COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

MÃES DO CRACK

FANTÁSTICO Edição do dia 27/10/2013

Mães dependentes de crack lutam para se livrar do vício e manter guarda das crianças. Por que é tão difícil um dependente químico parar de usar o crack? Há um ano, você conheceu no Fantástico as mulheres que, mesmo grávidas, continuavam na droga.




Por que é tão difícil um dependente químico parar de usar o crack? Há um ano, você conheceu no Fantástico as mulheres que, mesmo grávidas, continuavam na droga. O doutor Drauzio Varella reencontrou essas mães e mostra quem venceu e quem continua nessa luta tão dura.

No ano passado, o Fantástico contou a história de meninas dependentes de crack que engravidaram enquanto usavam a droga. Procuramos acompanhar o esforço que elas faziam para enfrentar a dependência, com a intenção firme de proteger seus filhos que estavam para nascer.

Exatamente um ano depois, o Fantástico foi atrás dessas meninas para saber como estavam elas e os bebês.

Um ano atrás, Letícia, Samara e Fabíola queriam largar o crack de vez. Elas estavam para dar à luz, e a maternidade parecia a última chance de recomeçar.

"Eu tenho medo de não conseguir, mas eu vou conseguir", acredita Samara Cristina dos Santos.

Quando Ester nasceu, Samara foi para casa da avó. Isso foi um ano atrás. Agora, a Ester está no mundo. E o que aconteceu com a Samara?

“Aconteceu que ela voltou pra rua. Abandonou a filha com 11 dias. Voltou primeiro para rua, aí ficou passando uns dias na rua, aí seis horas da manhã chegava em casa. Isso todo dia. Nós só brigávamos. Ela chegava drogada. Aí eu falei ‘então aqui cê não pode ficar não’”, conta Maria de Lourdes de Araújo, avó da Samara.

E a Ester ficou com dona Lourdes.

“Ainda tenho uma esperancinha ainda”, diz a avó Samara.

Samara não sumiu de todo. Três meses atrás, por telefone, ela deu notícias.

“Ligou, falou que tava em Ribeirão. Falou: "ô vó, não preocupe não que eu tô aqui em Ribeirão’”, diz a avó.

Acompanhamos dona Lourdes tentando encontrar a neta. Samara tinha dito que estava em um hotel no centro de Ribeirão Preto, cidade paulista, que como tantas outras no Brasil, tem uma cracolândia. Samara não está mais no hotel.

Funcionária do hotel: A última vez que ela veio aqui ela tava bem, graças a Deus.
Drauzio Varella: E para onde ela foi?
Funcionário da hotel: Ela falou uma pracinha.

A praça é a mesma da cracolândia que você acabou de ver. Nas imediações da praça, Samara já é conhecida.

Já é noite quando um vulto magro, vestido rosa, aparece na praça. Samara está chorando. Pergunta pela filha e logo em seguida diz que não ser filmada. Daqui a pouco você saber o que aconteceu com ela e com a menina.

Fantasma do crack continua assombrando a vida de Samara

Três meses atrás, encontramos Fabíola e o filho em Mogi Guaçu, interior de São Paulo. Artur nasceu em fevereiro em boas condições de saúde.

“Eu precisava de uma força maior, e Deus me deu essa criança, eu acho que para mudar minha vida mesmo”, conta Fabíola Fernandes da Silva.

Depois de viver com o filho em um abrigo da prefeitura, ela se casou com o André que também fumava crack. Agora, tudo parece bem.

“Hoje graças a Deus meu marido trabalha, me dá de tudo, sabe? Não falta nada pra mim nem pro meu filho”, revela Fabíola.

Mas o fantasma do crack continua assombrando.

“Tenho medo de voltar para o crack de novo. Morro de medo. Não sei explicar. É uma coisa aqui dentro, sabe? Dentro da gente. Que fica, que fica chamando assim, sabe? Se a gente não for forte, a gente volta, perde tudo”, afirma Fabíola.

Nesse período, ela teve uma recaída. É fácil conseguir crack perto dali. Uma semana depois da entrevista, Fabíola e o marido sumiram.

“Chegou um dia, ela tava aqui dentro com um moleque, o marido dela tava aqui também. Aí chegaram aí dois policiais, ou acho que é o oficial de justiça e o conselho tutelar. Chamaram, aí ela pegou, já viu e já começou a chorar, porque acho que ela já sentiu que ia pegar o moleque”, conta Maiara da Silva, vizinha de Fabíola.

O menino foi levado para um abrigo.

Drauzio Varella: Quando foi a última vez que você viu a Fabíola?
Maiara da Silva, vizinha de Fabíola: A última vez... olha, faz um tempinho já.
Drauzio Varella: Onde ela estava? Tava na rua!?
Maiara: Tava na rua.

Ficamos frustrados quando vemos alguém, que estava sem fumar crack há meses ou anos, volta para droga. Dizemos que essas pessoas não têm força de vontade, são fracas. Casos perdidos. Estamos errados. Não são casos perdidos nem se trata de fraqueza.

“No crack, no caso do crack acontecem muitas recaídas, mas em qualquer dependência química acontecem recaídas”, explica o doutor Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra - Unifesp.

As recaídas fazem parte da doença que a droga causa no cérebro. A recaída deve ser entendida como um colapso, uma falência na capacidade de resistir ao impulso de sentir o prazer intenso que o crack provoca.

“Por que o crack é tão forte? Ele já vai direto para o pulmão, para a absorção imediata, e ele atinge um alto nível no sangue em poucos segundos. Quanto mais rápida essa absorção, quanto maior essa intensidade dessa concentração no sangue, maior o efeito e maior a dependência. Também o efeito acaba mais rápido. A fissura pela droga aumenta quando tem essas características”, relata Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra - Unifesp.

Terapia em grupo para dependentes que lutam contra a recaída

A terapia em grupo é uma das formas de ajudar os dependentes químicos na luta contra a recaída.

“Você percebe que você não tá sozinho nessa empreitada, né? Eu, ouvindo o outro falar, eu percebo que eu também posso fazer. E também, quando eu falo e percebo que o outro aproveitou aquilo que eu tô falando como um exemplo pra ele, isso também me fortalece”, conta a psicóloga Yara Cunha, psicóloga.

As sessões acontecem em um dos 341 Centros de Atenção Psicossocial para Usuários de Álcool e Droga disponíveis no Brasil. São os chamados CAPS-AD.

Em um CAPS-AD de São Paulo, existe um grupo de prevenção à recaída.

Nesse local, conhecemos o Antônio dos Santos Filho, que tem 30 anos. Ele usa crack desde os 16. Desde então, passou por três internações.

Agora, Antônio frequenta o CAPS todos os dias e faz um curso de ajudante de cozinha.

“Graças a Deus está me ajudando e muito, porque eu tô aprendendo novas coisas, eu tô voltando a me integrar à sociedade, e, assim, o que me ajuda também aqui é o companheirismo, né?”, comemora Antônio.

“Isso é muito importante pra gente. É você fazer uma pessoa se sentir gente, se sentir capaz, se sentir que o mundo tá abrindo as portas pra ele”, diz a nutricionista Tânia Fonseca e Silva.

Quando fomos à casa dele, em Osasco, na Grande São Paulo, Antônio estava há 26 dias sem usar droga. Ele fumava em uma favela que fica do lado da casa.

Drauzio Varella: Antônio, é aqui que mora o perigo, né?
Antônio dos Santos Filho, 30 anos: Isso. É aqui mesmo que mora o perigo que, assim, eu tenho que evitar esses lugares que tão me fazendo cair, né?

“Às vezes só o fato de você ir naquele lugar já deflagra uma série de memórias, uma série de lembranças, e daí vem aquela compulsão para o uso. São aquelas memórias associadas ao consumo, que isso tem um papel muito central nas recaídas”, explica o psiquiatra Dartiu.

Sirlene encontra o fim das recaídas mesmo sem tratamento

Um ano atrás, você conheceu a história da Sirlene Rodrigues Ferreira.

“Eu tinha vergonha até de chegar perto da minha filha”, diz Sirlene.

Depois de dar à luz o segundo filho, Sirlene foi morar no sítio da mãe, longe do crack.

A partir desse dia, mesmo sem tratamento, nunca mais teve recaídas. Nem saiu do sítio.

Drauzio Varella: Sirlene, você não tem medo do contato com a cidade outra vez, de cair em tentação.
Sirlene Rodrigues Ferreira: Ah, eu tô me preparando, viu, Drauzio. Eu tô me preparando, então acho que psicologicamente. Eu tenho pra mim que não, não posso, né? Não posso.
Drauzio Varella: O crack dá uma onda de prazer muito intenso na hora que você fuma, não é?
Sirlene: Na hora, sim.
Drauzio Varella: E agora você não tem mais essa onda de prazer. Sente falta dela, não? Nessa atividade comum aqui de rotina...
Sirlene: Não. A minha onda de prazer agora é meu filho me abraçando, me beijando, minha filha olhando pra mim, meu bebê me chamando de mamãe.

Não é fácil vencer a droga, e os filhos do crack também podem ter uma luta difícil pela frente.

“Dependendo da dose que foi utilizada durante a gravidez, pode ter afetado, pode ter destruído algumas células do sistema nervoso central. isso vai repercutir no futuro”, explica Coríntio Mariani Neto, diretor da maternidade Leonor Mendes de Barros.

Pesquisa sobre as consequências da droga para o desenvolvimento de crianças

Nos Estados Unidos, uma pesquisa que durou 20 anos é a mais completa que já se fez sobre as consequências da droga para o desenvolvimento dessas crianças.

O estudo foi feito com famílias de baixa renda. Em um grupo, mães que não usavam drogas. No outro, usuárias que fumaram crack durante a gravidez. Ao longo dos anos, foram aplicados vários testes padronizados.

O trabalho mostrou que filhos do crack têm os mesmos problemas de desenvolvimento e conhecimento que os filhos de quem não consome drogas, mas vivem em situação de pobreza, em famílias desestruturadas e sujeitas à violência.

Só que os resultados dos testes foram piores que os das crianças de classe média, como diz a chefe da pesquisa, doutora Hallam Hurt, neonatologista da Universidade da Pensilvânia.

“Crianças pobres que foram expostas ao crack e crianças pobres que não foram expostas ao crack são iguais, mas não vão bem. Isso não é uma coisa boa”.

Fomos ao Alabama, Estados Unidos, conhecer a Jaimee, que participou da pesquisa. A mãe dela fumou crack até entrar em trabalho de parto. Apesar do consumo pesado da mãe, Jaimee conseguiu ser boa estudante. Tem 23 anos e está na universidade. Segundo ela, o sucesso vem de um grande incentivo para seguir em frente:

“Minha irmã. Ela ficou com a minha guarda e do meu irmãozinho, éramos nós três no mundo. Se não fosse pela minha irmã, provavelmente ia ser mais difícil pra mim. Ela permitiu que eu tivesse uma vida sadia e estável”, diz Jaimee Drakewood, estudante.

Um olhar para o amanhã

Ainda é cedo para sabermos o que vai ser dos filhos de Sirlene, Fabíola, Samara e também de Letícia, que você viu no início desta reportagem.

A Letícia chegou a gravar, mas depois pediu para a entrevista não ser exibida. Depois do parto, teve uma recaída. E até hoje consome crack. A guarda do filho está com a tia.

A bisavó continua com a guarda da filha de Samara, e ela ainda não conseguiu evitar recaídas.

A Fabíola está vivendo numa comunidade religiosa no interior de São Paulo. O marido também estava lá.

“Fumei uma vez e não consegui parar. Eu usava minha droga, mas, nossa, eu cuidava do meu filho. Nunca deixei meu filho passar fome, nunca deixei meu filho com ninguém”, conta Fabíola.

Hoje o filho da Fabíola está em um abrigo em Mogi Guaçu. O menino é o quinto e último filho dela. Os outros quatro ela foi perdendo por causa do crack. Estão vivendo com famílias adotivas.

Fabíola não pode mais dar à luz, fez laqueadura. Nos próximos meses, assistentes sociais vão avaliar se ela tem condições de reconquistar a guarda do bebê que você viu no início da reportagem.

Drauzio: Por que com ele você acha que foi uma coisa mais forte, assim, essa coisa da maternidade?
Fabíola: Porque eu realmente queria cuidar dele. É o meu último filho. Eu não tive condição de cuidar dos outros, né? Então eu queria fazer tudo que eu não fiz para os outros pra ele.

“Quero que ela seja internada em um hospital, que ela não sai, não fuja e que ela faça o tratamento para ela não mexer com isso mais”, conta a avó de Samara.

“Quero ser um cozinheiro, quero tomar conta duma cozinha e futuramente abrir meu restaurante”, planeja Antônio.

“Quero voltar a trabalhar. Nossa, o meu maior sonho agora é seguir minha vida”, acredita Sirlene.

REFÉNS DO CRACK


ZERO HORA 30 de outubro de 2013 | N° 17599

LETÍCIA COSTA E VANESSA KANNENBERG

Criança de três anos mostra onde pai guardava a droga. Filho de um casal de Teutônia, no Vale do Taquari, comoveu policiais que participaram de ocorrência


Em meio a uma ocorrência envolvendo uma briga de casal, um menino de três anos surpreendeu dois policiais militares ao apontar o local onde o pai escondia 18 pedras de crack. Induzida pela mãe, a criança buscou um cano PVC, no pátio de casa, que abrigava a droga. O homem foi autuado em flagrante por tráfico de entorpecentes.

Chamada para atender a situação de violência doméstica por volta das 3h de ontem, a Brigada Militar (BM) de Teutônia, no Vale do Taquari, presenciou uma discussão de casal em que um acusava o outro de usar e traficar drogas. No meio da confusão estavam três crianças – um menino de nove anos, uma menina de oito anos e um menino de três anos. Ao sentar no colo da mãe, o filho mais novo foi indagado sobre onde estaria escondida a droga.

– Eu sei onde tá! – disse o menino de três anos à mãe.

A ação aconteceu na frente dos policiais militares, enquanto eles também procuravam drogas pela casa. Conforme relato do soldado Rodrigo do Nascimento, a criança conduziu a mãe até o pátio e, na volta, a mulher entregou à BM um cano fino com buchas de crack.

– É a primeira vez que presencio a situação de a criança apontar o local e colaborar. Sou pai de uma criança de cinco anos e, como pai, senti bastante. Não tem como não ficar chocado – comenta Nascimento.

Ao atender ao pedido da mãe e agradá-la, o menino não tinha intenção de prejudicar o pai, comenta a psicóloga de crianças e adultos, Aidê Knijnik.

– O que ele fez foi obedecer à mãe, mas não tem consciência de que aquilo é droga e de que estaria contra o pai. Com três anos a criança está ainda com muita fantasia, começando a adquirir a consciência moral, que só aos seis anos estará bem clara – explica Aidê.

Homem foi autuado e levado para Presídio de Lajeado

A ocorrência, levada ao delegado Humberto Roehrig, da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado, resultou na autuação em flagrante por tráfico de drogas do pai, que foi levado ao Presídio Estadual de Lajeado. A mãe foi liberada. Os nomes dos envolvidos não são publicados em obediência ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que preserva a identidade da crianças.

– Não tinha elementos contra ela, até porque entregou a droga. A investigação agora ficará a cargo da delegacia de Teutônia – diz Roehrig.

Filhos irão para abrigo

Conforme o soldado Rodrigo do Nascimento, a droga faz parte da rotina da família. Tanto o pai quanto a mãe seriam usuários de crack, e as crianças teriam conhecimento do consumo.

Ontem, ao verem o pai sendo preso, as crianças choraram assustadas. Acionado pela Brigada Militar, o Conselho Tutelar de Teutônia acompanhou todo o caso. Uma equipe permaneceu com as crianças enquanto a ocorrência era apresentada no plantão em Lajeado. Após o retorno da mãe, a conselheira tutelar Betina de Borba explica que os filhos foram entregues a um familiar de confiança e serão encaminhadas para um abrigo.

A psicóloga Aidê Knijnik afirma que a situação de discórdia entre os pais e o ambiente carregado, com a presença da droga, é o maior prejuízo para o desenvolvimento das crianças, que podem apresentar sintomas de estresse.

sábado, 19 de outubro de 2013

AS MISSES DO CRIME

REVISTA ISTO É Edição: 2292 | 18.Out.13

A modelo Victoria López é a quarta beldade a figurar na lista dos envolvidos em escândalos de corrupção ou tráfico de drogas na Venezuela

Natália Mestre

Conheça,em vídeo, outras musas do crime na Venezuela:





PRESAS

Gabriela (acima) foi acusada de envolvimento com
o narcotráfico. Victoria (nas fotos, no detalhe) comandava
um gabinete paralelo para desviar recursos públicos


Linda, loira e criminosa. A modelo Victoria López-Pando, 34 anos, ex-miss Estado de Anzoátegui em 2000 e semifinalista do consagrado Miss Venezuela do mesmo ano, foi presa na semana passada acusada de fazer parte de um esquema de desvio de verbas públicas. Filha do empresário e vice-presidente da emissora TVO (TV Oriente), Francisco López-Pando, dado como desaparecido desde novembro de 2007, quando seu barco se perdeu na ilha de Martinica, no Caribe, a top é namorada do filho do prefeito de Valencia, Edgardo Parra, preso no sábado 12. De acordo com o ministro do Interior do país, Miguel Rodríguez, era ela quem “administrava e manejava todo o círculo de negociações” mantido pelo prefeito, que suspostamente comandava um gabinete paralelo para desviar recursos públicos. Por trás do rosto angelical e das generosas curvas estaria uma mulher ambiciosa, acusada também de extorquir os empresários que participavam de tais negociações.

O caso de Victoria reacendeu uma antiga polêmica na Venezuela, uma vez que ela é a quarta beldade a integrar o time de “personae non gratae” pela Justiça do país. No começo do ano passado, Gabriela Fernández, 27 anos, ex-miss Estado de Zulia e semifinalista do Miss Venezuela, foi presa acusada de ser testa de ferro do narcotraficante Daniel “El Loco” Barrera. Já em setembro foi a vez da modelo e atriz Karla Osuna, 21 anos, que participava de programas humorísticos na televisão, ser presa acusada de tráfico de drogas – foram encontrados 200 kg de cocaína em sua caminhonete. As duas continuam detidas. Uma das principais celebridades do país, a atriz e vedete Jimena Araya, conhecida como “Rosita”, também teve o seu nome envolvido com o crime. Ela passou 11 dias na prisão acusada de participar de uma trama para a fuga do líder do presídio de Tocorón, região central da Venezuela. Jimena nega a sua participação.


A ligação entre as rainhas da beleza e o mundo do tráfico de drogas é tão notória que, em alguns países, como a Colômbia e o México, foi cunhado o termo narcomodelos. Ele foi popularizado em 2010, quando a top colombiana Angie Sanclemente Valencia foi condenada a seis anos e oito meses de prisão por ser a suposta líder de uma quadrilha dedicada ao narcotráfico, que teria vínculos com um cartel mexicano.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

CONEXÃO PARAGUAIA


zero hora 17 de outubro de 2013 | N° 17586


Traficante abastecia a Região Metropolitana


Condenada a 14 anos e cinco meses por tráfico e associação ao tráfico e com prisão decretada para cumprimento da pena desde janeiro, uma criminosa procurada pela Interpol (a polícia internacional) continuava atuando no atacado da venda de maconha para a Serra e a Região Metropolitana.

Aafirmação sobre a catarinense Sonia Regina Gomes, 36 anos, presa terça-feira pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em São Marcos, é do chefe da delegacia da Polícia Federal (PF) na Serra, Noerci da Silva Melo.

Um dos alvos prioritários da Operação Santa Fé, desenvolvida em 2012 pela Polícia Federal, Brigada Militar (BM) e pelo Ministério Público Estadual (MPE), Sonia chegou a ser presa em flagrante enquanto comandava um comboio com quatro carros na fronteira do Brasil com o Paraguai. A prisão ocorreu em Foz do Iguaçu, cidade do oeste paranaense que faz fronteira com Ciudad del Este. Foram apreendidos 2,3 toneladas de maconha.

– Na saída de Foz do Iguaçu, nós apreendemos a droga e os quadrilheiros, mas ela escapou – conta o delegado Noerci Silva Melo, da PF de Caxias do Sul, na Serra.

Catarinense era chefe de quadrilha na serra gaúcha

Sonia é considerada atacadista (pessoa que leva grande quantidade de droga) e operava no eixo do tráfico formado por Ciudad del Este, Caxias do Sul, Novo Hamburgo e Porto Alegre. O delegado a descreve como sendo uma traficante experiente e muito esperta. Em novembro, na Operação Santa Fé, agentes cumpriram 15 mandados, capturaram 13 pessoas e apreenderam um total de 4,7 toneladas de maconha, além de veículos. Sonia não foi localizada e passou a figurar na lista da Interpol.

– Ela ia para Foz do Iguaçu quando tinha uma grande negociação ou precisava gerenciar alguma operação. Não temos nenhum outro (comparsa) identificado. Vínhamos buscando informações e vamos continuar vendo outras pessoas – afirma Noerci.

Conforme o delegado, o esquema gerenciado por Sonia existia há cerca de cinco anos, tempo em que ela também atuava na cidade serrana, onde morou e tem parentes, no bairro também chamado de Santa Fé, na Zona Norte caxiense.

ANDRÉ FIEDLER E CARLOS WAGNER





Capturada em uma blitz de rotina

A caçada à traficante internacional teve fim em uma singela blitz de rotina na BR-116, em São Marcos. Eram cerca de 17h15min de terça-feira quando dois agentes da PRF pararam um Astra, com placas de Arroio do Tigre, no km 216, próximo à antiga praça de pedágio. Sonia Regina Gomes, era caroneira do carro, conduzido por um homem de 40 anos.

Ao parar o veículo, agentes solicitaram os documentos do homem e constataram que ele tinha diversos antecedentes criminais. O carro tinha licenciamento vencido. Os policiais pediram a carteira de identidade e a de habilitação da mulher, procedimento comum para identificar todos os ocupantes dos veículos abordados pela PRF. Ela entregou os documentos em nome de Rejane Salete de Souza. Enquanto conferiam, os policiais perceberam que a textura e a cor dos papéis eram diferentes. Na bolsa, ela carregava R$ 3.839.

A foragida tinha três mandados de prisão contra ela, todos por envolvimento com tráfico de drogas, um deles com vencimento em fevereiro de 2033. O advogado Luís Fernando Possamai, que assumiu a defesa da presa, disse que Sonia pediu para que ele conferisse a situação dela com a Justiça.

– A ideia, em princípio, é atuar nesse processo de falsificação de documentos. Hoje (ontem) não adianta pedir liberdade, porque ela já tem uma condenação que tem de cumprir – explicou.

domingo, 13 de outubro de 2013

CONSUMO DE DROGAS SE ESPALHA EM SANTA ROSA, NO INTERIOR DO RS

JORNAL NOROESTE  sexta-feira, 11 de outubro de 2013 09:02

Consumo de drogas se espalha

Adolescentes flagrados em pleno início de uma manhã desta semana, 'matando' aula na Praça Seca, consumindo bebida.



Do medo de consumir à banalização atual, o consumo de drogas em Santa Rosa impressiona pelos registros e ações policiais. "O jovem fuma um cigarro de maconha com a mesma naturalidade com que se senta em um bar para tomar uma bebida", compara o tenente Milton Szimanski, que comanda o patrulhamento da Brigada Militar. Só através de abordagens incertas, a BM faz pelo menos três apreensões de drogas a cada dia.

Santa Rosa não tem sua cracolândia, mas já apresenta pontos de concentração de consumo. Dados policiais indicam que a Praça 10 de Agosto, o Parcão e o Parque de Exposições são os pontos de maior concentração. A ação policial provoca o efeito ‘bexiga d'água’. "Quando apertamos o cerco em um dos pontos, os consumidores e traficantes se deslocam para outra área", explica o delegado de polícia Ubirajara Júnior. Um ponto novo de concentração de adolescentes ‘matando’ aulas, consumindo bebida alcoólica e provavelmente drogas é a Praça Seca, em pleno centro da cidade, atrás da prefeitura velha.

Os problemas maiores ainda estão escondidos pelo orgulho das pessoas. "Quando menores e adolescentes são denunciados, alguns pais reagem como se fosse uma acusação contra eles. Alguns são omissos", aponta Jaime Perin, conselheiro tutelar. Só uma escola de Santa Rosa denunciou junto ao Conselho Tutelar, neste mês, 17 casos de frequência irregular ou abandono dos estudos. "A maioria envolve casos de drogas. Os estudantes saem para estudar, mas ficam pelo caminho" diz Jaime.

Ubirajara Júnior acha que o consumo está disseminado por todos os pontos da cidade, especialmente nas vilas. "O crack é uma droga de pobres, de consumidores que não têm mais dinheiro para pagar a maconha" justifica. Ele assegura que a maciça maioria da droga consumida atualmente na cidade é adquirida diretamente nas bocas de fumo. Há casos de encomenda, o que justifica o elevado número de apreensões, mas sempre o argumento do abordado é que é usuário.

A Polícia Civil concentrou esforços nos últimos dias para fechar bocas de fumo nas vilas Auxiliadora e Bom Retiro. "Prendemos oito traficantes e acreditamos que lá o tráfico vai se acalmar" diz Ubirajara com um tom esperançoso. Ele sabe, porém, que o tráfico é muito dinâmico. Na Auxiliadora em muitos casos atendidos pela Brigada Militar, os patrulheiros foram recebidos com violência por traficantes. Para não ceder terreno, algumas operações noturnas tiveram que ser reforçadas com viaturas e soldados.

Nas frentes de combate ao tráfico, duas autoridades policiais manifestam preocupações. "A sociedade parece complacente com o avanço do consumo. Não há reação", diz Milton Szimanski. "Detecto omissão da sociedade local, mesmo que o consumo avance", alerta Ubirajara.









DROGAS SINTÉTICAS ALERTAM AS AUTORIDADES





ZERO HORA 13 de outubro de 2013 | N° 17582

KAMILA ALMEIDA

Fábrica de alucinações. Cada vez mais usadas no Estado, drogas ainda desconhecidas colocam autoridades em alerta.


A cada três dias uma nova droga é descoberta no mundo. Elas são pequenas e se confundem com remédios inofensivos, como os analgésicos. Entram e saem do país com facilidade e circulam em festas de alto padrão. Com tantas variações em suas fórmulas, passam ilesas pela legislação brasileira.

Eé por embaralharem a percepção da polícia que as drogas sintéticas colocam agora o Estado em alerta: o número de apreensões de comprimidos não-identificados aumentou três vezes de janeiro a setembro de 2013, comparado com todo o ano passado.

Das 75 amostras de apreensões supostamente de ecstasy enviadas para análise do Instituto-geral de Perícias (IGP), neste ano, 30% deram negativo para esta substância e positivo para outras, o que também ocorreu com metade das 25 doses de LSD.

Conhecidas como “designer drugs”, estes novos tóxicos são desenvolvidos em laboratório à base de anfetamina e metanfetamina e custam cinco vezes mais do que a maconha.

– Aquilo que antes era uma forma de apresentação característica do LSD agora também aparece impregnado com DOB (brolamfetamina), substância de uso proscrito no Brasil. Os comprimidos, que antes eram característicos de ecstasy, também têm surgido com outras drogas, sozinhas ou uma combinação entre elas, tais como ketamina – detalha a farmacêutica Paulini Braun Wegner, chefe-substituta da Divisão de Química Forense do IGP.

Apreensões no Salgado Filho ainda são incomuns, diz PF

No Estado, uma unidade para tratar dependentes de drogas sintéticas deve ser lançada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre ao longo de 2014. A necessidade surgiu após uma pesquisa feita entre 2010 e 2011 constatar que mais de 60% dos entrevistados no Clínicas, usuários de ecstasy ou LSD, sofriam de estresse pós-traumático ligado a casos de estupros.

Apesar de o Brasil não aparecer entre países onde mais circulam as drogas modificadas em laboratório, como ocorre na Europa, o governo federal pretende criar, até o ano que vem, um sistema de alerta rápido para o ingresso de novas substâncias entorpecentes no país. A ideia é aumentar o rigor frente à comercialização, já que as fórmulas químicas destas substâncias são usadas em outras áreas, como medicina, veterinária e agropecuária, e o tráfico não se dá nas esquinas como ocorre com os entorpecentes tradicionais. Luis Fernando Martins Oliveira atuou no Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) por oito anos e diz que essas drogas podem estar em maior quantidade do que se pensa pela dificuldade na repressão:

– Não são pessoas que fazem do tráfico a sua sobrevivência.

Nos últimos três anos, o diretor do (Denarc), Heliomar Franco, viu um aumento de 47% das apreensões de entorpecentes como cocaína, maconha e crack, o que explica o foco das investigações:

– As outras drogas, pelo alto custo, ficam reduzidas a um pequeno nicho socioeconômico. Elas também não causam a lesividade social do crack e da cocaína, que induzem ao crime – diz Franco, alertando que a principal rota dos produtos tem origem na Holanda e passa por Santa Catarina até chegar ao Estado.

Apreensões de drogas trazidas do exterior, porém, são incomuns. Nenhuma droga sintética foi apreendida no Aeroporto Salgado Filho.

– Temos treinamento, mas é claro que é mais difícil de identificar o comprimido – revela o delegado José Antonio Dornelles de Oliveira, chefe do Núcleo de Polícia Aeroportuária da Polícia Federal.


Rede rápida de comunicação


Preocupado com um possível aumento de circulação de novas drogas no Brasil, o secretário nacional de Políticas Antidrogas do Ministério da Justiça, Vitore André Zílio Maximiano, visitou o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência para conhecer o sistema de alerta rápido e se inspirar. A ideia é criar uma rede rápida de comunicação: sempre que houver a apreensão de uma substância que não está relacionada na portaria da 344 da Anvisa, que estabelece as drogas proibidas no país pelo nome do princípio ativo, e que a polícia local não tenha conseguido identificar, uma amostra deve ser enviada à Polícia Federal, em Brasília, para averiguação.

– A droga sintética, como é manufaturada, passa por processo químico muito sofisticado e, por isto, exige uma análise laboratorial ainda mais apurada para identificá-la. Investiremos em tecnologia para que esta investigação seja feita com rapidez – diz Maximiano.

Caso a análise farmacológica identifique elementos que possam causar dependência física ou psíquica, a Anvisa poderá incluí-la na portaria.


Hospital de Clínicas terá ambulatório para viciados


O Rio Grande do Sul pode ser o primeiro Estado brasileiro a ter um ambulatório para tratar dependentes de drogas sintéticas, como ecstasy, LSD e suas variações. Está em andamento um projeto do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre para que, até 2014, o espaço possa receber pacientes.

A psicóloga Lysa Remy, pesquisadora do Centro, passou um mês em Londres, em setembro de 2012, para conhecer o serviço de uma clínica – chamada Club Drug Clinic – e adaptá-la à realidade gaúcha. O projeto conta com a parceria do Laboratório de Toxicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para identificar o tipo exato de droga consumida, o que deve ampliar também o conhecimento a respeito destas modificações químicas que circulam no Estado.

A ideia surgiu depois que um estudo foi realizado com 240 usuários de ecstasy e LSD entre 2010 e 2011 no Hospital de Clínicas.

– Não se sabe a prevalência do uso na nossa população jovem, mas se sabe que o grupo de usuários tem prejuízos graves – conta Lysa.

A pesquisa revelou tratar-se de um grupo muito vulnerável: 60% apresentaram estresse pós-traumático.

– Foi uma surpresa. Percebemos que eles relatavam alguma experiência de abuso sexual, o que é explicado pelo conceito do ecstasy, conhecido como a “droga do amor” – disse Lysa.

Para tratar dos efeitos físicos e emocionais, além da desintoxicação, será necessária uma equipe de 10 profissionais altamente treinados.



DESCONHECIDAS E PERIGOSAS

Especialistas acreditam que a dificuldade em detectar a presença das novas drogas gera a falsa impressão de que elas não estejam disseminadas no Brasil

CÁPSULA DO VENTO - Conhecida por conter a brolanfetamina (DOB), é vendida geralmente em cápsulas gelatinosas transparentes. No Estado, foram analisadas apenas na forma de micropontos de papel rígido, semelhantes ao LSD. Seu efeito alucinógeno leva mais tempo para se iniciar, o que estimula doses maiores.

SUCESSO - Espécie de lança-perfume de segunda linha, é feito à base de gás freon (usado em refrigeradores). A sensação inicial é de ansiedade instantânea e de curta duração.

SPECIAL KEY - Cápsulas ou comprimidos feitos à base de analgésico líquido para cavalo. Para o delegado Heliomar Franco, ela tem um dos efeitos mais preocupantes, pois provoca paralisia corporal, seguida de sensação de viagem fora do corpo e amnésia.

CRYSTAL OU ICE - À base de metanfetamina, é muito usada nos Estados Unidos e, aos poucos, está chegando ao Brasil. Com alto potencial lesivo à saúde, deixa os usuários viciados em pouco tempo.

FALSA HEROÍNA - Em 2010, o delegado Luís Fernando Martins Oliveira, que atuava no Denarc, pensou estar diante da primeira apreensão de heroína no Estado. Descobriu uma jovem de classe média que enviava sacos plásticos contendo uma substância parecida com grão de areia para São Paulo. Análise laboratorial mostrou se tratar de dimetiltriptamina (DMT) – produto extraído da raiz da planta ayahuasca, utilizada em ritos da seita do Santo Daime. Além de ataques de pânico, a droga pode causar danos irreversíveis ao cérebro.


sábado, 12 de outubro de 2013

BRASIL SEM ANTIDOPING

REVISTA ISTO É N° Edição: 2291 | 11.Out.13

Agência internacional descredencia único laboratório brasileiro capacitado e, a oito meses da Copa, País precisa encontrar solução

Wilson Aquino


PROBLEMA
Padrão de qualidade do laboratório da UFRJ caiu.
Por isso, ele perdeu a chancela da Wada

A oito meses da Copa, os organizadores do evento ainda não definiram como fazer os exames antidoping na competição. O único laboratório do País que era capacitado pela Agência Mundial de Antidopagem (Wada na sigla em inglês) para realizar os testes, o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi descredenciado no final de setembro, após baixar o padrão de qualidade exigido pelo organismo internacional. O presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), Marco Aurélio Klein, disse à ISTOÉ que deverá contratar o laboratório de Lausanne, na Suíça, para realizar os testes na Copa. No entanto, o acordo depende de autorização da Fifa e da própria Wada.

À ISTOÉ a Wada informou que “está ciente da importância de buscar uma solução rápida para o programa de testes da Fifa antes da Copa do Mundo” e que a decisão de revogar o credenciamento do Ladetec foi tomada após uma revisão profunda da situação do laboratório, “lembrando que a Comissão Disciplinar da Wada já havia suspendido a acreditação do laboratório em agosto.”

A ideia de Klein é montar um laboratório-satélite, com técnicos e equipamentos de Lausanne no Brasil, para que os testes mais simples sejam realizados aqui. Os exames mais complexos devem ser feitos na Europa. ­O­ gove­rno está investindo mais de R$ 15 milhões na construção de um novo laboratório na Ilha do Fundão, no Rio. Entretanto, a obra só deve ficar pronta às vésperas do evento. “Para a Copa do Mundo não dá mais. Mas para a Olimpíada de 2016 teremos um centro moderno que atende às exigências internacionais de qualidade”, prometeu Klein. A Wada deve creditá-lo em setembro de 2015.

Desde o descredenciamento do Ladetec, o material colhido no campeonato brasileiro tem sido analisado na Colômbia. O presidente da Comissão de Controle de Dopagem da CBF, Fernando Solera, não acredita que haverá problema de doping na Copa porque os atletas terão de fazer o passaporte biológico, espécie de banco de dados hormonal. Assim que desembarcarem no Brasil, todos os 832 atletas terão sangue e urina coletados. “A partir daí, vamos montar o perfil hormonal de cada atleta. Durante a competição, ele é submetido ao antidoping, e, além de pesquisar a presença de substâncias proibidas, verifica-se se há diferença hormonal. Em caso positivo, é aberta uma investigação”, explica Solera. O histórico de doping em futebol é pequeno se comparado com o de outras modalidades esportivas. Em todas as Copas, apenas três jogadores foram pegos: o haitiano Ernst Jean-Joseph, em 1974, o escocês Willie Johnston, em 1978, e Diego Maradona, da Argentina, em 1994.






GÊNIO BANDIDO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2291 | 11.Out.13

Quem é Ross Ulbricht, o nerd americano de 29 anos que arrecadou US$ 1,2 bilhão ao criar um site que vendia, pela internet, drogas e outros produtos proibidos

Natália Mestre



MENTE CRIMINOSA
Ulbricht: aluno aplicado que não bebe e
não fuma, mas que fez fortuna ao vender cocaína e ecstasy

Até alguns dias atrás, qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, poderia acessar uma página de internet chamada Silk Road e se deparar com uma lista peculiar de produtos acessíveis a partir de meia dúzia de cliques. Como uma espécie de eBay de substâncias ilegais, a Rota da Seda (nome do site em português) vendia passaportes falsos, equipamentos para espionagem, armas, munição e outros milhares de itens destinados a abastecer malfeitores. A maioria dos internautas, porém, estava atrás de outro tipo de mercadoria. Na categoria “drogas”, de longe a mais requisitada, encontrava-se uma variedade que provavelmente nenhum cartel internacional seria capaz de proporcionar: maconha, cocaína, ecstasy, heroína, remédios controlados e toda sorte de psicodélicos e estimulantes que um viciado desejaria encontrar. Em vez de uma superorganização mafiosa, o Silk Road foi criado e era controlado por uma única mente criminosa, o americano Ross William Ulbricht, 29 anos, preso no dia 2 de outubro por agentes do FBI, a polícia federal americana.

O governo americano demorou
três anos para desvendar os
crimes cometidos por Ulbricht

Na semana passada, à medida que informações da vida particular de Ulbricht eram reveladas, os americanos descobriram que estavam diante de uma história extraordinária. Mais do que um meliante desprezível, Ulbricht é um gênio ardiloso que driblou as autoridades durante três anos e que, com seu negócio de vendas de produtos ilegais pela internet, movimentou nesse período a quantia de US$ 1,2 bilhão. Para efeito de comparação, o valor equivale a quase todo o faturamento anual de uma gigante como Alpargatas, a fabricante das sandálias Havaianas. Para os amigos e os pais de Ulbricht, que não faziam a menor ideia do que ele fazia, trata-se de um típico bom moço: amoroso com a família, caloroso com os colegas. Não fumava, bebia raramente e tinha relacionamentos apenas virtuais (era um frequentador assíduo do site de encontros Singles Bee). Na escola, sempre foi o número 1 da classe e, com talento para números, concluiu o curso de engenharia e ciência de materiais na Faculdade do Texas. Apesar da fortuna acumulada, o jovem morou com os pais em Austin, no Texas, até junho deste ano, quando se mudou para São Francisco, na Califórnia, dividindo o apartamento com mais duas pessoas.

Ao vasculhar o histórico do Silk Road, a polícia descobriu no fórum de debates do site – sim, havia um aberto a clientes – que a motivação de Ulbricht não era apenas dinheiro ou a apologia pura e simples às drogas. Diversas vezes ele escreveu que o “Estado não tem o direito de interferir da vida dos indivíduos” e que o “governo não pode cercear a liberdade total do cidadão”. Seus fregueses adoravam considerações desse tipo – e muitos passaram a tratá-lo como um guru. Com cerca de 150 mil usuários no mundo, o Silk Road era baseado no sigilo de seus usuários e suas operações. Para operar no mercado negro virtual, Ulbricht adotou o pseudônimo de Dread Pirate Roberts, personagem do romance “A Princesa Prometida”, escrito por William Goldman em 1973, e se autodeclarava “capitão do navio”. Há tempos na mira do FBI, a chave para desmantelar o esquema foi a localização do servidor utilizado para hospedar o site principal. Depois disso, foi só Ulbricht se logar no Silk Road em um cibercafé de São Francisco para a polícia conseguir rastreá-lo. Além de coordenar as atividades clandestinas do site, ele foi acusado pela polícia de ter encomendado dois assassinatos de ex-colaboradores que ameaçaram denunciá-lo.



O que chama a atenção na história de Ulbricht é o fato de ele ter driblado as autoridades durante tanto tempo. Se o governo de Barack Obama é capaz de espionar e-mails trocados por uma chefe de Estado como Dilma Rousseff e bisbilhotar computadores de uma gigante como Petrobras, como é possível ter demorado tanto tempo para desvendar os crimes cometidos na internet por um cidadão americano que atuava dentro de seu próprio país? “O Ulbricht montou um esquema muito difícil de ser descoberto”, diz Daniel Lemos, presidente da Real Protect, empresa especialista em segurança na internet. “O site só estava disponível por meio da rede Tor, que garante a proteção da identidade dos seus usuários, e os seus servidores estavam espalhados por vários países.” Além de estar escondido na chamada “deep web”, a internet profunda, o portal realizava as suas operações utilizando a Bitcoin, a moeda virtual criptográfica que funciona sem uma entidade monetária central. Cartões de crédito e PayPal não eram aceitos, dificultando ainda mais qualquer possibilidade de rastreamento. Coisa de gênio.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

UMA NOVA CRACOLÂNDIA EM PORTO ALEGRE

CORREIO DO POVO, 08/10/2013 08:49

Surge em Porto Alegre uma nova cracolândia. Equipe da TV Record RS flagrou consumo da droga no bairro Santa Tereza



Flagrantes de consumo durante o dia são comuns
Crédito: Sandro Faster / Reprodução / TV Record / CP


Uma nova cracolândia está surgindo em Porto Alegre. Durante 12 dias, uma equipe da TV Record RS percorreu as ruas do bairro Santa Tereza, conseguindo flagrantes do consumo de drogas e do medo em que está vivendo a população, inclusive com alguns querendo se mudar para outra região e casas ficando sem inquilinos. A sensação de impotência diante do problema amedronta. Nenhum morador quis falar em frente às câmeras, mesmo de costas. O mais preocupante é que o Santa Tereza é um dos Territórios da Paz.

As cenas impressionam e mostram a ousadia de traficantes e usuários, que circulam pelas ruas em plena luz do dia, sem se importar com crianças, idosos ou trabalhadores. As ruas acabam se transformando em uma nova cracolândia, movimentando um comércio perverso.

Até mesmo aqueles que apenas querem morar sossegados viram prisioneiros em suas próprias residências. É o caso de um morador, que chega de táxi em sua casa, na rua Silveiro. Um usuário se esconde atrás de um poste. Quando o morador está se dirigindo a sua casa, após liberar o táxi, leva uma 'gravata' do usuário, que estava de tocaia. O viciado o arrasta por alguns metros e depois o solta. O morador, que não quis se identificar, revelou que o homem queria dinheiro para comprar droga e a vítima teve de convencê-lo de que tinha somente sacolas do supermercado e nada mais.

Os flagrantes da venda de drogas se repetem. Em outro ponto do bairro, um traficante conta as pedras de crack, enquanto no lado oposto da rua, um usuário oferece a droga a um outro rapaz. A droga é preparada e a venda ocorre de forma discreta. Em outro local, na mesma via, um outro traficante passa a pedra de crack ao usuário enquanto o cumprimenta. Em um outro flagrante da TV, um homem tenta se esconder atrás de uma árvore para fumar crack. Porém, logo depois, um grupo se reúne e, em plena rua, consome a droga sem se importar com nada.

Em um matagal, mais usuários se escondem para fumar a droga. A venda é feita em um lugar de difícil acesso, um dos fatores que prejudica a ação da Polícia. A droga não se importa com formação acadêmica ou posição social. Uma mulher formada em Pedagogia, usuária de crack, acabou abandonando às salas de aula e hoje vive nas ruas, tentando sustentar o seu vício. Ela chegou a conversar com a equipe da TV Record. No meio da entrevista, ela ficou assustada e não quis mais continuar falando.

ANJOS DA LEI

ZERO HORA 8 de outubro de 2013 | N° 17577

CARLOS WAGNER

Tráfico em escolas na mira da polícia

Agentes já prenderam 300 vendendo drogas nas imediações de colégios



O Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) comemorou ontem uma prisão simbólica. Infiltrados entre adolescentes, investigadores envolvidos na operação Anjos da Lei detiveram um traficante que atuava nas imediações de uma escola na zona norte de Porto Alegre. Em dois anos e quatro meses, é o 300º criminoso especializado em vender drogas para estudantes que é retirado das ruas.

– A nossa estratégia é dar o máximo de visibilidade possível as nossas ações. Tanto que estamos usando a Semana da Criança para apertar o cerco aos traficantes de porta de escola – diz o delegado Heliomar Franco, diretor de investigação do Denarc, salientando que 40 suspeitos estão na mira dos policiais.

A presença de um jovem de 26 anos, nos arredores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Osvaldo Vergara, na Zona Norte, havia sido denunciada pela comunidade. Machado foi surpreendido e preso pela equipe da 1ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (1ª DIN), um dos braços do Denarc. Os agentes da Anjos da Lei usam diferentes técnicas de investigação. Uma delas é a infiltração entre os adolescentes para conseguirem separar os usuários dos traficantes. Pela contabilidade do delegado Franco, nos dois anos e cinco meses de operação, foram apreendidos em torno de 10 quilos de drogas, principalmente maconha e crack.

– A quantidade de droga é pequena. Mas o estrago que o traficante faz aliciando novos consumidores nas escolas é enorme. Portanto, o foco da nossa ação é justamente a neutralização do aliciador, o que não é um trabalho fácil, devido às particularidades do ambiente escolar – descreve o delegado.

Os criminosos agem na maioria das escolas da cidade, tanto nas públicas quanto nas particulares. Pelas investigações da polícia, nas escolas particulares os traficantes têm dificuldade em ter acesso às instalações. Então, se alojam em praças e lugares vizinhos. Em escolas pública, porém, eles misturam-se com mais facilidade entre os alunos. Nestes dois anos e meio da Anjos da Lei, os policiais já traçaram um perfil desse tipo de criminoso.

– Ele é jovem e, na maioria das vezes, tornou-se vendedor de drogas para sustentar o seu vício. Muitos deles são ex-alunos da escola onde estão traficando. O que facilita a sua ação, porque conhece a todos – descreve Franco.

Conforme Franco, Anjos da Lei se iniciou em 2011 quando uma professora da periferia de Porto Alegre entrou no seu escritório e colocou em cima da mesa um papelote de cocaína. O relato comoveu o policial, que passou a coordenar a infiltração de agentes em escolas para descobrir traficantes.