ZERO HORA 28 de novembro de 2012 | N° 17267
NÃO À VIOLÊNCIA
Projeto na Capital é exemplo contra um dos principais fatores de criminalidade
CAROLINA ROCHA E EDUARDO TORRES
A Região Metropolitana de Porto Alegre e o Vale do Sinos, com 1.024 homicídios em 2012, tem índice de violência três vezes maior do que o tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo levantamento do jornal Diário Gaúcho em 19 cidades, o número de mortes já é 12% superior ao registrado no ano passado. Mas o que pode ser feito para combater a criminalidade? Uma iniciativa na zona sul de Porto Alegre é um bom exemplo de como afastar crianças e jovens das drogas – presente em cerca de 70% das mortes, conforme a polícia.
Num triângulo formado por ruas dominadas por três gangues – os Madeireiras, os Miltons e os Evangelistas – está um prédio grafitado onde nasceu um fio de esperança para os jovens que moram no bairro Restinga.
– Há seis meses, os tiroteios eram diários. Agora cessaram. O ponto de tráfico que ficava na esquina se mudou para mais longe. Acho que ficaram intimidados com as crianças e com pais vindo participar das atividades – diz o pastor Felix Buava Kila, 42 anos, com um largo sorriso no rosto.
Kila coordena o Projeto Social Geração de Samuel, que funciona na Missão Batista Shekinah, na Avenida Meridional.
Até traficantes procuram vagas para filhos na ONG
Dentro do prédio, cartazes das crianças, frases que ensinam valores e lições de educação e cidadania tomam conta das paredes. No chão, um grupo de 30 crianças de sete a 13 anos tem aulas com uma professora voluntária e com uma oficineira. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, o espaço é ocupado por adolescentes, que aprendem noções de cidadania e de informática.
– Um dos meninos trabalhava para o tráfico como aviãozinho (quem leva droga do vendedor ao usuário) para manter o vício em maconha e cigarro. Agora, largou esse trabalho e procura um estágio – relata Kila.
Histórias como essas são frequentes no projeto. Os próprios traficantes, segundo o pastor, batem à porta da ONG pedindo vagas para os filhos – não querem para eles o mesmo destino.
Tribunal do tráfico
– A droga vence quando não há adversário.
A frase repetida pelo psicólogo Leandro Lopez da Silva é como um lema aos especialistas em prevenção à dependência química. E abre o leque de explicações para que a distância entre o uso do primeiro “baseado” e da primeira pedra para a morte esteja cada vez mais curta. Conforme a polícia, pelo menos 70% dos homicídios na Região Metropolitana este ano têm algum tipo de relação com as drogas. A maior parte, de acordo com o delegado Luciano Peringer, vitimados por conflitos entre grupos rivais no tráfico. Invariavelmente, jovens que, atraídos pelo uso do crack, entraram para a quadrilha e não tiveram volta.
– A dívida do tráfico é uma constante nesses homicídios. Um usuário endividado pode se submeter às regras da quadrilha e atuar para ela. Ou vira o alvo dos criminosos – explica.
É que o tráfico se vale da ausência do Estado em uma comunidade para se estabelecer. Um viciado com dívidas facilmente envereda para outros crimes como furtos.
– Matar o usuário é uma forma de manutenção do controle por parte do traficante. O homicídio, para eles, é uma forma de impor respeito – afirma o delegado.
Projeto na Capital é exemplo contra um dos principais fatores de criminalidade
CAROLINA ROCHA E EDUARDO TORRES
A Região Metropolitana de Porto Alegre e o Vale do Sinos, com 1.024 homicídios em 2012, tem índice de violência três vezes maior do que o tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo levantamento do jornal Diário Gaúcho em 19 cidades, o número de mortes já é 12% superior ao registrado no ano passado. Mas o que pode ser feito para combater a criminalidade? Uma iniciativa na zona sul de Porto Alegre é um bom exemplo de como afastar crianças e jovens das drogas – presente em cerca de 70% das mortes, conforme a polícia.
Num triângulo formado por ruas dominadas por três gangues – os Madeireiras, os Miltons e os Evangelistas – está um prédio grafitado onde nasceu um fio de esperança para os jovens que moram no bairro Restinga.
– Há seis meses, os tiroteios eram diários. Agora cessaram. O ponto de tráfico que ficava na esquina se mudou para mais longe. Acho que ficaram intimidados com as crianças e com pais vindo participar das atividades – diz o pastor Felix Buava Kila, 42 anos, com um largo sorriso no rosto.
Kila coordena o Projeto Social Geração de Samuel, que funciona na Missão Batista Shekinah, na Avenida Meridional.
Até traficantes procuram vagas para filhos na ONG
Dentro do prédio, cartazes das crianças, frases que ensinam valores e lições de educação e cidadania tomam conta das paredes. No chão, um grupo de 30 crianças de sete a 13 anos tem aulas com uma professora voluntária e com uma oficineira. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, o espaço é ocupado por adolescentes, que aprendem noções de cidadania e de informática.
– Um dos meninos trabalhava para o tráfico como aviãozinho (quem leva droga do vendedor ao usuário) para manter o vício em maconha e cigarro. Agora, largou esse trabalho e procura um estágio – relata Kila.
Histórias como essas são frequentes no projeto. Os próprios traficantes, segundo o pastor, batem à porta da ONG pedindo vagas para os filhos – não querem para eles o mesmo destino.
Tribunal do tráfico
– A droga vence quando não há adversário.
A frase repetida pelo psicólogo Leandro Lopez da Silva é como um lema aos especialistas em prevenção à dependência química. E abre o leque de explicações para que a distância entre o uso do primeiro “baseado” e da primeira pedra para a morte esteja cada vez mais curta. Conforme a polícia, pelo menos 70% dos homicídios na Região Metropolitana este ano têm algum tipo de relação com as drogas. A maior parte, de acordo com o delegado Luciano Peringer, vitimados por conflitos entre grupos rivais no tráfico. Invariavelmente, jovens que, atraídos pelo uso do crack, entraram para a quadrilha e não tiveram volta.
– A dívida do tráfico é uma constante nesses homicídios. Um usuário endividado pode se submeter às regras da quadrilha e atuar para ela. Ou vira o alvo dos criminosos – explica.
É que o tráfico se vale da ausência do Estado em uma comunidade para se estabelecer. Um viciado com dívidas facilmente envereda para outros crimes como furtos.
– Matar o usuário é uma forma de manutenção do controle por parte do traficante. O homicídio, para eles, é uma forma de impor respeito – afirma o delegado.
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