COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

domingo, 11 de setembro de 2011

VIAGRA NÃO É BALA

“Viagra não é uma bala qualquer”. “...Ora, a possibilidade da broxada nos torna mais humanos, mais sensíveis, atentos…” - DIÁRIO CATARINENSE, 11/09/2011

A frase acima foi retirada de um texto do colunista Xico Sá, para o jornal Folha de S.Paulo, numa crítica bem-humorada ao uso das pílulas por homens jovens. Segundo o urologista Jovânio Fernandes da Rosa, chegam próximo a 100% os casos de origem psicológica na dificuldade de ereção apresentada por pacientes com menos de 30 anos e que não têm os fatores de risco (diabetes, hipertensão ou algum tipo de cardiopatia).

– Viagra não é uma bala qualquer. Se não orientado médica e psicologicamente, sua dependência psicológica pode partir já do uso do primeiro comprimido. Na clínica, temos jovens que, aos 18 anos, já são dependentes dos potencializadores de ereção e não conseguem manter uma relação sexual satisfatória se não estiverem usando – afirma Marlon Mattedi, psicólogo, especialista em Sexualidade pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana e pela Fundação Sexpol, da Espanha.

Para Mattedi, as causas do uso estão associadas às dúvidas quanto à própria sexualidade:

– São jovens que não tiveram educação sexual, não conhecem o próprio corpo. Em geral, mantêm uma baixa autoestima, buscam no sexo a autoafirmação e projetam no Viagra a solução momentânea.

A educadora sexual e ginecologista Maria Inês Gasperini afirma que a prática tem origem em um contexto de sociedade que valoriza a performance excepcional, onde você tem que ser o melhor em tudo. Assim, a broxada passa a ser uma falha grave. Maria Inês chama a atenção para as relações sexuais antecipadas, antes de o casal ter afinidade, o que potencializa a insegurança masculina.

– São jovens e estão com os estímulos à flor da pele. Não precisam do remédio. Mas temos um problema grave. Ninguém sabe quais os efeitos colaterais do uso a longo prazo desses remédios. O mais antigo deles, o Viagra, só está no mercado há 11 anos. É pouco tempo para a medicina – afirma.

Jovânio explica que os efeitos colaterais comuns são transitórios e leves (veja no box acima). Há, no entanto, relatos de efeitos graves como priapismo (ereção ininterrupta e dolorosa que pode causar impotência) e queda da pressão arterial no uso associado ao álcool. Outros efeitos adversos considerados de maior gravidade estão relacionados à função cardíaca.

Os laboratórios ouvidos pela reportagem – Pfizer, Bayer, Elli Lilly e EMS – afirmaram que os remédios não foram testados em homens sem problemas de ereção e que são contra o uso sem indicação médica.

Ereção facilitada. Será?

Quem já usou, mesmo sem ter impotência sexual, garante que há uma potencialização da ereção. Urologistas e psicólogos afirmam que o remédio facilita a ereção, mas que o efeito físico é muito sutil.

– O efeito é mais psicológico. Se usasse uma pílula de farinha teria o mesmo efeito – comenta Eduardo Lopes, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

O urologista Jovânio Fernandes da Rosa explica que com o remédio pode acontecer a diminuição dos intervalos entre as ereções. Em casos mais raros, chega a não existir intervalo, com a pessoa ejaculando sem perder a ereção.

O terapeuta Marlon Mattedi afirma que é preciso orientar jovens e adultos que é mito a história de que o Viagra produz uma superereção ou orgasmos mais intensos.

– O que ocorrerá com os jovens saudáveis é apenas uma ereção parecida com a que seria produzida naturalmente pelo organismo – comenta o terapeuta.

Prova disso é um estudo divulgado em 2006 pela Organização Pan-americana de Saúde (OPA), instituição ligada à Organização Mundial de Saúde. Foram feitos testes com o sildenafil (similar ao Viagra) em 10 homens sadios, de 22 a 34 anos, e com parceira fixa. Eles receberam quatro cápsulas do remédio para usar em casa num período de duas semanas, uma hora antes da atividade sexual. Num segundo período de duas semanas, receberam quatro idênticas pílulas de placebo. Os efeitos encontrados foram muito pequenos, não atingindo significância estatística. O estudo concluiu que em indivíduos jovens e sadios, o remédio não muda significativamente o desempenho sexual.

Um mercado acirrado e em expansão

Desde a quebra da patente do Viagra, em 20 de junho de 2010, o mercado de medicamentos para disfunção erétil vive uma concorrência acirrada e um crescimento fora do comum.

De acordo com dados da auditoria IMS Health, a venda de caixas do remédio cresceu 141,72% entre agosto de 2010 até julho de 2011. Em março deste ano, o Sildenafila, genérico do Viagra, ultrapassou a marca de 1 milhão de unidades vendidas num único mês (veja os dados no gráfico abaixo).

Não à toa, a indústria farmacêutica mira no setor. O Cialis, líder de vendas do mercado depois de 2006, até a entrada do genérico, é o medicamento mais vendido do laboratório Eli Lilly, e a perspectiva é que continue assim nos próximos anos, segundo informou a assessoria de imprensa do laboratório. No segundo semestre de 2010, a empresa lançou o Cialis Diário, único medicamento voltado ao uso contínuo.

Mesmo com a quebra da patente, o Viagra teve crescimento de vendas. De acordo com o laboratório Pfizer, fabricante do remédio, entre janeiro e dezembro de 2010, foram comercializadas 7,4 milhões de pílulas. Já em 2009, também entre janeiro e dezembro, o número de comprimidos vendidos foi de 6,9 milhões, ou seja, houve um crescimento de 6,7%. O Viagra foi o líder no setor entre 2001 e 2006.

– O mercado brasileiro de medicamentos para disfunção erétil (DE) é bastante concorrido e em ascensão. Com a entrada dos genéricos do Viagra (Sildenafila), o mercado dobrou de 19,5 milhões de pílulas vendidas, em abril de 2010, para 40,5 milhões de comprimidos em abril de 2011 – afirma Adilson Montaneira, diretor da Unidade de Negócios e Produtos Estabelecidos da Pfizer Brasil.

Preste atenção

Efeitos colaterais comuns - Dor de cabeça, rubor facial, corisa ou crise de rinite, gastrite, refluxo, dor de estômago, pressão baixa e visão embaçada.

Indicação - Pessoas acima de 50 anos (com recomendação médica), com doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias. Usuários de remédios para depressão ou humor e pessoas que passaram por cirurgia de próstata

ANABOLIZANTES DO SEXO


Terapeutas afirmam que o efeito em homens jovens e saudáveis é mais psicológico do que fisiológico - CRISTINA VIEIRA, DONNA, DIÁRIO CATARINENSE, 11/09/2011

O ambiente é uma balada. Ele tem 20 anos e está com ela pela primeira vez. Após goles de uísque, percebe que a noite renderá além de bons amassos. Um amigo saca do bolso uma pílula azul e oferece ao rapaz. Ele pensa na chance de ter uma noite de sexo intensa, de deixar a garota impressionada. O cérebro elenca, em seguida, o raciocínio matador para a decisão pelo sim: Se eu tomar, meu desempenho está garantido. Não vou falhar. Um arremate na bebida e o comprimido para disfunção erétil está a caminho do estômago.

O Brasil se tornou vice-líder mundial em vendas de remédios para impotência sexual em 2010. Entre agosto de 2010 e julho de 2011, o mercado movimentou R$ 621 milhões no país, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O número de comprimidos vendidos pulou de 19,5 milhões, entre maio de 2009 e abril de 2010, para 40,5 milhões no mesmo período de 2011, de acordo com números da IMS Health – empresa que faz auditoria no setor, divulgados pela Pfizer. Diante de dados pomposos, é lógico pensar: os brasileiros andam às voltas com dificuldades de ereção – logo o Brasil, um país famoso pelo fervor sexual.

Raciocínio equivocado. À exemplo da cena descrita na abertura deste texto, a mudança de comportamento entre jovens de 18 a 30 anos é um dos fatores que explica a expansão no mercado – o que significa que os rapazes não estão ficando broxas.

– Estava numa festa com uma garota. Um amigo me ofereceu. Tomei. Otimiza bastante – contou um estudante de 28 anos do Departamento de Odontologia da UFSC.

O uso recreativo dos medicamentos para disfunção erétil é uma realidade, embora ainda não existam métodos de prevenção ou de alerta sobre o tema. Três estudos publicados recentemente comprovam a prática. A revista científica Saúde Pública publicou em 2008 um estudo da Faculdade de Farmácia, da Universidade Nove de Julho (Uninove), de São Paulo. A universidade investigou o uso dos remédios no campus. Questionários foram passados para um número de alunos que equivalem a 5% do total. Verificou-se que 14,7% dos entrevistados já haviam utilizado as pílulas, sendo que 83,5% usaram uma única vez e o restante pelo menos uma vez ao mês. O destaque é que nenhum dos entrevistados relatou dificuldade para ter ou manter a ereção. As motivações para o uso foram curiosidade (70%), potencialização da ereção (12%), ejaculação precoce (12%) e aumento do prazer (6%).

– O uso recreativo é comum no Brasil, e um alerta precisa ser dado logo. Isso acontece porque o governo brasileiro cedeu ao lobby dos grandes laboratórios e permite a venda sem receita. Em outros países, como EUA e na Europa, o controle é mais eficaz – afirma Eduardo Lopes, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

O urologista critica a apresentação do remédio em embalagens como a do recém-lançado Levitra ODT, que aparece na capa desta edição do Donna. A embalagem ugere um remédio “mais pop”, que derrete na língua, o que tende a ter mais apelo entre os jovens. Nelson Ambrogio, diretor da unidade de negócios Medicina Geral da Bayer, fabricante do Levitra, rebate a crítica, dizendo que estudos comportamentais mostram que homens com disfunção erétil têm certa resistência em assumir que precisam do medicamento.

– A nova apresentação traz mais conforto e discrição – completou.

Em 2010, a Sociedade Internacional de Sexualidade Humana veiculou artigo sobre o tema feito na Argentina. A pesquisa recolheu 400 depoimentos de homens entre 18 e 30 anos em universidades, academias e escolas. 21,5% dos entrevistados já haviam usado alguma pílula para disfunção erétil sem indicação médica. O que chamou mais a atenção é que as medicações foram usadas em 53,4% dos relatos combinadas com drogas ou álcool. Um estudo mais amplo foi publicado, em abril de 2010, pela Springer, publicação científica internacional. Nele, foram ouvidos 2 mil jovens de 497 instituições de ensino dos EUA – 4,5% usaram o remédio pelo menos um vez e, desses, 1,4% usam de forma recorrente. A publicação também identificou a falta de problemas de ereção entre os usuários e chamou a atenção para um comportamento de risco, pois os entrevistados usaram o remédio em relações sexuais sem camisinha e aliado ao uso de drogas. Os três trabalhos ressaltam a preocupação com a venda dos remédios sem receita e com- a falta de estudos dos efeitos dos remédios em jovens saudáveis.

A garota e o rapaz de 20 anos viveram uma maratona sexual naquela noite. Ela jamais soube do empurrão químico no vigor dele.

Dizem os terapeutas que o efeito do remédio em homens saudáveis é mais psicológico do que fisiológico. Não há trabalho de prevenção sobre o uso recreativo dos remédios.



Nas gôndolas, a variedade é farta

No mercado, existem 13 remédios para disfunção erétil, com preços que variam de R$ 8 a R$ 40. O mais vendido é o Cialis, do laboratório Eli Lilly. O Viagra virou o medicamento de referência por ter sido o pioneiro. Está no mercado há 11 anos e, ano passado, teve sua patente quebrada, o que fez o preço cair de cerca de R$ 30 para R$ 12 em média. O mercado para estes medicamentos é tão agressivo que um dia após a quebra da patente, em junho de 2010, já estava nas gôndolas das farmácias o genérico Sildenafila - hoje em dia campeão de vendas (leia mais na página 11).

A curiosidade fica por conta da forma como o Viagra foi descoberto. O remédio era pesquisado para tratamento de cardíacos. Mas nos testes com voluntários se evidenciou uma potencialização significativa da ereção nos participantes da pesquisa, enquanto os resultados para cardiopatias foram pífios. Assim, direcionou-se o remédio para a disfunção erétil, o que provocou uma revolução no comportamento sexual da sociedade atual.

– Eu tenho um casal de pacientes. Ele tem 87 anos, e ela, 82. Eles têm uma vida sexual ativa e feliz graças ao uso desse tipo de remédio – comenta o urologista Jovânio Fernandes Rosa.

Existem quatro tipos de substâncias (sildenafil, vardenafil, todalafil e ladenafil) que combatem a disfunção erétil. A mais comum é o sildenafil, princípio ativo do Viagra, Ah-zul, Dejavu, Escitan, Sollevare, Suvvia, Vasifil, Videnfil e do genérico Sildenafila. Vardenafil compõe o Levitra (na capa desta edição) e o Vivanza. Todalafil está no Cialis, e o ladenafil, no Helleva, único produzido por um laboratório brasileiro. As quatro agem da mesma forma (confira infografia). O que varia é o tempo de ação e o tipo de efeito colateral, o que também tem a ver com o organismo de cada um. O Cialis garante 36 horas ( se houver estpimulo sexual). O Viagra, 12horas, e o Levitra, 10 horas, de acordo com Jovânio.



Precisa de receita, sim!

A venda sem receita de remédios para disfunção erétil nas farmácias é tão frequente que virou lugar-comum dizer que não precisa de receita. Mas, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esses medicamentos são de tarja vermelha, o que implica receita.

– De uns três anos pra cá, esses remédios viraram uma febre, uma modinha mesmo. Você pode comprar em qualquer farmácia sem receita. Não há controle. Isso é um risco e uma prática errada – afirma a farmacêutica Carolina Junkes, presidente do Sindicato dos Farmacêuticos e assessora técnica do Conselho Regional de Farmácias.

A conclusão de um estudo publicado pela revista Saúde Pública, em 2008, sobre o uso recreativo dos remédios, priorizou a falta de controle na venda do remédio: “Um resultado de certa forma preocupante foi o fato de 100% dos usuários terem adquirido o medicamento sem receituário médico, indicando a ausência de diagnóstico para o consumo desses fármacos. Contudo, têm sido utilizados de forma inconsequente e em desacordo com os princípios do uso racional de medicamentos”.

Urologista em Florianópolis, com especialização em andrologia (a área que estuda a saúde sexual do homem) pela Escola Paulista de Medicina, Jovânio Fernandes Rosa defende um controle rígido na venda do remédio.

– Tem alguns rapazes que vem consultar só para ter a receita. Não sabem que, hoje em dia, é só chegar na farmácia e comprar – contou.

Carolina reforça que o papel do farmacêutico é essencial. É ele quem vai exigir a receita e orientar sobre o uso.



A opinião deles

Uma volta de cerca de uma hora pelo campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, é suficiente para perceber que o uso de remédios para disfunção erétil sem indicação médica é conhecido e comum entre os jovens. Veja alguns comentários:

“Usei uma única vez e faz tempo. Mas eu não tenho nenhum problema de ereção. Usei por curiosidade. Eu estava numa festa com uma gatinha. Um amigo me sugeriu para dividirmos. Eu topei. Normal. Posso dizer que otimiza bastante, potencializa a ereção. E, ó, dá uma acelerada no coração. Mas hoje vejo que a turma está começando a usar bastante. Claro que eu não contei pra ela e acho que meu amigo também não. Eu acho que uns 80% usam só para se desinibir. Tenho a sensação que é para impressionar as meninas.” Estudante, 28 anos, do Departamento de Odontologia.

“O pessoal costuma usar com uísque. Pra mim, o pessoal usa por medo. Sabe aquele medo de falhar na hora? Está com uma menina que não conhece muito bem, e depois fica pensando o que ela pode falar. Eu nunca usei. Mas não tenho preconceito. Usaria por curiosidade.” Estudante, 21 anos, do departamento de Odontologia.

“Eu nunca tinha pensado sobre isso, nem ouvido falar. Mas, sei lá, talvez usaria por curiosidade.” João Paulo Fernandes, 20 anos, estudante de Jornalismo." João Paulo Fernandes, 20 anos, estudante de Jornalismo.

COMO O REMÉDIO AGE

- O comprimido é ingerido

- Cai no estômago e, após absorção, a medicação segue no sistema circulatório e é transportada pelo sangue até a região do pênis.

- O remédio chega aos vasos sanguíneos do pênis. Ali, ele inibe a ação da enzima chamada fosfodiesterase, que é responsável por contrair os vasos. Sem a ação da enzima, os vasos ficam relaxados, possibilitando a entrada mais rápida e mais fácil do sangue nos vasos para ocorrer a ereção. Isso acontece cerca de 30 minutos depois da ingestão da pílula.

- A ereção só acontece com a liberação de óxido nítrico, o neurotransmissor do pênis. E o cérebro só o libera a partir do momento em que o homem sente desejo ou estímulo sexual. O óxido nítrico provoca reações químicas que irrigarão de sangue os corpos cavernosos (entrelaçamento de vasos sanguíneos), agora já relaxados pelo remédio.

DESVIOS MENTAIS - CRACK ESTÁ POR TRÁS DE 90% DOS PEDIDOS DE INTERNAÇÃO

“Crack está por trás de 90% dos pedidos de internação” - ZERO HORA 11/09/2011

O Hospital Conceição, em Porto Alegre, conta com uma unidade do Caps do terceiro tipo, mas específica para usuários de álcool e drogas e ainda não certificada pelo Ministério da Saúde.

Números publicados pelo governo federal, em julho deste ano, mostram que 47% dos Caps do país são do tipo mais simples, índice semelhante aos 46% verificados no Rio Grande do Sul. Assim, em caso de necessidade de um auxílio mais especializado ou fora de horário comercial, as unidades não são úteis.

Como resultado desse contexto, muitos familiares de pacientes acabam recorrendo à Justiça em busca de socorro. Somente em Porto Alegre, a Defensoria Pública recebe 60 pedidos mensais de internação. A situação foi agravada pela recente epidemia de crack no Estado e no país.

– Nos últimos três anos, a procura de pessoas por internação aumentou em um terço, e o crack está por trás de 90% dos pedidos. O problema é que, quando a reforma psiquiátrica foi formulada, não havia esse problema – acredita a defensora pública Paula Pinto de Souza.

A coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Estadual da Saúde, Karol Veiga Cabral, afirma que o Rio Grande do Sul tem as melhores médias do país quando o assunto são leitos psiquiátricos e Caps. Ela destaca ainda que a retirada dos pacientes dos hospitais psiquiátricos garante maior qualidade de vida a eles. Karol admite, porém, que é necessário investir na rede de saúde básica:

– A atenção básica precisa atender questões de saúde mental. É difícil, porque é preciso qualificar os profissionais.

VEJA A REPORTAGEM ESPECIAL PUBLICADA EM ZH 11/09/2011

http://caosnasaudepublica.blogspot.com/2011/09/manicomios-descompasso-na-saude.html

terça-feira, 6 de setembro de 2011

TRÁFICO EUROPA-BRASIL


Das baladas eletrônicas direto para a cadeia. Oito foram presos em SC, ontem, suspeitos de participar de esquema que trazia drogas sintéticas - MARJORIE BASSO

Busca por lucro fácil, viagens à Europa e até um falso glamour que envolve as festas eletrônicas. Terminou tudo em prisão para jovens de classe média com idades entre entre 19 e 25 anos. Eles traziam drogas sintéticas para baladas em cinco estados brasileiros.

O esquema internacional, do qual eles faziam parte, sofreu mais um revés ontem. A Operação Voyage, da Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), prendeu 28 jovens envolvidos no tráfico internacional no país. Deflagrada em fevereiro, a primeira parte da ação encerrou-se ontem, com a prisão de oito pessoas na Grande Florianópolis.

A Capital foi a base da operação. Daqui, saíam as principais remessas de cocaína e chegavam os carregamentos de ecstasy, LSD e skank trazidos da Europa. Depois, as drogas eram distribuídas em todo o Estado e ainda em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

Ao longo desses meses, quase 70 mil comprimidos de ecstasy, 28 mil pontos de LSD, 12 quilos de cocaína quase pura e dois quilos de skunk foram apreendidos em operações nas rodovias e aeroportos de todo o país.

A organização criminosa, que a polícia acredita ter desmantelado com a operação, era composta por vários grupos que se comunicavam. Por isso, não há um cabeça. Os traficantes contratavam mulas, também jovens de classe média, para levar cocaína à Europa e voltar com as drogas sintéticas.

Um caminho, dois sentidos

– Com essa operação se prova que a Europa também está exportando drogas, e não somente o contrário, como as autoridades lá vinham afirmando – destaca o superintendente regional da PF, delegado Ademar Stocker.

Para a PF, a Holanda é o principal fornecedor de drogas sintéticas a outros países. Segundo ele, o país é referência preocupante no tráfico pois há pouca efetividade no combate à produção e ao comércio dessas drogas lá.

Ontem foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão na Grande Florianópolis. Seis carros, eletrônicos e dinheiro foram apreendidos.

Dos 10 mandados de prisão preventiva, seis foram cumpridos e duas pessoas acabaram presas em flagrante. Novas prisões, resultantes desses mandados, podem ser efetuadas nos próximos dias.

A operação levou meses porque a intenção é prender justamente os traficantes que comandavam a importação e exportação dessas drogas, e não apenas as mulas. Com essas 28 prisões a polícia acredita que prendeu os mentores. Três mandados de prisão para pessoas que vivem na Europa já foram expedidos e devem ser cumpridos pela Interpol.

Lucro entre oito e 10 vezes maior

Os jovens se envolviam nesse mundo atraídos pelo lucro fácil. Conforme o procurador do Ministério Público Federal, Marcelo da Mota, os traficantes lucravam entre oito e 10 vezes mais que o preço pago pelas drogas na Europa.

Eles também não tinham dificuldades em ingressar no ramo. Praticamente todos falam inglês e tinham dinheiro para bancar as primeiras remessas. A polícia acredita que durante a operação tirou do mercado cerca de R$ 20 milhões em drogas. As mulas também eram aliciadas com a perspectiva de ganhar dinheiro e conhecer a Europa.

Outro ponto levantado pelas autoridades é o ilusório glamour que envolve os usuários desse tipo de drogas, comumente frequentadores de festas eletrônicas:

– Por estarem muito envolvidas com o glamour das festas eletrônicas, tendemos a achar que essas drogas são mais leves, mas os efeitos psicológicos são profundos, assim como de outros entorpecentes – explica Mota.

Os presos podem ser condenados a até 25 anos de reclusão por tráfico internacional. Devido a um acordo entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal os nomes não foram divulgados. O nome da operação “Voyage” é devido às viagens que eram feitas pelos envolvidos.

Cocaína em forro falso

Um dos mandados de prisão expedido pela Justiça Federal era para um morador de Campinas, em São José, mas o documento sequer foi necessário. Ao chegar à casa, a polícia encontrou 24,3 mil euros (cerca de R$ 60 mil). Havia também uma mala com fundo falso recheado com dois quilos de cocaína de alto grau de pureza, segundo a PF.

A droga estava escondida entre o forro e a parte exterior da estrutura. Em seguida, a mala era fechada com precisão para que não aparentasse ter sido violada. A polícia acredita que ela estava pronta para a próxima viagem à Europa.

Por ser uma mala pequena podia ser levada nos aviões como bagagem de mão e só seria detectada em algum aeroporto se houvesse denúncia.

– Drogas em forros de malas, escondidas em pranchas de surfe, são detectadas mediante denúncia. A Polícia Federal dos aeroportos nem pode estourar todas as malas e equipamentos de esporte, a menos que suspeitem – explica o chefe de Comunicação da PF em Santa Catarina, Ildo Rosa.

Em 2005, a primeira grande ação

A Operação Playboy da Polícia Federal, deflagrada em 2005, é lembrada até hoje como uma das primeiras grandes ações de combate ao tráfico de sintéticos em Santa Catarina. E há, de fato, algumas semelhanças entre as duas ações.

Assim como na Operação Voyage, os envolvidos eram jovens de classe média e alta. Eles levavam cocaína e traziam drogas sintéticas da Europa e da Ásia para o Brasil.

Também na operação de seis anos atrás, os envolvidos circulavam em altas rodas sociais e andavam de carros importados. A principal droga que traficavam era o ecstasy, distribuído em baladas eletrônicas principalmente na região da badalada Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina.

Droga escondida em pranchas de surfe

Os suspeitos eram todos praticantes de esportes radicais e usavam os equipamentos como forma de transportar das drogas. Os volumes eram escondidos dentro de pranchas de surfe, por exemplo.

O grupo teria sido identificado pela Polícia Federal depois da prisão de um paranaense condenado à morte na Indonésia – ele foi flagrado naquele país com cocaína escondida em uma prancha de surfe.

Após essa prisão, teria havido uma briga entre os integrantes, que acabaram entregando como agia o grupo que viria a ser identificado na Operação Playboy.

Pelo menos 12 pessoas foram alvo da investigação na época. Entre eles estava um catarinense preso em Barcelona, na Espanha.

JOVENS ALICIADOS PELO DINHEIRO FÁCIL, VIAGENS À EUROPA E GLAMOUR

Jovens envolvidos na Operação Voyage eram atraídos por possibilidade de ganhar dinheiro fácil - DIÁRIO CATARINENSE, 06/09/2011 | 06h50min

De acordo com MPF, os traficantes lucravam entre oito e 10 vezes mais que na Europa
Os jovens envolvidos na Operação Voyage, da Polícia Federal, eram atraídos pelo lucro fácil. Conforme o procurador do Ministério Público Federal, Marcelo da Mota, os traficantes lucravam entre oito e 10 vezes mais que o preço pago pelas drogas na Europa.

Eles também não tinham dificuldades em ingressar no ramo. Praticamente todos falam inglês e tinham dinheiro para bancar as primeiras remessas. A polícia acredita que durante a operação tirou do mercado cerca de R$ 20 milhões em drogas. As mulas também eram aliciadas com a perspectiva de ganhar dinheiro e conhecer a Europa.

Outro ponto levantado pelas autoridades é o ilusório glamour que envolve os usuários desse tipo de drogas, comumente frequentadores de festas eletrônicas:

— Por estarem muito envolvidas com o glamour das festas eletrônicas, tendemos a achar que essas drogas são mais leves, mas os efeitos psicológicos são profundos, assim como de outros entorpecentes — explica Mota.

Os presos podem ser condenados a até 25 anos de reclusão por tráfico internacional. Devido a um acordo entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal os nomes não foram divulgados. O nome da operação "Voyage" é devido às viagens que eram feitas pelos envolvidos.

Mãe de jovem envolvido em esquema de tráfico de drogas em SC se surpreende com a prisão do filho. Mulher disse à polícia que não sabia da atividade ilícita.

Nesta segunda-feira cerca de cem policiais federais partiram para cumprir os 12 mandados de busca e 10 de prisão na Grande Florianópolis na Operação Voyage, que prendeu jovens envolvidos no tráfico internacional. A estratégia era chegar à casa dos suspeitos antes mesmo que eles tivessem acordado, para inviabilizar qualquer tentativa de fuga.

Em uma das casas, no bairro Procasa, em São José, a polícia encontrou pelo menos cinco televisores de LCD, notebooks e pneus novos no quarto de um dos suspeitos. A investigação acredita serem fruto de receptação.

O jovem de 22 anos, que estava com mandado de prisão em seu nome, foi preso e seu irmão acabou encaminhado à delegacia e assinou um termo circunstanciado, pois guardava uma pequena quantidade de maconha.

A mãe do suspeito estava em casa no momento da abordagem, mas disse que não sabia da atividade ilícita do filho. Na delegacia, uma comadre do suspeito disse que ele nunca havia sido preso e garante que ele não traficava.

A mulher contou que o rapaz, que tem um filho de dois anos, trabalha com a família em uma padaria. Segundo ela, os produtos guardados na casa do suspeito foram comprados por valores muito abaixo do preço de mercado.

Oito foram presos em SC

Busca por lucro fácil, viagens à Europa e até um falso glamour que envolve as festas eletrônicas. Terminou tudo em prisão para jovens de classe média com idades entre entre 19 e 25 anos. Eles traziam drogas sintéticas para baladas em cinco estados brasileiros.

O esquema internacional, do qual eles faziam parte, sofreu mais um revés na segunda-feira. A Operação Voyage, da Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), prendeu 28 jovens envolvidos no tráfico internacional no país. Deflagrada em fevereiro, a primeira parte da ação encerrou-se com a prisão de oito pessoas na Grande Florianópolis.

A Capital foi a base da operação. Daqui, saíam as principais remessas de cocaína e chegavam os carregamentos de ecstasy, LSD e skank trazidos da Europa. Depois, as drogas eram distribuídas em todo o Estado e ainda em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

Ao longo desses meses, quase 70 mil comprimidos de ecstasy, 28 mil pontos de LSD, 12 quilos de cocaína quase pura e dois quilos de skunk foram apreendidos em operações nas rodovias e aeroportos de todo o país.

A organização criminosa, que a polícia acredita ter desmantelado com a operação, era composta por vários grupos que se comunicavam. Por isso, não há um cabeça. Os traficantes contratavam mulas, também jovens de classe média, para levar cocaína à Europa e voltar com as drogas sintéticas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

TRÁFICO VIP EM ZONA NOBRE DE PORTO ALEGRE

ANTERIORLISTA | IMPRIMIR | ENVIAR | LETRA A - | A +PRÓXIMA02 de setembro de 2011 | N° 16813
PRISÃO NA CAPITAL
Traficante agia no Menino Deus
O lugar não tinha nada a ver com os tradicionais pontos de tráfico, nem ficava na periferia. A droga era vendida para um público VIP, como o próprio traficante classifica.

Um empresário do ramo de automóveis, de 33 anos, foi preso na sua casa, na Rua General Caldwell, bairro Menino Deus, em Porto Alegre, ontem de madrugada. Com ele, os agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico encontraram em torno de 430 gramas de cocaína do tipo “escama de peixe”, que tem teor de pureza altíssimo.

– É uma droga de alto valor e com pureza rara em Porto Alegre. Era vendida a uma clientela de alto poder aquisitivo, em pequenas doses, em festas ou sob encomenda com clientela garantida – explica o delegado Mario Souza.

O policial comandou a investigação que durou em torno de um mês. Na madrugada de ontem, os agentes surpreenderam o suspeito quando ele organizava a droga. Ao ver os policiais, ainda teria tentado esconder o material no forro de gesso da casa. Há pouco mais de um ano, ele já esteve preso por tráfico e, já naquela época, estaria atuando no tráfico de cocaína.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Menino Deus é um bairro chic de Porto Alegre, próximo do Estádio Beira Rio e o Parque Marinha do Brasil ao lado do Guaíba.