“Viagra não é uma bala qualquer”. “...Ora, a possibilidade da broxada nos torna mais humanos, mais sensíveis, atentos…” - DIÁRIO CATARINENSE, 11/09/2011
A frase acima foi retirada de um texto do colunista Xico Sá, para o jornal Folha de S.Paulo, numa crítica bem-humorada ao uso das pílulas por homens jovens. Segundo o urologista Jovânio Fernandes da Rosa, chegam próximo a 100% os casos de origem psicológica na dificuldade de ereção apresentada por pacientes com menos de 30 anos e que não têm os fatores de risco (diabetes, hipertensão ou algum tipo de cardiopatia).
– Viagra não é uma bala qualquer. Se não orientado médica e psicologicamente, sua dependência psicológica pode partir já do uso do primeiro comprimido. Na clínica, temos jovens que, aos 18 anos, já são dependentes dos potencializadores de ereção e não conseguem manter uma relação sexual satisfatória se não estiverem usando – afirma Marlon Mattedi, psicólogo, especialista em Sexualidade pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana e pela Fundação Sexpol, da Espanha.
Para Mattedi, as causas do uso estão associadas às dúvidas quanto à própria sexualidade:
– São jovens que não tiveram educação sexual, não conhecem o próprio corpo. Em geral, mantêm uma baixa autoestima, buscam no sexo a autoafirmação e projetam no Viagra a solução momentânea.
A educadora sexual e ginecologista Maria Inês Gasperini afirma que a prática tem origem em um contexto de sociedade que valoriza a performance excepcional, onde você tem que ser o melhor em tudo. Assim, a broxada passa a ser uma falha grave. Maria Inês chama a atenção para as relações sexuais antecipadas, antes de o casal ter afinidade, o que potencializa a insegurança masculina.
– São jovens e estão com os estímulos à flor da pele. Não precisam do remédio. Mas temos um problema grave. Ninguém sabe quais os efeitos colaterais do uso a longo prazo desses remédios. O mais antigo deles, o Viagra, só está no mercado há 11 anos. É pouco tempo para a medicina – afirma.
Jovânio explica que os efeitos colaterais comuns são transitórios e leves (veja no box acima). Há, no entanto, relatos de efeitos graves como priapismo (ereção ininterrupta e dolorosa que pode causar impotência) e queda da pressão arterial no uso associado ao álcool. Outros efeitos adversos considerados de maior gravidade estão relacionados à função cardíaca.
Os laboratórios ouvidos pela reportagem – Pfizer, Bayer, Elli Lilly e EMS – afirmaram que os remédios não foram testados em homens sem problemas de ereção e que são contra o uso sem indicação médica.
Ereção facilitada. Será?
Quem já usou, mesmo sem ter impotência sexual, garante que há uma potencialização da ereção. Urologistas e psicólogos afirmam que o remédio facilita a ereção, mas que o efeito físico é muito sutil.
– O efeito é mais psicológico. Se usasse uma pílula de farinha teria o mesmo efeito – comenta Eduardo Lopes, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
O urologista Jovânio Fernandes da Rosa explica que com o remédio pode acontecer a diminuição dos intervalos entre as ereções. Em casos mais raros, chega a não existir intervalo, com a pessoa ejaculando sem perder a ereção.
O terapeuta Marlon Mattedi afirma que é preciso orientar jovens e adultos que é mito a história de que o Viagra produz uma superereção ou orgasmos mais intensos.
– O que ocorrerá com os jovens saudáveis é apenas uma ereção parecida com a que seria produzida naturalmente pelo organismo – comenta o terapeuta.
Prova disso é um estudo divulgado em 2006 pela Organização Pan-americana de Saúde (OPA), instituição ligada à Organização Mundial de Saúde. Foram feitos testes com o sildenafil (similar ao Viagra) em 10 homens sadios, de 22 a 34 anos, e com parceira fixa. Eles receberam quatro cápsulas do remédio para usar em casa num período de duas semanas, uma hora antes da atividade sexual. Num segundo período de duas semanas, receberam quatro idênticas pílulas de placebo. Os efeitos encontrados foram muito pequenos, não atingindo significância estatística. O estudo concluiu que em indivíduos jovens e sadios, o remédio não muda significativamente o desempenho sexual.
Um mercado acirrado e em expansão
Desde a quebra da patente do Viagra, em 20 de junho de 2010, o mercado de medicamentos para disfunção erétil vive uma concorrência acirrada e um crescimento fora do comum.
De acordo com dados da auditoria IMS Health, a venda de caixas do remédio cresceu 141,72% entre agosto de 2010 até julho de 2011. Em março deste ano, o Sildenafila, genérico do Viagra, ultrapassou a marca de 1 milhão de unidades vendidas num único mês (veja os dados no gráfico abaixo).
Não à toa, a indústria farmacêutica mira no setor. O Cialis, líder de vendas do mercado depois de 2006, até a entrada do genérico, é o medicamento mais vendido do laboratório Eli Lilly, e a perspectiva é que continue assim nos próximos anos, segundo informou a assessoria de imprensa do laboratório. No segundo semestre de 2010, a empresa lançou o Cialis Diário, único medicamento voltado ao uso contínuo.
Mesmo com a quebra da patente, o Viagra teve crescimento de vendas. De acordo com o laboratório Pfizer, fabricante do remédio, entre janeiro e dezembro de 2010, foram comercializadas 7,4 milhões de pílulas. Já em 2009, também entre janeiro e dezembro, o número de comprimidos vendidos foi de 6,9 milhões, ou seja, houve um crescimento de 6,7%. O Viagra foi o líder no setor entre 2001 e 2006.
– O mercado brasileiro de medicamentos para disfunção erétil (DE) é bastante concorrido e em ascensão. Com a entrada dos genéricos do Viagra (Sildenafila), o mercado dobrou de 19,5 milhões de pílulas vendidas, em abril de 2010, para 40,5 milhões de comprimidos em abril de 2011 – afirma Adilson Montaneira, diretor da Unidade de Negócios e Produtos Estabelecidos da Pfizer Brasil.
Preste atenção
Efeitos colaterais comuns - Dor de cabeça, rubor facial, corisa ou crise de rinite, gastrite, refluxo, dor de estômago, pressão baixa e visão embaçada.
Indicação - Pessoas acima de 50 anos (com recomendação médica), com doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias. Usuários de remédios para depressão ou humor e pessoas que passaram por cirurgia de próstata
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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