ZERO HORA 28 de abril de 2015 | N° 18146
GILDA PULCHERIO*
“Não basta amar, é preciso cuidar!” Título de um artigo nosso em Zero Hora, em agosto de 2003, no qual invocávamos os cuidados parentais como prevenção ao uso de substâncias psicoativas.
A violência contra as crianças, em seus mais variados graus, pode ocorrer não só por problemas emocionais dos pais, mas também pelo mais absoluto despreparo para as demandas com a criação e educação dos filhos. Tarefa para a qual não é exigida formação. Os filhos difíceis de lidar podem mobilizar rapidamente desafetos e atitudes hostis com falta de paciência e respostas violentas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se violência contra a criança o abuso emocional ou psicológico, o abuso físico, a negligência, o abuso sexual, todos em suas diversas formas e com suas consequências desastrosas. O bullying pode “marcar” para sempre por expor e humilhar.
E milhares dessas crianças, sobreviventes, quando na adolescência ou vida adulta, buscam no álcool e outras drogas o alívio para suas dores e traumas. A literatura é rica em apontar essa associação. Os medos com os desafios da adolescência fazem desta um momento de vida propício para a iniciação, por permitir a fuga e proporcionar prazer. Mesmo que falso, passageiro e com resultados catastróficos para muitos.
Dificuldade de aprendizagem, faltas às aulas, repetências, brigas, que tanto os traumas quanto o consumo de drogas propiciam. Assim como os traumas podem levar ao consumo de substâncias psicoativas, estas podem levar à experimentação de traumas pela vulnerabilidade da exposição sob o efeito do álcool ou outras drogas.
Não temos como impedir que nossos filhos experimentem seus traumas, mas podemos, sim, fazer o que está ao nosso alcance para reduzir as experiências evitáveis que podem tornar-se traumáticas, como, por exemplo, não somente “confiar” na imaturidade da adolescência. Crianças e adolescentes necessitam de nosso amor e amar é cuidar, é não permitir que consumam bebidas alcoólicas ou outras drogas, e muito menos que se embriaguem. Se quisermos a prevenção do consumo de drogas, temos também que prevenir a exposição a situações traumáticas.
*Psiquiatra do Instituto de Prevenção e Pesquisa em Álcool e outras Dependências
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