CBN Sábado, 03/01/2015, 06:00
Programa de combate ao crack em SP completa um ano com mesmos desafios de 2014. Entre eles, está o aglomerado de barracas onde traficantes agem livremente. Gestão Fernando Haddad admite dificuldades em expandir projeto 'De braços abertos' e prevê para 2015 a capacitação técnica de funcionários.
por Eliezer dos Santos e Talis Mauricio
Considerado uma das vitrines da Prefeitura de São Paulo, o programa "De braços abertos" vai completar um ano sem conseguir retirar da ‘cracolândia’, no Centro, o amontoado de barracas onde usuários de drogas e traficantes atuam livremente. A medida consiste em oferecer aos dependentes químicos emprego remunerado, moradia em hotéis, refeições e acompanhamento médico. Em janeiro de 2014, quando teve início, o próprio prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assegurou:
“Essas pessoas terão apoio para encontrar nem que seja um quarto digno para poder se acomodar e sair da rua. A cidade não quer mais conviver com aquilo.”
Mas, um ano depois, pouco mudou, de acordo com relatos de moradores e comerciantes da região.
“Isso aqui continua cada vez pior. Eu queria ver quem é que vai tomar atitude pra melhorar isso aqui. Até agora não vi ninguém tomar a atitude necessária. O tráfico continua e cada dia pior... Melhorou nada. Mudou de um quarteirão para o outro. Aqui tem gente que ainda mora porque tem seu próprio apartamento. Quem mora de aluguel já foi embora, porque aqui não tem tendência a melhorar.”
O chamado "fluxo", ou favelinha móvel da cracolândia, apenas trocou de endereço. O aglomerado está agora a cerca de cem metros de onde estava, ao lado de uma base da Guarda Civil Metropolitana e aos olhos das polícias Civil e Militar. A reportagem da CBN circulou pelos atuais barracos e presenciou o uso e a venda escancarada de drogas. Até mesmo os participantes do programa já começam a questionar a medida. Daniel acredita que não vai se livrar do vício morando em uma área infestada por drogas.
“Minha vontade mesmo era sair daqui. Ter outro canto pra morar. Tem muitos aí que não querem nem usar, mas aí está perto do crack e acaba usando.”
O programa "De Braços Abertos" ainda gera muita polêmica entre especialistas e a população. Um dos argumentos mais usados é o de que, ao invés da redução de danos, o poder público está bancando o vício de pessoas que não conseguem responder pelos próprios atos.
Devido à recusa de proprietários de hotéis da região, o programa encontra também dificuldades de expansão. Atualmente, apenas seis dos oito hotéis inicialmente credenciados participam do programa. Jurandir Lopes, dono de uma das unidades, disse que as confusões são constantes e que é difícil até mesmo contratar empregados.
“Hoje pra arrumar uma pessoa pra trabalhar tem de ser daqui. Gente de fora não vem nenhuma. Eles têm medo. Os hotéis que eles alugaram, participantes do programa, estão todos quebrados, roubaram coisas.”
Outra dificuldade tem sido formar profissionais capacitados para lidar com problemas de saúde tão complexos. De acordo com integrantes do programa que não quiseram se identificar, falta treinamento aos funcionários. Caroline Ribeiro tem 19 anos e participa do programa na varrição de ruas. Há dois meses ela descobriu que está grávida.
“Eu estou gestante há 2 meses e não estou tendo uma atenção na minha gestação. Se eu não vou atrás, ninguém se preocupa. Está faltando um atendimento não só pra mim como pra muita gente.”
O prefeito Fernando Haddad afirmou que para 2015 um novo convênio foi firmado para prestar capacitação técnica aos profissionais da área da saúde. A verba para este ano não foi informada. Em 2014 foram cerca de R$ 15 milhões. Sobre a remoção da favela móvel, o prefeito disse se tratar de obrigação das polícias. Já sobre as moradias, admitiu que há dificuldades.
“A nossa limitação para a expansão do programa são os alojamentos. O número de vagas em alojamentos é limitador da expansão do programa. Tão logo a gente encontre novos hotéis que possam ser locados pela prefeitura, nós podemos ampliar o programa.”
A Prefeitura de São Paulo afirmou ainda que, atualmente, 513 pessoas participam do programa, quase o dobro do início de 2014. Desses, 23 receberam atestado médico de aptidão ao mercado de trabalho e 122 estão em tratamento voluntário contra a dependência química. Em toda a região da cracolândia, a prefeitura afirma que o número de usuários de drogas caiu de 1,5 mil para 300 pessoas.
Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/sao-paulo/2015/01/03/PROGRAMA-DE-COMBATE-AO-CRACK-EM-SP-COMPLETA-UM-ANO-COM-MESMOS-DESAFIOS-DE-2014.htm#ixzz3Nljuwf7D
Programa de combate ao crack em SP completa um ano com mesmos desafios de 2014. Entre eles, está o aglomerado de barracas onde traficantes agem livremente. Gestão Fernando Haddad admite dificuldades em expandir projeto 'De braços abertos' e prevê para 2015 a capacitação técnica de funcionários.
por Eliezer dos Santos e Talis Mauricio
Considerado uma das vitrines da Prefeitura de São Paulo, o programa "De braços abertos" vai completar um ano sem conseguir retirar da ‘cracolândia’, no Centro, o amontoado de barracas onde usuários de drogas e traficantes atuam livremente. A medida consiste em oferecer aos dependentes químicos emprego remunerado, moradia em hotéis, refeições e acompanhamento médico. Em janeiro de 2014, quando teve início, o próprio prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assegurou:
“Essas pessoas terão apoio para encontrar nem que seja um quarto digno para poder se acomodar e sair da rua. A cidade não quer mais conviver com aquilo.”
Mas, um ano depois, pouco mudou, de acordo com relatos de moradores e comerciantes da região.
“Isso aqui continua cada vez pior. Eu queria ver quem é que vai tomar atitude pra melhorar isso aqui. Até agora não vi ninguém tomar a atitude necessária. O tráfico continua e cada dia pior... Melhorou nada. Mudou de um quarteirão para o outro. Aqui tem gente que ainda mora porque tem seu próprio apartamento. Quem mora de aluguel já foi embora, porque aqui não tem tendência a melhorar.”
O chamado "fluxo", ou favelinha móvel da cracolândia, apenas trocou de endereço. O aglomerado está agora a cerca de cem metros de onde estava, ao lado de uma base da Guarda Civil Metropolitana e aos olhos das polícias Civil e Militar. A reportagem da CBN circulou pelos atuais barracos e presenciou o uso e a venda escancarada de drogas. Até mesmo os participantes do programa já começam a questionar a medida. Daniel acredita que não vai se livrar do vício morando em uma área infestada por drogas.
“Minha vontade mesmo era sair daqui. Ter outro canto pra morar. Tem muitos aí que não querem nem usar, mas aí está perto do crack e acaba usando.”
O programa "De Braços Abertos" ainda gera muita polêmica entre especialistas e a população. Um dos argumentos mais usados é o de que, ao invés da redução de danos, o poder público está bancando o vício de pessoas que não conseguem responder pelos próprios atos.
Devido à recusa de proprietários de hotéis da região, o programa encontra também dificuldades de expansão. Atualmente, apenas seis dos oito hotéis inicialmente credenciados participam do programa. Jurandir Lopes, dono de uma das unidades, disse que as confusões são constantes e que é difícil até mesmo contratar empregados.
“Hoje pra arrumar uma pessoa pra trabalhar tem de ser daqui. Gente de fora não vem nenhuma. Eles têm medo. Os hotéis que eles alugaram, participantes do programa, estão todos quebrados, roubaram coisas.”
Outra dificuldade tem sido formar profissionais capacitados para lidar com problemas de saúde tão complexos. De acordo com integrantes do programa que não quiseram se identificar, falta treinamento aos funcionários. Caroline Ribeiro tem 19 anos e participa do programa na varrição de ruas. Há dois meses ela descobriu que está grávida.
“Eu estou gestante há 2 meses e não estou tendo uma atenção na minha gestação. Se eu não vou atrás, ninguém se preocupa. Está faltando um atendimento não só pra mim como pra muita gente.”
O prefeito Fernando Haddad afirmou que para 2015 um novo convênio foi firmado para prestar capacitação técnica aos profissionais da área da saúde. A verba para este ano não foi informada. Em 2014 foram cerca de R$ 15 milhões. Sobre a remoção da favela móvel, o prefeito disse se tratar de obrigação das polícias. Já sobre as moradias, admitiu que há dificuldades.
“A nossa limitação para a expansão do programa são os alojamentos. O número de vagas em alojamentos é limitador da expansão do programa. Tão logo a gente encontre novos hotéis que possam ser locados pela prefeitura, nós podemos ampliar o programa.”
A Prefeitura de São Paulo afirmou ainda que, atualmente, 513 pessoas participam do programa, quase o dobro do início de 2014. Desses, 23 receberam atestado médico de aptidão ao mercado de trabalho e 122 estão em tratamento voluntário contra a dependência química. Em toda a região da cracolândia, a prefeitura afirma que o número de usuários de drogas caiu de 1,5 mil para 300 pessoas.
Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/sao-paulo/2015/01/03/PROGRAMA-DE-COMBATE-AO-CRACK-EM-SP-COMPLETA-UM-ANO-COM-MESMOS-DESAFIOS-DE-2014.htm#ixzz3Nljuwf7D
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