COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

CRESCEM APREENSÕES DE DROGAS NO RS


ZERO HORA 27 de julho de 2012 | N° 17143

CERCO AO TRÁFICO. Autoridades comemoram números obtidos no primeiro semestre, quando mais crack e cocaína foram tomados dos traficantes

CARLOS WAGNER 


Na luta contra os traficantes de drogas, os policiais levaram a melhor nos seis primeiros meses deste ano. No período, as apreensões de crack foram 65% superiores, e as de cocaína, 55% maiores, na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Até dezembro, investigações em andamento devem aumentar ainda mais o volume de apreensões de entorpecentes, apostam os agentes do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc).

Até o final de junho, a quantidade de cocaína apreendida já era superior à de todo o ano de 2011. Os bons resultados são creditados a dois fatores: manter acossados os distribuidores de drogas com a realização de operações policiais. E descobrir e prender os atacadistas do tóxico, aqueles que buscam a cocaína nos países vizinhos, principalmente o Paraguai, e a fornecem aos distribuidores, conforme o delegado Heliomar Athaydes Franco, diretor de investigação do Denarc.

O delegado diz que o êxito da polícia no primeiro semestre também se deve ao aperfeiçoamento de técnicas de investigação, realizadas graças à parceria com a Justiça. Há orientação em alguns procedimentos, como na infiltração de agentes nas quadrilhas, estratégia que produz um volume de informações considerável.

– Como não são claras as regras jurídicas que regulamentam a técnica de se infiltrar, as informações coletadas pelo infiltrado podem ser contestadas pela defesa do traficante. Daí a importância de se ter o acompanhamento da Justiça, nesta questão, para que as provas produzidas sejam robustas o suficiente para colocar o bandido na cadeia – comenta o delegado.

Tecnologias desvendam movimento dos bandidos

Além da infiltração, Heliomar diz que o uso de novas tecnologias – as quais ele não revela – nas escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, tem contribuído para um acompanhamento dos deslocamentos dos integrantes das quadrilhas. Esses deslocamentos ajudam a construir um mapa dos endereços visitados pelos bandidos.

O resultado é que os agentes conseguem localizar o depósito de drogas da quadrilha, como foi o caso do sítio na zona rural de Candelária, no Vale do Rio Pardo, onde o traficante Osni Valdemir de Melo, conhecido como Sapo, tinha um laboratório de crack, descoberto no mês passado (leia ao lado).

O sucesso da polícia sobre os traficantes é temporário. Como policial experiente, o delegado diz que tem conhecimento disso. Os traficantes já devem ter inventado outra maneira de driblar os investigadores.

Um golpe certeiro

As estatísticas de apreensão de drogas foram encorpadas pelo desmonte de um laboratório de refino de cocaína e crack em Candelária. Foi o golpe dado pelos policiais no chamado Barão das Drogas do Vale do Rio Pardo, o foragido Osni Valdemir de Melo, 50 anos. Conhecido como Sapo, ele está na lista dos mais procurados da Interpol, a polícia internacional.

O ataque dos policiais ao laboratório ocorreu no mês passado. Nas instalações, que funcionavam em um sítio, foram apreendidos 451 quilos de cocaína e crack. Morador discreto da cidade de Candelária ao longo de mais de três décadas, mantinha como fachada um negócio de venda de carros usados. Em sua atividade mais rentável, construiu um império fornecendo drogas para distribuidores e varejistas de cocaína, crack e maconha trazidos do Paraguai, da Bolívia e da Colômbia. Devido às conexões de Sapo com os cartéis de drogas desses países, a polícia gaúcha conseguiu que o nome dele fosse incluído na lista dos foragidos da Interpol.


PROPOSTA DE ALTO RISCO

ZERO HORA 27 de julho de 2012 | N° 17143

EDITORIAL

Às vésperas de ser examinada por comissão especial do Senado, a proposta formulada por um grupo de juristas defendendo a descriminalização do plantio e do porte de drogas para consumo pessoal merecia uma reação contrária à altura, pelo alto risco que implica ampliar ainda mais o número de dependentes. Por isso, vem em boa hora o manifesto contra essa intenção descabida, assinado por líderes políticos, médicos e religiosos. A mudança pretendida no Código Penal, pautada mais por preocupações de quem procura parecer politicamente correto do que em fatos objetivos, ignora o desastre causado pela iniciativa em países como Portugal, onde o consumo e a criminalidade aumentaram depois da liberação. E nem sequer leva em conta o fato de que as consequências tendem a ser menores quando há ênfase na prevenção e rigor contra o tráfico.

Além de ter sido endossada por juristas, a defesa da descriminalização ganhou o apoio de artistas conhecidos do grande público, que questionam se “é justo isso” – ou seja, se a sociedade vai continuar assistindo a usuários sendo encarcerados como traficantes, mesmo quando presos portando pequena quantidade de entorpecente. Obviamente, não é. Mas a alternativa para livrar mais pessoas da droga é a ênfase na prevenção, não na repressão, muito menos na prisão de usuários com profissionais do crime, num ambiente propício a condená-los a viver para sempre no mundo da violência. Por isso, o combate às drogas precisa evitar que mais pessoas se tornem vítimas da dependência e das constantes recaídas, não na repressão e muito menos em alternativas inaceitáveis como a liberação do consumo.

Como bem lembra o manifesto contra a proposta dos juristas, onde já foi adotada, a descriminalização tende a ampliar o consumo. E mais consumo significa maior oferta – portanto, mais traficantes em ação em busca de clientes. É justamente essa a situação que o poder público e a sociedade de maneira geral precisam evitar. O consumo de narcóticos, como demonstram hoje os exércitos de dependentes de crack espalhados pelo país, tende a escravizar os usuários, a destruir-lhes a saúde, a atormentar familiares e amigos, a extinguir valores e a ampliar as estatísticas de danos a seres humanos. Na imensa maioria dos casos, a droga está presente tanto em ações criminosas quanto em acidentes de trânsito. E é responsável direta por uma grande parcela de mortos e feridos nessas circunstâncias.

O poder público precisa ser cobrado a agir com mais rigor contra o tráfico e a pôr mais ações em prática para evitar que tantas pessoas continuem se subjugando à droga. Tem também o dever de auxiliar de forma efetiva quem já se tornou dependente. Alternativas como a proposta pelos juristas só contribuem para potencializar ainda mais os efeitos dizimadores dessa ameaça crescente para a sociedade.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Enquanto o Brasil for governado por políticos e magistrados benevolentes e tolerantes com as drogas e com o crime, inclusive os de menor potencial ofensivo, a paz social no País continuará sendo apenas um sonho.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

BM CONTRA DROGAS PERTO DE ESCOLAS

ZERO HORA 26 de julho de 2012 | N° 17142

PLANOS DA SEGURANÇA. Brigada Militar atacará tráfico perto de escolas. Combate ao crime receberá atenção especial do novo comandante de policiamento da Capital

CARLOS WAGNER 


O novo comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Alfeu Freitas Moreira, 47 anos, reuniu-se com os seus comandados, ontem, no 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM). Em poucas palavras, definiu a linha de atuação da sua gestão. O combate aos homicídios, ao tráfico de drogas, ao roubo em postos de combustíveis e àqueles pequenos delitos que incomodam a população, como a atuação dos flanelinhas, está entre os objetivos.

Um crime em especial vai merecer atenção do coronel Freitas: os traficantes que agem ao redor das escolas. Segundo o novo comandante, muito mais do que reforçar o policiamento ostensivo é necessário entrar na escola para contar aos alunos que os heróis são os policiais militares e não os bandidos. Alerta que as carências da corporação não podem ser desculpa para não prestar um bom serviço à população.

Freitas, nascido em família de PMs, afirma que é preciso trabalhar com os recursos à disposição de maneira eficiente. Uma das medidas será orientar a ação do policiamento ostensivo com informações conseguidas na análise das ocorrências policiais.

No currículo do coronel, consta o comando do 9º BPM e o Serviço de Inteligência da BM, conhecido como P2. Na unidade, cultivou o trabalho em conjunto com a Polícia Civil e a Polícia Federal (PF), um prática que pretende manter no novo posto.


ENTREVISTA.

 “Somos pagos para desconfiar”. Coronel Alfeu Freitas Moreira comandante do CPC


Zero Hora – Como será sua gestão?

Alfeu Freitas Moreira – Todos os brigadianos envolvidos no patrulhamento, a pé ou motorizado, têm de trabalhar visando a obter resultado. O bandido não muda de profissão. Muda de área de atuação sempre que é acossado pela polícia. O comandante da unidade precisa acompanhar essa movimentação pelas ocorrências e direcionar o policial militar para o foco do problema.

ZH – No passado, os PMs andavam em duplas. Eram conhecidos como Pedro & Paulo. O senhor vai ressuscitá-los?

Freitas – Eles não precisam andar em duplas, como antigamente. Há locais na cidade em que a presença do policial a pé é fundamental, como nas grandes avenidas onde há comércio e aglomeração de pessoas. Mas o brigadiano não pode estar ali por estar. Mas estar atento ao que acontece ao seu redor e agir nas situações que considera suspeitas. Sempre digo uma coisa: nós somos pagos para desconfiar. E sempre que desconfiamos, nós devemos fazer abordagem, dentro da técnica. Não podemos esperar que algo de ruim aconteça para agir.

ZH – Qual é o maior problema de segurança na cidade?

Freitas – É o homicídio. Há pessoas equivocadas que falam que é bandido matando bandido. Para nós não interessa. Trata-se de um crime violento que espalha ao seu redor uma sensação de insegurança muito grande.Grande parte das mortes é de dívida de drogas. Somos policiais ostensivos e devemos agir preventivamente, desarmando os bandidos e estando presente nos locais conflituados.

ZH – Esta ação contra os traficantes vai ser em parceria com a Polícia Civil?

Freitas – A parceria com a Civil é fundamental. Todos os subsídios que nós recolhemos nesses locais conflituados são passados para eles.

ZH – Entre os grandes problemas da cidade estão os roubos de veículos, a postos de combustíveis e pequenos mercados. Como vocês vão agir?

Freitas – Esses crimes estão sendo monitorados. Todos os dias, a ação dos nossos policiais deverá estar focada naquele crime que está em alta. Agora, por exemplo, temos o roubo a posto de combustível (os ataques cresceram 76% nos cinco primeiros meses de 2012 no Estado). Já temos uma estratégia em prática para resolver o problema. Resolvido o problema, os bandidos vão migrar para outro tipo de ação. Eles vão nos encontrar lá.

ZH – São de conhecimento público as carências da corporação. Elas podem comprometer o seu plano?

Freitas – Ouço isso há anos. Temos que nos organizar com os recursos que temos à disposição e usá-los de maneira eficiente a serviço da população. A eficiência tem como coluna mestre o comandante da unidade, que deve orientar os seus homens. E não deixá-los sair do quartel sem rumo.

ZH – Como será feita a repressão aos traficantes que ficam nas portas das escolas?

Freitas – É um problema complexo, para o qual a nossa abordagem não será apenas no policiamento ostensivo. Nós precisamos ir à escola contar aos jovens que nós somos os heróis. Não podemos deixar que a cabeça do estudante seja ocupada pela conversa do traficante.

ZH – E os flanelinhas?

Freitas – Os flanelinhas abusados viraram um incômodo. Vamos agir.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

HOMICÍDIOS DE JOVENS: O MAIOR PROBLEMA É O ENVOLVIMENTO COM DROGAS


ENTREVISTA- “O maior problema é o envolvimento com as drogas”

Andrei Vivan - Delegado supervisor da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca)

Em entrevista a ZH, o delegado Andrei Vivan, que desde 2005 convive com a realidade de crianças e adolescentes vítimas e infratoras da Capital – onde em 2010 houve uma taxa de 26,9 homicídios para cada 100 mil jovens –, comenta a importância do ambiente familiar e a influência das drogas para o crescimento apontado no estudo. Confira alguns trechos:

Zero Hora – Nos casos de homicídios de vítimas até 19 anos, conforme descrito no Mapa da Violência, quais são os fatores que impulsionaram o crescimento na última década?

Andrei Vivan – Nos casos que chegam ao nosso conhecimento e pelas nossas apurações, o maior problema é o envolvimento dos jovens com as drogas. Fatores como um ambiente social desfavorável, um ambiente familiar desagregado, o baixo incentivo a permanecer na escola e uma facilidade de acesso a uma vida criminosa, ao álcool e às drogas, têm como resultado o envolvimento de adolescentes em casos que acabam culminando em homicídios. Também existe a questão de que, nas últimas décadas, o adolescente tem tido mais presença na vida social, está mais exposto às situações de risco. Tanto a família quanto a legislação eram mais rígidas antigamente, o que proibia a presença dos jovens em espaços vulneráveis.

ZH – Normalmente o autor do homicídio também está nesta faixa etária?

Vivan – O grupo mais numeroso de envolvidos como autores e vítimas é até os 25 anos de idade. Pelo que nós presenciamos em fatos específicos, o adolescente começa a entrar para o crime por volta dos 14 anos, que é quando ele começa a ter uma vida social, a se distanciar um pouco da família, a procurar amizades fora. Até esta idade, o encaminhamento que a família deu é o que vai definir a vida dele. Se está no meio escolar, tem suas atividades e boas companhias, com certeza seguirá outro caminho.

ZH – De que forma pode-se reduzir o número de homicídios entre jovens no Estado?

Vivan – Em primeiro lugar, é preciso uma forte atuação na área preventiva, onde o Estado atue com a família. É preciso criar um ambiente saudável para o desenvolvimento da criança, com assistência social, na saúde e até mesmo criação de creches para as mães poderem trabalhar, melhorando a situação econômica da família. A polícia tem um papel final neste processo, ela entra apenas na parte da repressão, de mostrar que o fato será punido.

terça-feira, 17 de julho de 2012

TRAFICO INVESTE NA COMUNIDADE

ZERO HORA 17/07/2012

CARROS E PRAÇA REFORMADA COM DINHEIRO DE DROGAS

O Denarc também conseguiu identificar que a quadrilha comandada por Carlos Alberto Silveira Drey adquiriu pelo menos oito veículos, que tiveram a apreensão solicitada à Justiça. Três foram localizados: um Gol, uma Captiva e um Cadenza – este último, avaliado em R$ 120 mil, estava em nome da mulher do traficante.

O que chamou a atenção do delegado do Denarc Rodrigo Zucco, foi um outro veículo que o traficante teria comprado em nome de laranjas. O carro acabou vendido antes de a polícia pedir o sequestro do bem na Justiça. Zucco diz que foi possível comprovar no inquérito que uma mulher, com renda anual inferior a R$ 10 mil, comprou à vista um Audi no valor de R$ 230 mil. Em depoimento, ela confirmou que foi a pedido de integrantes da quadrilha de Drey. O dono da revenda chegou a ser preso. Ele agora responde em liberdade por lavagem de dinheiro.

O dinheiro do tráfico também foi investido em uma piscina no valor de R$ 29 mil para uso dos integrantes da quadrilha do Drey na Vila Maria do Conceição. Também em nome de laranjas, o traficante teria investido R$ 3 mil em melhorias de uma praça pública na região, em frente a uma escola.

– Essa praça é uma afronta dos traficantes. Isso é para ter a população ao seu lado – afirma o delegado do Denarc Mário Souza.

ABALO NAS FINANÇAS DO TRÁFICO


FOCO NO PATRIMÔNIO. Investigação da Polícia Civil iniciada há 10 meses culminou na apreensão e no sequestro de bens avaliados em R$ 1,5 milhão

CID MARTINS E FÁBIO ALMEIDA


Em 10 meses de investigação para combater uma facção criminosa em Porto Alegre, a Polícia Civil decidiu concentrar o foco nas finanças da quadrilha. Ontem, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) divulgou o resultado da ofensiva: a apreensão e o sequestro de bens avaliados em R$ 1,5 milhão, adquiridos com dinheiro do tráfico. São principalmente casas e carros registrados em nome de laranjas.

Desde outubro de 2011, a Polícia Civil e a Brigada Militar prenderam mais de 60 traficantes na Vila Maria da Conceição, na Zona Leste. No entanto, após o término das operações, moradores informavam que as bocas de fumo eram ocupadas no mesmo dia. Para tentar evitar a rearticulação das quadrilhas – e também impedir o comando da organização de dentro das cadeias –, o delegado Heliomar Franco destaca que o Denarc se concentrou no levantamento do patrimônio de um dos principais traficantes da região: Carlos Alberto Silveira Drey.

O criminoso é enteado de Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, preso em 2010 no Rio e apontado como líder do tráfico na região. Drey foi preso em maio de 2011 e desde então está na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), o que não o impede, segundo a polícia, de continuar chefiando o tráfico na vila.

No dia 6 de julho, os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em duas residências em Imbé, no Litoral Norte, ambas em nome de laranjas. Um dos imóveis, avaliado em R$ 400 mil, já teve o sequestro determinado pela Justiça. A polícia também solicitou o bloqueio judicial do outro imóvel. Uma das casas tem piscina e seria usada – além do lazer dos integrantes da quadrilha – para armazenar drogas que seriam distribuídas durante o veraneio. A outra residência tem ampla sala com lareira, salão de jogos e um espaço com banheira de hidromassagem.

– Paralelamente à repressão, conseguimos o sequestro de bens do Drey. Assim, diminuímos o poder bélico dele e também o poder de compra de drogas – afirma o delegado Marcus Viafore, do Grupo de Combate à Lavagem de Dinheiro do Denarc.

Nova lei de combate à lavagem de dinheiro é aliada da polícia

O Denarc informa que estão sendo feitos novos levantamentos de bens adquiridos por Drey em nome de terceiros. O apenado também deverá responder a processo por lavagem de dinheiro, com integrantes da quadrilha e com pelo menos quatro laranjas.

A repressão ao tráfico vai continuar, de acordo com a polícia, mas agora o alvo em todo o Estado será também o patrimônio adquirido pelos criminosos. Para isso, os investigadores contam com a nova lei sancionada no dia 9 pela presidente Dilma Rousseff que endurece o combate à lavagem de dinheiro.

DE OLHO NO BOLSO DO TRAFICANTE


ZERO HORA 17 de julho de 2012 | N° 17133

SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI

De olho no bolso

A novidade é que a tática usada pelos policiais do Denarc para enquadrar os criminosos da Vila Maria da Conceição raramente é aplicada contra traficantes de varejo que controlam pequenas regiões. O combate à lavagem de dinheiro, via de regra, é feito pela Polícia Federal e contra os grandes investidores do narcotráfico.

Mirar no bolso dos criminosos ficou mais fácil, porque acaba de entrar em vigor a nova Lei de Lavagem de Dinheiro, uma adaptação da legislação anterior, de 1998. A nova lei se diferencia da anterior em dois pontos. Antes, lavagem só se configurava crime se o dinheiro envolvido viesse dos seguintes delitos: tráfico de drogas, terrorismo, contrabando de armas, sequestro, crimes praticados por organização criminosa e crimes contra a administração pública e o sistema financeiro. Agora, até jogo do bicho poderá ser punido.

Além disso, a nova lei mantém as penas de três a 10 anos de reclusão ao criminoso, mas o valor das multas aplicadas a condenados foi ampliado. O teto agora será de R$ 20 milhões e não mais de apenas R$ 200 mil.

domingo, 15 de julho de 2012

DOUTOR JEKYLL POR AÍ

CORREIO DO POVO, 15/07/2012

 

Oscar Bessi Filho


Não é preciso ser genial ou iluminado para resolver certas questões. Ou, pelo menos, amenizá-las. Agora, quando algo fica cada vez pior, apavora e ameaça a coletividade - como a questão das drogas e da violência -, aí é preciso ter interesses no mínimo escusos para se manter este problema. O que é o tráfico de drogas ilícitas? Um filão inescrupuloso de verbas e propinas? O que motiva uns e outros a alimentar o monstro?

Quem lê o Correio do Povo, viu as ações realizadas pela Polícia Civil contra o tráfico de drogas no Litoral e em São Sepé. Leu sobre o adolescente pego traficando na Capital. Tem lido, todos os dias, as prisões da Brigada nas ruas do RS. Lá no meu batalhão, em dez dias, estouramos quatro pontos de tráfico. Numa cidade com pouco mais de 20 mil habitantes. Na última delas, eu e meus companheiros entramos numa casa abandonada, à noite, onde dois homens vendiam crack. Na hora, uma menina vendia seu corpo em troca de pedra. Flagrante realizado pela incansável Delegada Cleusa e sua equipe. Dois dias depois, por determinação judicial, com base na lei vigente, o traficante - que já era para estar curtindo sua segunda pena pelo mesmo crime - passou tranquilamente na rua por nós. Livre, leve e solto. Fazendo o quê da vida? Hein? Hein?

A ONG Brasil sem Grades, ícone na luta por um país melhor para seus cidadãos, entrou na luta contra a descriminalização das drogas, proposta pelos doutores de Brasília. Onde isso acontece, o consumo de drogas e violência só acelera. Nossa política contra as drogas tem sido um fiasco, um desperdício de dinheiro público nos últimos anos. A causa? Falta de seriedade. Talvez proposital. Um combate às drogas eficiente atua, forte, no mínimo em quatro frentes simultâneas: educação forte para impedir o ingresso (e aí artistas famosos apareceriam em campanha pregando outras verdades), ação social verdadeira (não esmolas) para mudar as realidades que estimulam consumismo, frustração, violência e drogadição, recuperação responsável dos usuários como um interesse público e, claro, repressão forte. Policial e legal. Que esta farra que está aí é desenho do Papa-léguas: a Polícia corre atrás, o traficante está sempre livre para fugir e isso se repete todo dia. As comunidades estão pagando um preço alto demais nesta brincadeira. Estão perdendo as suas vidas.

Stevenson escreveu "O Médico e o Monstro". Um livro maravilhoso. O bem e o mal em cada um, nos testes do Dr Jekyll que, em si mesmo, criou e alimentou o pavoroso Mr. Hyde. E perdeu o controle. Fiquem atentos. Quando o assunto é combate às drogas, está cheio de Dr. Jekyll por aí. Alimentando monstros, dominados pelo seu lado obscuro. E nos

terça-feira, 10 de julho de 2012

MACONHA LIBERADA NO URUGUAI? SOCORRO!

ZERO HORA 10 de julho de 2012 | N° 17126. ARTIGOS

Marcelo Lemos Dornelles, Subprocurador-geral de Justiça do RS e presidente do Instituto Crack Nem Pensar


Com muita preocupação, observo nosso país vizinho, de fronteiras secas e abertas, parceiro comercial e cultural, buscar parte da solução de seus problemas de criminalidade regulamentando o mercado da maconha. Vejo, pasmo, que o próprio governo do Uruguai pretende plantar maconha a partir de setembro deste ano. Ele vai assumir o papel do “traficante”?

Tramita no nosso Congresso Nacional projeto de lei para atualizar a lei antidrogas, e uma comissão de juristas propôs que o Brasil busque esse caminho. Com certeza, trata-se de proposta de alto risco para a sociedade, seja do ponto de vista da saúde, seja da segurança. Não pretendo fazer o debate de cunho moralista ou conservador. A questão das drogas é complexa, multidisciplinar e só pode ser vista de forma sistêmica. Ela atinge diretamente o indivíduo, sua família, amigos, trabalho e a sociedade. Deve sempre ser observada sob o prisma da redução da oferta, do atendimento e da prevenção. Juntos! Não se quer a prisão do usuário. Isso não acontece há anos.

Listo aqui 10 razões para que não haja a liberação da maconha: 1. Assim como o álcool, a maconha é porta de entrada para outras drogas. 2. Aumenta a violência doméstica e a urbana. 3. Causa sofrimento psíquico ao usuário e à família. 4. Poderá superlotar o já precário sistema de saúde. 5. Oferece risco à saúde física e mental. 6. Há uma contradição direta entre permitir o uso e punir a venda. 7. As experiências mundiais fracassaram. 8. O caráter preventivo do “ser crime” atrasa a experimentação pelos jovens. 9. A experiência brasileira com a mera punição administrativa não tem sido eficaz, como ocorre no trânsito e na improbidade. 10. A maconha da atualidade é muito mais forte, “turbinada geneticamente” ou misturada com crack.

Sabemos que a guerra às drogas não é a melhor solução, contudo a descriminalização também não o será. É ilusão achar que criminalidade será reduzida, pois haverá aumento na oferta de drogas, no número de usuários e de dependentes. E continuará havendo o comércio ilegal. Na melhor das hipóteses, o traficante migra para o roubo. Precisamos é investir seriamente na prevenção. Tomara que nosso país vizinho não se transforme em roteiro para o “turismo das drogas”. E o Brasil? Já enfrentamos o turismo sexual, somos refúgio de criminosos, só falta isso!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A CIVILIZAÇÃO ESTÁ EM XEQUE



BEATRIZ FAGUNDES, O SUL

Porto Alegre, Segunda-feira, 09 de Julho de 2012.



Pessoalmente, não gostaria de estar circulando por alguma rua de nossa tão amada Porto Alegre e ser, de alguma forma, a presa de um provável novo "dependente coitadinho", no caso, da tal de nona nuvem.

A imprudência terminou em tragédia na madrugada de ontem na Zona Sul de Porto Alegre. A vítima era o carona do carro. Ele teria aberto a janela do veículo e colocado parte do corpo para fora. O automóvel passou próximo a um poste. O rapaz bateu a cabeça e morreu na hora. O acidente ocorreu na esquina das ruas Glênio Peres e Atílio Supertti, no bairro Vila Nova. A cena pode ser "imaginada" individualmente! É certo que gestos malucos e inconsequentes como esse sempre fizeram parte dos momentos de autoafirmação da juventude em qualquer tempo, mas algumas atitudes definitivamente estão "turbinadas". A civilização está em xeque! Nos Estados Unidos, a polícia alerta contra uma nova droga chamada nona nuvem, que pode ser uma das causas dos ataques canibais, relata o jornal Daily Mail. Se o mundo virtual está brutalmente ameaçado, o dia a dia da humanidade pode estar com sua normalidade destruída: recentemente, a mídia informou de vários casos de ataques de canibais nos Estados Unidos. "Rudy Eugene, rosnando para a polícia, continuava a roer o rosto de sua vítima - um "morador de rua". A polícia atirou e matou Eugene, detalhou o jornal. Em Miami, Brandon de Leon, arreganhando-se, ameaçou comer dois policiais. Em Louisiana, Carl Jakno de 43 anos mordeu a vítima no rosto, cortando com os dentes um pedaço de carne. A polícia suspeita que Jakno tenha consumido a droga nona nuvem, cujo efeito leva uma pessoa a se comportar de forma irracional.

Os "sais de banho" são uma mistura de duas drogas sintéticas, chamadas MDPV (metilenodioxipirovalerona) e mefedrona. "Só não podemos apreender porque a droga não consta como substância proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", afirmam as autoridades. O MDPV é, pasmem, um inseticida agrícola, mas pode ser injetado, causando efeitos alucinógenos. No Brasil, a mefedrona é conhecida como miau-miau e, segundo especialistas, é utilizada em boates e bares. Pode ser encontrada na internet, em lojas de conveniência e até entre os verdadeiros sais de banho, com sugestivos nomes: pomba vermelha, seda azul, zoom, nuvem nove, neve oceânica, onda lunar, céu de baunilha e furacão Charlie. No caso de Rudy Eugene, o canibal de Miami, as suspeitas do uso de "sais de banho" foram levantadas pelo fato de o homem estar completamente nu enquanto atacava a vítima. A droga acelera o metabolismo e provoca um aumento na temperatura corporal. "Quem consome essas drogas tem a sensação de estar queimando por dentro, então se despe ou tenta se refrescar pulando na água", disse o médico Paul Adams.

No Brasil, não existe legislação que proíba o consumo desses "novos" alucinógenos quando se sabe que também não temos meios de proibir os já existentes. Pessoalmente, não gostaria de estar circulando por alguma rua de nossa tão amada Porto Alegre e ser, de alguma forma, a presa de um provável novo "dependente coitadinho", no caso, da tal de nona nuvem. Sou radical em todas as "coisas", nunca com as pessoas em minha vida. Porém, com toda a certeza, não pretendo, sob nenhuma hipótese, admitir os insuportáveis motivos emocionais que alimentam a sociedade dos "coitadinhos", principais alvos dos traficantes das drogas "canibais". O que não se aceita é a provável fala de nossas autoridades quanto à "nova droga", esperada para os próximos meses. Não duvide, a próxima vítima pode estar entre nossa comunidade. É possível imaginar a cena: vamos chorar enterrando a vítima enquanto usamos todos os argumentos possíveis para "justificar" o assassino. Claro! Queremos garantir que somos "civilizados". Socorro!

domingo, 8 de julho de 2012

TRÁFICO É O PRINCIPAL CRIME DE ESTRANGEIROS

ZERO HORA 8 de julho de 2012 | N° 17124

PERFIL DIVULGADO

Tráfico é principal crime de estrangeiros

Mais de 90% dos 3.191 presos de fora do Brasil atendidos pela Defensoria Pública Federal respondem por venda de drogas


Mais de 90% dos presos estrangeiros atendidos pela Defensoria Pública Federal no Brasil estão presos por tráfico de drogas. A maioria deseja ser expulsa para cumprir a pena em seu país de origem, e grande parte reclama da demora do processo no Brasil.

Osistema prisional brasileiro abriga um total de 3.191 presos estrangeiros, sendo 2.417 homens e 774 mulheres. Os estrangeiros têm 109 nacionalidades diferentes, sendo que 537 vieram da Bolívia. Da América Latina, como um todo, estão presos no Brasil 1.546 pessoas. As informações foram divulgadas pela defensora pública federal Letícia Sjoman Torrano, durante o 2º Seminário sobre Presos Estrangeiros, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça, na Ordem dos Advogados do Brasil seção Rio de Janeiro (OAB/RJ). O primeiro seminário sobre o tema ocorreu em março, em São Paulo.

– Dos (presos) que chegam para nós, 90% são ‘mulas’ (pessoas que transportam entorpecentes) do tráfico de drogas – afirmou Letícia.

Ela revelou que a maioria alega dificuldades financeiras em seus países de origem. Estão detidos no Brasil estrangeiros de países como Bolívia, Paraguai, China, Nigéria e África do Sul. Entre as mulheres estrangeiras presas, a quase totalidade tem filhos nos países de origem. Para os presos estrangeiros, a principal dificuldade é ficar longe da família e passar o período de cumprimento de pena “sem receber visita de praticamente ninguém”. Isso ocorre com mais frequência entre presos africanos e da América Latina.

– Se eles forem presos dois anos, quatro anos, oito anos, vão passar esse tempo todo sem receber visitas – relata a defensora.

Parte dos detidos não fala inglês ou espanhol

Entre os principais problemas enfrentados pela defensoria no atendimento aos presos estrangeiros está a comunicação, porque nem todos falam inglês ou espanhol.

– Já peguei preso que fala russo, alemão. Então, a gente tem uma série de dificuldades com relação à língua – acrescenta.

Outra dificuldade diz respeito ao próprio trabalho da defensoria. Letícia explica que as visitas periódicas a essas pessoas, tendo em vista a quantidade de penitenciárias e a distância em que estão situadas, não são suficientes para suprir a falta de contato de que necessitam e costumam ocorrer sempre antes da audiência.

Outro entrave é a produção de provas. A defensora admitiu que a aplicação de medidas cautelares poderia ser uma alternativa, em substituição à prisão, no caso de presos estrangeiros com penas de até quatro anos, sendo réus primários e sem antecedentes criminais.

UM EM CADA TRÊS ALUNOS JÁ EXPERIMENTOU DROGAS

 
ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124

ASSÉDIO AOS ESTUDANTES

Um em cada três alunos já experimentou drogas

 HUMBERTO TREZZI


É fácil entender por que os policiais decidiram concentrar esforços na porta das escolas. É no ambiente escolar que a maioria dos jovens brasileiros experimenta drogas pela primeira vez, mostram pesquisas realizadas na última década.

O mais recente e abrangente levantamento, feito em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se embasou em entrevistas com 50.890 alunos de todas as capitais brasileiras. Ele revela que uma em cada três crianças e adolescentes matriculados na rede privada de ensino já consumiu alguma substância ilegal, como maconha, cocaína e crack. Nas instituições públicas, esse número é menor, um em cada quatro estudantes.

Conforme estudo anterior, de 2004, cerca de 19,8% dos estudantes dos ensinos Médio e Fundamental já haviam experimentado algum tipo de droga (o dado abrangia apenas estabelecimentos públicos). Nos Estados Unidos, esse percentual era de 39,8%. No Paraguai, era de 5,6% e, na Venezuela, era de 6%.

Na pesquisa de 2010 foram entrevistados estudantes de até 16 anos (que é a idade da maioria dos usuários). O trabalho mostra que inalantes (como o cheirinho da loló) são os mais populares, usados por 4,9% dos entrevistados, enquanto a maconha foi consumida por 3,7% dos estudantes pesquisados. Seguem-se a essas drogas a cocaína (1,9%) e o crack (0,4%).

A prática demonstra o quanto as pesquisas estão certas. Policiais civis do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) realizaram durante três anos a Operação Escola, para reprimir tráfico no entorno dos colégios de Porto Alegre e Região Metropolitana. Em todas as ocasiões foram vistoriadas áreas ao redor de 35 estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, de abastados colégios privados a paupérrimas escolas públicas.

Um dos indícios de que a situação é grave está no aumento do número de traficantes presos nos 10 dias de operações realizadas por ano. Foram 28 prisões em flagrante em 2008, 43 em 2009 e 50 em 2010 – todas, capturas homologadas pela Justiça.

O Denarc mudou de tática e tornou permanente a operação, trocando também o nome: saiu a Operação Escola e entrou a Operação Anjos da Lei. Entre maio de 2011 e junho de 2012, a Anjos da Lei prendeu 118 traficantes, mais que o dobro do registrado no ano anterior.

 

ENTREVISTA

“O jovem é fisiologicamente imaturo”

Carlos Salgado - Psiquiatra


Dezenas de dependentes químicos já passaram pelos tratamentos do psiquiatra gaúcho Carlos Salgado, integrante da diretoria da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). Ele é um dos médicos do Hospital Mãe de Deus encarregados do tema. E avisa: a ação policial contra o tráfico no entorno das escolas é mais que meritória, em decorrência do perfil vulnerável dos jovens. Confira:

Zero Hora – Qual a melhor forma de reprimir o tráfico de drogas?

Carlos Salgado –
O esforço contra a dependência das drogas é sempre múltiplo. E uma das facetas é o combate ao financiador dessas substâncias, o chamado grande traficante. Via de regra são poucas pessoas, com muito dinheiro e poder. É preciso controle de fronteiras, claro. Mas também controlar aquele que vende no varejo, até porque está próximo do jovem. E o jovem é vulnerável. Por isso é preciso agir nas escolas.

ZH – Por que o jovem é vulnerável?

Salgado –
Porque ele não está completamente formado. É fisiologicamente imaturo. Assim como é preciso convencer a criança a escovar os dentes, é preciso convencer adolescentes a não usar drogas. Simples assim. Se não tiverem esse aconselhamento, poderão seguir exemplo de grupos de amigos que usam. O grupo é muito importante para o adolescente. Isso vale para o que é bom e também para o que é ruim para a saúde. O jovem toma decisões muito rápido e avalia mal os riscos. É cliente em potencial do traficantes, por isso. É preciso ainda evitar que ele tome contato com outras drogas, as legais, como álcool e tabaco. Elas também são porta de entrada para as ilegais.

CERCO AO TRÁFICO NAS ESCOLAS

 
ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124

ASSÉDIO AOS ESTUDANTES - HUMBERTO TREZZI

Cerco ao tráfico nas escolas

Operação Anjos da Lei prendeu 118 criminosos que vendiam drogas para adolescentes e crianças


Negro, magro, baixo e vestido com roupas rasgadas, o sujeito se aproxima do bar e fala algumas palavras com o rapaz loiro e forte. O rapaz olha para os lados, não vê perigo e retira do bolso dois pacotinhos com pedras de crack. Repassa ao outro e recebe, em troca, cédulas de dinheiro, logo embrulhado num saco plástico e colocado na calça pelo vendedor da droga. Tudo acontece ao lado de uma creche e junto a bebês de colo. O que o traficante não sabe é que o jovem negro, aparentemente um consumidor, é na verdade um policial civil do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc).

A ação do agente infiltrado ainda não está concluída. Só terminará quando todos os traficantes da boca de fumo forem identificados e filmados. Operações assim, próximas a escolas, creches e outros estabelecimentos destinados à infância e juventude, são cada vez mais prioridade do Denarc e resultaram na prisão de 118 traficantes em um ano. A meta é prevenir a ação de traficantes junto ao público mais vulnerável ao consumo de drogas, os jovens.

– É a tentativa de salvar as maçãs, antes que todas no cesto apodreçam – compara o delegado Heliomar Franco, diretor do Denarc.

É uma guerra constante, na qual o exército do crime conta com tropa muito mais numerosa. É que não existem policiais, civis ou militares, em número suficiente para colocar um por escola. A saída é agir com inteligência. Uma das técnicas é a infiltração. Agentes jovens, recém-saídos da Academia, se passam por consumidores e frequentam bocas de fumo próximas aos colégios. Outras táticas são a campana (vigilância) e a gravação, incluindo filmagem. De forma secundária, colaboram para formar provas com depoimentos de viciados ou seus familiares, detalhando como os traficantes aliciam clientes.

Flanelinhas presos durante operação

As primeiras prisões, 16, ocorreram em duas operações simultâneas em maio do ano passado em São Leopoldo e Sapucaia do Sul. A ação nas escolas não parou mais. Uma das maiores aconteceu junto ao Colégio Piratini, no bairro Mont’Serrat, em Porto Alegre. Mais de 20 jovens foram detidos enquanto fumavam maconha num terreno contíguo à escola. Acabaram liberados, após ouvir advertências. Já os três traficantes foram presos em flagrante. Dois deles flanelinhas. Nas proximidades do Instituto de Educação Flores da Cunha, no bairro Bom Fim, também é possível flagrar traficantes que se passam por flanelinhas. Adolescentes se juntam a eles para a compra e consomem a droga em frente aos criminosos, embaixo de árvores.

As quantias de drogas apreendidas não são grandes porque os vendedores de porta de escola jamais carregam grandes porções de drogas. Por vezes, nem trazem o produto junto, vão buscá-lo em algum buraco, quando acertada a venda. Agem mimetizados aos estudantes.

O delegado Mário Souza, do Denarc, calcula que traficantes agem em pelo menos 30% dos estabelecimentos de ensino da Região Metropolitana. Por isso o Denarc disponibiliza um Disque Denúncia (0800.518-518), gratuito. Foi para esse número que familiares de alunos da Escola Piratini ligaram. Cansados do assédio do tráfico aos estudantes, procuraram a polícia. O resultado foi a desarticulação de um grupo e a suspensão, temporária, do movimento de traficantes nas proximidades do colégio.

 Download Download Anjos da Lei 1ª Temporada
OPERAÇÃO ANJOS DA LEI  - A operação foi chamada de Anjos da Lei em referência a um seriado americano dos anos 80, quando um grupo de jovens policiais se infiltrava nas escolas para investigar crimes cometidos por alunos e pessoas de suas relações. As primeiras prisões, 16, ocorreram em duas operações em 2011 nas cidades de São Leopoldo e Sapucaia do Sul. O objetivo desta ação contínua é reprimir
de forma qualificada o tráfico de drogas no entorno de escolas e universidades da Região Metropolitana
de Porto Alegre.






quarta-feira, 4 de julho de 2012

DROGAS E ARRASTÕES NA LAPA NOL RIO

Além de roubos, frequentadores da Lapa convivem com tráfico e uso de drogas a céu aberto . Semana passada, o grupo teatral Tá na Rua, do ator Amir Haddad, teve sua sede na Mem de Sá invadida e seu equipamento de som roubado

Thiago Jansen
O GLOBO 3/07/12 - 22h45



Movimento intenso numa rua da Lapa no fim de semana: a venda e o consumo de drogas acontecem a céu aberto, sem repressão da PM ou da Guarda Municipal Pedro Kirilos / O Globo


RIO - Eram cerca de 22h30m da última sexta-feira quando aproximadamente dez mil pessoas se reuniam na Praça Cardeal Câmara, em frente aos Arcos da Lapa, para acompanhar o show gratuito da cantora Daniela Mercury, seguido de um espetáculo de projeções sobre o símbolo maior da região. Próximo dali, jovens de diversas idades começavam a lotar a Travessa do Mosqueira, uma entre as tantas ruas do local com depósitos de bebida e bares. “Vai pó, vai maconha?”, perguntou um garoto, menor de idade, sem qualquer inibição, quando o repórter do GLOBO chegou à esquina da Rua Joaquim Silva, a um quarteirão de distância dos policiais militares e dos guardas municipais que patrulhavam a Avenida Mem de Sá.

A situação, corriqueira, de acordo com testemunhas, ilustra o atual estado da Lapa, berço da boemia e da malandragem cariocas, local de grande circulação de turistas e onde assaltos, venda e consumo de drogas ainda são frequentes, apesar do policiamento e das obras de revitalização na região, transformada oficialmente em bairro há quase dois meses.

Arrastões são outra preocupação

Semana passada, como noticiou a coluna de Ancelmo Gois no GLOBO, o grupo teatral Tá na Rua, do ator Amir Haddad, teve sua sede na Mem de Sá invadida e seu equipamento de som roubado. Foi a segunda vez em menos de dois meses — a aparelhagem tinha sido doada pela atriz Fernanda Montenegro, sensibilizada pelo primeiro roubo, em maio. “Esses dois assaltos nos deixaram estarrecidos, nos jogaram na realidade. Lamentamos viver assim”, disse Haddad, pouco depois do segundo caso, traduzindo a insatisfação de muitos que se estabeleceram na região.

— A segurança no bairro não tem melhorado em nada. Apesar de a Mem de Sá agora estar sendo fechada à noite durante os fins de semana, muitos pivetes se misturam às pessoas e praticam assaltos. Arrastões também são frequentes. Durante o dia, é comum ver turistas sendo roubados — afirma Patrícia Santos, gerente da Pizzaria Guanabara da região.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a 5ª DP (Gomes Freire), delegacia da região, registrou 140 roubos e 479 furtos em maio deste ano. Em abril, os números foram semelhantes: 131 e 466, respectivamente. Se comparados com os dados do ano passado, não há grandes mudanças nos índices: 149 roubos e 427 furtos em maio, contra 187 e 512 em abril. No entanto, o número de casos pode ser ainda maior, já que muitos ainda preferem não registrar ocorrência por acharem “natural” a situação.

— A Lapa tem um problema que é a naturalização da violência. Ou seja, boa parte das pessoas que são assaltadas não presta queixa e aquelas que assaltam não se intimidam — afirma o gerente de um bar próximo aos Arcos que preferiu não ser identificado. — A Lapa está longe de ser uma área segura. Já tive clientes assaltados após sair daqui e, num caso mais grave, uma menina foi estuprada, em outubro do ano passado.

Donos de estabelecimentos comerciais da área dizem acreditar que a situação do quarteirão da Rua Joaquim Silva é uma das mais problemáticas da região. De acordo com uma das sócias da casa de shows Semente, que também preferiu não se identificar, a atual estrutura de policiamento só chega a determinadas áreas do bairro:

— Todo esse quarteirão da Joaquim Silva, subindo a ladeirazinha, é terra de ninguém. Tem um povo muito estranho por aqui, um lugar que é ponto turístico, subida para Santa Teresa e que leva à escadaria da Lapa. Existe um comércio de drogas 24 horas por aqui. Às vezes, às 15h vem gente oferecer cocaína se você estiver passando. Já fui assaltada na esquina do Semente e, há uns três sábados, houve dois arrastões aqui em frente.

Responsável pela Fundição Progresso, Perfeito Fortuna afirma que o lado oposto ao da Ladeira Santa Teresa também anda perigoso, já que, com o fechamento do tráfego por ali, próximo à Praça Monsenhor Francisco Pinto, muitos moradores de rua e assaltantes estão vivendo na área, debaixo dos Arcos.

— Na passagem dos Arcos dos Lapa, o policiamento está ótimo, mas o pequeno morro próximo à Avenida Chile está sendo feito de moradia por muitos assaltantes. Está bastante perigoso — afirma Perfeito.

Na noite da última sexta-feira, um grupo com cerca de 30 menores moradores de rua estava no início da Ladeira Santa Teresa, embaixo dos Arcos, a menos de 500 metros de uma patrulha da Guarda Municipal, de um posto da Secretaria da Ordem Pública e de alguns veículos da Secretaria de Assistência Social. Ao virar a esquina da ladeira com a Joaquim Silva, era possível encontrar menores consumindo drogas e bebidas alcoólicas a céu aberto. Na escadaria da Lapa, o consumo de drogas era ainda maior. Não havia policiamento fixo na área e, ainda que uma patrulha da PM tenha passado ao menos uma vez pelo local, nenhuma ação foi tomada para coibir o tráfico.

Mesmo na Mem de Sá, onde o policiamento era ostensivo, assaltos ocorriam, como o que sofreu Euclydes Magalhães, de 25 anos. Frequentador assíduo da região nos fins de semana, ele estava com um grupo de amigos embaixo dos Arcos, por volta das 23h30m de sexta-feira, quando teve o cordão puxado de seu pescoço por dois jovens, que fugiram. Meia hora depois, quando estava mostrando o local do roubo a um amigo, presenciou uma tentativa de assalto e, junto com outras pessoas, conseguiu imobilizar o ladrão e levá-lo até PMs.

— A região está mais complicada de uns tempos para cá, porque os ladrões, que antes se concentravam em locais específicos, agora ficam espalhados pela região — afirmou Euclydes. — Agora só volto na Lapa daqui a um mês, porque acho que posso ter ficado marcado pelos meus assaltantes.

A Polícia Civil informou que sabe da venda e do consumo de drogas na área, acrescentando que tem feito operações para reprimir o tráfico. A PM, por sua vez, disse que atua na região com quatro viaturas de dia e 12 à noite, além do policiamento montado e de 20 policiais no patrulhamento a pé — nos fins de semana, ele é reforçado. Após saber, pela equipe de reportagem, da venda de drogas na Joaquim Silva, a corporação disse que passará a deixar uma patrulha na rua.

A Secretaria municipal de Assistência Social admitiu que há uma concentração de adultos e menores de rua na Lapa que fazem uso de drogas. O órgão informou que equipes atuam diariamente na abordagem dessa população, mas que muitas pessoas levadas aos centros de tratamento os deixam por causa do vício em álcool ou drogas.