Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação, é professor de Ética e diretor do Master em Jornalismo. E-mail: difranco@iics.org.br - O Estado de S.Paulo, 31/10/2011
O crescimento dos casos de aids, o aumento da violência e a escalada das drogas castigam a juventude na velha Europa. A crise econômica, dramática e visível a olho nu, exacerba o clima de desesperança. Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. A juventude não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da frustração.
A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores.
Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela crise econômica e pela ausência de expectativas.
Os pais da geração transgressora têm grande parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falência da autoridade familiar. É, muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo - imaginam, na insanidade do seu egoísmo - pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos seus filhos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e certa dose de injusta generalização, "a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos". Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo, menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, que cresceu à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face criminosa.
Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch - autor do livro A Rebelião das Elites - sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: "Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas".
O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.
O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. Pena que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas oscilações do Ibope, tem na violência uma de suas alavancas. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de TV crescem à sombra da exploração das paixões humanas. Ao subestimar a influência perniciosa da violência ficcional, levam adolescentes ao delírio em shows de auditório que promovem uma grotesca sucessão de quadros desumanizadores e humilhantes. A guerra pela conquista de mercados passa por cima de quaisquer balizas éticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o marketing do entretenimento com conteúdo violento está apontando as baterias na direção do público infantil.
A onipresença de uma televisão pouco responsável e a transformação da internet num descontrolado espaço para a manifestação de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado Democrático de Direito) estão na origem de inúmeros comportamentos patológicos.
É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas na Europa. Escarmentemos em cabeça alheia. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
domingo, 30 de outubro de 2011
QUANDO "DEMOCRACIA" É FUMAR UM BASEADO
MARCOS GUTERMAN - O ESTADO DE SÃO PAULO, 28.outubro.2011 11:21:20
Estudantes universitários irritados com uma ação da PM contra três colegas que fumavam maconha na USP, na noite desta quinta-feira (28), depredaram carros da polícia e invadiram o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. A reação foi liderada por integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), com a ajuda do Sindicato dos Funcionários da USP. O episódio mostra o quanto de cinismo se instalou no chamado “movimento estudantil”.
Fumar maconha é contra a lei, e a polícia tentou simplesmente cumprir o seu dever. Mas a inversão moral que se está operando no meio universitário quer imputar crime à PM, e não aos usuários de droga. O argumento central dessa inversão é a memória da atuação da Polícia Militar durante a ditadura, quando a corporação cometeu todo tipo de barbaridade contra os dissidentes do regime militar – e o meio universitário foi vítima particularmente preferencial da ação daqueles gorilas.
Mas os tempos obviamente são outros. Vivemos sob regime democrático há mais de 20 anos. A despeito de ainda haver tortura em delegacias e arbitrariedades cometidas por policiais, não dá para comparar a atual PM com a que serviu de pilar da ditadura.
Ademais, a violência no campus da USP é uma realidade inescapável. Estupros, assaltos e até assassinatos tornaram a vida dos estudantes um terror. A PM, mantida fora da universidade por conta de seu passado, foi chamada para reforçar a segurança, que era feita por agentes particulares desarmados. A necessidade da presença da PM no campus era óbvia demais para ser objeto de discussão – afinal, quantos alunos mais teriam de ser mortos, estuprados e assaltados até que alguém resolvesse deixar os pruridos ideológicos de lado e pedir socorro à cavalaria?
Ao “movimento estudantil”, no entanto, interessa alimentar a imagem de que o campus universitário público é um território “sagrado”, fora da jurisdição do Estado que o financia e que tem o dever legal de regulá-lo. O objetivo disso é transformar o campus em “território livre”, no qual contravenções como fumar maconha e ocupar prédios públicos são travestidas de “exercício de democracia”.
Para perceber o absurdo da situação, nem é preciso entrar no mérito do consumo de drogas em si – afinal, todo aluno medianamente bem informado sabe muito bem que o pagamento pelo “inocente baseado” ajuda a financiar narcotraficantes que, no limite, ameaçam a própria democracia que esses alunos dizem defender, por meio de máfias instaladas no Estado.
Obviamente a experiência estudantil não pode se resumir a entrar em sala de aula e frequentar bibliotecas – pequenas transgressões também fazem parte do crescimento intelectual dos cidadãos, e o ambiente universitário é ideal para isso. No entanto, esses mesmos alunos têm de saber que, num Estado democrático de direito, existem leis e que a polícia, responsável pela segurança e a integridade de toda a coletividade, tem o dever de fazê-las respeitar. Colocar-se acima da lei, como quer esse “movimento estudantil” em nome de uma suposta “luta pela liberdade”, é criar enclaves de privilégio inaceitáveis na sociedade.
Estudantes universitários irritados com uma ação da PM contra três colegas que fumavam maconha na USP, na noite desta quinta-feira (28), depredaram carros da polícia e invadiram o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. A reação foi liderada por integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), com a ajuda do Sindicato dos Funcionários da USP. O episódio mostra o quanto de cinismo se instalou no chamado “movimento estudantil”.
Fumar maconha é contra a lei, e a polícia tentou simplesmente cumprir o seu dever. Mas a inversão moral que se está operando no meio universitário quer imputar crime à PM, e não aos usuários de droga. O argumento central dessa inversão é a memória da atuação da Polícia Militar durante a ditadura, quando a corporação cometeu todo tipo de barbaridade contra os dissidentes do regime militar – e o meio universitário foi vítima particularmente preferencial da ação daqueles gorilas.
Mas os tempos obviamente são outros. Vivemos sob regime democrático há mais de 20 anos. A despeito de ainda haver tortura em delegacias e arbitrariedades cometidas por policiais, não dá para comparar a atual PM com a que serviu de pilar da ditadura.
Ademais, a violência no campus da USP é uma realidade inescapável. Estupros, assaltos e até assassinatos tornaram a vida dos estudantes um terror. A PM, mantida fora da universidade por conta de seu passado, foi chamada para reforçar a segurança, que era feita por agentes particulares desarmados. A necessidade da presença da PM no campus era óbvia demais para ser objeto de discussão – afinal, quantos alunos mais teriam de ser mortos, estuprados e assaltados até que alguém resolvesse deixar os pruridos ideológicos de lado e pedir socorro à cavalaria?
Ao “movimento estudantil”, no entanto, interessa alimentar a imagem de que o campus universitário público é um território “sagrado”, fora da jurisdição do Estado que o financia e que tem o dever legal de regulá-lo. O objetivo disso é transformar o campus em “território livre”, no qual contravenções como fumar maconha e ocupar prédios públicos são travestidas de “exercício de democracia”.
Para perceber o absurdo da situação, nem é preciso entrar no mérito do consumo de drogas em si – afinal, todo aluno medianamente bem informado sabe muito bem que o pagamento pelo “inocente baseado” ajuda a financiar narcotraficantes que, no limite, ameaçam a própria democracia que esses alunos dizem defender, por meio de máfias instaladas no Estado.
Obviamente a experiência estudantil não pode se resumir a entrar em sala de aula e frequentar bibliotecas – pequenas transgressões também fazem parte do crescimento intelectual dos cidadãos, e o ambiente universitário é ideal para isso. No entanto, esses mesmos alunos têm de saber que, num Estado democrático de direito, existem leis e que a polícia, responsável pela segurança e a integridade de toda a coletividade, tem o dever de fazê-las respeitar. Colocar-se acima da lei, como quer esse “movimento estudantil” em nome de uma suposta “luta pela liberdade”, é criar enclaves de privilégio inaceitáveis na sociedade.
A BADERNA A SERVIÇO DO CRIME
OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 30/10/2011
A Cidade Universitária voltou a ser palco de confrontos entre estudantes e a Polícia Militar (PM). Os incidentes ocorreram na noite de quinta-feira e começaram depois que os policiais militares detiveram três alunos que fumavam maconha no estacionamento do prédio de História e de Geografia. Quando os levavam para o 91.º DP, a fim de registrar a ocorrência, os policiais militares foram atacados por cerca de 200 estudantes.
Além de terem apedrejado seis viaturas policiais e ferido três soldados, os estudantes invadiram o prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde praticaram atos de vandalismo, e anunciaram que só sairão do local após a revogação do convênio que permite à PM garantir a segurança na Cidade Universitária. O convênio foi assinado após o primeiro caso de latrocínio no local, ocorrido em maio deste ano. A vítima foi um estudante de economia, assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo. Entre janeiro e abril, os roubos na Cidade Universitária aumentaram 13 vezes e os atos de violência - tais como estupros e sequestros relâmpago - cresceram 300%.
Até então, a Cidade Universitária - situada ao lado de uma favela - dispunha apenas de uma Guarda Universitária, que não pode portar armas e que conta com 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos, além das 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. Mas, apesar da crescente violência, minorias radicais constituídas por servidores, alunos e professores resistiam e continuam resistindo à presença da PM no câmpus. Militantes de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à "repressão", alegam que a presença de policiais militares fere a autonomia universitária e classificam o câmpus como "território livre".
Alegando que a Cidade Universitária estava se convertendo em terra de ninguém, o Comitê Gestor da USP - apoiado pela maioria da comunidade acadêmica - superou as resistências políticas, elaborou um plano emergencial de segurança para a Cidade Universitária, definiu um modelo de policiamento aprovado por entidades de professores, alunos e funcionários e, em junho, fechou um acordo com a PM para colocá-lo em execução. É esse convênio que os invasores do prédio administrativo da FFLCH querem revogar.
Para confirmar que se trata de movimento ideológico, eles apresentaram uma lista de reivindicações absurdas, impossíveis de serem atendidas, do ponto de vista jurídico. Além de aproveitar o incidente para fazer novas críticas ao reitor João Grandino Rodas e acusar a PM de agir como "o braço armado dos exploradores", pedindo sua imediata retirada do câmpus, os invasores querem autonomia absoluta nos "espaços estudantis". Reivindicam, ainda, a extinção de todos os processos administrativos e criminais contra estudantes, professores e funcionários. São centenas de sindicâncias e de ações judiciais instauradas pela reitoria para apurar desvios de conduta e punir quem depredou o patrimônio da USP e ameaçou a integridade física de colegas em assembleias, greves e piquetes. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) classificou a invasão da FFLCH e a oposição à presença da PM no câmpus como uma luta pelos "direitos civis".
Na realidade, o que está em jogo no câmpus da USP não são as liberdades públicas nem os direitos fundamentais de estudantes, professores e funcionários. Quando invocam o princípio da autonomia universitária e pedem que a PM seja expulsa do câmpus, os baderneiros fazem o jogo dos assaltantes, assassinos, estupradores e traficantes de drogas. É evidente que, desde o início do convênio firmado com a reitoria, a presença de policiais militares na Cidade Universitária vem prejudicando os negócios dos fornecedores de drogas, reduzindo seus lucros. Além de se colocarem - consciente ou inconscientemente - a serviço do crime organizado, os invasores cometem outro erro. Eles confundem "território livre", expressão usada na academia para designar a livre troca de ideias, com uma república independente - como se a USP existisse à margem do Estado e da sociedade que a sustentam.
O que ocorreu no embate com a PM e com a invasão da FFLCH não são atos de rebeldia intelectual - são apenas demonstrações de irresponsabilidade e de alienação ideológica.
sábado, 29 de outubro de 2011
LEI É INSUFICIENTE PARA DEFINIR USUÁRIO E TRAFICANTE
COLUNA DO LFG. Por Luiz Flávio Gomes, Revista Consultor Jurídico, 13 de outubro de 2011
O Relatório de 2011 do Banco Mundial, sobre Crime e Violência na América Central,[1] apresenta uma análise das três causas principais da violência na região: o tráfico de drogas, a violência juvenil (e as gangues) e a disponibilidade de armas de fogo.
O tráfico de drogas é, por um lado, um promotor importante dos índices de homicídios na América Central e ao mesmo tempo o fator principal dos níveis de violência na região. É evidente que a redução (ou prevenção total) do tráfico de drogas será a chave em qualquer estratégia regional para combater a violência.
Se estima que 90% da cocaína que chega aos EUA passa pelo corredor da América Central. Os fluxos financeiros relacionados também são enormes e o valor agregado do fluxo de cocaína do corredor da América Central alcançaria 5 por cento do PIB regional.
No Relatório Anual do UNODC de 2010[2] foram destacadas informações do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC de 2009: os mercados globais de cocaína, opiáceos e maconha estão estáveis ou em declínio, enquanto há receio de que a produção e o uso de drogas sintéticas esteja em ascensão no mundo em desenvolvimento.
Ainda foram mencionados os principais resultados do citado Relatório de 2009:
• Em termos de consumo, os maiores mercados do mundo para a cannabis (América do Norte, Oceania e Europa Ocidental), cocaína (América do Norte e algumas partes da Europa Ocidental) e os opiáceos (Sudeste da Ásia e Europa Ocidental) estão todos estáveis ou diminuíram. Os dados são menos claros para países em desenvolvimento.
• Notícias sobre drogas sintéticas, anfetaminas, metanfetaminas e "ecstasy" são mistas. O uso se estabilizou nos países industrializados, mas no mundo em desenvolvimento há preocupação de que o consumo pode estar crescendo.
No Relatório Anual do UNODC de 2010[3] foi destacada a seguinte informação do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC de 2009: a Colômbia, que produz metade da cocaína do mundo, viu um declínio de 18 por cento no cultivo e uma queda de 28 por cento na produção em relação a 2007.
Segundo o Relatório Anual do UNODC de 2010[4], o custo econômico do uso de drogas e dependência de drogas em alguns países pode chegar a 2% do PIB, quando atividades criminosas conexas estão incluídas.
Em termos mundiais, o UNODC (Relatório Anual de 2010[5]) estima que em 2009 entre 172 milhões e 250 milhões de pessoas usaram drogas ilícitas, das quais entre 18 milhões e 38 milhões eram dependentes de drogas. O uso de drogas é um dos 20 principais fatores de risco para a saúde global e está entre o “top 10” nos países desenvolvidos.
Do “World Drug Report 2011” do UNODC[6] extraímos as seguintes informações:
- Globalmente, o UNODC estima que, em 2009, entre 149 e 272 milhões de pessoas, ou 3,3% a 6,1% da população entre os 15-64 anos, usou substâncias ilícitas pelo menos uma vez no ano anterior. Estima-se que aproximadamente a metade desse número se tornou atuais usuários de drogas, isto é, usaram drogas ilícitas pelo menos uma vez durante o mês passado antes da data da avaliação.
- Mortes relacionadas com ou associadas com o uso de drogas ilícitas são estimadas entre 104.000 e 263.000 mortes por ano, equivalente a uma variação de 23,1 a 58,7 mortes por um milhão de habitantes entre os 15-64 anos. Mais da metade das mortes são estimadas como casos de overdose fatal.
A ONU estima que o lucro gerado anualmente pela cocaína é de US$ 85 bilhões[7].
Segundo estimativas do UNODC (Relatório Anual de 2010[8]), o mercado mundial de drogas ilícitas está avaliado em mais de 300 bilhões de dólares anualmente. O citado Relatório concluiu que se a indústria ilegal das drogas fosse um país, seu produto nacional bruto seria o vigésimo primeiro colocado no mundo, logo depois da Suécia.
Urgentemente precisamos definir com mais clareza quem é usuário e quem é traficante. O critério aberto e vago da lei brasileira é totalmente insuficiente, dando margem a muita arbitrariedade. A atenção repressiva deveria ficar reservada para as atividades ilícitas envolvendo menores. No mais, urge a disseminação da educação e da prevenção.
O usuário não pode ser tratado como delinquente. Políticas públicas privadas de recuperação deveriam ser difundidas amplamente por todo o planeta. Muitos jovens, isoladamente, acabam não encontrando forças para sair do mundo das drogas.
Essa também foi a posição defendida pelo UNODC (Relatório Anual de 2010[9]): “Usuários de drogas podem ser ajudados, o vício deles pode ser tratado e estes indivíduos, uma vez recuperados, podem contribuir para suas comunidades. Marcar usuários de drogas como criminosos não é uma forma eficaz de lidar com o problema das drogas ilícitas”[10].
O Banco Mundial[11] concluiu que as seguintes opções de política relativas ao tráfico de drogas são preferíveis para os países da América Central:
· Dados os altos níveis de corrupção relacionados com a droga no sistema de justiça penal e os vastos recursos dos traficantes, dedicar mais recursos aos esforços contra o narcotráfico provavelmente não reduzam a violência na América Central. Na medida que se utilize esta estratégia, um esforço regional coordenado conta com mais oportunidades de obter êxito.
· Destinar recursos para enfrentar o uso doméstico de drogas através de programas de saúde pública, incluindo maior investimento em campanhas educativas, tratamento para consumidores e prevenção do uso das drogas.
Segundo o Banco Mundial (Relatório citado), em geral, é mais provável que os escassos fundos disponíveis reduzam a violência se são destinados a esforços de prevenção da mesma e a mitigar o dano criado pelas drogas. Dentro da região, as políticas devem se concentrar no fortalecimento dos sistemas de justiça criminal, limitar a disponibilidade de armas de fogo e fornecer alternativas significativas para os jovens em risco.
[1] Disponível em:, 2011. Acesso em: 29 set. 2011.
[2] Disponível em:
[3] Disponível em:
[4] Disponível em:
[5] Disponível em:
[6] Disponível em:
[7] RATHBONE, John Paul; THOMSON, Adam. Latin America: a toxic trade. Disponível em:, 23 ago. 2011. Acesso em: 28 set. 2011.
[8] Disponível em:
[9] Disponível em:
[10] Tradução livre.
[11] Crimen y Violencia en Centro América. Un Desafío para el Desarollo – 2011. Disponível em:, 2011. Acesso em: 29 set. 2011.
Luiz Flávio Gomes é doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e mestre em Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), juiz de Direito (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). É autor do Blog do Professor Luiz Flávio Gomes.
O Relatório de 2011 do Banco Mundial, sobre Crime e Violência na América Central,[1] apresenta uma análise das três causas principais da violência na região: o tráfico de drogas, a violência juvenil (e as gangues) e a disponibilidade de armas de fogo.
O tráfico de drogas é, por um lado, um promotor importante dos índices de homicídios na América Central e ao mesmo tempo o fator principal dos níveis de violência na região. É evidente que a redução (ou prevenção total) do tráfico de drogas será a chave em qualquer estratégia regional para combater a violência.
Se estima que 90% da cocaína que chega aos EUA passa pelo corredor da América Central. Os fluxos financeiros relacionados também são enormes e o valor agregado do fluxo de cocaína do corredor da América Central alcançaria 5 por cento do PIB regional.
No Relatório Anual do UNODC de 2010[2] foram destacadas informações do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC de 2009: os mercados globais de cocaína, opiáceos e maconha estão estáveis ou em declínio, enquanto há receio de que a produção e o uso de drogas sintéticas esteja em ascensão no mundo em desenvolvimento.
Ainda foram mencionados os principais resultados do citado Relatório de 2009:
• Em termos de consumo, os maiores mercados do mundo para a cannabis (América do Norte, Oceania e Europa Ocidental), cocaína (América do Norte e algumas partes da Europa Ocidental) e os opiáceos (Sudeste da Ásia e Europa Ocidental) estão todos estáveis ou diminuíram. Os dados são menos claros para países em desenvolvimento.
• Notícias sobre drogas sintéticas, anfetaminas, metanfetaminas e "ecstasy" são mistas. O uso se estabilizou nos países industrializados, mas no mundo em desenvolvimento há preocupação de que o consumo pode estar crescendo.
No Relatório Anual do UNODC de 2010[3] foi destacada a seguinte informação do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC de 2009: a Colômbia, que produz metade da cocaína do mundo, viu um declínio de 18 por cento no cultivo e uma queda de 28 por cento na produção em relação a 2007.
Segundo o Relatório Anual do UNODC de 2010[4], o custo econômico do uso de drogas e dependência de drogas em alguns países pode chegar a 2% do PIB, quando atividades criminosas conexas estão incluídas.
Em termos mundiais, o UNODC (Relatório Anual de 2010[5]) estima que em 2009 entre 172 milhões e 250 milhões de pessoas usaram drogas ilícitas, das quais entre 18 milhões e 38 milhões eram dependentes de drogas. O uso de drogas é um dos 20 principais fatores de risco para a saúde global e está entre o “top 10” nos países desenvolvidos.
Do “World Drug Report 2011” do UNODC[6] extraímos as seguintes informações:
- Globalmente, o UNODC estima que, em 2009, entre 149 e 272 milhões de pessoas, ou 3,3% a 6,1% da população entre os 15-64 anos, usou substâncias ilícitas pelo menos uma vez no ano anterior. Estima-se que aproximadamente a metade desse número se tornou atuais usuários de drogas, isto é, usaram drogas ilícitas pelo menos uma vez durante o mês passado antes da data da avaliação.
- Mortes relacionadas com ou associadas com o uso de drogas ilícitas são estimadas entre 104.000 e 263.000 mortes por ano, equivalente a uma variação de 23,1 a 58,7 mortes por um milhão de habitantes entre os 15-64 anos. Mais da metade das mortes são estimadas como casos de overdose fatal.
A ONU estima que o lucro gerado anualmente pela cocaína é de US$ 85 bilhões[7].
Segundo estimativas do UNODC (Relatório Anual de 2010[8]), o mercado mundial de drogas ilícitas está avaliado em mais de 300 bilhões de dólares anualmente. O citado Relatório concluiu que se a indústria ilegal das drogas fosse um país, seu produto nacional bruto seria o vigésimo primeiro colocado no mundo, logo depois da Suécia.
Urgentemente precisamos definir com mais clareza quem é usuário e quem é traficante. O critério aberto e vago da lei brasileira é totalmente insuficiente, dando margem a muita arbitrariedade. A atenção repressiva deveria ficar reservada para as atividades ilícitas envolvendo menores. No mais, urge a disseminação da educação e da prevenção.
O usuário não pode ser tratado como delinquente. Políticas públicas privadas de recuperação deveriam ser difundidas amplamente por todo o planeta. Muitos jovens, isoladamente, acabam não encontrando forças para sair do mundo das drogas.
Essa também foi a posição defendida pelo UNODC (Relatório Anual de 2010[9]): “Usuários de drogas podem ser ajudados, o vício deles pode ser tratado e estes indivíduos, uma vez recuperados, podem contribuir para suas comunidades. Marcar usuários de drogas como criminosos não é uma forma eficaz de lidar com o problema das drogas ilícitas”[10].
O Banco Mundial[11] concluiu que as seguintes opções de política relativas ao tráfico de drogas são preferíveis para os países da América Central:
· Dados os altos níveis de corrupção relacionados com a droga no sistema de justiça penal e os vastos recursos dos traficantes, dedicar mais recursos aos esforços contra o narcotráfico provavelmente não reduzam a violência na América Central. Na medida que se utilize esta estratégia, um esforço regional coordenado conta com mais oportunidades de obter êxito.
· Destinar recursos para enfrentar o uso doméstico de drogas através de programas de saúde pública, incluindo maior investimento em campanhas educativas, tratamento para consumidores e prevenção do uso das drogas.
Segundo o Banco Mundial (Relatório citado), em geral, é mais provável que os escassos fundos disponíveis reduzam a violência se são destinados a esforços de prevenção da mesma e a mitigar o dano criado pelas drogas. Dentro da região, as políticas devem se concentrar no fortalecimento dos sistemas de justiça criminal, limitar a disponibilidade de armas de fogo e fornecer alternativas significativas para os jovens em risco.
[1] Disponível em:
[2] Disponível em:
[3] Disponível em:
[4] Disponível em:
[5] Disponível em:
[6] Disponível em:
[7] RATHBONE, John Paul; THOMSON, Adam. Latin America: a toxic trade. Disponível em:
[8] Disponível em:
[9] Disponível em:
[10] Tradução livre.
[11] Crimen y Violencia en Centro América. Un Desafío para el Desarollo – 2011. Disponível em:
Luiz Flávio Gomes é doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e mestre em Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), juiz de Direito (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). É autor do Blog do Professor Luiz Flávio Gomes.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
NARCOTRÁFICO - PF DIZ TER DESMANTELADO UMA DAS PRINCIPAIS QUADRILHAS QUE AGIA NO BRASIL
PF diz ter desmantelado uma das principais quadrilhas de narcotraficantes que agia no país - o globo, 27/10/2011 às 16h27m; Leonardo Guandeline.
SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) diz ter desmantelado nesta quinta-feira uma das principais quadrilhas de tráfico de drogas internacionais que agia no país. O grupo era chefiado por dois narcotraficantes de São Paulo. Além deles, 34 pessoas, entre elas um estrangeiro, foram presas nesta quinta-feira em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pará e Rondônia.
Batizada "Semilla", uma referência à semente em espanhol, como era chamada a cocaína pelos integrantes do grupo, a operação da PF cumpriu, ainda 59 mandados de busca e apreensão em várias cidades do país. Entre o material apreendido estão 15 veículos de luxo, a maioria de propriedade dos dois chefes do bando, uma aeronave e R$ 80 mil, além de armas.
As investigações sobre o bando tiveram início em julho do ano passado. Desde então foram apreendidos 4.327 kg de cocaína e 5.210 kg de maconha, além de uma aeronave e 48 veículos usados no transporte da droga. Até esta quinta-feira, 70 pessoas acusadas de integrar o bando haviam sido presas, entre elas um italiano acusado de ligação com a Sacra Corona Unita, organização criminosa que atua na região de Puglia, no Sul italiano.
De acordo com o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, um dos coordenadores da operação e chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo, o grupo - tido como um dos principais atuantes no Brasil - perdeu força desde o início das investigações e das apreensões.
- Posso garantir que muito pouca coisa passou. Começamos com apreensões de 673 kg de cocaína. Ao fim apreendemos carregamentos de 30 kg. A quadrilha já não tinha o mesmo potencial - garante o delegado, acrescentando:
- Podemos dizer que o bando era um dos principais em relação ao narcotráfico que agia no país.
Segundo a PF, faziam parte do bando bolivianos, colombianos, brasileiros, paraguaios, africanos e europeus. Eles traziam cocaína da Bolívia por via aérea e terrestre e maconha do Paraguai. Do Brasil, a cocaína era enviada para a Europa e África via mulas ou de navio. Parte da droga, no entanto, era distribuída no país, a exemplo de toda a maconha paraguaia.
Dos 54 mandados de prisão expedidos pela 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo, 36 foram cumpridos. Sete dos acusados são considerados foragidos e 11 foram encaminhados para a Interpol, para integrar a difusão vermelha, por se tratar de traficantes que estão fora do país.
SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) diz ter desmantelado nesta quinta-feira uma das principais quadrilhas de tráfico de drogas internacionais que agia no país. O grupo era chefiado por dois narcotraficantes de São Paulo. Além deles, 34 pessoas, entre elas um estrangeiro, foram presas nesta quinta-feira em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pará e Rondônia.
Batizada "Semilla", uma referência à semente em espanhol, como era chamada a cocaína pelos integrantes do grupo, a operação da PF cumpriu, ainda 59 mandados de busca e apreensão em várias cidades do país. Entre o material apreendido estão 15 veículos de luxo, a maioria de propriedade dos dois chefes do bando, uma aeronave e R$ 80 mil, além de armas.
As investigações sobre o bando tiveram início em julho do ano passado. Desde então foram apreendidos 4.327 kg de cocaína e 5.210 kg de maconha, além de uma aeronave e 48 veículos usados no transporte da droga. Até esta quinta-feira, 70 pessoas acusadas de integrar o bando haviam sido presas, entre elas um italiano acusado de ligação com a Sacra Corona Unita, organização criminosa que atua na região de Puglia, no Sul italiano.
De acordo com o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, um dos coordenadores da operação e chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo, o grupo - tido como um dos principais atuantes no Brasil - perdeu força desde o início das investigações e das apreensões.
- Posso garantir que muito pouca coisa passou. Começamos com apreensões de 673 kg de cocaína. Ao fim apreendemos carregamentos de 30 kg. A quadrilha já não tinha o mesmo potencial - garante o delegado, acrescentando:
- Podemos dizer que o bando era um dos principais em relação ao narcotráfico que agia no país.
Segundo a PF, faziam parte do bando bolivianos, colombianos, brasileiros, paraguaios, africanos e europeus. Eles traziam cocaína da Bolívia por via aérea e terrestre e maconha do Paraguai. Do Brasil, a cocaína era enviada para a Europa e África via mulas ou de navio. Parte da droga, no entanto, era distribuída no país, a exemplo de toda a maconha paraguaia.
Dos 54 mandados de prisão expedidos pela 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo, 36 foram cumpridos. Sete dos acusados são considerados foragidos e 11 foram encaminhados para a Interpol, para integrar a difusão vermelha, por se tratar de traficantes que estão fora do país.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
GOLPE NO TRÁFICO
Trinta são presos no sul do Estado - ZERO HORA 26/10/2011
O cumprimento de 40 mandados judiciais que levou 30 pessoas à prisão foi o saldo de uma operação da Polícia Federal coordenada pela delegacia de Jaguarão, no sul do Estado, ontem. Os presos são suspeitos de integrar uma quadrilha que traficava entorpecentes na região.
Investigado há mais de oito meses, o bando agia em três municípios. Por isso, a ação policial ocorreu paralelamente em Jaguarão, Rio Grande e Pelotas. Na primeira cidade, 19 pessoas foram presas, na segunda, 10 e, na última, uma. A polícia encontrou ainda 300 gramas de crack e 200 gramas de maconha. Três carros foram apreendidos.
Segundo o delegado Alexandre Quevedo, que coordenou as ações da chamada de Operação Vezeiro, os criminosos adquiriam as drogas com fornecedores de Rio Grande e, provavelmente, Porto Alegre. Os entorpecentes eram levados para Jaguarão e região. Há indícios de que alguns membros da quadrilha estejam envolvidos com homicídios, roubos e furtos na região.
Os nomes das pessoas presas não foram divulgados pela PF.
PF detém suspeitos de crimes no sul do país. Assaltante preso na Pasc articularia incursões de quadrilha pelo Paraguai.
A Polícia Federal (PF) cumpriu ontem 37 mandados de prisão contra suspeitos de praticar roubos, sequestros, homicídios, tráfico de drogas e armas e assaltos a ônibus de turismo no sul do país e ações violentas no Paraguai. No Rio Grande do Sul, a investida policial apontou a participação de duas pessoas no grupo, incluindo um dos parceiros do assaltante José Carlos dos Santos, o Seco, preso em 2006.
Conhecido como Gordo, Carlos Fernandes já estava detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Ele é suspeito de articular as incursões da quadrilha pelo Paraguai, onde teria contato com traficantes de drogas. A mulher dele foi presa em São Leopoldo. A suspeita é de que ela servisse de intermediária entre Gordo e os quadrilheiros, em sua maioria, paranaenses.
Assim como ocorreu com outros presos pela chamada Operação Mercúrio, a PF tentava identificar a mulher na tarde de ontem. Além de se conhecerem só por apelidos, todos usariam identidades falsas, o que dificultava a confirmação de seus nomes.
A mulher recebia instruções do companheiro durante visitas íntimas, apontou a investigação da PF. Ela também viajaria a Curitiba para participar de reuniões com os criminosos. O delegado da PF da capital do Paraná, Fabiano Bordignon, disse que a mulher burlava o sistema de segurança da Pasc e entrava com celulares escondidos, os quais repassava a Gordo.
– Com isso (os celulares), Gordo conseguia se manter vivo no crime. Ele tinha vários contatos no Paraguai para venda de drogas e, nessas cargas, também traziam fuzis, que a quadrilha usava predominantemente na região metropolitana de Curitiba. Em troca, ele recebia uma participação no lucro da quadrilha – afirmou Bordignon.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informou não ter recebido nenhum comunicado oficial da PF sobre o caso de Gordo, trancafiado na Pasc desde 2006, ao ser preso ao lado de Seco em uma operação da Polícia Civil gaúcha em Paverama. Por isso, preferiu não se manifestar.
Um dos focos da atividade dos criminosos presos ontem era o Paraguai. Além de trazer drogas e armas daquele país, a PF aponta o grupo como responsável por pelo menos duas ações violentas, no meio do ano. Em uma delas, roubaram um banco em Salto del Guairá. Em Ciudad del Este, tentaram abrir um caixa forte, mas o ataque foi evitado pela polícia paraguaia, com apoio da PF. Dois criminosos acabaram mortos. Em Santa Catarina e no Paraná, a quadrilha cometeu mais de 15 ataques a caixas eletrônicos.
A operação - Foram expedidos 39 mandados de prisão, mas dois não foram cumpridos – os suspeitos devem se apresentar hoje à PF. Além dos dois presos no Rio Grande do Sul, houve três prisões em Santa Catarina e 32 no Paraná.
O cumprimento de 40 mandados judiciais que levou 30 pessoas à prisão foi o saldo de uma operação da Polícia Federal coordenada pela delegacia de Jaguarão, no sul do Estado, ontem. Os presos são suspeitos de integrar uma quadrilha que traficava entorpecentes na região.
Investigado há mais de oito meses, o bando agia em três municípios. Por isso, a ação policial ocorreu paralelamente em Jaguarão, Rio Grande e Pelotas. Na primeira cidade, 19 pessoas foram presas, na segunda, 10 e, na última, uma. A polícia encontrou ainda 300 gramas de crack e 200 gramas de maconha. Três carros foram apreendidos.
Segundo o delegado Alexandre Quevedo, que coordenou as ações da chamada de Operação Vezeiro, os criminosos adquiriam as drogas com fornecedores de Rio Grande e, provavelmente, Porto Alegre. Os entorpecentes eram levados para Jaguarão e região. Há indícios de que alguns membros da quadrilha estejam envolvidos com homicídios, roubos e furtos na região.
Os nomes das pessoas presas não foram divulgados pela PF.
PF detém suspeitos de crimes no sul do país. Assaltante preso na Pasc articularia incursões de quadrilha pelo Paraguai.
A Polícia Federal (PF) cumpriu ontem 37 mandados de prisão contra suspeitos de praticar roubos, sequestros, homicídios, tráfico de drogas e armas e assaltos a ônibus de turismo no sul do país e ações violentas no Paraguai. No Rio Grande do Sul, a investida policial apontou a participação de duas pessoas no grupo, incluindo um dos parceiros do assaltante José Carlos dos Santos, o Seco, preso em 2006.
Conhecido como Gordo, Carlos Fernandes já estava detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Ele é suspeito de articular as incursões da quadrilha pelo Paraguai, onde teria contato com traficantes de drogas. A mulher dele foi presa em São Leopoldo. A suspeita é de que ela servisse de intermediária entre Gordo e os quadrilheiros, em sua maioria, paranaenses.
Assim como ocorreu com outros presos pela chamada Operação Mercúrio, a PF tentava identificar a mulher na tarde de ontem. Além de se conhecerem só por apelidos, todos usariam identidades falsas, o que dificultava a confirmação de seus nomes.
A mulher recebia instruções do companheiro durante visitas íntimas, apontou a investigação da PF. Ela também viajaria a Curitiba para participar de reuniões com os criminosos. O delegado da PF da capital do Paraná, Fabiano Bordignon, disse que a mulher burlava o sistema de segurança da Pasc e entrava com celulares escondidos, os quais repassava a Gordo.
– Com isso (os celulares), Gordo conseguia se manter vivo no crime. Ele tinha vários contatos no Paraguai para venda de drogas e, nessas cargas, também traziam fuzis, que a quadrilha usava predominantemente na região metropolitana de Curitiba. Em troca, ele recebia uma participação no lucro da quadrilha – afirmou Bordignon.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informou não ter recebido nenhum comunicado oficial da PF sobre o caso de Gordo, trancafiado na Pasc desde 2006, ao ser preso ao lado de Seco em uma operação da Polícia Civil gaúcha em Paverama. Por isso, preferiu não se manifestar.
Um dos focos da atividade dos criminosos presos ontem era o Paraguai. Além de trazer drogas e armas daquele país, a PF aponta o grupo como responsável por pelo menos duas ações violentas, no meio do ano. Em uma delas, roubaram um banco em Salto del Guairá. Em Ciudad del Este, tentaram abrir um caixa forte, mas o ataque foi evitado pela polícia paraguaia, com apoio da PF. Dois criminosos acabaram mortos. Em Santa Catarina e no Paraná, a quadrilha cometeu mais de 15 ataques a caixas eletrônicos.
A operação - Foram expedidos 39 mandados de prisão, mas dois não foram cumpridos – os suspeitos devem se apresentar hoje à PF. Além dos dois presos no Rio Grande do Sul, houve três prisões em Santa Catarina e 32 no Paraná.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
OPERAÇÃO CONTRA O TRÁFICO LEVA 29 À PRISÃO
FREIO NO TRÁFICO. Polícia acredita ter desarticulado um dos principais pontos de venda de drogas de Porto Alegre, na Vila Maria da Conceição - EDUARDO TORRES, ZERO HORA 18/10/2011
O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) avalia ter desarticulado um dos principais pontos de tráfico de Porto Alegre ao final de uma ação na manhã de ontem. – Acabamos com o tráfico na Rua Paulino Azurenha. Pelo menos por enquanto – disse o delegado Rodrigo Zucco, em uma referência às bocas de fumo mais conhecidas da Capital, na Vila Maria da Conceição, Zona Leste.
Estava na Rua Paulino Azurenha – o acesso da vila à Avenida Bento Gonçalves – o alvo da Operação Crepúsculo. Ao longo de mais de dois meses, 29 pessoas foram presas por envolvimento com o tráfico. Assim como aconteceu em setembro, na primeira investida da ação, ontem pela manhã os agentes do Denarc e os PMs do 19º BPM atuaram em conjunto para cumprir os seis últimos mandados da operação. Cinco homens foram presos e, durante o final de semana, três quilos de maconha e outros três de cocaína foram apreendidos em pelo menos cinco pontos de venda.
– Eram traficantes que estavam substituindo os que foram presos na ofensiva que fizemos em setembro, todos funcionários do tráfico comandado de dentro da cadeia. Agora, acredito que o golpe foi forte – aponta o delegado.
No total, foram apreendidos 27 quilos de maconha, três quilos de cocaína e 1,6 mil pedras de crack, além de dois revólveres calibre 38 e uma pistola 6.35. Tudo pertenceria a Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição. Mesmo preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), em Charqueadas, ele ainda é considerado pela polícia o maior traficante de maconha do Estado.
A maior parte das apreensões e prisões ocorreu na tarde de 23 de setembro, quando, em uma estratégia inusitada, os policiais chegaram à vila escondidos no baú de um caminhão de mudanças. Naquela ocasião, 12 pessoas foram presas em flagrante em um dos becos onde a maconha seria entregue.
Investigação do MP revela “guerra” para dominar áreas
O alvo da operação foi o território que supostamente seria controlado por Carlos Alberto Silveira Drey, o Beto Drey, 28 anos, filho de criação de Paulão. Preso pela última vez em maio deste ano, ele é, atualmente, colega de presídio do pai, em Charqueadas.
Uma investigação do Ministério Público revelou neste ano uma verdadeira guerra entre Beto Drey e uma das irmãs para dominar as áreas sob influência do pai. Paulão seria o principal fornecedor de maconha na Vila Maria Conceição, Restinga, Lomba do Pinheiro e em algumas regiões de Viamão.
Na partilha sangrenta entre os irmãos, Beto Drey teria conseguido o domínio sobre as bocas da Paulino Azurenha, as mais lucrativas da quadrilha.
Brigada garante vigilância reforçada
De acordo com o major Alexandre da Rosa, que comandou a ação pelo 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), as patrulhas na região serão reforçadas.
– Vamos seguir com as abordagens diárias e prisões – garante e avisa que o alvo não está apenas nos possíveis traficantes locais.
Lembrando que as bocas de fumo da Rua Paulino Azurenha têm a facilidade do acesso asfaltado, ele afirma que o cerco também apertará contra os usuários.
– Carros, táxis ou motos parados, em situação suspeita nessa área, sem dúvida, serão abordados. Quando apertamos o usuário, estamos evitando o crescimento do traficante – avalia o major.
Desde o começo do ano, o batalhão responsável pela zona leste de Porto Alegre já teria detido 2,6 mil pessoas.
Conforme o oficial, em 90% dos casos eram envolvidos com o tráfico de drogas.
O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) avalia ter desarticulado um dos principais pontos de tráfico de Porto Alegre ao final de uma ação na manhã de ontem. – Acabamos com o tráfico na Rua Paulino Azurenha. Pelo menos por enquanto – disse o delegado Rodrigo Zucco, em uma referência às bocas de fumo mais conhecidas da Capital, na Vila Maria da Conceição, Zona Leste.
Estava na Rua Paulino Azurenha – o acesso da vila à Avenida Bento Gonçalves – o alvo da Operação Crepúsculo. Ao longo de mais de dois meses, 29 pessoas foram presas por envolvimento com o tráfico. Assim como aconteceu em setembro, na primeira investida da ação, ontem pela manhã os agentes do Denarc e os PMs do 19º BPM atuaram em conjunto para cumprir os seis últimos mandados da operação. Cinco homens foram presos e, durante o final de semana, três quilos de maconha e outros três de cocaína foram apreendidos em pelo menos cinco pontos de venda.
– Eram traficantes que estavam substituindo os que foram presos na ofensiva que fizemos em setembro, todos funcionários do tráfico comandado de dentro da cadeia. Agora, acredito que o golpe foi forte – aponta o delegado.
No total, foram apreendidos 27 quilos de maconha, três quilos de cocaína e 1,6 mil pedras de crack, além de dois revólveres calibre 38 e uma pistola 6.35. Tudo pertenceria a Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição. Mesmo preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), em Charqueadas, ele ainda é considerado pela polícia o maior traficante de maconha do Estado.
A maior parte das apreensões e prisões ocorreu na tarde de 23 de setembro, quando, em uma estratégia inusitada, os policiais chegaram à vila escondidos no baú de um caminhão de mudanças. Naquela ocasião, 12 pessoas foram presas em flagrante em um dos becos onde a maconha seria entregue.
Investigação do MP revela “guerra” para dominar áreas
O alvo da operação foi o território que supostamente seria controlado por Carlos Alberto Silveira Drey, o Beto Drey, 28 anos, filho de criação de Paulão. Preso pela última vez em maio deste ano, ele é, atualmente, colega de presídio do pai, em Charqueadas.
Uma investigação do Ministério Público revelou neste ano uma verdadeira guerra entre Beto Drey e uma das irmãs para dominar as áreas sob influência do pai. Paulão seria o principal fornecedor de maconha na Vila Maria Conceição, Restinga, Lomba do Pinheiro e em algumas regiões de Viamão.
Na partilha sangrenta entre os irmãos, Beto Drey teria conseguido o domínio sobre as bocas da Paulino Azurenha, as mais lucrativas da quadrilha.
Brigada garante vigilância reforçada
De acordo com o major Alexandre da Rosa, que comandou a ação pelo 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), as patrulhas na região serão reforçadas.
– Vamos seguir com as abordagens diárias e prisões – garante e avisa que o alvo não está apenas nos possíveis traficantes locais.
Lembrando que as bocas de fumo da Rua Paulino Azurenha têm a facilidade do acesso asfaltado, ele afirma que o cerco também apertará contra os usuários.
– Carros, táxis ou motos parados, em situação suspeita nessa área, sem dúvida, serão abordados. Quando apertamos o usuário, estamos evitando o crescimento do traficante – avalia o major.
Desde o começo do ano, o batalhão responsável pela zona leste de Porto Alegre já teria detido 2,6 mil pessoas.
Conforme o oficial, em 90% dos casos eram envolvidos com o tráfico de drogas.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
A NOCIVA REPERCUSSÃO DA AMBIGUIDADE
JULIO CRUZ, VOLUNTÁRIO DA PASTORAL DE AUXÍLIO COMUNITÁRIO AO TOXICÔMANO DE PORTO ALEGRE (PACTO) - ZERO HORA 12/10/2011
É sabido que a dependência de droga é o desejo compulsivo de obtê-la – a qualquer custo – por se tratar de uma necessidade biológica e psicológica. Quando o usuário alcança o “fundo do poço”, passam a restar-lhe poucas alternativas, dentre elas algumas mais extremas, do tipo cadeia ou cemitério. Todavia, lhe serão permitidas outras possibilidades, capazes de consentir o resgate de sua autoestima: a internação em clínicas especializadas, em hospitais ou em comunidades terapêuticas.
Nos dias atuais, o papel exercido pelos Serviços de Atenção à População com Transtornos Decorrentes do Uso ou Abuso de Substâncias Psicoativas no tratamento do dependente químico, também conhecidos como comunidades terapêuticas (CTs), tem sido de extrema valia. Lá são desenvolvidos programas temporais de recuperação que variam entre seis, nove ou 12 meses, mediante um tripé terapêutico que envolve espiritualidade, trabalho e disciplina, e onde o residente passa a ser o principal responsável por seu tratamento, auxiliado por companheiros do grupo, por voluntários e por profissionais da área da saúde. Ao cabo do período estipulado pela CT, a partir da correta aplicação dos princípios de recuperação, de resgate da cidadania, de reabilitação física e psicológica e de reinserção social, poder-se-á observar um novo homem apresentando resultados de caráter prático.
Faz-se importante ressaltar que no seu processo de admissão e durante o tratamento, não lhe serão impostas condições de crenças religiosas ou ideológicas, grifando-se que sua permanência deverá ser espontânea. Também lhe será oferecida a garantia de alimentação nutritiva, cuidados de higiene e alojamentos adequados, bem como a segurança do acompanhamento das recomendações médicas sob critérios previamente estabelecidos pelo responsável da área da saúde, premissas de antemão identificadas pela Anvisa.
Segundo o professor George de Leon, doutor em Psicologia, as comunidades terapêuticas têm dado provas de constituir uma eficiente abordagem de tratamento do abuso de substâncias e de problemas da vida vinculadas ao abuso, afirmação que, por via de consequência, poderá permitir ao usuá-rio sua integração em projetos comunitários que possam lhe proporcionar um novo sentido de vida, o resgate de sua cidadania e a efetivação de sua reinserção social.
Lamentavelmente, a proliferação de “comunidades terapêuticas” vem trazendo sérios prejuízos àquelas devidamente cadastradas junto à Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fato determinante para que o Ministério Público e os poderes Legislativo e Executivo deflagrem, em regime de urgência, campanhas voltadas ao combate a este malévolo benefício, não permitindo dúvidas sobre um incomensurável bem social tão intensamente alcançado pelo Terceiro Setor.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Importante o alerta que conclui este artigo: "Lamentavelmente, a proliferação de “comunidades terapêuticas” vem trazendo sérios prejuízos àquelas devidamente cadastradas junto à Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fato determinante para que o Ministério Público e os poderes Legislativo e Executivo deflagrem, em regime de urgência, campanhas voltadas ao combate a este malévolo benefício, não permitindo dúvidas sobre um incomensurável bem social tão intensamente alcançado pelo Terceiro Setor."
Está na hora do Governo investir na saúde contra as drogas criando Centros de Tratamento de Dependências em cidades centros de microrregiões e organizando um sistema complementar envolvendo as comunidades terapêuticas legalizadas, controladas e fiscalizadas periodicamente pela saúde pública. Só assim, a sociedade poderá tirar as vítimas das drogas das mãos do tráfico e as famílias do sofrimento e da atual impotência para salvar seus entes queridos.
É sabido que a dependência de droga é o desejo compulsivo de obtê-la – a qualquer custo – por se tratar de uma necessidade biológica e psicológica. Quando o usuário alcança o “fundo do poço”, passam a restar-lhe poucas alternativas, dentre elas algumas mais extremas, do tipo cadeia ou cemitério. Todavia, lhe serão permitidas outras possibilidades, capazes de consentir o resgate de sua autoestima: a internação em clínicas especializadas, em hospitais ou em comunidades terapêuticas.
Nos dias atuais, o papel exercido pelos Serviços de Atenção à População com Transtornos Decorrentes do Uso ou Abuso de Substâncias Psicoativas no tratamento do dependente químico, também conhecidos como comunidades terapêuticas (CTs), tem sido de extrema valia. Lá são desenvolvidos programas temporais de recuperação que variam entre seis, nove ou 12 meses, mediante um tripé terapêutico que envolve espiritualidade, trabalho e disciplina, e onde o residente passa a ser o principal responsável por seu tratamento, auxiliado por companheiros do grupo, por voluntários e por profissionais da área da saúde. Ao cabo do período estipulado pela CT, a partir da correta aplicação dos princípios de recuperação, de resgate da cidadania, de reabilitação física e psicológica e de reinserção social, poder-se-á observar um novo homem apresentando resultados de caráter prático.
Faz-se importante ressaltar que no seu processo de admissão e durante o tratamento, não lhe serão impostas condições de crenças religiosas ou ideológicas, grifando-se que sua permanência deverá ser espontânea. Também lhe será oferecida a garantia de alimentação nutritiva, cuidados de higiene e alojamentos adequados, bem como a segurança do acompanhamento das recomendações médicas sob critérios previamente estabelecidos pelo responsável da área da saúde, premissas de antemão identificadas pela Anvisa.
Segundo o professor George de Leon, doutor em Psicologia, as comunidades terapêuticas têm dado provas de constituir uma eficiente abordagem de tratamento do abuso de substâncias e de problemas da vida vinculadas ao abuso, afirmação que, por via de consequência, poderá permitir ao usuá-rio sua integração em projetos comunitários que possam lhe proporcionar um novo sentido de vida, o resgate de sua cidadania e a efetivação de sua reinserção social.
Lamentavelmente, a proliferação de “comunidades terapêuticas” vem trazendo sérios prejuízos àquelas devidamente cadastradas junto à Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fato determinante para que o Ministério Público e os poderes Legislativo e Executivo deflagrem, em regime de urgência, campanhas voltadas ao combate a este malévolo benefício, não permitindo dúvidas sobre um incomensurável bem social tão intensamente alcançado pelo Terceiro Setor.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Importante o alerta que conclui este artigo: "Lamentavelmente, a proliferação de “comunidades terapêuticas” vem trazendo sérios prejuízos àquelas devidamente cadastradas junto à Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fato determinante para que o Ministério Público e os poderes Legislativo e Executivo deflagrem, em regime de urgência, campanhas voltadas ao combate a este malévolo benefício, não permitindo dúvidas sobre um incomensurável bem social tão intensamente alcançado pelo Terceiro Setor."
Está na hora do Governo investir na saúde contra as drogas criando Centros de Tratamento de Dependências em cidades centros de microrregiões e organizando um sistema complementar envolvendo as comunidades terapêuticas legalizadas, controladas e fiscalizadas periodicamente pela saúde pública. Só assim, a sociedade poderá tirar as vítimas das drogas das mãos do tráfico e as famílias do sofrimento e da atual impotência para salvar seus entes queridos.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
MENORES X CRIMES - ASSASSINATOS E USO DE DROGAS DISPARAM
Mais jovens envolvidos em assassinatos, consumo e comércio de drogas. O que as repetidas notícias vêm mostrando nos últimos anos foi confirmado com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP).GABRIELLE BITTELBRUN, DIÁRIO CATARINENSE, 11/10/2011
Levantamento feito pelo governo do Estado mostra que a participação dos adolescentes em homicídios saltou de um em cada 10 casos, em 2009, para um em cada seis, neste ano. Número de apreensões por tráfico de drogas também subiu 190% no mesmo período.
Os homicídios cometidos por garotos de 12 a 17 anos aumentaram 61% em dois anos – entre os assassinatos esclarecidos pela polícia. Só em 2011, 58 adolescentes se envolveram em assassinatos.
Desses, pelo menos dois casos ganharam grande repercussão: o assassinato do turista argentino Raúl Baldo, no Norte da Ilha, em janeiro, e a morte do rapaz que saía de uma boate e foi espancado e esfaqueado por outros quatro rapazes – três deles menores de idade. O crime aconteceu em Jaraguá do Sul, Norte do Estado, em abril deste ano.
Só do ano passado para este ano, os assassinatos cometidos pelos adolescentes cresceram 20%, enquanto a quantidade total de homicídios reduziu 3%.
A quantidade de meninos envolvidos no tráfico de drogas ou no porte de armas também aumentou quase 171% desde 2009. De dois anos para cá, 4,9 mil meninos e meninas foram apreendidos portando ou traficando entorpecentes.
Também há preocupação com a participação de meninas no crime. Entre elas, o número das que foram encontradas com armas ou que praticaram tráfico de drogas subiu 145%.
São dados que não combinam com uma boa perspectiva de futuro para meninos e meninas, como prevê, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Sem cursos nem oficinas para jovens
Os especialistas na área são unânimes ao apontar as causas desse crescimento da criminalidade entre os menores.
– Não há políticas públicas, oferecendo-se oficinas e cursos profissionalizantes para esses jovens terem mais oportunidade – destaca a presidente da criança e do adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ana Maria Blanco.
O professor de processo penal da Univali, Juliano do Vale, concorda e lembra que, a curto prazo, o aumento da criminalidade pode ter ocorrido também pela falta de locais adequados para os menores infratores, desde a demolição do São Lucas, em São José, no início deste ano.
Como destaca o professor, não há um acompanhamento para jovens responderem pelos atos na Grande Florianópolis, e falta, principalmente, um centro em que o menor infrator possa ser educado e reinserido na sociedade. Ele enumera os motivos que levam os jovens às práticas contra a lei.
– Os crimes geralmente são contra o patrimônio, como roubo e furto, tráfico de entorpecentes, em que trabalham para os traficantes; e homicídio, geralmente a dependência que os leva a matar outra pessoa – afirma.
Para Vale, a incidência de roubos e furtos costuma ser maior entre as classes baixas, pela falta de condições financeiras. O tráfico, nessas camadas da sociedade, ocorre pela própria necessidade de alienação, para fugir até das sensações de fome e frio. Os menores mais ricos se envolvem no uso e até no tráfico de drogas sintéticas, como ecstasy, até pelo status que eles acreditam que terão frente aos demais.
Falta chance para desenvolver valores
O padre Vilson Groh, do instituto de mesmo nome que desenvolve trabalhos comunitários, ressalta a ausência de políticas públicas focadas nas diferentes realidades dos jovens. Para ele, se houvesse projetos que trouxessem conhecimento aliado aos interesses dos jovens, eles poderiam perceber mais possibilidades de vida e ter outros valores.
– As consequências de não se olhar para esses jovens estão só se agravando – afirma o padre.
A análise, de janeiro a outubro, é com base nos boletins de ocorrência (BOs).
Mais foco na prevenção
Os números que indicam o aumento do envolvimento de crianças e adolescentes em homicídios e no tráfico de drogas não dão toda a dimensão do problema, indica a pesquisadora em educação e coordenadora do Núcleo Vida e Cuidado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Patrícia Moraes de Lima.
– Os dados não evidenciam a falta de programas socioeducativos e de projetos voltados aos jovens nas comunidades. Não mostram a falta de visibilidade desses jovens – destaca.
Para o padre Vilson Groh, conhecido pelos trabalhos sociais na Grande Florianópólis, os índices ressaltam um pedido de ajuda dos menores.
– Por trás do ato de violência existe um grito de socorro. Não se tem um sistema de garantia de direitos.
Para ele, caso se ofereçam, os serviços básicos – de educação à alimentação – e projetos para se conscientizar e formar, é possível reverter o crescimento da criminalidade.
– Temos experiências de jovens que tiveram oportunidade de educação, lazer, cultura e saíram desse meio – alega ele, que está à frente do Instituto Padre Vilson Groh.
O coordenador do curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Alceu de Oliveira Júnior, explica que, para reduzir a criminalidade, é preciso investir em prevenção, com programas que incentivem a ida à escola e o acompanhamento familiar.
Participação das meninas é menor - INGRID DOS SANTOS
A ideia de que as mulheres são menos violentas do que os homens se confirma no levantamento divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP). Foi registrado apenas um caso de homicídio praticado por garotas de 2009 a 2011, enquanto, entre os garotos, foram 142 no mesmo período. A explicação para essa disparidade é a própria questão de gênero, de acordo com a psicóloga da Delegacia de Proteção à Mulher, ao Menor e ao Adolescente da Capital, Maíra Marchi Gomes:
– Na formação da identidade masculina há componentes associados à virilidade, uso de força e agressividade, que não estão presentes nas mulheres, por isso a quantidade de garotas que praticam ato infracional, principalmente violento, é muito menor.
Para o coordenador do curso de Direito da Univali, professor Alceu de Oliveira Júnior, esse quadro se reflete também na vida adulta. Ele acredita que o machismo contribui para a maior participação dos homens no crime:
– A submissão das mulheres ainda predomina em classes menos favorecidas, por isso o homem é quem toma as decisões. A atuação da mulher fica relegada ao segundo plano. A maior parte das mulheres presas é mais esclarecida, tem maior índice de alfabetização do que os detentos homens – afirma.
No entanto, a influência masculina leva, frequentemente, as garotas a se envolverem com outro tipo de crime, o tráfico de drogas. Nos últimos dois anos, a participação feminina cresceu 218% no tráfico, segundo o relatório da SSP. Para o juiz Alexandre Karazawa Takashima, coordenador de Execução Penal e da Infância e Juventude, os homens têm papel importante na atuação das mulheres no tráfico.
– A maioria tem influência do companheiro. A mulher, com frequência, se associa ao homem no tráfico ou toma a frente do negócio quando ele é preso – explica.
A crescente participação dos adolescentes no tráfico de drogas – entre os garotos houve aumento de 185% – é decorrente do aumento do consumo e venda de entorpecentes, o que aquece o mercado e o torna mais atrativo para os jovens, de acordo com Takashima.
Entre as drogas, o crack foi o que mais se destacou no envolvimento feminino, subindo de 56 casos, em 2009, para 112 em 2011. Takashima explica que a maioria das apreensões ocorre por conta do crack, droga barata e que causa grande dependência.
Contraponto
O que diz o governo do Estado - A diretora de Administração Socioeducativa da Secretaria de Cidadania e Justiça, Bernadete Sant’anna, afirmou, em nota, que o aumento de homicídios praticados por adolescentes “não está separado do aumento da violência em termos gerais na sociedade”. De acordo com ela, 497 adolescentes passaram por medidas socioeducativas, a maioria, 25%, por roubo. O secretário de Estado de Segurança Pública, César Grubba, admitiu, também por nota, a ligação entre a liberação do menor infrator e a reincidência no crime e destaca que é prioritária “uma forma emergencial e imediatamente aplicável de medida socioeducativa privativa de liberdade para a Grande Florianópolis”. O secretário informou que solicitou uma reunião de emergência para os órgãos responsáveis tratarem o assunto.
Deu no DC - Falta de locais para apreender e reeducar menores na Grande Florianópolis, sofrimento de vítimas e familiares foram destaque na reportagem especial publicada em 26/09/2011.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Isto tem culpados: nossos congressistas. Ao abrandarem as leis anti-drogas, eles entregaram os jovens consumidores nas mãos do tráfico e inutilizaram os esforços das polícias e da sociedade no combate às drogas. Está na hora de cobrar tamanha insanidade dos nossos parlamentares.
PARA EVITAR EXECUÇÃO FOGE E DEPREDA DELEGACIA
FUGA DE TRAFICANTES. Jovem depreda DP para ser preso e evitar morte - LETÍCIA BARBIERI, ZERO HORA 11/10/2011
Agentes da 21ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre ainda calculam o prejuízo deixado por um jovem descontrolado, em fuga de traficantes.
Depois de desentendimento na boca de fumo, ele correu para a DP do bairro Lomba do Pinheiro. Só que, em vez de tocar a campainha, o rapaz resolveu entrar a chutes.
Primeiro, chutou a porta de ferro até quebrar. Na sequência, arremessou pedras que quebraram os vidros, inclusive do interior da delegacia. Eram 19h30min de sábado.
O plantonista pediu reforço por rádio. Em seguida, sacou a arma. Com apoio da BM e de um vizinho que ouviu os estrondos, o jovem acabou preso e encaminhado ao Presídio Central por dano ao patrimônio público. O titular da 21º DP, delegado Paulo de Tarso Castro Araújo, instaurou um inquérito policial.
O rapaz disse que queria ser preso porque estava com medo de morrer. No pátio da delegacia restaram os cacos de vidro, pedaços da vidraça inteira com símbolos da polícia, protegida pela película. A porta de ferro teve de ser soldada.
Agentes da 21ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre ainda calculam o prejuízo deixado por um jovem descontrolado, em fuga de traficantes.
Depois de desentendimento na boca de fumo, ele correu para a DP do bairro Lomba do Pinheiro. Só que, em vez de tocar a campainha, o rapaz resolveu entrar a chutes.
Primeiro, chutou a porta de ferro até quebrar. Na sequência, arremessou pedras que quebraram os vidros, inclusive do interior da delegacia. Eram 19h30min de sábado.
O plantonista pediu reforço por rádio. Em seguida, sacou a arma. Com apoio da BM e de um vizinho que ouviu os estrondos, o jovem acabou preso e encaminhado ao Presídio Central por dano ao patrimônio público. O titular da 21º DP, delegado Paulo de Tarso Castro Araújo, instaurou um inquérito policial.
O rapaz disse que queria ser preso porque estava com medo de morrer. No pátio da delegacia restaram os cacos de vidro, pedaços da vidraça inteira com símbolos da polícia, protegida pela película. A porta de ferro teve de ser soldada.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O AVANÇO DAS DROGAS
Carlos Alberto di Franco, doutor em Comunicação, é professor de Ética e diretor do Master em Jornalista. E-mail: difranco@iics.org.br - O Estado de S.Paulo, 03/10/2011
A população de internos da Fundação Casa de São Paulo (ex-Febem) diretamente ligada ao tráfico de entorpecentes cresceu quase 100% em comparação com 2006. O censo realizado na fundação, naquele ano, já indicava que 28% dos infratores estavam ligados ao tráfico. Neste ano, encostou na barreira dos 40%. Os indicadores são impressionantes. Conversei com a presidente da instituição, Berenice Giannella. "Há jovens que vêm de uma família estruturada", observa Giannella. "O pai e a mãe trabalham e os filhos, muitas vezes, se envolvem com o tráfico ou com o roubo porque querem ter acesso a determinados bens, como a moto e o tênis de marca."
Para Giannella, a maior presença de garotos de classe média no tráfico de drogas pode estar ligada à significativa expansão do crime. "Costumo dizer que a droga 'socializa' o crime. Hoje você tem pessoas da classe média envolvidas com o tráfico - e não apenas com o uso de drogas." O envolvimento com o narcotráfico já não é uma exclusividade das periferias e dos bolsões da exclusão social. Ele bate às portas das casas dos bairros de classe média, mostra a sua garra aos que se julgavam imunes ao seu apelo e ensombrece a alma de famílias que sucumbem ao drama da delinquência insuspeitada.
Segundo o saudoso Leo de Oliveira, fundador da Comunidade Terapêutica Horto de Deus (www.hortodedeus.org.br), em Taquaritinga, no interior do Estado de São Paulo, "crise da família, aposta na impunidade, ganho fácil e consumo garantido explicam o novo mapa do tráfico de drogas".
O tráfico oferece a perspectiva do ganho fácil e do consumo assegurado. E a sensação de impunidade - rico não vai para a cadeia - completa o silogismo da juventude delinquente.
O quadro é assustador. E a omissão do Estado torna o assunto ainda mais dramático.
Após um concerto na Sala São Paulo, fiz uma curva errada e fui parar na Cracolândia. O espetáculo de miséria humana que testemunhei deixa os personagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo, no chinelo. A degradação é impressionante. Jovens e crianças consomem drogas, sobretudo crack, sob o olhar da autoridade policial. A Cracolândia, cujo fim foi anunciado inúmeras vezes pela Prefeitura paulistana, especialmente em época eleitoral, é uma vergonha e um atestado de incompetência das autoridades da maior cidade do País. Mas o câncer do crack se espalha por todos os municípios brasileiros.
Alguns, decepcionados com a ineficiência dos governos e apoiados numa certa ingenuidade, defendem a liberação das drogas consideradas leves, como a maconha, o ecstasy ou as anfetaminas. Caso adotássemos os princípios advogados pelos defensores da liberação, o Brasil estaria entrando, com o costumeiro atraso, na canoa furada da experiência europeia. A Holanda, que foi pioneira ao autorizar a abertura de cafés onde era permitido consumir maconha e haxixe, já está retificando essa política. O mesmo ocorre na Suíça, que também está voltando atrás na política de liberar espaços em que viciados se encontram para injetar heroína fornecida pelo próprio governo. Um amigo jornalista, irônico e inteligente, deixou cair a pergunta que paira na cabeça de muita gente: será que Fernandinho Beira-Mar forneceria ao governo a maconha que seria repassada aos usuários?
Todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. É raro encontrar um consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante, mas que, muito cedo, se transforma em dependente crônico. Afinal, a compulsão é a principal característica do adicto. Um cigarro da "inofensiva" maconha preconizada pelos arautos da liberação pode ser o passaporte para uma overdose de cocaína. Transcrevo, caro leitor, o depoimento de um dependente químico. Ele fala com a experiência de quem esteve no fundo do poço.
"Sou filho único. Talvez porque meus pais não pudessem ter outros filhos me cercavam de mimos e realizavam todas as minhas vontades. Aos 12 anos comecei a fumar maconha, aos 17 comecei a cheirar cocaína. E perdi o controle. Fiz um tratamento psiquiátrico, fiquei nove meses tomando medicamentos e voltei a fumar maconha. Nessa época já cursava medicina e convenci os meus pais de que a maconha fazia menos mal que o cigarro comum. Meus argumentos estavam alicerçados em literatura e publicações científicas. Eles mal sabiam que estavam sendo enganados, pois, além de cheirar, também passei a injetar cocaína e dolantina, que é um opiáceo. Sofri uma overdose e somente não morri porque estava dentro de um hospital, que é o meu local de trabalho. Após essa fatalidade decidi me internar numa comunidade terapêutica e hoje, graças a Deus, estou sóbrio. O uso moderado de maconha sempre acabava nas drogas injetáveis. Somente a sobriedade total, inclusive do álcool, me devolveu a qualidade de vida que não pretendo trocar nem por uma simples cerveja ou uma dose de uísque" - A. S. N, médico, Ribeirão Preto (SP).
De acordo com o respeitado especialista Ronaldo Laranjeira, professor de Psiquiatria e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal Paulista (Unifesp), "assistimos a uma grande negligência com o tratamento da dependência química (...). Não temos apoio governamental às mais de 2 mil comunidades terapêuticas que sobrevivem do voluntariado ou de parcos recursos de doações. Não temos apoio aos grupos de autoajuda. Não damos apoio aos milhares de famílias que sofrem no seu dia a dia, buscando algum tipo de tratamento para seus parentes".
As drogas estão matando. A dependência química não admite ingenuidade. Reclama, sim, realismo e seriedade.
A população de internos da Fundação Casa de São Paulo (ex-Febem) diretamente ligada ao tráfico de entorpecentes cresceu quase 100% em comparação com 2006. O censo realizado na fundação, naquele ano, já indicava que 28% dos infratores estavam ligados ao tráfico. Neste ano, encostou na barreira dos 40%. Os indicadores são impressionantes. Conversei com a presidente da instituição, Berenice Giannella. "Há jovens que vêm de uma família estruturada", observa Giannella. "O pai e a mãe trabalham e os filhos, muitas vezes, se envolvem com o tráfico ou com o roubo porque querem ter acesso a determinados bens, como a moto e o tênis de marca."
Para Giannella, a maior presença de garotos de classe média no tráfico de drogas pode estar ligada à significativa expansão do crime. "Costumo dizer que a droga 'socializa' o crime. Hoje você tem pessoas da classe média envolvidas com o tráfico - e não apenas com o uso de drogas." O envolvimento com o narcotráfico já não é uma exclusividade das periferias e dos bolsões da exclusão social. Ele bate às portas das casas dos bairros de classe média, mostra a sua garra aos que se julgavam imunes ao seu apelo e ensombrece a alma de famílias que sucumbem ao drama da delinquência insuspeitada.
Segundo o saudoso Leo de Oliveira, fundador da Comunidade Terapêutica Horto de Deus (www.hortodedeus.org.br), em Taquaritinga, no interior do Estado de São Paulo, "crise da família, aposta na impunidade, ganho fácil e consumo garantido explicam o novo mapa do tráfico de drogas".
O tráfico oferece a perspectiva do ganho fácil e do consumo assegurado. E a sensação de impunidade - rico não vai para a cadeia - completa o silogismo da juventude delinquente.
O quadro é assustador. E a omissão do Estado torna o assunto ainda mais dramático.
Após um concerto na Sala São Paulo, fiz uma curva errada e fui parar na Cracolândia. O espetáculo de miséria humana que testemunhei deixa os personagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo, no chinelo. A degradação é impressionante. Jovens e crianças consomem drogas, sobretudo crack, sob o olhar da autoridade policial. A Cracolândia, cujo fim foi anunciado inúmeras vezes pela Prefeitura paulistana, especialmente em época eleitoral, é uma vergonha e um atestado de incompetência das autoridades da maior cidade do País. Mas o câncer do crack se espalha por todos os municípios brasileiros.
Alguns, decepcionados com a ineficiência dos governos e apoiados numa certa ingenuidade, defendem a liberação das drogas consideradas leves, como a maconha, o ecstasy ou as anfetaminas. Caso adotássemos os princípios advogados pelos defensores da liberação, o Brasil estaria entrando, com o costumeiro atraso, na canoa furada da experiência europeia. A Holanda, que foi pioneira ao autorizar a abertura de cafés onde era permitido consumir maconha e haxixe, já está retificando essa política. O mesmo ocorre na Suíça, que também está voltando atrás na política de liberar espaços em que viciados se encontram para injetar heroína fornecida pelo próprio governo. Um amigo jornalista, irônico e inteligente, deixou cair a pergunta que paira na cabeça de muita gente: será que Fernandinho Beira-Mar forneceria ao governo a maconha que seria repassada aos usuários?
Todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. É raro encontrar um consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante, mas que, muito cedo, se transforma em dependente crônico. Afinal, a compulsão é a principal característica do adicto. Um cigarro da "inofensiva" maconha preconizada pelos arautos da liberação pode ser o passaporte para uma overdose de cocaína. Transcrevo, caro leitor, o depoimento de um dependente químico. Ele fala com a experiência de quem esteve no fundo do poço.
"Sou filho único. Talvez porque meus pais não pudessem ter outros filhos me cercavam de mimos e realizavam todas as minhas vontades. Aos 12 anos comecei a fumar maconha, aos 17 comecei a cheirar cocaína. E perdi o controle. Fiz um tratamento psiquiátrico, fiquei nove meses tomando medicamentos e voltei a fumar maconha. Nessa época já cursava medicina e convenci os meus pais de que a maconha fazia menos mal que o cigarro comum. Meus argumentos estavam alicerçados em literatura e publicações científicas. Eles mal sabiam que estavam sendo enganados, pois, além de cheirar, também passei a injetar cocaína e dolantina, que é um opiáceo. Sofri uma overdose e somente não morri porque estava dentro de um hospital, que é o meu local de trabalho. Após essa fatalidade decidi me internar numa comunidade terapêutica e hoje, graças a Deus, estou sóbrio. O uso moderado de maconha sempre acabava nas drogas injetáveis. Somente a sobriedade total, inclusive do álcool, me devolveu a qualidade de vida que não pretendo trocar nem por uma simples cerveja ou uma dose de uísque" - A. S. N, médico, Ribeirão Preto (SP).
De acordo com o respeitado especialista Ronaldo Laranjeira, professor de Psiquiatria e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal Paulista (Unifesp), "assistimos a uma grande negligência com o tratamento da dependência química (...). Não temos apoio governamental às mais de 2 mil comunidades terapêuticas que sobrevivem do voluntariado ou de parcos recursos de doações. Não temos apoio aos grupos de autoajuda. Não damos apoio aos milhares de famílias que sofrem no seu dia a dia, buscando algum tipo de tratamento para seus parentes".
As drogas estão matando. A dependência química não admite ingenuidade. Reclama, sim, realismo e seriedade.
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