COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
SENAD PROMOVE CONCURSOS NACIONAIS CONTRA AS DROGAS.
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, do Ministério da Justiça, apoiado pelo Conselho Estadual de Políticas Sobre Drogas do RS - CONEN/RS, com o objetivo de incentivar a participação dos diferentes níveis estudantis em atividades culturais de valorização da vida e estimular a mobilização e o engajamento da sociedade nas atividades relacionadas à prevenção do uso de drogas, promovem, anualmente, concursos nacionais sobre o tema.
O sucesso destes concursos mostra a percepção que a sociedade tem sobre a importância das ações de prevenção do uso de drogas, através de ampla participação de crianças, adolescentes, jovens e adultos.
A SENAD está promovendo o XII Concurso Nacional de Cartazes, direcionado a estudantes do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental de 9 anos, o I Concurso Nacional de Vídeo, direcionado a estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de 9 anos e Ensino Médio, o IX Concurso Nacional de Fotografia e o IX Concurso Nacional de Jingle, dirigidos à população em geral. Este ano os concursos têm como tema "Arte e Cultura na prevenção do uso de crack e outras drogas".
Em parceria com o CONEN/RS e Centro de Integração Empresa/Escola - CIEE, a SENAD está lançando o X Concurso de Monografia para Estudantes Universitários, com o tema A Intersetorialidade como Estratégia de Enfrentamento ao Crack.
No intuito de contar com o apoio de Vossa Senhoria e deste Conselho para a mobilização das escolas e da comunidade, encaminhamos folhetos e cartazes de divulgação dos referidos Concursos, solicitando que sejam distribuídos nas escolas da rede pública e privada de todo o Estado, como incentivo à participação de todos.
Maj QOEM Edison Tabajara Rangel Cardoso, Presidente do CONEN-RS
CONEN-RS Lei nº 11.792 de 22/05/2002
Conselho Estadual de Políticas Sobre Drogas
Av: Borges de Medeiros, 1501 - 5º andar Sala 03
Fones: (51) 3288-5961 e 3288-5962
Fax: (51) 3288-5963
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A AMEAÇA DAS DROGAS SINTÉTICAS
Carlos Alberto Di Franco - O Estado de S.Paulo - 21/02/2011
Acabo de regressar da Europa. Uma intensa semana, na Itália e na Espanha, é sempre formidável. Da magia da Piazza Navona ao encantamento da Gran Via, sempre vale a pena. Impressionou-me, na leitura dos jornais e nas conversas com jornalistas e professores, a presença de uma nuvem escura que, aos poucos, vai toldando o horizonte da juventude europeia: o avanço das drogas. Na Europa, e aqui no Brasil, uma nova droga destruidora ameaça a juventude: a cápsula do vento. Trata-se de um pó branco, de aparência comum, mas demolidor. É um derivado da anfetamina e tem propriedades alucinógenas. Seus efeitos podem durar horas. Existem relatos de pessoas que ficaram até uma semana sob efeito alucinógeno dessa substância. O usuário pode ter alterações cardíacas, convulsões, fortes alucinações e chegar à morte.
O uso de drogas ilícitas no mundo vem crescendo, apesar dos esforços mundiais de controle. O aumento no consumo das drogas sintéticas é considerado atualmente pelo Escritório da ONU de Combate ao Crime e às Drogas (Unodc), como "o inimigo público número um". Ao contrário das drogas tradicionais, feitas à base de plantas, as drogas sintéticas são feitas com produtos químicos facilmente obtidos em laboratórios improvisados. O combate é, por isso, muito mais difícil.
O uso das drogas sintéticas hoje é uma questão de moda. Assim como vimos, nos anos 60, o crescimento do uso de LSD e heroína ligado ao movimento hippie, hoje há a cultura da música tecno, que incentiva o uso de drogas como o ecstasy. Essa situação preocupa, porque vai mudar o paradigma do combate às drogas. A prevenção vai ganhar uma importância muito maior do que a repressão.
Nessa década, o maior problema que nós vamos vivenciar é a droga sintética. Principalmente o ecstasy. As prisões de traficantes são um forte indicador da presença das drogas sintéticas e, ao mesmo tempo, revelam um novo perfil do tráfico: jovens universitários, de classe média e alta, compõem o novo mapa do crime. O rosto do usuário também vai sendo perfilado: boa escolaridade, inserido no mercado de trabalho e pertencente às classes sociais mais privilegiadas.
O ecstasy é uma droga estimulante e alucinógena. Segundo o professor Ronaldo Laranjeira, da Universidade Paulista (Unifesp), "ela foi sintetizada para ser um novo moderador de apetite, mas foi descartada pelo laboratório químico que a produziu porque era muito tóxica. Ficou na prateleira por várias décadas e foi redescoberta na década de 70 para ser a droga do amor. Depois se transformou na droga mais usada em discotecas". O ecstasy desencadeia transtornos psiquiátricos como síndrome do pânico e depressão. Costuma vir acompanhado de taquicardia e aumento da temperatura do corpo e tem sido a causa de inúmeras mortes. Segundo Ronaldo Laranjeira, "o grande problema do ecstasy é o dano cerebral que a droga produz, principalmente nos neurônios responsáveis pelo prazer".
O cardápio macabro das baladas, infelizmente, tem sempre novidades. Duas novas drogas foram introduzidas no menu das raves: a ketamina e o GHB. A ketamina, também conhecida por cetamina, ou special K, é um anestésico usado em cirurgias e animais. É um parente químico do ácido lisérgico, o LSD. "O principal efeito que provoca é o desprendimento corporal, o sujeito consegue se dissociar do corpo. O uso frequente da droga pode causar danos na atenção, na memória, no estômago, coração e fígado", alerta o psicólogo Murilo Battisti. O GHB, também chamado de ecstasy líquido, não tem cheiro nem gosto. É perigosíssimo, principalmente quando misturado com álcool. Ambos - GHB e álcool - diminuem muito a atividade do cérebro. Associados, o efeito é ainda maior. O GHB é uma droga fortemente depressora. Pode levar ao coma e induzir ao suicídio.
Como vê, caro leitor, a escalada das drogas é um fato assustador. Enfrentá-la só é possível com informação correta, prevenção e recuperação. Meu objetivo, neste artigo, é ajudá-lo a dar os dois primeiros passos: conhecer o que se passa no ambiente rarefeito de inúmeras discotecas e raves e entender as características devastadoras das novas drogas sintéticas. Só assim, com informação clara e sem eufemismos, você poderá captar eventuais mudanças comportamentais e dar uma orientação segura aos seus filhos. A família, um espaço de carinho, diálogo e firmeza, exige presença do pai e da mãe. Ela é, de fato, o pré-requisito da prevenção. Quando a família fracassa, as políticas antidrogas acabam se transformando no cemitério de boas intenções.
O terceiro passo, a recuperação, é uma indeclinável responsabilidade dos governos. É preciso que os governantes ajudem para valer os serviços especializados e as instituições idôneas que, anonimamente e com grande sacrifício, investem na recuperação de dependentes químicos. Trata-se de um problema de saúde pública. Recuperar é salvar vidas e multiplicar aliados na luta contra as drogas. Um dependente recuperado é o melhor prosélito das campanhas preventivas. Impõe-se que os responsáveis pelo combate às drogas abandonem o conforto de seus gabinetes e entrem em contato com o verdadeiro drama dos adictos. Eu fiz isso. Não considero correto escrever e opinar a respeito de uma realidade distante. Conversei com especialistas, ouvi relatos de dependentes químicos, visitei comunidades terapêuticas que apresentam elevados índices de recuperação, desenvolvi, enfim, um trabalho de reportagem.
Espero que o governo faça a sua parte. Segundo me consta, o Congresso Nacional está decidido a arregaçar as mangas e entrar num autêntico mutirão em prol dos que lutam pela recuperação. A iniciativa, se confirmada, merece os aplausos da sociedade. A dependência química não admite politicagem. Reclama, sim, seriedade e realismo.
CARLOS ALBERTO DI FRANCO, DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO
E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
GUERRA À PEDRA - RS TERÁ 5 CENTROS CONTRA CRACK
Presidente detalhou ontem as universidades que treinarão profissionais em programas que devem começar no próximo mês - ZERO HORA, 17/02/2011
Os Centros Regionais de Referência em Crack e Outras Drogas (CRR), que integram um plano do governo federal de combate contra o crack em todo o país, devem começar a funcionar no mês que vem em 23 universidades brasileiras, cinco delas no Rio Grande do Sul. O lançamento do projeto dos CRR foi feito ontem, em Brasília, pela presidente Dilma Rousseff.
– Precisamos formar profissionais. Sabemos que essa é uma droga que tem uma capacidade de propagação muito elevada e que, atrás do eixo da prevenção, pelo qual precisamos impedir que mais pessoas sejam vítimas do crack, são necessárias intervenções visando a tratamentos, clínicas e enfermarias especializadas, além de políticas de reinserção – afirmou Dilma.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) participarão do programa no Estado. Cada instituição contará com um centro destinado a treinar profissionais de saúde e de assistência social que já atendem usuários de drogas e suas famílias em seus municípios.
Em maio, outros 26 centros devem começar a operar, informou a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Os cursos têm duração de 12 meses e deverão formar seus primeiros participantes no ano que vem. As disciplinas abordarão o gerenciamento de casos, a reinserção social, o aconselhamento motivacional e o aperfeiçoamento de médicos. Cada projeto terá até R$ 300 mil do Fundo Nacional Antidrogas (Funad) para treinamento de 300 pessoas. Serão formados 14,7 mil profissionais, em 844 municípios de 19 Estados do país.
A iniciativa de aperfeiçoar profissionais que lidam com dependentes de crack faz parte do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado no ano passado pelo governo federal. O chamado “PAC do Crack” prevê a ampliação do número de leitos de internação de usuários de drogas e a realização de estudos e pesquisas, entre outras medidas. O plano foi anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio passado. Na oportunidade, ele fez referência à campanha do Grupo RBS, Crack, Nem Pensar, citando-a como exemplo de campanha de mídia contra a droga.
CENTROS CONTRA CRACK NO RS: Universidade Federal de Pelotas; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; Universidade Federal do Rio Grande e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O QUE PREVÊ O PAC DO CRACK:
- Cursos de especialização: são os CRR, lançados ontem;
- Combate ao tráfico: o governo promete ampliar as operações policiais para desmantelar as redes de tráfico que abastecem o Brasil de crack. A ênfase será nas regiões de fronteira. Serão instaladas 11 bases móveis e fixas nas fronteiras com Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia;
- Mais leitos: o plano prevê dinheiro a curto prazo para a ampliação da rede de atendimento aos dependentes, por meio de financiamento às prefeituras. O governo anunciou que financiará projetos municipais de aumento do número de leitos em serviços de urgência e hospitais gerais. O resultado da avaliação e seleção dos projetos foi divulgado em janeiro. Das 145 propostas, foram aprovadas 78, provenientes de 13 Estados;
- Campanha de informação: lançamento de campanha nacional de mobilização, informação e orientação de caráter permanente. O objetivo é mobilizar a sociedade para a gravidade da droga e oferecer conhecimentos que ajudem a prevenir e enfrentar a dependência;
- Projeto Rondon: os estudantes que participam do Projeto Rondon, do Ministério da Defesa, vão lutar contra a droga. Os universitários serão treinados para lidar com usuários e, em vez de serem levados a regiões longínquas do país, passarão a atuar em locais de consumo e comunidades terapêuticas;
- Treinamento de agentes: o plano prevê um exército de combatentes bem treinados. Um dos focos é o treinamento, e inclui quem trabalha com o tratamento e a reinserção social, como profissionais da rede de saúde e da rede de assistência social;
- Disseminação de exemplos: o plano propõe que bons exemplos de tratamento e de reinserção social de usuários sejam multiplicados, para qualificar o atendimento. Um estudo mapeará os tipos de procedimentos e iniciativas que dão melhores resultados;
- Diagnóstico no país: o plano prevê conhecer melhor o crack, para combatê-lo com mais eficácia. Está previsto um amplo diagnóstico sobre o consumo da droga no país e as formas de tratamento da dependência.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
CRACK - CENTROS DE REFERÊNCIAS
Governo lança centros de referências em crack - O GLOBO, 17/02/2011 às 12h37m; Chico de Gois
BRASÍLIA - O governo deu o pontapé inicial, como ele próprio definiu, para a criação de 49 Centros Regionais de Referência (CRR) em crack e outras drogas. Os centros funcionarão em universidades federais e estaduais e oferecerão quatro cursos: aperfeiçoamento em crack e outras drogas para médicos atuantes no Programa de Saúde da Família; atualização em atenção integral aos usuários de crack para profissionais de hospitais em geral; atualização sobre intervenção breve e aconselhamento motivacional em crack para agentes comunitários e atualização em gerenciamento de casos e reinserção social de usuários de drogas. A intenção é formar 14 mil profissionais.
A criação dos centros está prevista no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, lançado no ano passado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco antes de Dilma Rousseff deixar a Casa Civil para se candidatar à Presidência e defender, em
seu programa de governo, como já o fazia José Serra, candidato do PSDB, o combate ao crack e tratamento de usuários.
A imprensa foi impedida de acompanhar o seminário, realizado no Palácio do Planalto. Os jornalistas só foram autorizados a subir quando a presidente Dilma discursou. Ela prometeu combater o tráfico.
- Meu governo vai dar um combate sistemático à questão do crack. Eu também tenho um compromisso com o povo do meu país de levar essa luta sem quartel ao crack - afirmou, ressaltando que as características da juventude brasileira permitem a propagação da droga muito facilmente.
- Fico muito feliz pelo fato de os senhores estarem integrando a linha de frente deste combate - afirmou, dirigindo-se aos médicos, professores e reitores presente no seminário.
- Precisamos formar profissionais. Sabemos que essa é uma droga que apresenta o desafio de não ter, no plano mundial, um acervo de conhecimentos e um acúmulo de metodologias no tratamento e isso faz com que a iniciativa dos Centros Regionais de Referência seja uma iniciativa pioneira - declarou.
A presidente destacou a importância das universidades no combate às drogas e tratamento dos dependentes. Dilma também disse que continuará a valorizar o ensino superior, e, sobretudo, os profissionais.
Governo investe em políticas de redução de danos para conter avanço do crack. O GLOBO, 06/01/2011 - Evandro Éboli
BRASÍLIA - Para diminuir o consumo do crack no país, o Ministério da Saúde investe em ações de redução de danos, como distribuição de insumos aos usuários, a criação de consultórios de rua e casas de acolhimento. A distribuição envolve material de hidratação, como água de coco e outros alimentos para repor a glicose, a protetor labial, disponibilizado em forma de batom e útil para curar e evitar feridas causadas pelo consumo do crack em latas. O ministério não distribui o cachimbo, outra forma de consumo da droga, mas apoia esse tipo de ação, uma iniciativa de entidades não-governamentais.
O compartilhamento de cachimbos, principalmente os improvisados, causa doenças. A adoção da redução de danos enfrenta resistências e gera polêmica. A principal crítica a essa ação é que é estimuladora do consumo. Mas o intuito é diminuir o impacto do consumo na saúde principalmente do usuário que tem dependência grave.
O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Drogas do Ministério da Saúde, Pedro Delgado, explica que a atual legislação brasileira sobre drogas, de 2006, reconhece a redução de danos como uma estratégia de ação de saúde pública.
- O Brasil não precisa esconder a política de redução de danos. É uma maneira de se abrir o diálogo e se aproximar do usuário, de estabelecer um vínculo e oferecer tratamento. A distribuição de insumos e material para que o viciado se trate é uma ação de saúde pública. O SUS não distribui o cachimbo, mas acompanhamos essas iniciativas e observamos que é uma experiência que tem dados resultados. No primeiro momento, não se pode exigir do viciado que pare de usar a droga. É um terreno que precisa ser preparado - disse Pedro Delgado, que há anos atua nessa área no ministério.
As ações do Ministério da Saúde para reduzir o consumo do crack envolvem também investimentos em várias outras frentes. O governo está capacitando 2.400 clínicos gerais que atuam na atenção básica para atuarem na abordagem de viciados em álcool e drogas, em especial o crack. O ministério instala no país 60 Casas de Acolhimento, estruturas que oferecem alimentação, higiene e descanso para usuários de álcool e drogas em situação de risco. Nessas instalações, os jovens podem permanecer até 40 dias.
Outra iniciativa é a criação de 73 consultórios de rua, que levam equipes de saúde com assistentes sociais, auxiliares de enfermagem, profissionais de saúde mental e de redução de danos até os locais onde os dependentes se encontram. O ministério também investe em 39 escolas de redutores de danos, que são bolsas destinadas a universitários e profissionais de saúde, que recebem treinamento em ações de rua. Essas abordagens se dão em unidades móveis e geralmente à noite, período em que há maior movimento dos usuários.
Segundo o ministério, o governo ampliou nos últimos anos o tratamento para pessoas com transtornos mentais e para dependentes de crack, álcool e outras drogas. Entre 2002 a 2010, informa o ministério, os investimentos na Política de Saúde Mental aumentaram 142% e saltaram de R$ 619,2 milhões a R$ 1,5 bilhão.
- O uso do crack apresenta desdobramentos clínicos e psiquiátricos e existe um grande número de deferentes demandas apresentadas pelos usuários. Por isso estamos estruturando a uma rede de atenção diversificada. Um mesmo usuário de crack pode, num determinado período, necessitar de um período, ser atendido diariamente num Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e, em outro instante, necessitar de internação num hospital geral por apresentar alguma complicação decorrente do uso de drogas. Mas essa atenção visa a inclusão social e não a estigmatização do usuário - disse Pedro Delgado.
BRASÍLIA - O governo deu o pontapé inicial, como ele próprio definiu, para a criação de 49 Centros Regionais de Referência (CRR) em crack e outras drogas. Os centros funcionarão em universidades federais e estaduais e oferecerão quatro cursos: aperfeiçoamento em crack e outras drogas para médicos atuantes no Programa de Saúde da Família; atualização em atenção integral aos usuários de crack para profissionais de hospitais em geral; atualização sobre intervenção breve e aconselhamento motivacional em crack para agentes comunitários e atualização em gerenciamento de casos e reinserção social de usuários de drogas. A intenção é formar 14 mil profissionais.
A criação dos centros está prevista no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, lançado no ano passado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco antes de Dilma Rousseff deixar a Casa Civil para se candidatar à Presidência e defender, em
seu programa de governo, como já o fazia José Serra, candidato do PSDB, o combate ao crack e tratamento de usuários.
A imprensa foi impedida de acompanhar o seminário, realizado no Palácio do Planalto. Os jornalistas só foram autorizados a subir quando a presidente Dilma discursou. Ela prometeu combater o tráfico.
- Meu governo vai dar um combate sistemático à questão do crack. Eu também tenho um compromisso com o povo do meu país de levar essa luta sem quartel ao crack - afirmou, ressaltando que as características da juventude brasileira permitem a propagação da droga muito facilmente.
- Fico muito feliz pelo fato de os senhores estarem integrando a linha de frente deste combate - afirmou, dirigindo-se aos médicos, professores e reitores presente no seminário.
- Precisamos formar profissionais. Sabemos que essa é uma droga que apresenta o desafio de não ter, no plano mundial, um acervo de conhecimentos e um acúmulo de metodologias no tratamento e isso faz com que a iniciativa dos Centros Regionais de Referência seja uma iniciativa pioneira - declarou.
A presidente destacou a importância das universidades no combate às drogas e tratamento dos dependentes. Dilma também disse que continuará a valorizar o ensino superior, e, sobretudo, os profissionais.
Governo investe em políticas de redução de danos para conter avanço do crack. O GLOBO, 06/01/2011 - Evandro Éboli
BRASÍLIA - Para diminuir o consumo do crack no país, o Ministério da Saúde investe em ações de redução de danos, como distribuição de insumos aos usuários, a criação de consultórios de rua e casas de acolhimento. A distribuição envolve material de hidratação, como água de coco e outros alimentos para repor a glicose, a protetor labial, disponibilizado em forma de batom e útil para curar e evitar feridas causadas pelo consumo do crack em latas. O ministério não distribui o cachimbo, outra forma de consumo da droga, mas apoia esse tipo de ação, uma iniciativa de entidades não-governamentais.
O compartilhamento de cachimbos, principalmente os improvisados, causa doenças. A adoção da redução de danos enfrenta resistências e gera polêmica. A principal crítica a essa ação é que é estimuladora do consumo. Mas o intuito é diminuir o impacto do consumo na saúde principalmente do usuário que tem dependência grave.
O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Drogas do Ministério da Saúde, Pedro Delgado, explica que a atual legislação brasileira sobre drogas, de 2006, reconhece a redução de danos como uma estratégia de ação de saúde pública.
- O Brasil não precisa esconder a política de redução de danos. É uma maneira de se abrir o diálogo e se aproximar do usuário, de estabelecer um vínculo e oferecer tratamento. A distribuição de insumos e material para que o viciado se trate é uma ação de saúde pública. O SUS não distribui o cachimbo, mas acompanhamos essas iniciativas e observamos que é uma experiência que tem dados resultados. No primeiro momento, não se pode exigir do viciado que pare de usar a droga. É um terreno que precisa ser preparado - disse Pedro Delgado, que há anos atua nessa área no ministério.
As ações do Ministério da Saúde para reduzir o consumo do crack envolvem também investimentos em várias outras frentes. O governo está capacitando 2.400 clínicos gerais que atuam na atenção básica para atuarem na abordagem de viciados em álcool e drogas, em especial o crack. O ministério instala no país 60 Casas de Acolhimento, estruturas que oferecem alimentação, higiene e descanso para usuários de álcool e drogas em situação de risco. Nessas instalações, os jovens podem permanecer até 40 dias.
Outra iniciativa é a criação de 73 consultórios de rua, que levam equipes de saúde com assistentes sociais, auxiliares de enfermagem, profissionais de saúde mental e de redução de danos até os locais onde os dependentes se encontram. O ministério também investe em 39 escolas de redutores de danos, que são bolsas destinadas a universitários e profissionais de saúde, que recebem treinamento em ações de rua. Essas abordagens se dão em unidades móveis e geralmente à noite, período em que há maior movimento dos usuários.
Segundo o ministério, o governo ampliou nos últimos anos o tratamento para pessoas com transtornos mentais e para dependentes de crack, álcool e outras drogas. Entre 2002 a 2010, informa o ministério, os investimentos na Política de Saúde Mental aumentaram 142% e saltaram de R$ 619,2 milhões a R$ 1,5 bilhão.
- O uso do crack apresenta desdobramentos clínicos e psiquiátricos e existe um grande número de deferentes demandas apresentadas pelos usuários. Por isso estamos estruturando a uma rede de atenção diversificada. Um mesmo usuário de crack pode, num determinado período, necessitar de um período, ser atendido diariamente num Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e, em outro instante, necessitar de internação num hospital geral por apresentar alguma complicação decorrente do uso de drogas. Mas essa atenção visa a inclusão social e não a estigmatização do usuário - disse Pedro Delgado.
SAÍDA DIFÍCIL, MAS POSSÍVEL
O crack é uma droga tão terrível, que, quando surge uma boa notícia sobre a recuperação de dependentes, autoridades e especialistas relutam em divulgá-la, temendo que possa servir de estímulo ao consumo. É o caso, agora, de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou durante 12 anos 107 usuários da pedra. O resultado do estudo confirma os danos: ao final do período estipulado para a pesquisa, 25% dos viciados estavam mortos, 12% presos e 20% continuavam dependentes. Mas 40% haviam parado de consumir a droga. Todos os vitoriosos passaram por períodos de internação e tratamento, receberam o apoio de suas famílias e lutaram muito até recuperar a autoestima. Na maioria dos casos, envolveram-se com alguma atividade profissional gratificante ou mesmo com alguma religião que lhes despertou valores espirituais.
O importante é que estão longe do vício e livres do rótulo de irrecuperáveis.
Droga de efeito devastador, o crack vicia logo na primeira experiência e em pouco tempo se torna um fator destrutivo não apenas para a saúde do usuário, mas também para sua vida familiar e social. O dependente perde o interesse pelas atividades rotineiras, abandona o emprego ou a escola, gasta tudo o que tem e, na falta de recursos para alimentar o vício, não é raro que comece a furtar objetos de valor até mesmo de sua própria casa. Passa, também, a ter um comportamento antissocial, briga com amigos e familiares, envolve-se com marginais. A pesquisa feita pela Unifesp mostrou que 43% dos usuários tiveram passagens pela polícia. A maioria dos que morreram também foi vitimada pela violência.
Já os que saíram do poço tiveram em comum, além da força de vontade pessoal, a sorte de encontrar tratamento eficiente, profissionais dedicados e familiares compreensivos. O estigma da irrecuperabilidade faz com que até mesmo profissionais da saúde se sintam menos motivados em ajudar dependentes de crack. Neste sentido, o estudo recém divulgado dá uma grande contribuição à luta contra essa droga letal. Evidentemente, a principal e mais eficaz forma de combater o crack continua sendo a não experimentação. Nenhum antídoto é tão poderoso quanto a palavra “não”. Porém, as pessoas que caem na armadilha não devem ser abandonadas. Pelo contrário, por mais difícil que pareça, é preciso fazê-las acreditar que sempre existe uma saída digna para quem persiste.
Também o poder público precisa tirar lições deste estudo criterioso da universidade paulista. A primeira porta de saída, sem qualquer dúvida, é o tratamento médico competente, com internação prolongada e acompanhamento dos efeitos físicos e psicológicos da droga. Sem esta intervenção, feita por clínicas especializadas, não há milagre. Por isso, o Estado tem o dever de investir na ampliação de vagas para dependentes de drogas, especialmente para as vítimas do crack. E a internação é só o início, pois os pacientes costumam ter recaídas frequentes. Mas há salvação.
EDITORIAL ZERO HORA 17/02/2011
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Saudações à Zero Hora pelo editorial "Saída difícil, mas possível", que propõe maior envolvimento, investimentos e determinação política do Estado no tratamento das dependências, pois o abandono destas pessoas e a falta de assistência aos seus familiares facilitam a propagação da doença, a violência e o aliciamento pelo crime.
O importante é que estão longe do vício e livres do rótulo de irrecuperáveis.
Droga de efeito devastador, o crack vicia logo na primeira experiência e em pouco tempo se torna um fator destrutivo não apenas para a saúde do usuário, mas também para sua vida familiar e social. O dependente perde o interesse pelas atividades rotineiras, abandona o emprego ou a escola, gasta tudo o que tem e, na falta de recursos para alimentar o vício, não é raro que comece a furtar objetos de valor até mesmo de sua própria casa. Passa, também, a ter um comportamento antissocial, briga com amigos e familiares, envolve-se com marginais. A pesquisa feita pela Unifesp mostrou que 43% dos usuários tiveram passagens pela polícia. A maioria dos que morreram também foi vitimada pela violência.
Já os que saíram do poço tiveram em comum, além da força de vontade pessoal, a sorte de encontrar tratamento eficiente, profissionais dedicados e familiares compreensivos. O estigma da irrecuperabilidade faz com que até mesmo profissionais da saúde se sintam menos motivados em ajudar dependentes de crack. Neste sentido, o estudo recém divulgado dá uma grande contribuição à luta contra essa droga letal. Evidentemente, a principal e mais eficaz forma de combater o crack continua sendo a não experimentação. Nenhum antídoto é tão poderoso quanto a palavra “não”. Porém, as pessoas que caem na armadilha não devem ser abandonadas. Pelo contrário, por mais difícil que pareça, é preciso fazê-las acreditar que sempre existe uma saída digna para quem persiste.
Também o poder público precisa tirar lições deste estudo criterioso da universidade paulista. A primeira porta de saída, sem qualquer dúvida, é o tratamento médico competente, com internação prolongada e acompanhamento dos efeitos físicos e psicológicos da droga. Sem esta intervenção, feita por clínicas especializadas, não há milagre. Por isso, o Estado tem o dever de investir na ampliação de vagas para dependentes de drogas, especialmente para as vítimas do crack. E a internação é só o início, pois os pacientes costumam ter recaídas frequentes. Mas há salvação.
EDITORIAL ZERO HORA 17/02/2011
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Saudações à Zero Hora pelo editorial "Saída difícil, mas possível", que propõe maior envolvimento, investimentos e determinação política do Estado no tratamento das dependências, pois o abandono destas pessoas e a falta de assistência aos seus familiares facilitam a propagação da doença, a violência e o aliciamento pelo crime.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
TRATAMENTO - SOBRAM VAGAS NO LITORAL
Sobram vagas para o tratamento de dependentes químicos em hospital do Litoral Norte. Unidade de dependência química do Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, tem nove leitos e 11 profissionais especializados. Vanessa Felippe, ZERO HORA ONLINE, RBS TV - 14/02/2011
A unidade de dependência química do Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, está com escassez de pacientes. Enquanto em alguns centros de saúde é uma luta para se conseguir um leito para tratar de viciados em crack, cocaína e álcool pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Litoral Norte sobram vagas em leitos psiquiátricos para desintoxicar crianças e adolescente.
A unidade tem nove leitos e 11 profissionais especializados. Desde a criação do setor há um ano e nove meses sempre sobram vagas.
— Tentamos manter constante comunicação com os órgãos especializados que podem enviar esses pacientes para cá, mas, mesmo assim, não estamos tendo resultado — afirmou Francieli de Mello, coordenadora da unidade.
Para a equipe, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, a baixa procura pode estar associada a dois fatores: desinformação e resistência da própria família.
Conforme os especialistas, a desintoxicação do dependente químico no Hospital Santa Luzia pode durar até três semanas.
Depois, ele é encaminhado para outros locais para continuar o tratamento. O espaço recebe pacientes que ainda não tenham completado 18 anos, de qualquer cidade do Estado.
A unidade de dependência química do Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, está com escassez de pacientes. Enquanto em alguns centros de saúde é uma luta para se conseguir um leito para tratar de viciados em crack, cocaína e álcool pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Litoral Norte sobram vagas em leitos psiquiátricos para desintoxicar crianças e adolescente.
A unidade tem nove leitos e 11 profissionais especializados. Desde a criação do setor há um ano e nove meses sempre sobram vagas.
— Tentamos manter constante comunicação com os órgãos especializados que podem enviar esses pacientes para cá, mas, mesmo assim, não estamos tendo resultado — afirmou Francieli de Mello, coordenadora da unidade.
Para a equipe, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, a baixa procura pode estar associada a dois fatores: desinformação e resistência da própria família.
Conforme os especialistas, a desintoxicação do dependente químico no Hospital Santa Luzia pode durar até três semanas.
Depois, ele é encaminhado para outros locais para continuar o tratamento. O espaço recebe pacientes que ainda não tenham completado 18 anos, de qualquer cidade do Estado.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
JOVENS VICIADOS EM ÁLCOOL
Dos jovens viciados em álcool, 40% começaram a beber antes dos 11 anos. Entre adultos, a taxa é de 16%, de acordo com dados do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), da Secretaria da Saúde de São Paulo. Maioria teve primeiro contato com bebida alcoólica dentro de casa ou na presença de familiares
07 de fevereiro de 2011 - Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
O manobrista Johnny, de 22 anos, tomou o primeiro gole de vinho aos 11 anos, com o irmão mais velho. Aos 7 anos, a doméstica Madalena, de 50, bebeu um copo de pinga em casa, pensando que era água. Hoje, os dois engrossam as estatísticas do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas: 40% dos adolescentes e 16% dos adultos que procuram tratamento para se livrar do vício experimentaram bebida alcoólica antes dos 11 anos.
Precoce. A doméstica Madalena tomou um copo de pinga aos 7 anos, achando que fosse água; hoje, aos 50, luta contra o vício que a afastou dos filhos
"Bebia uma garrafa de vinho por dia, mas logo mudei para a cachaça. Fumava muitos cigarros e me envolvi com drogas. Antes de me viciar em álcool, eu era o melhor aluno da sala. Depois parei de estudar. Minha vida virou um inferno. Só resolvi procurar ajuda especializada quando me dei conta de que poderia morrer", conta Johnny.
Os litros de cachaça tomados diariamente transformaram Madalena em uma adulta com problemas com álcool e desmotivada. O abuso a fez perder o marido e dois filhos, que se mudaram de cidade e não mantêm mais contato com ela. Por causa disso, Madalena tentou o suicídio. Foi quando descobriu que era hora de pedir ajuda. Está em tratamento intensivo faz 40 dias.
Os dados sobre o primeiro contato com a bebida impressionaram a psiquiatra Marta Ezierski, diretora do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. "Uma coisa é falar de alcoolismo na população em geral. Outra é falar com base em uma população triada, já dependente. O número é muito alto."
As informações são resultado de duas análises: uma de 684 pacientes adultos e outra de 138 adolescentes que procuraram o Cratod nos últimos dois anos.
O ponto que mais chamou a atenção foi o fato de os jovens terem começado a beber ainda crianças, geralmente em casa ou na presença de familiares. Segundo o levantamento, em 39% dos casos o pai bebia abusivamente; em 19%, a mãe; e em 11%, o padrasto. O relatório aponta ainda que, após o contato com álcool e tabaco, metade relatou ter experimentado maconha.
"Eram crianças que tinham o consentimento da família para beber, porque o pai ou a mãe bebiam. Eles começaram a ingerir bebidas sem culpa e não se deram conta de que estavam se viciando. Um paciente chegou a dizer que havia nascido dentro do álcool", diz a diretora do Cratod.
Segundo Marta, o levantamento também demonstrou que, em geral, os adultos procuram ajuda quando já se envolveram com outras drogas, estão deprimidos, tentaram suicídio ou porque estão com alguma doença ou sequela decorrente do consumo abusivo. Já os adolescentes, diz a médica, normalmente vão ao Cratod por causa de conflitos em casa ou na sociedade.
Outros fatores. O psiquiatra Carlos Augusto Galvão, do Hospital Beneficência Portuguesa, conta que o alcoolismo tem dois fatores principais: o cultural e o genético - sabe-se que o alcoolismo tem um componente hereditário, mas os genes envolvidos ainda não foram descritos.
Para ele, o fato de os alcoolistas em tratamento terem começado a beber dentro de casa e ainda crianças pode ser explicado pela questão da imitação. "A criança imita aquilo que o adulto faz. E o jovem continua bebendo para se achar gente grande."
Outra justificativa apontada por Galvão é o excesso de publicidade de bebida alcoólica na televisão, o que não deve ser combatida tão cedo pelo governo federal. "O prejuízo social que a propaganda provoca é grande. Mas é complicado para o governo investir no combate ao álcool, como fez com o cigarro, porque a bebida alcoólica não incomoda a pessoa que está ao lado."
Marta afirma que há estudos que demonstram que uma propaganda de cerveja aumenta em 11% o consumo da bebida entre os jovens. "Isso é muito sério", alerta a psiquiatra.
Segundo Galvão, além de causar dependência, o álcool pode provocar distúrbios no sistema nervoso central, problemas no fígado e no pâncreas - em geral após anos de exposição à bebida.
O coordenador de vendas Guilherme, de 23 anos, bebe em excesso desde os 15, mas diz não precisa de ajuda. Consciente de que exagera, diz que a bebida ainda não lhe causou nenhum mal e que ajuda a relaxar.
"Bebo umas quatro garrafas de cerveja por dia e umas duas garrafas de vodca ou tequila no fim de semana. Só não bebo às segundas-feiras porque quero dar uma recuperada no corpo", diz o jovem, que estima gastar R$ 1 mil por mês apenas com bebidas alcoólicas.
Campanhas educativas. Para especialistas, a única maneira de afastar crianças do álcool é criando campanhas de conscientização específicas para essa faixa etária e oferecendo mais serviços especializados de tratamento. "Não adianta entrar de sola na profilaxia se não houver como marcar uma consulta com um médico psiquiatra na rede pública, por exemplo", diz Galvão.
Essa é uma das principais bandeiras do secretário de Estado da Saúde, Giovanni Guido Cerri: combater o consumo de álcool entre crianças e adolescentes por meio de campanhas educativas, feitas em parceria com a Secretaria de Educação.
Uma das ações será a realização de blitze em bares, danceterias e restaurantes.
07 de fevereiro de 2011 - Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
O manobrista Johnny, de 22 anos, tomou o primeiro gole de vinho aos 11 anos, com o irmão mais velho. Aos 7 anos, a doméstica Madalena, de 50, bebeu um copo de pinga em casa, pensando que era água. Hoje, os dois engrossam as estatísticas do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas: 40% dos adolescentes e 16% dos adultos que procuram tratamento para se livrar do vício experimentaram bebida alcoólica antes dos 11 anos.
Precoce. A doméstica Madalena tomou um copo de pinga aos 7 anos, achando que fosse água; hoje, aos 50, luta contra o vício que a afastou dos filhos
"Bebia uma garrafa de vinho por dia, mas logo mudei para a cachaça. Fumava muitos cigarros e me envolvi com drogas. Antes de me viciar em álcool, eu era o melhor aluno da sala. Depois parei de estudar. Minha vida virou um inferno. Só resolvi procurar ajuda especializada quando me dei conta de que poderia morrer", conta Johnny.
Os litros de cachaça tomados diariamente transformaram Madalena em uma adulta com problemas com álcool e desmotivada. O abuso a fez perder o marido e dois filhos, que se mudaram de cidade e não mantêm mais contato com ela. Por causa disso, Madalena tentou o suicídio. Foi quando descobriu que era hora de pedir ajuda. Está em tratamento intensivo faz 40 dias.
Os dados sobre o primeiro contato com a bebida impressionaram a psiquiatra Marta Ezierski, diretora do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. "Uma coisa é falar de alcoolismo na população em geral. Outra é falar com base em uma população triada, já dependente. O número é muito alto."
As informações são resultado de duas análises: uma de 684 pacientes adultos e outra de 138 adolescentes que procuraram o Cratod nos últimos dois anos.
O ponto que mais chamou a atenção foi o fato de os jovens terem começado a beber ainda crianças, geralmente em casa ou na presença de familiares. Segundo o levantamento, em 39% dos casos o pai bebia abusivamente; em 19%, a mãe; e em 11%, o padrasto. O relatório aponta ainda que, após o contato com álcool e tabaco, metade relatou ter experimentado maconha.
"Eram crianças que tinham o consentimento da família para beber, porque o pai ou a mãe bebiam. Eles começaram a ingerir bebidas sem culpa e não se deram conta de que estavam se viciando. Um paciente chegou a dizer que havia nascido dentro do álcool", diz a diretora do Cratod.
Segundo Marta, o levantamento também demonstrou que, em geral, os adultos procuram ajuda quando já se envolveram com outras drogas, estão deprimidos, tentaram suicídio ou porque estão com alguma doença ou sequela decorrente do consumo abusivo. Já os adolescentes, diz a médica, normalmente vão ao Cratod por causa de conflitos em casa ou na sociedade.
Outros fatores. O psiquiatra Carlos Augusto Galvão, do Hospital Beneficência Portuguesa, conta que o alcoolismo tem dois fatores principais: o cultural e o genético - sabe-se que o alcoolismo tem um componente hereditário, mas os genes envolvidos ainda não foram descritos.
Para ele, o fato de os alcoolistas em tratamento terem começado a beber dentro de casa e ainda crianças pode ser explicado pela questão da imitação. "A criança imita aquilo que o adulto faz. E o jovem continua bebendo para se achar gente grande."
Outra justificativa apontada por Galvão é o excesso de publicidade de bebida alcoólica na televisão, o que não deve ser combatida tão cedo pelo governo federal. "O prejuízo social que a propaganda provoca é grande. Mas é complicado para o governo investir no combate ao álcool, como fez com o cigarro, porque a bebida alcoólica não incomoda a pessoa que está ao lado."
Marta afirma que há estudos que demonstram que uma propaganda de cerveja aumenta em 11% o consumo da bebida entre os jovens. "Isso é muito sério", alerta a psiquiatra.
Segundo Galvão, além de causar dependência, o álcool pode provocar distúrbios no sistema nervoso central, problemas no fígado e no pâncreas - em geral após anos de exposição à bebida.
O coordenador de vendas Guilherme, de 23 anos, bebe em excesso desde os 15, mas diz não precisa de ajuda. Consciente de que exagera, diz que a bebida ainda não lhe causou nenhum mal e que ajuda a relaxar.
"Bebo umas quatro garrafas de cerveja por dia e umas duas garrafas de vodca ou tequila no fim de semana. Só não bebo às segundas-feiras porque quero dar uma recuperada no corpo", diz o jovem, que estima gastar R$ 1 mil por mês apenas com bebidas alcoólicas.
Campanhas educativas. Para especialistas, a única maneira de afastar crianças do álcool é criando campanhas de conscientização específicas para essa faixa etária e oferecendo mais serviços especializados de tratamento. "Não adianta entrar de sola na profilaxia se não houver como marcar uma consulta com um médico psiquiatra na rede pública, por exemplo", diz Galvão.
Essa é uma das principais bandeiras do secretário de Estado da Saúde, Giovanni Guido Cerri: combater o consumo de álcool entre crianças e adolescentes por meio de campanhas educativas, feitas em parceria com a Secretaria de Educação.
Uma das ações será a realização de blitze em bares, danceterias e restaurantes.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
O ALTO JURO IMPOSTO PELO CRACK
CONTA MORTAL. O alto juro imposto pelo crack. No mundo da droga que tem destruído milhares de famílias, as dívidas são cobradas com a vida - EDUARDO TORRES | ESPECIAL, ZERO HORA 01/02/2011
Nos seus 32 anos de vida, Eduardo Lopes de Souza nunca foi famoso. Entre os que o conheciam na Nova Gleba, bairro Rubem Berta, na Capital, era o Sebinho. Isso até o dia 23 de abril do ano passado, quando foi executado e virou nota em jornal.
Quatro tiros, oito facadas e pauladas na cabeça foi o preço cobrado dele por uma dívida em torno de R$ 100 com traficantes de crack. O inquérito policial concluiu que o Sebinho foi vítima do juro mais caro do mercado.
Um caso distante de ser exceção. Um levantamento do jornal Diário Gaúcho revela que, dos 67 homicídios registrados na Região Metropolitana desde o início do ano, até 34 teriam ligações com o tráfico. A maior parte pela cobrança do juro mais usual do crack: a vida.
– Era uma bola de neve. No final, ele devia para todas as bocas – conta o irmão, Oraldo de Souza, 45 anos.
Se no mundo legal o velho ditado do devo, não nego, pago quando puder ainda funciona, aos agentes do crack essa regra não vale quase nada. Pelo menos na esfera mais baixa desse mercado milionário, que lida diretamente com o usuário.
– Para o grande financiador do tráfico, não faz muita diferença o usuário ficar devendo. O mercado dele continua girando. Mas aquele usuário torna-se um incômodo nas bocas, que são como agiotas – explica o delegado da Delegacia de Homicídios, Cléber dos Santos Lima.
– Muitas vezes, foram cobrar da minha mãe. Quando ela tinha, dava dinheiro, mas nunca era suficiente – diz Oraldo de Souza.
O final desta história já era esperado.
Risco à “boca” determina a morte
Para o soldado do tráfico é uma honra assumir as mortes por cobranças e isso dá uma certa garantia aos poderosos nesse esquema. É mais fácil uma boca cair pela atração dos zumbis (viciados) do crack do que pela prisão de grandes patrões do tráfico.
– A maioria das mortes com envolvimento do tráfico não é diretamente relacionada a uma dívida pontual, mas ao risco que esse usuário devedor traz à situação da boca – diz o delegado Cléber dos Santos Lima.
A forma de cobrar o juro acumulado não exige planos complexos pelo gerente da boca. A morte pela dívida do crack não tem os requintes clássicos da máfia, com códigos específicos para devedores, delatores ou inimigos.
O delegado adjunto da Homicídios, Marco Antônio de Souza, explica:
– Não é difícil reconhecer uma vítima do crack. São pessoas desfiguradas pela droga e mortas de maneira violenta. Em muitos casos, até com imperícia do matador, que também é um viciado.
Nos seus 32 anos de vida, Eduardo Lopes de Souza nunca foi famoso. Entre os que o conheciam na Nova Gleba, bairro Rubem Berta, na Capital, era o Sebinho. Isso até o dia 23 de abril do ano passado, quando foi executado e virou nota em jornal.
Quatro tiros, oito facadas e pauladas na cabeça foi o preço cobrado dele por uma dívida em torno de R$ 100 com traficantes de crack. O inquérito policial concluiu que o Sebinho foi vítima do juro mais caro do mercado.
Um caso distante de ser exceção. Um levantamento do jornal Diário Gaúcho revela que, dos 67 homicídios registrados na Região Metropolitana desde o início do ano, até 34 teriam ligações com o tráfico. A maior parte pela cobrança do juro mais usual do crack: a vida.
– Era uma bola de neve. No final, ele devia para todas as bocas – conta o irmão, Oraldo de Souza, 45 anos.
Se no mundo legal o velho ditado do devo, não nego, pago quando puder ainda funciona, aos agentes do crack essa regra não vale quase nada. Pelo menos na esfera mais baixa desse mercado milionário, que lida diretamente com o usuário.
– Para o grande financiador do tráfico, não faz muita diferença o usuário ficar devendo. O mercado dele continua girando. Mas aquele usuário torna-se um incômodo nas bocas, que são como agiotas – explica o delegado da Delegacia de Homicídios, Cléber dos Santos Lima.
– Muitas vezes, foram cobrar da minha mãe. Quando ela tinha, dava dinheiro, mas nunca era suficiente – diz Oraldo de Souza.
O final desta história já era esperado.
Risco à “boca” determina a morte
Para o soldado do tráfico é uma honra assumir as mortes por cobranças e isso dá uma certa garantia aos poderosos nesse esquema. É mais fácil uma boca cair pela atração dos zumbis (viciados) do crack do que pela prisão de grandes patrões do tráfico.
– A maioria das mortes com envolvimento do tráfico não é diretamente relacionada a uma dívida pontual, mas ao risco que esse usuário devedor traz à situação da boca – diz o delegado Cléber dos Santos Lima.
A forma de cobrar o juro acumulado não exige planos complexos pelo gerente da boca. A morte pela dívida do crack não tem os requintes clássicos da máfia, com códigos específicos para devedores, delatores ou inimigos.
O delegado adjunto da Homicídios, Marco Antônio de Souza, explica:
– Não é difícil reconhecer uma vítima do crack. São pessoas desfiguradas pela droga e mortas de maneira violenta. Em muitos casos, até com imperícia do matador, que também é um viciado.
FREIO NO TRÁFICO
GOLPE NO CRIME. Polícia freia tráfico no norte do RS. Operação prende em seis municípios 17 suspeitos de integrar grupo que distribuía drogas na região - ZERO HORA 01/02/2011.
Um cachorro de pelúcia recheado com cerca de um quilo de crack foi uma das descobertas da Operação Atacado, articulada na manhã de ontem pela Polícia Civil no norte gaúcho. A ofensiva resultou na prisão de 17 pessoas suspeitas de integrar um grupo que distribuía drogas em pelo menos 10 municípios.
Nove foram detidos em Passo Fundo, três em Guaporé, dois em Tapejara e outros três em Getúlio Vargas, Casca e Marau. Todos foram encaminhados ao Presídio Regional de Passo Fundo. Os policiais também fizeram buscas em Nova Bassano, Nova Araçá, Paraí e Erechim.
A investigação se iniciou há oito meses e foi coordenada pela Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Passo Fundo. Com participação de 102 policias civis, a operação apreendeu 3,5 quilos de crack, suficiente para produzir 30 mil pedras, além de 1,5 quilo de cocaína, seis veículos, celulares e mais de R$ 10 mil. A investigação começou quando os policiais passaram a monitorar suspeitos de integrar a quadrilha que já tinham antecedentes policiais.
O depósito da quadrilha funcionava em uma casa na localidade de Santo Antão, interior de Passo Fundo, próximo da estrada que liga o município a Ernestina (ERS-153). Foi no centro de operações que o animal de pelúcia abarrotado de crack foi encontrado. Segundo a polícia, a droga apreendida no local havia chegado no domingo à noite à cidade.
– O grupo fazia viagens semanais e trazia a droga de Foz do Iguaçu para distribuir na região – revelou o delegado Adroaldo Schenkel.
De acordo com o delegado, o líder da quadrilha era um passo-fundense que havia sido preso em 2005 também por tráfico de drogas. Ele também revelou que a quadrilha era bastante ramificada e realizava uma distribuição expressiva na região, em especial de crack e cocaína. A polícia apurou que as entregas de droga eram feitas diariamente e incluíam até mesmo o fornecimento a detentos do Presídio Estadual de Getúlio Vargas, onde drogas arremessadas da rua para dentro da penitenciária foram apreendidas e tiveram a procedência identificada.
Schenkel ainda considerou surpreendente o número de mulheres envolvidas no esquema. Segundo ele, sete dos 17 detidos eram do sexo feminino. Para o Departamento de Polícia do Interior (DPI), a operação desenvolvida em Passo Fundo é um duro golpe aos traficantes.
– Ela reforça o trabalho da investigação policial e demonstra o comprometimento da polícia em conter a expansão do tráfico – afirma Antônio Vicente Nunes, diretor da Divisão de Assessoramento Especial do DPI.
Um cachorro de pelúcia recheado com cerca de um quilo de crack foi uma das descobertas da Operação Atacado, articulada na manhã de ontem pela Polícia Civil no norte gaúcho. A ofensiva resultou na prisão de 17 pessoas suspeitas de integrar um grupo que distribuía drogas em pelo menos 10 municípios.
Nove foram detidos em Passo Fundo, três em Guaporé, dois em Tapejara e outros três em Getúlio Vargas, Casca e Marau. Todos foram encaminhados ao Presídio Regional de Passo Fundo. Os policiais também fizeram buscas em Nova Bassano, Nova Araçá, Paraí e Erechim.
A investigação se iniciou há oito meses e foi coordenada pela Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Passo Fundo. Com participação de 102 policias civis, a operação apreendeu 3,5 quilos de crack, suficiente para produzir 30 mil pedras, além de 1,5 quilo de cocaína, seis veículos, celulares e mais de R$ 10 mil. A investigação começou quando os policiais passaram a monitorar suspeitos de integrar a quadrilha que já tinham antecedentes policiais.
O depósito da quadrilha funcionava em uma casa na localidade de Santo Antão, interior de Passo Fundo, próximo da estrada que liga o município a Ernestina (ERS-153). Foi no centro de operações que o animal de pelúcia abarrotado de crack foi encontrado. Segundo a polícia, a droga apreendida no local havia chegado no domingo à noite à cidade.
– O grupo fazia viagens semanais e trazia a droga de Foz do Iguaçu para distribuir na região – revelou o delegado Adroaldo Schenkel.
De acordo com o delegado, o líder da quadrilha era um passo-fundense que havia sido preso em 2005 também por tráfico de drogas. Ele também revelou que a quadrilha era bastante ramificada e realizava uma distribuição expressiva na região, em especial de crack e cocaína. A polícia apurou que as entregas de droga eram feitas diariamente e incluíam até mesmo o fornecimento a detentos do Presídio Estadual de Getúlio Vargas, onde drogas arremessadas da rua para dentro da penitenciária foram apreendidas e tiveram a procedência identificada.
Schenkel ainda considerou surpreendente o número de mulheres envolvidas no esquema. Segundo ele, sete dos 17 detidos eram do sexo feminino. Para o Departamento de Polícia do Interior (DPI), a operação desenvolvida em Passo Fundo é um duro golpe aos traficantes.
– Ela reforça o trabalho da investigação policial e demonstra o comprometimento da polícia em conter a expansão do tráfico – afirma Antônio Vicente Nunes, diretor da Divisão de Assessoramento Especial do DPI.
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