COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sábado, 25 de setembro de 2010

O SOFRIMENTO DA FAMÍLIA DO USUÁRIO DE CRACK

A família do usuário de crack, por Anissis Moura Ramos, Psicanalista - Zero Hora, 25/09/2010

A família do adicto é uma família adoecida. A mãe é uma mãe tóxica, que estabelece uma relação simbiótica com o filho, mostrando-se como uma mãe boa, continente, protetora, que lhe faz todas as vontades, sendo bastante permissiva, não interferindo na vida dos filhos, pois é a maneira que tem de mantê-los perto dela. Já o pai é uma figura periférica, que não interfere nesta díade mãe/filho e que refere estar sempre muito ocupado com problemas profissionais, não dispondo de tempo para dedicar à família. Quando está em casa, não quer ser incomodado, tem que descansar.

A relação familiar é estabelecida num faz de conta. Quando os problemas aparecem, são negados pelos pais, que encontram uma solução mágica para resolvê-los, usando o álcool ou algum calmante. Assim, ensinam ao filho a fórmula ilusionista de resolver qualquer conflito, convidando-o a participar desse mundo “colorido” oferecido pelas drogas lícitas ou ilícitas. A correria do dia a dia, a necessidade incessante de manter um status que muitas vezes não é o seu, faz com que os pais esqueçam-se de olhar para os filhos. Responsabilizam e projetam os seus problemas para aquele elemento da família que tem uma estrutura de ego mais fragilizada. Este, por sua vez, assume o papel de “bode expiatório” que lhe foi dado, passando a acreditar que é o responsável por tudo o que acontece no seio familiar. Busca na droga o alívio para o seu sofrimento e no traficante a figura do pai que se faz ausente.

Não temos como negar que o usuário de crack é um doente, mas não podemos entrar no faz de conta de sua família, esquecendo que esta também é uma família tóxica, que precisa ser acolhida e tratada. Apesar dos novos modelos de família que vêm se construindo, as famílias são o eixo estruturante do ser humano. Daí a necessidade de resgatá-las, convidando-as a refletir sobre suas vidas, sobre a forma como estruturaram as relações familiares. Fazendo com que o sentimento de culpa não sirva apenas para gerar sofrimento, mas como forma de entender as falhas que ocorreram. Se ficarmos com o nosso olhar preso apenas no usuário, todo o investimento feito no tratamento deste será em vão, no momento em que ele for devolvido para a família. Daí a importância de a mídia e os profissionais da saúde, que estão tão engajados nesta campanha contra o crack, incentivarem o tratamento das famílias, mostrando-lhes a importância deste.

2 comentários:

  1. Agradeço a inserção do meu artigo neste blog.
    Psic. Anissis Ramos

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  2. Merecido. Tua visão do problema é real e bem focada. Na polícia, nós enxergamos isto e sentimos uma impotência diante da omissão do Estado em tratar criar centros de saúde para tratar as dependências e assistir os familiares. Diante disto, a família e o dependente ficam órfãos do Estado e reféns do tráfico. Sofre a população que é aterrorizada por crimes praticados para a atender o chamado das drogas.

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