COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

SAÍDA DIFÍCIL, MAS POSSÍVEL

O crack é uma droga tão terrível, que, quando surge uma boa notícia sobre a recuperação de dependentes, autoridades e especialistas relutam em divulgá-la, temendo que possa servir de estímulo ao consumo. É o caso, agora, de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou durante 12 anos 107 usuários da pedra. O resultado do estudo confirma os danos: ao final do período estipulado para a pesquisa, 25% dos viciados estavam mortos, 12% presos e 20% continuavam dependentes. Mas 40% haviam parado de consumir a droga. Todos os vitoriosos passaram por períodos de internação e tratamento, receberam o apoio de suas famílias e lutaram muito até recuperar a autoestima. Na maioria dos casos, envolveram-se com alguma atividade profissional gratificante ou mesmo com alguma religião que lhes despertou valores espirituais.

O importante é que estão longe do vício e livres do rótulo de irrecuperáveis.

Droga de efeito devastador, o crack vicia logo na primeira experiência e em pouco tempo se torna um fator destrutivo não apenas para a saúde do usuário, mas também para sua vida familiar e social. O dependente perde o interesse pelas atividades rotineiras, abandona o emprego ou a escola, gasta tudo o que tem e, na falta de recursos para alimentar o vício, não é raro que comece a furtar objetos de valor até mesmo de sua própria casa. Passa, também, a ter um comportamento antissocial, briga com amigos e familiares, envolve-se com marginais. A pesquisa feita pela Unifesp mostrou que 43% dos usuários tiveram passagens pela polícia. A maioria dos que morreram também foi vitimada pela violência.

Já os que saíram do poço tiveram em comum, além da força de vontade pessoal, a sorte de encontrar tratamento eficiente, profissionais dedicados e familiares compreensivos. O estigma da irrecuperabilidade faz com que até mesmo profissionais da saúde se sintam menos motivados em ajudar dependentes de crack. Neste sentido, o estudo recém divulgado dá uma grande contribuição à luta contra essa droga letal. Evidentemente, a principal e mais eficaz forma de combater o crack continua sendo a não experimentação. Nenhum antídoto é tão poderoso quanto a palavra “não”. Porém, as pessoas que caem na armadilha não devem ser abandonadas. Pelo contrário, por mais difícil que pareça, é preciso fazê-las acreditar que sempre existe uma saída digna para quem persiste.

Também o poder público precisa tirar lições deste estudo criterioso da universidade paulista. A primeira porta de saída, sem qualquer dúvida, é o tratamento médico competente, com internação prolongada e acompanhamento dos efeitos físicos e psicológicos da droga. Sem esta intervenção, feita por clínicas especializadas, não há milagre. Por isso, o Estado tem o dever de investir na ampliação de vagas para dependentes de drogas, especialmente para as vítimas do crack. E a internação é só o início, pois os pacientes costumam ter recaídas frequentes. Mas há salvação.

EDITORIAL ZERO HORA 17/02/2011

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Saudações à Zero Hora pelo editorial "Saída difícil, mas possível", que propõe maior envolvimento, investimentos e determinação política do Estado no tratamento das dependências, pois o abandono destas pessoas e a falta de assistência aos seus familiares facilitam a propagação da doença, a violência e o aliciamento pelo crime.

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