SEXO DROGAS E CADEIA - Quadrilha agenciava viciadas endividadas. Mulheres eram obrigadas por traficantes a fazer programas em Alvorada - FRANCISCO AMORIM, ZERO HORA, 17/12/2010
Ao investigar uma quadrilha de tráfico de drogas em Alvorada, agentes da Polícia Civil descobriram o embrião de uma rede de prostituição em que os gerentes das bocas de fumo assumiram também a função de cafetões. Para recuperar dívidas contraídas por viciadas em crack, os traficantes agenciavam programas sexuais por até R$ 150.
Desarticulado ontem com a prisão de nove integrantes durante uma operação que envolveu 50 policiais civis, o bando que vendia cocaína e crack começou a ter os passos monitorados havia dois meses após a execução de um de seus integrantes, que tentava abrir seu próprio ponto de tráfico.
– Começamos a investigar o envolvimento do bando em mortes quando descobrimos que os traficantes agenciavam programas com usuárias de drogas para quitar dívidas com ele – explicou o delegado Leonel Carivali.
O policial ficou surpreso com a estratégia adotada pelos traficantes. Escutas telefônicas revelaram que homens ligavam para os criminosos em busca de garotas, entre elas, possivelmente adolescentes, que estavam devendo dinheiro por drogas adquiridas nas bocas de fumo administradas pelo bando. O valor do programa era acordado por celular e variava de acordo com a idade e a aparência física das jovens, podendo chegar a R$ 150. Alguns clientes buscavam as jovens no ponto de tráfico, outros preferiam encontrá-las em vias públicas movimentadas.
– Foi o jeito encontrado por eles para recuperar o dinheiro que as mulheres deviam na boca de fumo – explicou o delegado.
A intenção inicial da polícia era desbaratar o grupo para reduzir os indicadores criminais da cidade. Atualmente, Alvorada ocupa o terceiro lugar no ranking de homicídios no Estado com 85 mortes, perdendo apenas para Porto Alegre (341) e Caxias do Sul (90). Alvorada passa à primeira colocação em assassinatos a cada 100 mil habitantes.
Conforme a polícia, a quadrilha desarticulada está envolvida em pelo menos duas mortes ocorridas neste ano. Investigações em andamento revelam que o bando pode estar ainda por trás da maior parte dos 18 assassinatos ocorridos na área da 2ª Delegacia da Polícia Civil de Alvorada.
Além da prisão de três pessoas em flagrante por tráfico e porte de armas, outros seis suspeitos foram presos após terem tido a prisão temporária decretada pela Justiça. Na operação foram apreendidos quatro motos, 140 pedras de crack, 22 buchas de cocaína, além de um revólver calibre 38 e uma espingarda.
Escutas telefônicas - As escutas telefônicas dos suspeitos feitas com autorização da Justiça revelam como funcionava o esquema de agenciamento de programas sexuais entre viciadas e outros clientes dos traficantes.
Confira trecho de uma conversa na noite do dia 11, entre o gerente de uma das bocas, uma usuária de drogas e um cliente do esquema:
Cliente – Oh meu, não tem nenhuma guria para fazer um programa comigo?
Traficante – Espera a (dá o nome de uma mulher) chegar.
Cliente – Mas que horas?
Traficante – Oh, tem a (dá o nome de outra mulher)! Onde tu quer pegar ela, lá em casa?
Cliente – Deixa eu falar com ela!
Mulher – Oi. (Em seguida ela começa a conversar com o traficante, que assume o telefone)
Cliente – Oi. Quanto é teu programa?
Traficante – É 150. A guria tem 17 aninhos, o que tu quer mais?
Cliente – 150?
Traficante – 17 aninhos!
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
RS - EXEMPLO DA LUTA CONTRA O CRACK
Exemplo da luta contra o crack, por Osmar Terra - Zero Hora, 15/12/2010
O Rio Grande do Sul lidera o combate ao crack, segundo pesquisas da Confederação Nacional dos Municípios. É o Estado brasileiro onde os municípios têm maior volume de ações, basicamente preventivas, em relação ao assunto.
É claro que a competência das nossas administrações municipais é determinante nessa liderança e é notável o reforço dado pela mídia gaúcha, particularmente a campanha da RBS Crack, Nem Pensar, que estimula muito a mobilização comunitária e do setor público.
É bom lembrar que o crack hoje vitima 1% da população gaúcha e brasileira. É o mais grave problema de saúde pública do país.
Mas um fator muito importante e pouco citado na divulgação do assunto é o trabalho feito pelo governo do Estado, pelo Programa de Prevenção da Violência, que em 2007 detectou a gravidade da epidemia, criou um sistema de enfrentamento ao crack, único no país. Ele vai desde a capacitação de todas as equipes de Saúde da Família, equipes do PIM e profissionais de entidades conveniadas, para realizar a prevenção e acompanhamento das famílias.
No atendimento, o Rio Grande do Sul foi o Estado que mais ampliou leitos para atendimento do crack em hospitais gerais. Foram perto de mil leitos novos de 2009 para cá, em 86 hospitais regionais. Também fomos o primeiro Estado a credenciar e pagar comunidades terapêuticas, fazendas de recuperação para manter os dependentes em abstinência por longo perío-do de tempo. Também estimulamos a ampliação dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) numa velocidade e escala muito maiores que a dos outros Estados. Além disso, várias secretarias, em parceria com os municípios, promoveram atividades preventivas. A Secretaria da Segurança promoveu ações focalizadas na repressão ao tráfico de crack.
Assim, o governo estadual investiu nos últimos três anos mais de R$ 100 milhões de seus recursos para enfrentar a pior de todas as epidemias, que é a do crack.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Está de parabéns, o Secretário da Saúde do RS pelas muitas inciativas e vários investimentos neste área. Porém, pecou na falta de construção de Centros Especializados no Tratamento das Dependências e Assistência ao Familiar. Estes centros, distribuídos em todas as micro-regiões do Estado, são imprescindíveis para estabelecer uma solução próxima, fácil e alcançável para o tratamento de uma epidemia que repercute na ordem pública e nos sentimentos de famílias inteiras. Até agora, o RS, apesar de ser exemplo no país, promoveu medidas superficiais e insuficientes para tirar estas pessoas do sofrimento, do aliciamento pelo tráfico e da reincidência ao crime.
O Rio Grande do Sul lidera o combate ao crack, segundo pesquisas da Confederação Nacional dos Municípios. É o Estado brasileiro onde os municípios têm maior volume de ações, basicamente preventivas, em relação ao assunto.
É claro que a competência das nossas administrações municipais é determinante nessa liderança e é notável o reforço dado pela mídia gaúcha, particularmente a campanha da RBS Crack, Nem Pensar, que estimula muito a mobilização comunitária e do setor público.
É bom lembrar que o crack hoje vitima 1% da população gaúcha e brasileira. É o mais grave problema de saúde pública do país.
Mas um fator muito importante e pouco citado na divulgação do assunto é o trabalho feito pelo governo do Estado, pelo Programa de Prevenção da Violência, que em 2007 detectou a gravidade da epidemia, criou um sistema de enfrentamento ao crack, único no país. Ele vai desde a capacitação de todas as equipes de Saúde da Família, equipes do PIM e profissionais de entidades conveniadas, para realizar a prevenção e acompanhamento das famílias.
No atendimento, o Rio Grande do Sul foi o Estado que mais ampliou leitos para atendimento do crack em hospitais gerais. Foram perto de mil leitos novos de 2009 para cá, em 86 hospitais regionais. Também fomos o primeiro Estado a credenciar e pagar comunidades terapêuticas, fazendas de recuperação para manter os dependentes em abstinência por longo perío-do de tempo. Também estimulamos a ampliação dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) numa velocidade e escala muito maiores que a dos outros Estados. Além disso, várias secretarias, em parceria com os municípios, promoveram atividades preventivas. A Secretaria da Segurança promoveu ações focalizadas na repressão ao tráfico de crack.
Assim, o governo estadual investiu nos últimos três anos mais de R$ 100 milhões de seus recursos para enfrentar a pior de todas as epidemias, que é a do crack.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Está de parabéns, o Secretário da Saúde do RS pelas muitas inciativas e vários investimentos neste área. Porém, pecou na falta de construção de Centros Especializados no Tratamento das Dependências e Assistência ao Familiar. Estes centros, distribuídos em todas as micro-regiões do Estado, são imprescindíveis para estabelecer uma solução próxima, fácil e alcançável para o tratamento de uma epidemia que repercute na ordem pública e nos sentimentos de famílias inteiras. Até agora, o RS, apesar de ser exemplo no país, promoveu medidas superficiais e insuficientes para tirar estas pessoas do sofrimento, do aliciamento pelo tráfico e da reincidência ao crime.
RS NA LIDERANÇA CONTRA O CRACK
Liderança contra o crack - Zero Hora Editorial, 15/12/2010
A boa notícia em meio a uma verdadeira tragédia disseminada pelo crack é que, no Rio Grande do Sul, 64,5% dos municípios estão mobilizados contra um problema hoje de características nacionais, colocando o Estado na liderança. O fenômeno, na avaliação da Confederação Nacional de Municípios (CNM), se deve particularmente a ações da mídia, como a campanha Crack, Nem Pensar, do Grupo RBS, que chamaram a atenção para um drama até então considerado tabu entre as famílias. Ainda assim, o fato de 98% das prefeituras do país que responderam ao questionário terem relatado casos de presença da droga dá uma ideia da gravidade do problema, para o qual o poder público só acenou até agora com promessas, não com respostas concretas.
Um aspecto preocupante e inadmissível é que, apesar das redes articuladas por prefeituras, igrejas, ONGs e centros comunitários para evitar que mais pessoas caiam na droga e para tratar das já escravizadas a ela, poucos municípios dispõem de recursos para isso. Além disso, o estrago provocado pelo crack já não se restringe a cidades urbanas de maior porte. O avanço é cada vez maior em direção às pequenas e, inclusive, no meio rural. Mesmo assim, as ações prometidas pelo governo federal foram direcionadas a cidades com mais de 20 mil habitantes e, até hoje, praticamente não saíram do papel.
A sociedade fez a sua parte ao denunciar uma calamidade silenciosa, alertando para a importância de o problema ser encarado sem preconceito por parte dos familiares. Esse tipo de mobilização, porém, precisa ser devidamente respaldado pelo poder público, que tem condições materiais e financeiras de enfrentar um desafio dessa magnitude.
As administrações municipais não podem fechar os olhos para o problema, que afeta as famílias da comunidade. O Rio Grande do Sul mostrou-se pioneiro e o mais ousado nesta luta. É fundamental, porém, que as prefeituras possam articular suas ações com os governos estadual e federal, pois não haverá ganhos nas dimensões necessárias sem um eficiente planejamento estratégico.
A boa notícia em meio a uma verdadeira tragédia disseminada pelo crack é que, no Rio Grande do Sul, 64,5% dos municípios estão mobilizados contra um problema hoje de características nacionais, colocando o Estado na liderança. O fenômeno, na avaliação da Confederação Nacional de Municípios (CNM), se deve particularmente a ações da mídia, como a campanha Crack, Nem Pensar, do Grupo RBS, que chamaram a atenção para um drama até então considerado tabu entre as famílias. Ainda assim, o fato de 98% das prefeituras do país que responderam ao questionário terem relatado casos de presença da droga dá uma ideia da gravidade do problema, para o qual o poder público só acenou até agora com promessas, não com respostas concretas.
Um aspecto preocupante e inadmissível é que, apesar das redes articuladas por prefeituras, igrejas, ONGs e centros comunitários para evitar que mais pessoas caiam na droga e para tratar das já escravizadas a ela, poucos municípios dispõem de recursos para isso. Além disso, o estrago provocado pelo crack já não se restringe a cidades urbanas de maior porte. O avanço é cada vez maior em direção às pequenas e, inclusive, no meio rural. Mesmo assim, as ações prometidas pelo governo federal foram direcionadas a cidades com mais de 20 mil habitantes e, até hoje, praticamente não saíram do papel.
A sociedade fez a sua parte ao denunciar uma calamidade silenciosa, alertando para a importância de o problema ser encarado sem preconceito por parte dos familiares. Esse tipo de mobilização, porém, precisa ser devidamente respaldado pelo poder público, que tem condições materiais e financeiras de enfrentar um desafio dessa magnitude.
As administrações municipais não podem fechar os olhos para o problema, que afeta as famílias da comunidade. O Rio Grande do Sul mostrou-se pioneiro e o mais ousado nesta luta. É fundamental, porém, que as prefeituras possam articular suas ações com os governos estadual e federal, pois não haverá ganhos nas dimensões necessárias sem um eficiente planejamento estratégico.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
CRACK ATINGE 98% DAS CIDADES BRASILEIRAS.
Droga chega a 98% das cidades brasileiras - Zero Hora, 14/12/2010
O crack, uma droga que se concentrava em grandes centros urbanos, chegou definitivamente aos confins do Brasil. A pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelou que 98% das cidades brasileiras que responderam ao levantamento já registraram ocorrência com o entorpecente.
– O problema alcançou uma dimensão nacional. Não está mais nas grandes cidades, mas nas áreas rurais – apontou o presidente da CNM Paulo Ziulkoski.
Para o diretor do Centro de Pesquisa de Drogas e Álcool da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Flavio Pechansky, as características do tráfico facilitaram a expansão do crack para o interior.
– O transporte facilitado e o microvarejo levaram a droga para pequenas cidades – sustenta.
O resultado do estudo, que evidenciou essa interiorização do crack, levou Ziulkoski a criticar o Plano de Enfrentamento do Crack e outras Drogas, lançado em maio pelo governo federal, que limitou as ações somente para as cidades acima dos 20 mil habitantes.
– E não chegou nenhum centavo para os municípios – lamentou.
Sem recursos, as cidades não conseguem investir em estruturas de tratamento e prevenção. Pelo levantamento, somente 14,7% dos municípios brasileiros pesquisados afirmaram ter Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendimento aos usuários de drogas. No Estado, esse índice é maior, 17,8%, mas também é considerado tímido pelas autoridades.
Especialista critica falta de coordenação no governo
Todas essas ações (conferir na fonte que o RS lidera ações contra o crack), no entanto, tem seu efeito comprometido pela falta de uma integração dos municípios com o Estado e o governo federal. Ziulkoski ressalta a importância das ações municipais, mas alerta para a falta um planejamento estratégico para enfrentar o problema no país.
– A desarticulação é muito grande ainda. Não há estratégia, um planejamento para combater o crack. Temos de fazer uma mesa federativa e integrada, do contrário será mais dinheiro posto fora – lamenta.
Para o diretor do Centro de Pesquisa de Drogas e Álcool da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Flavio Pechansky, essa falta de integração é explicada pela desarticulação entre os dois sistemas nacionais que deveriam indicar o norte das ações contra os entorpecentes.
– O Ministério da Saúde e a Secretaria Nacional Antidrogas têm leituras historicamente diferentes de como lidar com o assunto. Isso atrasou a integração e os movimentos preventivos – aponta Pechansky.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E pergunto - Durante a campanha e promessas, quantos centros de saúde para o atendimento das dependências e assistência familiar foram construídos e implementados? Se não chegou "nenhum centavo para os municípios" fica claro que nada mudou. Familiares e dependentes continuam órfão do Estado e refém do tráfico.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
CRACKLANDIA EM PORTO ALEGRE
Reduto da pedra: usuários de crack invadem casas e assustam moradores da zona sul da Capital. Residências da Avenida Pinheiro Borda perderam portas, janelas, móveis, canos, vidros e lâmpadas - Juliano Rodrigues - ZEROHORA.COM, 10/12/2010
Da casa mantida há décadas pela família da empresária Lísia Dias sobraram apenas as paredes. O vício do crack, que tirou a vida do seu irmão de 48 anos em 2009, também transformou a residência comprada pelos pais em fumaça.
Não há mais portas, janelas, móveis, trincos, fios, canos, vidros, lâmpadas e pias na propriedade, localizada no número 561 da Avenida Pinheiro Borda, zona sul de Porto Alegre. Nem mesmo os números de metal que informavam a localização na via foram poupados. Na semana passada, Lísia mandou instalar grades para conter os furtos. Não adiantou. Parte delas também foi vendida e trocada por pedras.
— Meu irmão era usuário, contraiu aids e morreu dentro da casa. Nunca abandonei o imóvel, sempre cuidei. Não tenho mais condições psicológicas e emocionais de ver a minha própria casa. Perdi um imóvel — lamenta.
Todos os dias, contam moradores da região, usuários de crack se revezam no furto de materiais que possam ser trocados pela droga. Além da casa de Lísia, que hoje vive no Rio de Janeiro, uma residência vizinha e outra que fica no lado oposto sofrem com a ação dos criminosos. No número 581, o imóvel de 800 m² também foi vítima de depredações. Na esquina da Pinheiro Borda com a Rua Marcelo Casado de Azevedo, um banco de ferro foi arrancado do chão do pátio de uma propriedade.
— Isso aqui é a zona do crack. Levaram até um relógio medidor de água. Já usaram carrinho de mão para levar os objetos — relata uma empresária que prefere não se identificar.
Além de furtar e depredar as casas, os usuários se alojam nelas para consumir a droga. Na última quarta-feira, um grupo de moradores de rua e travestis teria se reunido em uma das residências e promovido uma festa. Ontem, a Brigada Militar foi até o local e encontrou um grupo de viciados.
— É um problema social. Os moradores de rua acharam um lugar onde eles podem se abrigar e, além disso, consumir drogas. Começou com isso e depois partiu para a depredação dos imóveis. Para podermos dar um fim a isso, precisamos que os donos formalizem ocorrência, até para a Polícia Civil investigar. A falta de cuidado dos proprietários faz com que o evento se repita. Eles pensam: "Bom, se eu quebrei a janela e ninguém arrumou, vou lá de novo" — explica o capitão do 1ºBPM Fabiano Paludo Rieger.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
DROGA EM ALTA. Consumo de LSD avança entre jovens
DROGA EM ALTA. Consumo de LSD avança entre jovens. Apreensões do alucinógeno cresceram 630% no RS desde o ano passado - KAMILA ALMEIDA, Zero Hora, 6/12/2010
Os holofotes passaram os últimos anos voltados para o crack. Enquanto isso, uma droga que ficou famosa nos anos 1960 e 1970 avança entre os jovens: o LSD. A apreensão do alucinógeno subiu 630%, de 118 doses em 2009 para 861 neste ano, segundo dados do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).
O delegado João Bancolini, diretor do Denarc, explica o crescimento das apreensões pelo cerco intenso que a polícia montou nos últimos meses em festas rave – onde também é alto o consumo de ecstasy.
– O combate foi tão forte em cima do ecstasy, usado nesses eventos, que eles acabaram passando para o LSD – diz Bancolini.
Essa mudança apontada pelo delegado é fundamentada por um estudo do Centro de Pesquisa de Álcool e Droga (CPAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Conforme a psicóloga Lysa Remy, que coordenou a pesquisa Padrões de uso e abuso de drogas na cultura rave brasileira, 91,7% dos 200 frequentadores de festas rave convidados a participar do estudo consomem ecstasy e 80,6%, LSD – a maior parte faz uso de ambas.
– Quando a polícia começou a atuar nos locais dessas festas, os consumidores passaram para o LSD, que é menos visado – afirma a psicóloga.
Disque-denúncia virou aliado da Polícia Civil
O delegado Bancolini também acredita que as apreensões refletem o aumento nas chamadas para o disque-denúncia da Polícia Civil:
– Houve uma procura superior em torno de 50% das ligações neste ano. A sociedade acordou. Dá para dizer que a questão da droga está sob controle no Estado.
Superintendente da Polícia Federal no Estado, o delegado Ildo Gasparetto concorda que as autoridades fecharam o cerco ao tráfico, mas pondera que ainda há com o que se preocupar:
– Não está 100% controlada, pois se estamos apreendendo mais é porque está chegando mais drogas. A diferença é que os grandes depósitos já não existem porque os grandes traficantes foram presos.
O estudo do CPAD mostra ainda que os usuários de drogas sintéticas, em geral, também consomem cocaína e maconha.
O BALANÇO DAS APREENSÕES - Veja o total de drogas apreendidas por PF (até 2 de dezembro de 2010), BM (até 31 de outubro de 2010) e Denarc:
DROGAS - 2008 - 2009 - 2010
Cocaína (quilos) - 358,1 - 536,2 - 1.063,9
Maconha (quilos) - 5.017 - 4.605 - 2.459,2
Crack (quilos) - 73,49 - 329,5 - 530,4
*Ecstasy (comprimidos) - 848 - 933 - 276
*LSD (doses) - 348 - 118 - 861
Outras drogas (quilos) - 75 - 74 - 8,7
O PERFIL DOS USUÁRIOS DE ECSTASY E LSD - Confira o que revela a pesquisa Padrões de uso e abuso de drogas na cultura rave brasileira, realizada pelo Centro de Pesquisa de Álcool e Droga (CPAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)- Fonte: *Somente o Denarc tem registro de apreensão da droga
- 22 anos é a idade média
- R$ 1.020 é a renda mensal
- 69,5% são homens
- 30,5% são mulheres
- 72% tem Ensino Médio
- 20% cursaram o Ensino Superior
- 20% trabalham e estudam
- 41,5% trabalham com carteira assinada
- 32% são estudante
- 100% já usaram álcool
- 94,4% usam maconha frequentemente
- 91,7% usam ecstasy
- 80,6% consomem LSD
- 70% usam cocaína
sábado, 4 de dezembro de 2010
TRÁFICO DE DROGAS - O papel do consumidor
O papel do consumidor. Quem cheira cocaína e fuma maconha é parte da engrenagem que move o tráfico de drogas. É preciso que a sociedade assuma a responsabilidade de discutir e enfrentar com firmeza esta questão - Francisco Alves Filho e Débora Rubin, Revista Isto É N° Edição: 2143 | 03.Dez.10 - 21:00 | Atualizado em 04.Dez.10 - 13:59.
Enquanto emissoras de tevê exibiam na quarta-feira 1º as toneladas de drogas apreendidas no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, o escritor J., 57 anos, assistia às imagens envolto em fumaça. Sentado na poltrona de seu confortável apartamento no Leblon, na zona sul, ele fumava mais um dos cigarros de maconha que volta e meia costuma acender. “Uso desde os 19 anos”, conta. Apesar da distância que o separa das favelas de onde a polícia expulsou os traficantes, J., assim como outros usuários, é apontado pelas autoridades como um dos financiadores da gigantesca engrenagem das facções criminosas. Eles estão longe geograficamente, mas conectados pela velha lógica de mercado: um não existe sem o outro. Não tem fornecedor se não tiver consumidor. Simples assim. “O dinheiro que o tráfico busca sai de quem consome”, define o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. Por seu lado, J. culpa a lei que proíbe a droga. “Se a venda fosse liberada, não haveria traficantes”, diz, repetindo o mantra dos movimentos pela descriminalização das drogas. Não é tão simples, uma vez que se sabe que todas as drogas são nocivas à saúde. Combater o consumo é a parte mais difícil da luta contra os entorpecentes. Por isso, é preciso que a sociedade olhe para si própria e decida encarar esta questão.
A coletividade ainda se ressente do folclore que por anos a fio conferiu uma certa aura de heroísmo aos bandidos e algum glamour a essas substâncias. “A cultura do crime e a cultura da droga ainda não estão sendo adequadamente combatidas”, acredita o cientista político Murillo de Aragão, da Universidade de Brasília. “Muitos bacanas continuam a cheirar cocaína e fumar maconha sem se importar com o que está por trás disso.” A balada regada a pó e o pôr do sol na praia embalado pela erva são formas de viver que turbinam o consumo de entorpecentes desde as décadas de 1960 e 1970, quando os ativistas hippies acreditavam que os psicotrópicos eram uma alternativa ao sistema opressor. Muitos dos músicos, cantores e poetas que viveram essa época, porém, têm hoje uma avaliação diferente. É o caso do compositor e escritor Jorge Mautner. Parceiro de Gilberto Gil em sucessos como “Maracatu Atômico”, ele fez com o amigo a música “Coisa Assassina” cuja letra classifica os entorpecentes de “doença, monotonia da loucura e morte”. Mautner não acha viável liberar as drogas, algo, segundo ele, capaz de criar muita tristeza para quem usa e para quem está no entorno. Ele acredita que o usuário deve, sim, pesar as consequências de seu ato quando compra a erva ou o pó. Ao definir a experiência com entorpecentes, cita John Lennon, que disse: “O álcool e as drogas me deram asas, depois me tiraram o céu.” “É uma ótima definição”, afirma.
Para muitos, esse tipo de alerta é inútil. “Comecei a fumar maconha aos 18 anos e uso semanalmente”, diz a produtora fotográfica paulista I., 23 anos. “Minha mãe também fuma e sempre me disse para usar com responsabilidade.” Ela não se sente nem um pouco responsável pelo tráfico e, como outros usuários, opina que a proibição é que gera o mercado paralelo. “Defendo que legalizem apenas a maconha. Compramos num sistema de entregas e eles trazem aqui em casa, tudo muito profissional”, diz. Na ótica de alguns usuários moradores de bairros de classe média alta, o fato de receberem a droga na residência, sem necessidade de ir à boca de fumo, faz parecer que eles não têm nenhuma ligação com o funcionamento das facções.
Porém, mesmo quem é ativista pró-legalização discorda dessa visão. “Ainda que seja levada por um jovem bem-vestido e morador do mesmo bairro, aquela droga sai do carregamento que está no alto do morro”, analisa o comerciante Matias Maxx, 30 anos, um dos organizadores da Marcha da Maconha. Para evitar financiar o tráfico, ele cultiva num pequeno vaso a canábis que consome. A praticidade de encomendar a droga e recebê-la em casa é uma facilidade a mais para quem pretende seguir consumindo e uma grande dificuldade para quem quer largá-la. “Peço por telefone e não consigo me ver como responsável pelo tráfico”, diz o professor R., 32 anos, consumidor de cocaína há 15 e que hoje se considera um dependente.
No centro dos debates está a definição da forma mais adequada de encarar os usuários. Para o advogado João Mestieri, especializado em direito criminal, o sistema atual é avançado. “O Brasil encontrou um caminho interessante ao não punir o usuário, mas o traficante. Isso livrou o usuário da cadeia, tirou dele o ‘carimbo negativo’.” Especializado no estudo da criminalidade, o sociólogo Gláucio Soares discorda. Ele classifica a legislação atual de hipócrita, pois mostra que a sociedade não quer ser responsabilizada pelos seus atos. “Temos a punição do traficante que vende algo ilegal, mas aquele que compra não sofre nada”, critica. Para resolver esse impasse, Soares sugere uma definição clara. “Ou o usuário é um problema de saúde, e aí o Estado deve providenciar uma rede eficaz de tratamento, ou é financiador da organização criminosa, e então tem que ser punido com rigor”, diz o sociólogo.
Para o governo, é uma questão complicada, pois a droga não pode ser considerada uma mercadoria comum. “Na fase de experimentação, o jovem está sujeito a pressões do grupo, tentativas de lidar com problemas emocionais e até curiosidade”, diz a secretária Nacional de Políticas sobre Drogas-Adjunta, Paulina Soares. “Já o uso regular e a dependência envolvem fatores mais complexos que demandam do governo e da sociedade o compartilhamento de responsabilidades.”
Já se discutiu várias vezes a responsabilidade do consumidor de drogas e a possibilidade de descriminalização. Em nenhuma das ocasiões, porém, o debate foi levado a termo e resultou em ação. No entanto, diante das cenas estarrecedoras transmitidas do Complexo do Alemão, desde que a polícia e as Forças Armadas se uniram para retomar aquele território, pode ser que desta vez a discussão seja mais proveitosa. Para isso, é preciso que os debatedores entendam do que estão falando.
“Não é verdade que a maconha seja inofensiva como dizem, trato de muitos usuários com problemas sérios”, avalia o psiquiatra Jorge Jaber, responsável por uma das mais conceituadas clínicas de recuperação de dependentes do Rio. “Ela leva a outras drogas e acelera os problemas psíquicos de quem tem predisposição a desenvolvê-los”, acrescenta o médico João Maria Correia Filho, do Hospital das Clínicas, especialista no estudo de entorpecentes e álcool. Segundo ele, é preciso conscientizar as famílias. “Há muito que pode ser feito, mas legalizar definitivamente não é a solução”, diz. O caminho do vício começa na adolescência, entre os 14 e 17 anos, quando o garoto ou a garota experimentam maconha, e segue na juventude, até os 25 anos, quando ocorre o primeiro contato com a cocaína, droga ainda predominante nas classes mais altas. Depois vem o crack, cujo contingente de consumidores deve dobrar em dez anos, e tem crescido com força na classe média. Semanas atrás, o então advogado do goleiro Bruno, Ércio Quaresma, foi flagrado, em vídeo, fumando crack.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que reduzir o uso de drogas é a forma mais eficaz de atacar o problema. “A classe média e a classe alta são responsáveis porque consomem”, diz ele. FHC elogia o modelo adotado em Portugal, no qual o usuário de drogas não vai para a cadeia, mas passa por tratamento médico. “Além disso, é preciso fazer campanhas de redução de consumo como se faz com o tabaco”, diz. O jurista Walter Maierovitch, um dos primeiros a chamar a atenção para a experiência portuguesa, comenta o resultado obtido. “Foi a única nação da União Europeia onde o consumo de drogas não cresceu”, diz ele. Iniciativas como essa poderiam facilmente ser testadas em território brasileiro. Antes, porém, é preciso que a parte privilegiada da sociedade reconheça que a culpa pelo tráfico não recai apenas sobre os ombros dos jovens esquálidos de sandálias que carregam fuzis no alto dos morros. Essa responsabilidade também passa pelos apartamentos de endereços luxuosos, onde os bem-nascidos consomem a droga vendida por eles.
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