COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
TRÁFICO EUROPA-BRASIL
Das baladas eletrônicas direto para a cadeia. Oito foram presos em SC, ontem, suspeitos de participar de esquema que trazia drogas sintéticas - MARJORIE BASSO
Busca por lucro fácil, viagens à Europa e até um falso glamour que envolve as festas eletrônicas. Terminou tudo em prisão para jovens de classe média com idades entre entre 19 e 25 anos. Eles traziam drogas sintéticas para baladas em cinco estados brasileiros.
O esquema internacional, do qual eles faziam parte, sofreu mais um revés ontem. A Operação Voyage, da Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), prendeu 28 jovens envolvidos no tráfico internacional no país. Deflagrada em fevereiro, a primeira parte da ação encerrou-se ontem, com a prisão de oito pessoas na Grande Florianópolis.
A Capital foi a base da operação. Daqui, saíam as principais remessas de cocaína e chegavam os carregamentos de ecstasy, LSD e skank trazidos da Europa. Depois, as drogas eram distribuídas em todo o Estado e ainda em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.
Ao longo desses meses, quase 70 mil comprimidos de ecstasy, 28 mil pontos de LSD, 12 quilos de cocaína quase pura e dois quilos de skunk foram apreendidos em operações nas rodovias e aeroportos de todo o país.
A organização criminosa, que a polícia acredita ter desmantelado com a operação, era composta por vários grupos que se comunicavam. Por isso, não há um cabeça. Os traficantes contratavam mulas, também jovens de classe média, para levar cocaína à Europa e voltar com as drogas sintéticas.
Um caminho, dois sentidos
– Com essa operação se prova que a Europa também está exportando drogas, e não somente o contrário, como as autoridades lá vinham afirmando – destaca o superintendente regional da PF, delegado Ademar Stocker.
Para a PF, a Holanda é o principal fornecedor de drogas sintéticas a outros países. Segundo ele, o país é referência preocupante no tráfico pois há pouca efetividade no combate à produção e ao comércio dessas drogas lá.
Ontem foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão na Grande Florianópolis. Seis carros, eletrônicos e dinheiro foram apreendidos.
Dos 10 mandados de prisão preventiva, seis foram cumpridos e duas pessoas acabaram presas em flagrante. Novas prisões, resultantes desses mandados, podem ser efetuadas nos próximos dias.
A operação levou meses porque a intenção é prender justamente os traficantes que comandavam a importação e exportação dessas drogas, e não apenas as mulas. Com essas 28 prisões a polícia acredita que prendeu os mentores. Três mandados de prisão para pessoas que vivem na Europa já foram expedidos e devem ser cumpridos pela Interpol.
Lucro entre oito e 10 vezes maior
Os jovens se envolviam nesse mundo atraídos pelo lucro fácil. Conforme o procurador do Ministério Público Federal, Marcelo da Mota, os traficantes lucravam entre oito e 10 vezes mais que o preço pago pelas drogas na Europa.
Eles também não tinham dificuldades em ingressar no ramo. Praticamente todos falam inglês e tinham dinheiro para bancar as primeiras remessas. A polícia acredita que durante a operação tirou do mercado cerca de R$ 20 milhões em drogas. As mulas também eram aliciadas com a perspectiva de ganhar dinheiro e conhecer a Europa.
Outro ponto levantado pelas autoridades é o ilusório glamour que envolve os usuários desse tipo de drogas, comumente frequentadores de festas eletrônicas:
– Por estarem muito envolvidas com o glamour das festas eletrônicas, tendemos a achar que essas drogas são mais leves, mas os efeitos psicológicos são profundos, assim como de outros entorpecentes – explica Mota.
Os presos podem ser condenados a até 25 anos de reclusão por tráfico internacional. Devido a um acordo entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal os nomes não foram divulgados. O nome da operação “Voyage” é devido às viagens que eram feitas pelos envolvidos.
Cocaína em forro falso
Um dos mandados de prisão expedido pela Justiça Federal era para um morador de Campinas, em São José, mas o documento sequer foi necessário. Ao chegar à casa, a polícia encontrou 24,3 mil euros (cerca de R$ 60 mil). Havia também uma mala com fundo falso recheado com dois quilos de cocaína de alto grau de pureza, segundo a PF.
A droga estava escondida entre o forro e a parte exterior da estrutura. Em seguida, a mala era fechada com precisão para que não aparentasse ter sido violada. A polícia acredita que ela estava pronta para a próxima viagem à Europa.
Por ser uma mala pequena podia ser levada nos aviões como bagagem de mão e só seria detectada em algum aeroporto se houvesse denúncia.
– Drogas em forros de malas, escondidas em pranchas de surfe, são detectadas mediante denúncia. A Polícia Federal dos aeroportos nem pode estourar todas as malas e equipamentos de esporte, a menos que suspeitem – explica o chefe de Comunicação da PF em Santa Catarina, Ildo Rosa.
Em 2005, a primeira grande ação
A Operação Playboy da Polícia Federal, deflagrada em 2005, é lembrada até hoje como uma das primeiras grandes ações de combate ao tráfico de sintéticos em Santa Catarina. E há, de fato, algumas semelhanças entre as duas ações.
Assim como na Operação Voyage, os envolvidos eram jovens de classe média e alta. Eles levavam cocaína e traziam drogas sintéticas da Europa e da Ásia para o Brasil.
Também na operação de seis anos atrás, os envolvidos circulavam em altas rodas sociais e andavam de carros importados. A principal droga que traficavam era o ecstasy, distribuído em baladas eletrônicas principalmente na região da badalada Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina.
Droga escondida em pranchas de surfe
Os suspeitos eram todos praticantes de esportes radicais e usavam os equipamentos como forma de transportar das drogas. Os volumes eram escondidos dentro de pranchas de surfe, por exemplo.
O grupo teria sido identificado pela Polícia Federal depois da prisão de um paranaense condenado à morte na Indonésia – ele foi flagrado naquele país com cocaína escondida em uma prancha de surfe.
Após essa prisão, teria havido uma briga entre os integrantes, que acabaram entregando como agia o grupo que viria a ser identificado na Operação Playboy.
Pelo menos 12 pessoas foram alvo da investigação na época. Entre eles estava um catarinense preso em Barcelona, na Espanha.
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