PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - Quem consome tem culpa, ZERO HORA 26/11/2010
Guerra é o que se conhece de mais parecido com o que está acontecendo no Rio. As imagens de carros e ônibus em chamas correm o mundo com legendas em diferentes idiomas indicando que foram gravadas no país da próxima Copa do Mundo, na cidade da Olimpíada de 2016, no principal destino turístico do Brasil. As autoridades se apressam em garantir que os turistas podem ficar tranquilos, que os confrontos são a prova de que o tráfico está sendo enfrentado e que os ataques são sinais de desespero dos traficantes.
Serão inevitáveis os prejuízos. Quem vai querer comprar pacote turístico para o Rio no próximo verão? Quem se anima a fazer turismo no Afeganistão, no Iraque ou nas regiões do México que se tornaram conhecidas pelas chacinas?
Os brasileiros que se chocam ao assistir ao vivo às cenas desse Tropa de Elite 3 não podem perder de vista que quem sustenta o tráfico de drogas é o cidadão que se considera “de bem” e consome cocaína, maconha, crack e outras drogas como se fosse inocente. As imagens das barricadas, dos blindados da Marinha subindo o morro e dos traficantes fugindo a pé ou pendurados em motos e carros não existiriam se lá na outra ponta, nos bairros nobres, o consumo não fosse tolerado.
É fácil para as classes A e B chamar o governo de incompetente, protestar contra a violência, exigir mais segurança e se esbaldar em festas regadas a cocaína. A tolerância ao consumo torna o trabalho dos policiais uma reprodução moderna do mito de Sísifo, morro acima combatendo bandidos, enquanto os mocinhos da Zona Sul alimentam a indústria do tráfico. A culpa pela situação é, em boa parte, de sucessivos governos que fizeram acordos explícitos ou velados com os traficantes, permitindo que criassem territórios nos quais a polícia não entra. As Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, não são a panaceia que as autoridades apregoam, mas não podem ser tratadas como vilãs. Se há uma esperança, ela passa pela retomada das áreas dominadas pelos criminosos e pela quebra desse círculo vicioso em que os traficantes ocupam o vácuo deixado pela ausência dos serviços públicos.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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