ZERO HORA 03 de outubro de 2012 | N° 17211. ARTIGOS
Celso Gonzaga Porto*
É louvável toda e qualquer tomada de posição quando se trata da prevenção às drogas. Cada abordagem, mesmo que resulte em um mínimo de sucesso, é relevante e deve ser encarada com respeito. O que se observa, entretanto, são polpudos investimentos do erário, sem haver, em contrapartida, uma eficácia coerente na relação custo-benefício. O ponto de vista para esse aparente pouco sucesso está focado na base de ataque ao problema.
Há uma consciência generalizada no que se refere à dependência química, de que ela mantenha o indivíduo dependente para toda a vida. E é nesse ponto que, às vezes, todos os demais trabalhos se perdem, pois esse pressuposto nem sempre é verdade. Esse conceito parece ser válido apenas em parte. Se analisado com mais especificidade, é provável que ele represente um percentual inferior a 50% do total. O não sucesso em muitas investidas na abordagem antidrogas está justamente nessa maneira equivocada de tratar todos os viciados como se fossem dependentes químicos para toda a vida.
Se analisarmos com mais afinco, deixando de lado a dependência psicológica, há de se admitir que existem dois tipos de dependência química: a inata e a adquirida. A primeira é o provável resultado de um distúrbio metabólico de cunho bioquímico, que, por qualquer razão, impõe ao organismo, já a partir de sua concepção, um “pedido” de substâncias químicas externas. Entretanto, a presença dessa dependência somente será notada a partir do momento em que esse organismo mantiver o primeiro contato com qualquer droga química. Mesmo assim, somente a partir de análises mais aprofundadas se poderá identificar se a drogadição é oriunda de um processo inato ou não. Nesse caso, as coisas não são fáceis e dependerão de um bom acompanhamento médico, psicológico, do uso de medicamentos etc. O grande problema está na descoberta de sua presença. E é justamente por desconhecimento que decorrem muitos casos de recaída e outros insucessos. Quem sabe, a internação sem o consentimento prévio possa ajudar a identificar mais cedo esse problema, desde que haja um ambiente hospitalar especialmente montado para atender os casos de drogadição.
Por sua vez, a dependência química adquirida parte da integração de um produto químico ao organismo que, devido ao uso constante, acostumou esse organismo a receber aquela dose diária. Cada vez que o nível da droga baixa, o organismo pede mais para suprir a dose com a qual ele está acostumado. Nesse caso, provavelmente a luta seja mais branda, desde que um impulso de dentro para fora desperte o indivíduo para isso. No momento em que, a partir de maneiras adequadas, conseguir “zerar” a droga no seu organismo, ele poderá se considerar, sim, um ex-dependente.
*Professor e escritor
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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