azuis lhe rende prestígio e um tanto da adrenalina em que é viciado. Ele planeja juntar pelo menos R$ 5 milhões, abandonar o tráfico e ir morar num lugar tranquilo. Até esse dia chegar, ele nem imagina o que o espera. “Posso ficar mais um mês ou mais dez anos nessa vida, nunca sei”, diz o traficante, que afirma pagar mensalidades a policiais corruptos (para não ser preso) e à facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC (para garantir segurança na cadeia caso seja preso).


Em 2009, Daniel costumava desembolsar uma mensalidade de R$ 7 mil para agradar um delegado bem posicionado na hierarquia da Polícia de São Paulo. Também pagava taxas mensais a um gerente do PCC que, em troca, autorizava o jovem bem-nascido a vender maconha. Difícil evitar a facção. Segundo o promotor Alfonso Presti, que coordena a Central de Inquéritos Policiais e Processos (CIPP) do Ministério Público de São Paulo, mexer com drogas na capital paulista significa negociar com o PCC. “A totalidade da maconha e mais de 90% da cocaína em São Paulo têm contato com o PCC”, diz Presti.



Atualmente, os clientes mais próximos de Daniel são os jovens ricos paulistanos. Vez por outra, esses rapazes se reúnem em festas promovidas pelo traficante na mansão do Jardim América. Em meio a garrafas de uísque e vodca, os jovens se embriagam durante a madrugada. Maconha e cocaína há de sobra. Os participantes da festa tratam Daniel como um líder disfarçado, uma chefia invisível. Uns tentam competir com ele em tudo, mesmo nos passos de dança improvisados, às vezes com agressividade, numa explícita amostra de que a autoridade do traficante é invejada entre os clientes. Embriagado pelas disputas, o anfitrião solta palavras jocosas e gestos exóticos, numa tentativa de apaziguar situações tensas. Outros o chamam de canto, contam segredos, buscam alguma reação, mas o traficante pouco se importa. Logo está fazendo piadas das quais, de imediato, somente ele ri. Mas segundos mais tarde toda a sala adornada com estatuetas de bronze ri também. Mesmo que não seja lá muito engraçado, Daniel é querido pelo grupo. É carismático, tem a mistura de bandido e mocinho que encanta quem o rodeia. Se fosse comparado a famosos, o traficante poderia ter sua personalidade definida pela mistura entre Cazuza e Don Vito Corleone – algo que provoca uma obediência enrustida nos que participam do sistema de venda de drogas.

Para lucrar, Daniel precisa preservar em funcionamento as engrenagens que o mantêm ativo no narcotráfico. Uma peça importante da máquina são seus investidores – ele não revela nomes, mas explica que há na cidade muitos empresários, donos de comércio e empreendedores que apostam no tráfico de drogas, enriquecem e continuam usando o colarinho branco. Segundo a CIPP, a história procede. Um bom número de inquéritos abertos pela Central, segundo o promotor Presti, apontam negociações de postos de gasolina – especialmente da região do Morumbi e de Taboão da Serra – com o PCC.

Foi no fim dos anos 80, segundo especialistas, que empresários e comerciantes descobriram o tráfico de drogas. A relação ilegal rende dinheiro fácil ao investidor e, na via contrária, é responsável pela lavagem do dinheiro do crime. “É difícil saber quem está ajudando quem”, diz o jurista Wálter Maierovitch, secretário Nacional Antidrogas no segundo governo FHC. Em São Paulo, as reuniões entre narcotráfico e investidores de alta classe se dão em lugares protegidos, como em uma mansão na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, um dos prostíbulos mais luxuosos dos Jardins, onde empresários de diversos ramos (principalmente do futebol) aparecem para beber uísque, transar com garotas de programa e investir em cocaína – eles deixam maços de dinheiro (usados para comprar a droga de fornecedores) e voltam semanas depois, para recolher o lucro da revenda.


A cocaína que chega a São Paulo vem, principalmente, do Peru e da Bolívia, segundo a Polícia Federal. Durante uma investigação, a empresa RCI First – Security and Intelligence Advising, consultoria de Segurança e Inteligência Privada com sede em Nova York, seguiu informações sobre o trajeto dos quilos do pó – a plantação, a produção de pasta base, a travessia da fronteira, o refino, a mistura, o embalador, o traficante e o usuário – e descobriu, a pedido de clientes (a empresa atende desde milionários preocupados com segurança a agências de inteligência internacionais), que pacotes de 1 quilo de cocaína pura chegavam com frequência a regiões nobres de São Paulo, como os Jardins. Intrigados com o fato de que não há bocas de fumo nesses lugares, a empresa começou a investigar como essa droga é distribuída, após embalada em pequenas quantidades.

Descobriram que há na capital paulista cerca de 350 táxis, entre oficiais e clandestinos, que fazem o serviço de delivery de drogas em regiões nobres – cinco pontos estão nos Jardins. Para manter o esquema, as etapas da entrega são planejadas minuciosamente. Acionados por telefone, os taxistas transportam drogas em sacolas de farmácias e de redes de fast food, para disfarçar. Eles estão para o tráfico na alta sociedade assim como os “aviõezinhos” estão para o tráfico na favela. Fazem no máximo duas entregas por corrida, porque se forem flagrados podem reivindicar a condição de usuários. Nessas entregas em domicílio, os produtos mais pedidos são cocaína, em primeiro lugar, maconha orgânica, em segundo, e haxixe e heroína, em terceiro. De alta qualidade, a maconha da elite foi apelidada de “maconha de butique” – a planta, de cor roxa, tem níveis elevados do princípio ativo THC.

Além dos taxistas, cerca de 550 motociclistas, que revezam as entregas de pizzas com as de drogas, e aproximadamente 150 “bikers” fazem o delivery em São Paulo. O serviço é mais frequente na região dos Jardins, Paraíso, Vila Nova Conceição, Itaim Bibi, Moema, Morumbi, Alto de Pinheiros e Jardim Anália Franco. “A elite deixou de ir à periferia para comprar drogas por causa de sequestros e sequestros relâmpagos. O delivery se acentuou de dez anos para cá”, afirma Ricardo Chilelli, um dos maiores especialistas em segurança e inteligência privada do Brasil. “Cada vez mais, esses entregadores compram de traficantes forjados em círculos abastados da sociedade”, diz o promotor Presti.

EM BAIRROS NOBRES DE SÃO PAULO, 350 TÁXIS E ATÉ BICICLETAS ENTREGAM DROGAS EM DOMICÍLIO (FOTO: GABRIEL QUINTÃO)



Ao investigar os crimes que chegam ao Ministério Público, os promotores identificaram um novo padrão no tráfico de drogas de São Paulo. Por mês, uma média de 1.488 processos de tráfico chegam aos gabinetes de 124 promotores – cada um deles se encarrega de três por semana. Cerca de 10% do total, segundo o Ministério Público, envolve traficantes endinheirados desde a infância – ou seja, algo em torno de 149 traficantes de classe alta entram na mira da Justiça (e eventualmente são presos) por mês. E esse número, publicado pela primeira vez nesta reportagem, só cresce. “Notamos empiricamente uma tendência de crescimento desse universo de réus nascidos em berço de ouro”, afirma Presti.

Com a mudança nos padrões, os traficantes de classe alta se tornaram mais ambiciosos e conseguiram galgar mais degraus na escala de poder da venda de drogas. Há em São Paulo três líderes de facções criminosas que, segundo os inquéritos do Ministério Público, são nascidos na classe alta. “Alguns líderes de uma das grandes facções possuem dois cursos de nível superior, eram ‘promoters’ de casas noturnas e já pegaram em metralhadoras e fuzis para praticar crimes. Há líderes que saíram da classe alta e média alta. De cabeça, lembro de três deles que estão presos. Eles não têm o perfil do traficante que a população conhece, conquistariam a atenção de qualquer garota na balada”, afirma Presti. Segundo o promotor, atualmente, o que mais dá dinheiro a traficantes paulistanos é a cocaína, a mais requisitada droga de São Paulo. “É a droga que mais permeia a sociedade hoje, inclusive nos círculos de classe média alta”, diz. No ano passado, o estado de São Paulo liderou o número de apreensões de drogas no país: 31% da cocaína interceptada pela Polícia Federal (ou 11,2 toneladas) foi apreendida em São Paulo. Em segundo lugar vem o Mato Grosso do Sul, onde foram apreendidas 5,5 toneladas, 15% do total nacional.


De acordo com outra pesquisa elaborada pela RCI First, no Brasil, para cada quilo de cocaína apreendido, outros 25 quilos passam pelas fronteiras. Isso significa que, se em 2013 exatas 35,7 toneladas foram apreendidas pela Polícia Federal no país, 892 toneladas sobraram para consumo. O número representa 4,5 gramas por habitante ao ano – ou cerca de 900 milhões de pinos plásticos de 5 mililitros cada, onde a cocaína, que vinha embalada em papelotes, hoje é comercializada (a mudança de embalagem foi uma invenção do PCC para controlar o comércio). A maior parte dos pinos é fabricada pela Eppendorf, multinacional alemã que vende instrumentos para a indústria farmacêutica em 23 países. Existem em São Paulo outras sete empresas que fabricam os pinos usados por traficantes para embalar cocaína.


Em 2013, o tráfico rendeu, no Brasil, um faturamento estimado em R$ 9 bilhões, com o preço do pino a R$ 10. É um valor variável, principalmente no universo do tráfico de luxo paulistano. O pino que pode sair por R$ 10 em pontos de venda de São Paulo, do Rio de Janeiro ou do Pará chega a custar R$ 100 nos arredores da Avenida Paulista. Segundo Ricardo Chilelli, o preço é maior porque a droga é mais pura: enquanto a mais barata possui 33% de pureza, a cara tem 88%, em média. De acordo com Chilelli, 15 tipos de impurezas são usadas nessa mistura – entre elas, leite em pó, fermento químico, talco. “De 2009 para cá o pó de mármore é o carro-chefe das misturas”, diz. Atualmente, 21 marmorarias da Grande São Paulo empregam funcionários que costumam desviar pó de mármore para traficantes, segundo o Ministério Público.

As proporções são ainda maiores quando o assunto é o consumo de maconha – nesse caso, os estados onde há maior circulação são os de fronteira com o Paraguai, Mato Grosso do Sul (85 toneladas apreendidas pela polícia) e Paraná (76 toneladas), seguidos por São Paulo (23 toneladas). São volumes dos quais, enfurnado em seu casarão no Morumbi, o jovem rico – ex-traficante e ex-informante de policiais corruptos – Matheus*, de 26 anos, modestamente tomava parte.

POLÍCIA CONFISCA 30 MIL PÍLULAS DE ECSTASY EM GUARULHOS (FOTO: DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL)



Criado em um colégio particular do Morumbi, na zona sul de São Paulo, Matheus sempre circulou no mundo do luxo, mas também manteve contatos menos ilustres. Um deles, um investigador corrupto da Polícia Civil. Em 2009, os dois começaram a prender jovens ricos e pedir propina aos pais deles em troca da liberdade dos garotos. Enquanto Matheus angariava interessados na compra de grande quantidade de maconha, cocaína, ou uma cartela de ácidos (sempre o suficiente para que fosse configurada a compra para tráfico), o policial organizava-se com outros colegas para flagrar a venda. No instante em que Matheus negociava a droga, os policiais apareciam como numa versão brasileira de seriado americano: “Perdeu!”, gritavam, deixando os aspirantes a traficantes da alta sociedade de olhos arregalados.

Na delegacia, os jovens chamavam os pais que, por sua vez, convocavam seus advogados para providenciar a liberdade dos filhos. Com o advogado, os colegas corruptos negociavam o valor da liberdade – que já chegou a R$ 500 mil, segundo o ex-informante. Certa vez, um policial ofereceu a Matheus pagar as mensalidades de uma faculdade, caso ele utilizasse as aulas para prospectar vítimas para o golpe. O ideal seria, segundo o corrupto, um curso de cinema na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) ou de publicidade na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Matheus recusou. Faz quatro anos que deixou de ajudar policiais a extorquir milionários. Ainda hoje, segundo ele, o esquema funciona em ritmo forte em São Paulo.




O que mais atrai filhos de milionários à armadilha hoje é uma sigla de quatro letras: MDMA – a metilenodioximetanfetamina, ecstasy em sua mais pura forma, a droga sintética preferida da elite. Um grama de MDMA, ou apenas MD, como é chamada, custa R$ 150. A droga vem em pó ou cristal. “Se for cristal é mais pura”, confidencia um usuário que não quis se identificar. “Cheiro uma linha e coloco o resto no drinque. Tem gente que joga tudo no drinque, doses de 1 a 2 gramas.” Graças à potência e ao preço da droga, com poucos gramas no bolso qualquer um se torna traficante. Também é assim com a heroína, substância que multiplicou seu número de usuários na alta sociedade paulistana. De acordo com o promotor Presti, drogas mais caras, como a heroína, sempre são encontradas com traficantes da classe alta. “O traficante que estudou em bons colégios, sete anos atrás, era do universo do lança-perfume e começava com ecstasy. O perfil está mudando, hoje há muita cocaína, maconha, haxixe e heroína. A tendência desse traficante é ter drogas com qualidade melhor. As poucas apreensões de heroína foram em círculos de traficantes de classe alta”, afirma.

Foi por tentar comprar mil pílulas de ecstasy que, em 2005, o ex-traficante Rafael*, 27 anos, passou nove meses no Centro de Detenção Provisória de Vila Independência, na zona leste da capital paulista. A encomenda – que fora elaborada em um laboratório no Pará – custaria R$ 3 mil ao rapaz e seria revendida por R$ 8 mil em raves de São Paulo. Rafael não precisava de dinheiro. Mesmo assim, tornou-se traficante.

Ele mistura tabaco e haxixe para enrolar o cigarro que o acompanhou em uma das entrevistas para esta reportagem. O rapaz é ligado aos mais puros costumes da classe alta: foi seis vezes campeão brasileiro de hipismo, estudou por dez anos no colégio alemão Humboldt, é filho do proprietário de uma grande loja de tecidos no bairro do Brás e passou o último réveillon na Europa, onde esteve por um mês.

Talvez o que mais explique sua opção pelo crime sejam as vantagens do status compartilhado por traficantes de drogas. “Era uma coisa glamourizada, havia muita puxação de saco. Muita gente telefonando. Sexta-feira à noite eu tirava o telefone do gancho. Há uma sensação de poder e onipotência com o dinheiro e tudo”, conta o ex-traficante João Guilherme Estrella, que inspirou o filme Meu Nome Não É Johnny. João traficou cocaína para pessoas de classe alta dos 29 aos 34 anos, no início dos anos 90 – até ser preso em 1995 e passar um ano e meio no Manicômio Judiciário da Rua Frei Caneca, no Rio. Em seu mais volumoso negócio, comprou 15 quilos de cocaína para vender no Rio, na Espanha e na Holanda. Depois de ter sua história registrada em livro e no cinema, o produtor musical de 52 anos passou a dar palestras por todo o Brasil. Ele cobra entre R$ 1,5 mil e R$ 17 mil para discursar sobre álcool, drogas e “a vida”, como diz. Ao rememorar o motivo que o levou à prisão, João explica: “O tráfico era uma distração adolescente, eu não tinha a percepção da hora de dizer não”. Nem Rafael.


Na época em que o garoto do ecstasy foi preso, o número de usuários da droga só crescia – de 2008 para 2009, a apreensão das pastilhas no Brasil aumentou 2.500% e a palavra “ecstasy” tornou-se comum no noticiário. O flagrante levou Rafael à prisão – e à TV. Na segunda edição do SPTV de 27 de abril de 2005, ele apareceu algemado. Enquadrado nos Artigos 33 (tráfico de drogas) e 35 (associação para o tráfico) da Lei 11.343/06, o jovem era o único réu que não escondia o rosto das câmeras. Encarava o cinegrafista. Não foi a primeira vez que atravessou o caminho da Justiça. “Antes de eu ser preso, uma tia pagou R$ 30 mil em propina para agentes do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) que me pegaram traficando haxixe. Depois disso, minha família tentou me internar. Em quatro dias tentei fugir cinco vezes da clínica”, conta Rafael. Na cadeia, o ex-traficante passou dois meses dormindo na “praia” – como os presos chamam o chão da cela que comporta uma dúzia de pessoas, mas é habitada por 40 – e depois subiu para uma das 12 camas compartilhadas por 24 detentos. Descobriu que, para sobreviver ali, era preciso ter dinheiro. Isso não era problema.

Rafael comprou de tudo. Pagava 20 maços de cigarro por semana para outros presos cuidarem da faxina da cela. Cheirava cocaína com frequência, fumava 200 gramas de maconha por mês, comprava ecstasy, tinha um celular clonado com carregador e toda semana sua mãe aparecia com quilos de guloseimas que agradavam os colegas do xadrez. Quando o batalhão de choque surgia para revistar os colchões, ele gastava mais 20 maços com um preso que assumia a propriedade do telefone sempre desvendado. Os cigarros evitavam 30 dias no “castigo” – um corredor estreito onde os presos ficam enfileirados e em pé. Durante os nove meses de prisão, Rafael aprendeu que a “net” – “a internet dos presidiários”, nas palavras dele – era um buraco na parede que interligava dois conjuntos de celas, e percebeu que as conversas sempre giravam em torno do mesmo assunto: crime. “Assuntos do tipo: ‘Nossa, como é difícil arrancar uma cabeça, não é?’”, conta o ex-traficante.

No começo de 2006 – depois de ver sua família gastar R$ 40 mil com advogados e pagar R$ 24 mil a uma dupla de policiais corruptos contratados para mudar seus depoimentos no processo –, ele foi solto enquanto enrolava um cigarro de maconha e explicava a dois recém-chegados, também de classe alta, como funciona o cotidiano na prisão. “Minha professora do Humboldt depôs a meu favor, viram que eu era de colégio bom, fui campeão de hipismo, tudo contou”, diz o jovem, que afirma ter engolido, até hoje, mais de 200 “balas” de várias espécies – A8 verde, Love rosa, Love azul e Estrela de Davi são alguns nomes. Atualmente, Rafael vive tranquilo. Absolvido, trabalha com produção de eventos, planeja mudar-se para o interior e compra 5 gramas de haxixe por semana para consumo próprio. A droga vem do Paraguai, atravessa as estradas brasileiras embrulhada em graxa e bexigas de borracha, alcança a capital paulista no carro de “mulas” e vira fumaça nos pulmões de jovens criados em berço de ouro. São Paulo é realmente mais do que parece. “Existem duas ‘São Paulos’, a regular e a clandestina”, comenta o especialista Ricardo Chilelli. Só uma se vê.