COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O ALTO JURO IMPOSTO PELO CRACK

CONTA MORTAL. O alto juro imposto pelo crack. No mundo da droga que tem destruído milhares de famílias, as dívidas são cobradas com a vida - EDUARDO TORRES | ESPECIAL, ZERO HORA 01/02/2011

Nos seus 32 anos de vida, Eduardo Lopes de Souza nunca foi famoso. Entre os que o conheciam na Nova Gleba, bairro Rubem Berta, na Capital, era o Sebinho. Isso até o dia 23 de abril do ano passado, quando foi executado e virou nota em jornal.

Quatro tiros, oito facadas e pauladas na cabeça foi o preço cobrado dele por uma dívida em torno de R$ 100 com traficantes de crack. O inquérito policial concluiu que o Sebinho foi vítima do juro mais caro do mercado.

Um caso distante de ser exceção. Um levantamento do jornal Diário Gaúcho revela que, dos 67 homicídios registrados na Região Metropolitana desde o início do ano, até 34 teriam ligações com o tráfico. A maior parte pela cobrança do juro mais usual do crack: a vida.

– Era uma bola de neve. No final, ele devia para todas as bocas – conta o irmão, Oraldo de Souza, 45 anos.

Se no mundo legal o velho ditado do devo, não nego, pago quando puder ainda funciona, aos agentes do crack essa regra não vale quase nada. Pelo menos na esfera mais baixa desse mercado milionário, que lida diretamente com o usuário.

– Para o grande financiador do tráfico, não faz muita diferença o usuário ficar devendo. O mercado dele continua girando. Mas aquele usuário torna-se um incômodo nas bocas, que são como agiotas – explica o delegado da Delegacia de Homicídios, Cléber dos Santos Lima.

– Muitas vezes, foram cobrar da minha mãe. Quando ela tinha, dava dinheiro, mas nunca era suficiente – diz Oraldo de Souza.

O final desta história já era esperado.

Risco à “boca” determina a morte

Para o soldado do tráfico é uma honra assumir as mortes por cobranças e isso dá uma certa garantia aos poderosos nesse esquema. É mais fácil uma boca cair pela atração dos zumbis (viciados) do crack do que pela prisão de grandes patrões do tráfico.

– A maioria das mortes com envolvimento do tráfico não é diretamente relacionada a uma dívida pontual, mas ao risco que esse usuário devedor traz à situação da boca – diz o delegado Cléber dos Santos Lima.

A forma de cobrar o juro acumulado não exige planos complexos pelo gerente da boca. A morte pela dívida do crack não tem os requintes clássicos da máfia, com códigos específicos para devedores, delatores ou inimigos.

O delegado adjunto da Homicídios, Marco Antônio de Souza, explica:

– Não é difícil reconhecer uma vítima do crack. São pessoas desfiguradas pela droga e mortas de maneira violenta. Em muitos casos, até com imperícia do matador, que também é um viciado.

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