TV GLOBO, FANTÁSTICO, Edição do dia 18/01/2015
'A droga tirou a pessoa que eu mais amava', diz irmão de morto no México. Morte do brasileiro Dealberto Júnior foi o desfecho trágico de uma maratona de excessos. O irmão dele estava lá e falou com o Fantástico.
O que era pra ser uma viagem de festa, praia e curtição, num paraíso à beira-mar, virou um pesadelo. Surtos de paranoia, confusão mental e o fim súbito - a queda acidental do terceiro andar de um prédio. A morte do brasileiro Dealberto Jorge da Silva Júnior, no México, foi o desfecho trágico de uma maratona de excessos. O irmão do Dealberto estava junto nessas noitadas sem limites. Ele falou com exclusividade ao Fantástico. Um desabafo sobre os sentimentos que o acompanharam na triste volta ao Brasil: a dor e o arrependimento.
“A droga acabou com a minha vida, a droga tirou a pessoa que eu mais amava no mundo, que é o meu irmão”, diz Fernando.
Fernando Luís da Silva, irmão do empresário encontrado morto no México, só voltou para o Brasil na última quinta-feira (15). Ele aceitou dar uma entrevista exclusiva para o Fantástico na casa do advogado da família, em Jaraguá do Sul. Pela primeira vez, Fernando falou sobre a morte trágica do irmão Dealberto, que tinha 36 anos.
“A pessoa que eu mais amei na minha vida. A droga acabou com tudo. Sempre foi meu melhor amigo, meu parceiro, meu sócio. Tudo pra mim. Eu tenho um pai e uma mãe que não mereciam estar passando por isso”, lamenta.
Dealberto morreu na noite do sábado, dia 10, em Playa del Carmen, um balneário mexicano. O corpo foi encontrado na escadaria de um prédio de três andares.
Primeiro, veio a dúvida sobre as circunstâncias da morte: Dealberto caiu, se jogou ou foi empurrado? Depois, seguiram-se versões que davam conta de uma perseguição: traficantes internacionais querendo se vingar dos irmãos.
Hoje, Fernando admite que tudo não passou de alucinação causada pelo consumo de drogas.
Fantástico: Você acredita que sofreu algum tipo de perseguição?
Fernando: Não, de forma alguma. De forma alguma. A queda do meu irmão, com certeza, foi acidental, com certeza, acidental. Consumi alguma coisa que eu acreditava que seria o ecstasy. Eu posso contar nos dedos quantas vezes eu usei este tipo de coisa.
Fantástico: Quantas vezes?
Fernando: Eu acredito que cinco, seis, no máximo. Nunca fui uma pessoa de estar envolvida com drogas. Eu senti medo, eu senti pavor, eu senti que tudo que eu fazia as pessoas estavam me olhando, as pessoas estavam tentando me ferir de alguma coisa.
O ano de 2015 deveria ter começado muito bem para os irmãos. Tinham ido para o México para uma festa de casamento de amigos brasileiros, em outro balneário, Cancun.
Depois da festa, Fernando e Dealberto foram para Playa del Carmen, curtir mais uns dias de férias com outros amigos. No hotel, conheceram a russa Ekaterina Vasileva, que chegou a ser apontada como o suposto elo entre os irmãos e mafiosos e traficantes internacionais.
“Tudo aquilo que a gente estava vivendo não era real. Era uma paranoia, uma loucura, era um momento de euforia, de transtorno”, conta Fernando.
Vinte e quatro horas antes da morte de Dealberto, o grupo saiu para uma noitada de bebida e drogas em pelo menos duas boates.
Segundo o depoimento de Fernando à polícia mexicana, ele e o irmão passaram a sentir que estavam sendo perseguidos. Se separaram do grupo e perambularam desesperadamente pelas ruas de Playa del Carmen.
Fernando conta à repórter Kiria Meurer a versão dele dos últimos instantes vividos com Dealberto.
Fernando: A gente entrou em um condomínio e começou a correr, correr, correr, pulamos cercas, pulamos grades, pulamos um monte de obstáculos que a gente imaginava que precisava passar por aquilo ali. Chegou um ponto que eu não aguentava mais, eu estava muito cansado e eu não sabia mais o que fazer.
Fantástico: Por quanto tempo vocês correram e fugiram?
Fernando: Horas, horas e horas. E aí eu cheguei para ele e falei: ‘irmão, eu não aguento mais, eu não consigo mais, eu não tenho mais força. Eu vou ficar aqui onde eu estou e eu vou rezar e pedir a Deus para que isso acabe e me tire daqui’.
Fernando ficou por ali, atordoado na rua, enquanto Dealberto subia no prédio. “Foi onde então passou alguns instantes e ouvi muito barulho, sirene, polícia, e aí eu pensei que poderia ter acontecido alguma coisa com ele”, ele lembra.
Assustado, em vez de ir até o irmão, Fernando acabou fugindo.
Fantástico: Depois da morte do seu irmão, você passou dois dias sem se comunicar com a sua família. Por quê?
Fernando: Porque eu ainda estava fugindo. Eu estava desesperado. Não sabia o que fazer. Não sabia para onde ir. Foram os piores momentos da minha vida. Foram os piores dias da minha vida.
Passado o desespero, ele retomou o contato com a família. Queria ajuda para voltar ao Brasil.
“Eu só peço perdão a todos e, principalmente, a Deus. Porque eu jamais queria que isso acontecesse com o meu irmão, jamais”, diz Fernando.
Em Playa del Carmen, o Fantástico foi a uma das boates em que os irmãos estiveram e consumiram o que Fernando diz ter sido ecstasy, uma droga normalmente associada a excitação. Em janeiro, a cidade sedia um festival de música eletrônica, que atrai jovens do mundo inteiro. Alguns convidados cheiram cocaína e consomem outras drogas na frente de todo mundo.
Às 3h25 da madrugada, em um espaço não tão grande, traficantes oferecem drogas livremente no festival. Na porta do banheiro, um homem afirma que tem ecstasy e cocaína para vender. Outro diz que dá um desconto para quem paga em pesos, de 300, o ecstasy sai por 250 a unidade.
Os seguranças fazem vista grossa. É como se o tráfico fizesse parte da festa. Alterada, uma turista canadense diz que na cidade tem muita droga e que experimentou há pouco tempo. Ela conta que já esteve no local quatro vezes. E que com certeza vai voltar.
Para Armando García Torres, procurador que investigou a morte de Dealberto, o que aconteceu com o brasileiro foi uma tragédia que não reflete a realidade da região. Ele diz que a polícia monta o que ele chama de "cinturões de segurança" para que esse tipo de evento seja controlado.
Como se viu na festa e até nos bonés que fazem apologia ao consumo e são vendidos na rua, o perigo depende do comportamento de cada um.
“A gente imaginou que seria a festa mais legal das nossas vidas e foi a festa que tirou a vida do meu irmão. Eu gostaria de dizer a todas as pessoas que estão assistindo neste momento: cuidem de seus filhos, repreendam, se necessário, vejam quem são as amizades que estão em volta deles e, por favor, não deixe isso acontecer com a família de vocês”, diz Fernando.
'A droga tirou a pessoa que eu mais amava', diz irmão de morto no México. Morte do brasileiro Dealberto Júnior foi o desfecho trágico de uma maratona de excessos. O irmão dele estava lá e falou com o Fantástico.
O que era pra ser uma viagem de festa, praia e curtição, num paraíso à beira-mar, virou um pesadelo. Surtos de paranoia, confusão mental e o fim súbito - a queda acidental do terceiro andar de um prédio. A morte do brasileiro Dealberto Jorge da Silva Júnior, no México, foi o desfecho trágico de uma maratona de excessos. O irmão do Dealberto estava junto nessas noitadas sem limites. Ele falou com exclusividade ao Fantástico. Um desabafo sobre os sentimentos que o acompanharam na triste volta ao Brasil: a dor e o arrependimento.
“A droga acabou com a minha vida, a droga tirou a pessoa que eu mais amava no mundo, que é o meu irmão”, diz Fernando.
Fernando Luís da Silva, irmão do empresário encontrado morto no México, só voltou para o Brasil na última quinta-feira (15). Ele aceitou dar uma entrevista exclusiva para o Fantástico na casa do advogado da família, em Jaraguá do Sul. Pela primeira vez, Fernando falou sobre a morte trágica do irmão Dealberto, que tinha 36 anos.
“A pessoa que eu mais amei na minha vida. A droga acabou com tudo. Sempre foi meu melhor amigo, meu parceiro, meu sócio. Tudo pra mim. Eu tenho um pai e uma mãe que não mereciam estar passando por isso”, lamenta.
Dealberto morreu na noite do sábado, dia 10, em Playa del Carmen, um balneário mexicano. O corpo foi encontrado na escadaria de um prédio de três andares.
Primeiro, veio a dúvida sobre as circunstâncias da morte: Dealberto caiu, se jogou ou foi empurrado? Depois, seguiram-se versões que davam conta de uma perseguição: traficantes internacionais querendo se vingar dos irmãos.
Hoje, Fernando admite que tudo não passou de alucinação causada pelo consumo de drogas.
Fantástico: Você acredita que sofreu algum tipo de perseguição?
Fernando: Não, de forma alguma. De forma alguma. A queda do meu irmão, com certeza, foi acidental, com certeza, acidental. Consumi alguma coisa que eu acreditava que seria o ecstasy. Eu posso contar nos dedos quantas vezes eu usei este tipo de coisa.
Fantástico: Quantas vezes?
Fernando: Eu acredito que cinco, seis, no máximo. Nunca fui uma pessoa de estar envolvida com drogas. Eu senti medo, eu senti pavor, eu senti que tudo que eu fazia as pessoas estavam me olhando, as pessoas estavam tentando me ferir de alguma coisa.
O ano de 2015 deveria ter começado muito bem para os irmãos. Tinham ido para o México para uma festa de casamento de amigos brasileiros, em outro balneário, Cancun.
Depois da festa, Fernando e Dealberto foram para Playa del Carmen, curtir mais uns dias de férias com outros amigos. No hotel, conheceram a russa Ekaterina Vasileva, que chegou a ser apontada como o suposto elo entre os irmãos e mafiosos e traficantes internacionais.
“Tudo aquilo que a gente estava vivendo não era real. Era uma paranoia, uma loucura, era um momento de euforia, de transtorno”, conta Fernando.
Vinte e quatro horas antes da morte de Dealberto, o grupo saiu para uma noitada de bebida e drogas em pelo menos duas boates.
Segundo o depoimento de Fernando à polícia mexicana, ele e o irmão passaram a sentir que estavam sendo perseguidos. Se separaram do grupo e perambularam desesperadamente pelas ruas de Playa del Carmen.
Fernando conta à repórter Kiria Meurer a versão dele dos últimos instantes vividos com Dealberto.
Fernando: A gente entrou em um condomínio e começou a correr, correr, correr, pulamos cercas, pulamos grades, pulamos um monte de obstáculos que a gente imaginava que precisava passar por aquilo ali. Chegou um ponto que eu não aguentava mais, eu estava muito cansado e eu não sabia mais o que fazer.
Fantástico: Por quanto tempo vocês correram e fugiram?
Fernando: Horas, horas e horas. E aí eu cheguei para ele e falei: ‘irmão, eu não aguento mais, eu não consigo mais, eu não tenho mais força. Eu vou ficar aqui onde eu estou e eu vou rezar e pedir a Deus para que isso acabe e me tire daqui’.
Fernando ficou por ali, atordoado na rua, enquanto Dealberto subia no prédio. “Foi onde então passou alguns instantes e ouvi muito barulho, sirene, polícia, e aí eu pensei que poderia ter acontecido alguma coisa com ele”, ele lembra.
Assustado, em vez de ir até o irmão, Fernando acabou fugindo.
Fantástico: Depois da morte do seu irmão, você passou dois dias sem se comunicar com a sua família. Por quê?
Fernando: Porque eu ainda estava fugindo. Eu estava desesperado. Não sabia o que fazer. Não sabia para onde ir. Foram os piores momentos da minha vida. Foram os piores dias da minha vida.
Passado o desespero, ele retomou o contato com a família. Queria ajuda para voltar ao Brasil.
“Eu só peço perdão a todos e, principalmente, a Deus. Porque eu jamais queria que isso acontecesse com o meu irmão, jamais”, diz Fernando.
Em Playa del Carmen, o Fantástico foi a uma das boates em que os irmãos estiveram e consumiram o que Fernando diz ter sido ecstasy, uma droga normalmente associada a excitação. Em janeiro, a cidade sedia um festival de música eletrônica, que atrai jovens do mundo inteiro. Alguns convidados cheiram cocaína e consomem outras drogas na frente de todo mundo.
Às 3h25 da madrugada, em um espaço não tão grande, traficantes oferecem drogas livremente no festival. Na porta do banheiro, um homem afirma que tem ecstasy e cocaína para vender. Outro diz que dá um desconto para quem paga em pesos, de 300, o ecstasy sai por 250 a unidade.
Os seguranças fazem vista grossa. É como se o tráfico fizesse parte da festa. Alterada, uma turista canadense diz que na cidade tem muita droga e que experimentou há pouco tempo. Ela conta que já esteve no local quatro vezes. E que com certeza vai voltar.
Para Armando García Torres, procurador que investigou a morte de Dealberto, o que aconteceu com o brasileiro foi uma tragédia que não reflete a realidade da região. Ele diz que a polícia monta o que ele chama de "cinturões de segurança" para que esse tipo de evento seja controlado.
Como se viu na festa e até nos bonés que fazem apologia ao consumo e são vendidos na rua, o perigo depende do comportamento de cada um.
“A gente imaginou que seria a festa mais legal das nossas vidas e foi a festa que tirou a vida do meu irmão. Eu gostaria de dizer a todas as pessoas que estão assistindo neste momento: cuidem de seus filhos, repreendam, se necessário, vejam quem são as amizades que estão em volta deles e, por favor, não deixe isso acontecer com a família de vocês”, diz Fernando.
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