COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CRACOLÂNDIAS NÃO DEMARCADAS E PERIGOSAS

JORNAL EXTRA 18/12/12 06:00

Zonas Norte e Oeste têm cracolândias fora da lista de ações da Prefeitura do Rio

Usuários de crack no prédio da antiga delegacia de Realengo, na Zona Oeste do Rio: invasão Foto: Fabiano Rocha / Extra

Carolina Heringer e Paolla Serra


Quinta-feira, 6 de dezembro, 14h10m, Avenida Pastor Martin Luther King Junior, altura da Pavuna. O vai e vem de pessoas, carros e ônibus não para. Exceto na saída da estação Rubens Paiva do metrô. Ali, poucos pedestres passam. Dois grupos, num total de onze pessoas, fumam crack livremente. Parecem não se importar com os vizinhos. O local é um dos pontos de consumo da droga — conhecidos como cracolândias — esquecidos pela sociedade e quase sem atenção do poder público.

O EXTRA mapeia nesta terça-feira, no segundo capítulo da série "Os mitos do crack", onde estão as cracolândias do Rio, mostrando que elas vão além das já conhecidas como as de Madureira, Ilha do Governador e Parque União, na Zona Norte alvos de operações constantes da prefeitura.

Assim como na Pavuna, em Realengo uma equipe do jornal flagrou pouco mais de uma dezena de usuários consumindo a droga no antigo prédio da 33ª DP, a delegacia da área. O prédio já foi fechado com tijolos, mas os viciados acabam retornando.

Em Santa Cruz, na Zona Oeste, a cena se repete em duas favelas do bairro. Apesar dessa realidade, na lista de operações da Secretaria municipal de Assistência Social, esses locais não aparecem entre os pontos de atuação dos agentes ou de acolhimento de usuários.

— Eles vagam pelas ruas, dia e noite — relata uma vendedora, na Pavuna, mostrando que quem está por ali conhece bem a realidade.





Em 2012, dos quase 3 mil acolhimentos na cidade, apenas 16 foram em Realengo e Padre Miguel. Já Pavuna e Santa Cruz nem aparecem na lista. A secretaria, no entanto, garante que faz operações nos bairros. Em contraste com o abandono, a cracolândia do Parque União concentrou 44% dos usuários acolhidos em operações da prefeitura. Foram 1.274, de um total de 2.924 na cidade. Ainda assim, o problema perdura. Na última sexta-feira, um grupo de cerca de cem usuários se aglomerava na entrada da comunidade.

No Jacarezinho, apesar da recente ocupação policial, os viciados também ainda são vistos. Ali, o consumo acontece de forma mais velada.

As digitais de um usuário de crack: falhas nos dedos causadas pelas queimaduras na hora de acender a pedra
 Foto: Roberto Moreyra / Extra



Sexta-feira, 30 de novembro, 9h, Rua Honório Hermeto. Pela terceira vez, Matheus da Silva Salviana, de 18 anos, arrombou as grades da janela de uma casa. Entrou no imóvel e roubou R$ 100. Após ser capturado, na 39ª DP (Pavuna), uma espera dramática para vítima e policiais: depois de confessar o crime, o acusado, sem documentos, não lembrava seu nome. E também não tinha impressões digitais identificáveis — situação frequente, segundo os investigadores.

— Pela proximidade com a chama, os usuários ficam com as mãos queimadas e, por causa do isqueiro, cheias de calos. Mas acredito que a perda da digital seja temporária — opina a psiquiatra Maria Thereza de Aquino.

Numa comparação das digitais de Matheus com a de um preso não-viciado na pedra, as diferenças são nítidas: faltam pedaços nas extremidades do dependente da droga. Dos quatro registros de furto e roubo a residência feitos naquele dia na Pavuna, três tinham usuários de crack como autores.

Sobre o esquecimento do próprio nome, Analice Gigliotti, chefe do Departamento de Dependentes Químicos da Santa Casa de Misericórdia, explica que, intoxicado, o usuário pode ter “turvamento da consciência”.

Matheus: preso por roubo na Pavuna, ele não se lembrava nem do próprio nome Foto: Roberto Moreyra / Extra

O crack e o crime

Os roubos a transeuntes aumentaram 17% na área da 39ª DP (Pavuna) de janeiro a setembro deste ano em relação a 2011, sobretudo nas regiões do metrô e da antiga rodoviária. Desde maio, 15% dos presos na delegacia cometeram os crimes por causa do envolvimento com crack. Sem dinheiro para bancar o vício, os dependentes furtam, roubam e até invadem casas em busca de qualquer moeda de troca.

— Ainda que se restrinja o acesso a droga, o usuário faz de tudo para obtê-la — afirma o delegado Fernando Reis, do Departamento Geral de Polícia Especializada.

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