COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

domingo, 8 de julho de 2012

UM EM CADA TRÊS ALUNOS JÁ EXPERIMENTOU DROGAS

 
ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124

ASSÉDIO AOS ESTUDANTES

Um em cada três alunos já experimentou drogas

 HUMBERTO TREZZI


É fácil entender por que os policiais decidiram concentrar esforços na porta das escolas. É no ambiente escolar que a maioria dos jovens brasileiros experimenta drogas pela primeira vez, mostram pesquisas realizadas na última década.

O mais recente e abrangente levantamento, feito em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se embasou em entrevistas com 50.890 alunos de todas as capitais brasileiras. Ele revela que uma em cada três crianças e adolescentes matriculados na rede privada de ensino já consumiu alguma substância ilegal, como maconha, cocaína e crack. Nas instituições públicas, esse número é menor, um em cada quatro estudantes.

Conforme estudo anterior, de 2004, cerca de 19,8% dos estudantes dos ensinos Médio e Fundamental já haviam experimentado algum tipo de droga (o dado abrangia apenas estabelecimentos públicos). Nos Estados Unidos, esse percentual era de 39,8%. No Paraguai, era de 5,6% e, na Venezuela, era de 6%.

Na pesquisa de 2010 foram entrevistados estudantes de até 16 anos (que é a idade da maioria dos usuários). O trabalho mostra que inalantes (como o cheirinho da loló) são os mais populares, usados por 4,9% dos entrevistados, enquanto a maconha foi consumida por 3,7% dos estudantes pesquisados. Seguem-se a essas drogas a cocaína (1,9%) e o crack (0,4%).

A prática demonstra o quanto as pesquisas estão certas. Policiais civis do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) realizaram durante três anos a Operação Escola, para reprimir tráfico no entorno dos colégios de Porto Alegre e Região Metropolitana. Em todas as ocasiões foram vistoriadas áreas ao redor de 35 estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, de abastados colégios privados a paupérrimas escolas públicas.

Um dos indícios de que a situação é grave está no aumento do número de traficantes presos nos 10 dias de operações realizadas por ano. Foram 28 prisões em flagrante em 2008, 43 em 2009 e 50 em 2010 – todas, capturas homologadas pela Justiça.

O Denarc mudou de tática e tornou permanente a operação, trocando também o nome: saiu a Operação Escola e entrou a Operação Anjos da Lei. Entre maio de 2011 e junho de 2012, a Anjos da Lei prendeu 118 traficantes, mais que o dobro do registrado no ano anterior.

 

ENTREVISTA

“O jovem é fisiologicamente imaturo”

Carlos Salgado - Psiquiatra


Dezenas de dependentes químicos já passaram pelos tratamentos do psiquiatra gaúcho Carlos Salgado, integrante da diretoria da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). Ele é um dos médicos do Hospital Mãe de Deus encarregados do tema. E avisa: a ação policial contra o tráfico no entorno das escolas é mais que meritória, em decorrência do perfil vulnerável dos jovens. Confira:

Zero Hora – Qual a melhor forma de reprimir o tráfico de drogas?

Carlos Salgado –
O esforço contra a dependência das drogas é sempre múltiplo. E uma das facetas é o combate ao financiador dessas substâncias, o chamado grande traficante. Via de regra são poucas pessoas, com muito dinheiro e poder. É preciso controle de fronteiras, claro. Mas também controlar aquele que vende no varejo, até porque está próximo do jovem. E o jovem é vulnerável. Por isso é preciso agir nas escolas.

ZH – Por que o jovem é vulnerável?

Salgado –
Porque ele não está completamente formado. É fisiologicamente imaturo. Assim como é preciso convencer a criança a escovar os dentes, é preciso convencer adolescentes a não usar drogas. Simples assim. Se não tiverem esse aconselhamento, poderão seguir exemplo de grupos de amigos que usam. O grupo é muito importante para o adolescente. Isso vale para o que é bom e também para o que é ruim para a saúde. O jovem toma decisões muito rápido e avalia mal os riscos. É cliente em potencial do traficantes, por isso. É preciso ainda evitar que ele tome contato com outras drogas, as legais, como álcool e tabaco. Elas também são porta de entrada para as ilegais.

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