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Além de candente, é emblemático o depoimento da mãe de um dos jovens acusados de balear uma médica em Porto Alegre, numa tentativa de assalto que se tornou rumorosa depois de o juiz ter mandado soltar os criminosos presos pela polícia. A mãe do delinquente diz que ele agiu movido pelas drogas, que já o levaram a vender tudo o que tinha em casa e a fugir de sucessivas internações. E se conforma, dizendo que no local onde mora, “de cem jovens, só um não se envolve com drogas”. Não há diagnóstico mais preciso e mais assustador dos efeitos dos tóxicos na juventude.
O episódio é particularmente ilustrativo dos riscos que os cidadãos enfrentam no cotidiano devido à exposição permanente à ação de delinquentes na maioria das vezes sob o efeito de drogas. Por isso, chama a atenção, primeiro, para a dificuldade cada vez maior, em alguns meios, de os pais orientarem seus filhos a seguir uma vida reta, com interesses voltados para os que deveriam ser naturais a crianças e adolescentes, a começar pela ênfase aos estudos. Ao mesmo tempo, o caso serve para realçar problemas do poder público tanto para enfrentar as causas da criminalidade, entre as quais se incluem geralmente o uso de drogas, quanto para preveni-las e também para punir os criminosos.
Diante da ocorrência de casos de maior repercussão como o da pediatra, é natural que a sociedade se apresse em cobrar medidas de efeito mais imediatistas, como a prisão dos responsáveis por crimes. Mesmo imprescindível, porém, essa é apenas uma das providências cabíveis no caso.
O que a sociedade precisa é de mais pais conscientes da responsabilidade de educar filhos e de fazê-los cumprir a lei, além de um poder público capaz de devolver aos cidadãos a sensação de segurança perdida. E isso implica, acima de tudo, ações para reduzir e mesmo evitar crimes, bem como a capacidade de punir com rigor quem age contra a lei.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A questão se droga envolve três suportes: prevenção, repressão e tratamento. Se um destes pilares cai, o caos está instalado e vai exigir dos outros dois uma energia ainda maior de contenção da epidemia. Infelizmente, no Brasil, há descaso dos governantes na aplicação e investimentos ems políticas de prevenção às drogas que incluem educação familiar, campanhas e programas direcionados. As iniciativas existentes são superficiais, isoladas e pontuais que não atingem a todos, em especial as populações mais pobres e periféricas. Também, há uma negligência do Estado que não investe em centros públicos de tratamento tornando-os acessíveis e em quantidade suficiente para abrigar e curar os dependentes de drogas, tirando-os das drogas, do crime e do aliciamento dos traficantes. Restou o trabalho de contenção e repressivo exercido pelas polícias. E este último suporte é derrubado pelo abrandamento das leis e por uma justiça tolerante e sem força ou autoridade para exigir o tratamento, a repressão e as campanhas preventivas.
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