COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A MIOPIA DO GOVERNADOR

O Estado de S.Paulo 18 de fevereiro de 2014 | 2h 05


OPINIÃO

A "feira livre" de drogas na Rua Peixoto Gomide, nas imediações da Avenida Paulista, descrita em reportagem do Estado, vem demonstrar que a gravidade desse problema na capital é muito maior do que se poderia imaginar. Foi-se o tempo em que a Cracolândia se restringia ao centro velho. Ela está se multiplicando, em tamanhos variáveis, por várias outras regiões. O tamanho da preocupação com esse problema só é comparável ao da decepção com a reação do governador Geraldo Alckmin. Mais lastimável ela não poderia ter sido, o que aumenta o pessimismo da população com relação à forma como essa questão vem sendo tratada.

A "feira", que ocupa uma quadra da Peixoto Gomide, entre as Ruas Augusta e Frei Caneca, funciona todas as noites, com maior intensidade nas de sexta-feira e sábado. Ali se concentram adolescentes e jovens que não podem frequentar as casas noturnas, onde só é permita a entrada de maiores de idade. Os traficantes circulam nas calçadas e entre os carros oferecendo aos gritos maconha, cocaína, ecstasy, LSD, lança-perfume e GHB em gotas, um anestésico também usado como estimulante sexual. A variedade das drogas é para viciado nenhum pôr defeito, e cada uma anunciada com o seu preço.

Adolescentes consumindo drogas e bebidas alcoólicas nas calçadas, em meio a outros já cambaleantes ou caídos, compõem o triste espetáculo dessa minicracolândia. Nada falta para que o "comércio" que se alimenta desse vício prospere. A liberdade com que ele é praticado inclui facilidades de pagamentos. Quem não tem dinheiro vivo pode pagar aos traficantes com cartões de débito ou de crédito em loja de conveniência de um posto de gasolina próximo. Tudo muito bem organizado, sob as barbas da Polícia Militar que por ali faz rondas regularmente. Durante as duas noites que permaneceram ali, os repórteres doEstado contaram a passagem de 12 viaturas, 3 delas da Força Tática.

Diante da reação à reportagem, o governador saiu de seus cuidados para dizer o quê? "Primeiro, temos de ajudar o dependente químico." A dependência química é doença, explicou, e citou as principais medidas que seu governo tomou naquele sentido, entre elas o aumento de 360 para 1.100 leitos para dependentes. Só em seguida tratou do problema da segurança: "De outro lado, combate duro ao tráfico de drogas", que inclui "uma ação vigorosa nessa região, como faz em todas as regiões do Estado".

Ora, a questão na Peixoto Gomide é antes de mais nada de segurança pública, de combate ao tráfico feito livremente, e que não envolve apenas os dependentes, mas também os moradores da região. Ou o governador se esqueceu deles? Claro que tratar do problema das drogas inclui tratamento dos dependentes. Mas neste caso salta aos olhos que fazer considerações vagas - e colocando-as em primeiro lugar - sobre o vício como doença é uma forma de ou fugir do essencial ou fazer concessões ao politicamente correto, de olho nas eleições. Ou as duas coisas, o que ao mesmo tempo cheira a demagogia e não leva a lugar nenhum.

A situação é muito clara e só não a vê quem não quer. Em primeiro lugar, o problema das drogas naquele trecho da Peixoto Gomide vem de longe e apenas se agravou nos últimos tempos. Já houve até mortes ali. Depois, em vez de se entregar a divagações de qualidade duvidosa sobre como tratar o problema, o governador deveria perguntar antes ao comando da Secretaria da Segurança Pública por que a polícia - acionada repetidamente por moradores da região pelo telefone 190 ou pessoalmente junto aos policiais militares que ali fazem patrulha e, ainda mais importante do que isso, vendo diariamente o que os repórteres viram - não tomou nenhuma providência adequada. Por quê?

Que Alckmin não se iluda: ou o seu governo age com o máximo rigor contra o crime organizado que está por trás disso ou as minicracolândias vão se disseminar pela cidade, com dezenas de "feiras livres" de drogas como a da Peixoto Gomide, onde adolescentes se afundam no vício, num espetáculo deprimente; e os traficantes, em altos lucros. Sem falar nos vizinhos que só terão o sossego merecido se se mudarem.

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