ENTREVISTA.“Haverá vacinas para tratamento”
THOMAS MCLELLAN PSICÓLOGO AMERICANO
Respeitado no mundo inteiro como autoridade na área de pesquisa em dependência química, Thomas McLellan é autor de mais de 400 estudos. Na década de 1980, o psicólogo americano apresentou o Addiction Severity Index, escala que permite medir o nível de dependência do paciente, uma ferramenta largamente utilizada até hoje. Em 2000, McLellan publicou uma pesquisa polêmica que também é referência para profissionais e sistemas de saúde, comparando o vício em álcool e cocaína a enfermidades crônicas como o diabetes e a hipertensão e evidenciando a inadequação dos tratamentos de curto prazo.
O ex-consultor da Casa Branca em políticas nacionais para o controle do uso de substâncias ilícitas falou de seu trabalho e comentou a marca de três anos sem reincidências alcançada por Rodrigo de Souza Barros, personagem desta reportagem.
– O Rodrigo tem muita sorte e parece estar muito comprometido com a recuperação.
Zero Hora – O senhor é autor de um estudo fundamental para o tratamento de dependentes de drogas. A pesquisa, publicada em 2000, afirmava que o usuário deve ser tratado como um doente crônico, aquele com diagnóstico de diabetes tipo 2, hipertensão ou asma. A dependência química não tem cura, e por isso o paciente precisa ser monitorado para sempre.
Thomas McLellan – Como existem tantos problemas sociais associados ao consumo de drogas, há uma tendência natural de pensar que a dependência é sinal de caráter ruim, pais que não souberam criar seus filhos ou maus pensamentos. Esse conceito levou à criação de modelos de tratamento por tempo limitado, que permitiriam que o paciente alcançasse, ao final, o discernimento, uma espécie epifania, um novo aprendizado. A partir daí, ele aprenderia a lição e estaria livre das drogas. Não funcionou. Não há cura para a dependência grave. Desde 2000, houve muitas pesquisas fazendo comparações entre a genética, as mudanças cerebrais e o curso natural dos problemas com substâncias ilícitas, de um lado, e doenças genéticas como o diabetes e a hipertensão, de outro. Há diferenças, mas o número de semelhanças é muito maior. Não podemos curar essas doenças crônicas, mas podemos administrá-las. Estudos que avaliaram diabetes, hipertensão e asma e as dependências de álcool, ópio e cocaína mostraram que o percentual de herança genética fica entre 50% e 70%. Os índices de recaída para todas essas doenças são praticamente os mesmos, e as razões para a recaída incluem falha no comprometimento com o tratamento, comorbidades psiquiátricas e pobreza. Tratamentos de tempo limitado são inadequados para doenças crônicas porque a recaída é quase certa. Imagine um programa de 30 dias para tratar o diabetes.
ZH – Houve progressos significativos no tratamento da dependência? Como o senhor avalia o impacto da sua pesquisa desde então?
McLellan – Esse estudo foi mais criticado do que qualquer outro estudo publicado no Jama durante mais de um ano. Muito pouco aconteceu imediatamente depois, mas agora a dependência química constará, obrigatoriamente, de um programa do governo federal, sendo tratada como doença crônica. Moral da história: se quiser resultados rápidos, não faça pesquisa científica. Na nova legislação americana para a área da saúde, o tratamento para distúrbios causados pelo uso de substâncias químicas é considerado um serviço essencial. Um plano de saúde não poderá existir sem oferecê-lo. Isso nunca aconteceu antes. Falhas no diagnóstico e no tratamento de problemas relacionados a drogas custam mais de US$ 100 bilhões por ano ao sistema de saúde. Não podemos continuar ignorando isso.
ZH – Em mais de 35 anos de experiência nessa área, que mudanças o senhor apontaria como as mais importantes ocorridas no período? O que se pode esperar para o futuro?
McLellan – A mudança positiva mais relevante, nos Estados Unidos, é o grande sucesso das medidas para prevenção e tratamento do tabagismo. Trata-se de uma área onde os programas de saúde pública foram muito eficientes. Outros avanços notáveis estão relacionados ao estudo dos circuitos cerebrais de recompensa, que começaram a produzir medicamentos muito bons. Em breve, haverá vacinas para problemas ligados a cigarro, cocaína e ópio, que impedirão que o paciente sinta os efeitos da droga. São vacinas para tratamento, e não preventivas. As doses funcionam por 30 dias, mas em breve surtirão efeito por até seis meses.
Respeitado no mundo inteiro como autoridade na área de pesquisa em dependência química, Thomas McLellan é autor de mais de 400 estudos. Na década de 1980, o psicólogo americano apresentou o Addiction Severity Index, escala que permite medir o nível de dependência do paciente, uma ferramenta largamente utilizada até hoje. Em 2000, McLellan publicou uma pesquisa polêmica que também é referência para profissionais e sistemas de saúde, comparando o vício em álcool e cocaína a enfermidades crônicas como o diabetes e a hipertensão e evidenciando a inadequação dos tratamentos de curto prazo.
O ex-consultor da Casa Branca em políticas nacionais para o controle do uso de substâncias ilícitas falou de seu trabalho e comentou a marca de três anos sem reincidências alcançada por Rodrigo de Souza Barros, personagem desta reportagem.
– O Rodrigo tem muita sorte e parece estar muito comprometido com a recuperação.
Zero Hora – O senhor é autor de um estudo fundamental para o tratamento de dependentes de drogas. A pesquisa, publicada em 2000, afirmava que o usuário deve ser tratado como um doente crônico, aquele com diagnóstico de diabetes tipo 2, hipertensão ou asma. A dependência química não tem cura, e por isso o paciente precisa ser monitorado para sempre.
Thomas McLellan – Como existem tantos problemas sociais associados ao consumo de drogas, há uma tendência natural de pensar que a dependência é sinal de caráter ruim, pais que não souberam criar seus filhos ou maus pensamentos. Esse conceito levou à criação de modelos de tratamento por tempo limitado, que permitiriam que o paciente alcançasse, ao final, o discernimento, uma espécie epifania, um novo aprendizado. A partir daí, ele aprenderia a lição e estaria livre das drogas. Não funcionou. Não há cura para a dependência grave. Desde 2000, houve muitas pesquisas fazendo comparações entre a genética, as mudanças cerebrais e o curso natural dos problemas com substâncias ilícitas, de um lado, e doenças genéticas como o diabetes e a hipertensão, de outro. Há diferenças, mas o número de semelhanças é muito maior. Não podemos curar essas doenças crônicas, mas podemos administrá-las. Estudos que avaliaram diabetes, hipertensão e asma e as dependências de álcool, ópio e cocaína mostraram que o percentual de herança genética fica entre 50% e 70%. Os índices de recaída para todas essas doenças são praticamente os mesmos, e as razões para a recaída incluem falha no comprometimento com o tratamento, comorbidades psiquiátricas e pobreza. Tratamentos de tempo limitado são inadequados para doenças crônicas porque a recaída é quase certa. Imagine um programa de 30 dias para tratar o diabetes.
ZH – Houve progressos significativos no tratamento da dependência? Como o senhor avalia o impacto da sua pesquisa desde então?
McLellan – Esse estudo foi mais criticado do que qualquer outro estudo publicado no Jama durante mais de um ano. Muito pouco aconteceu imediatamente depois, mas agora a dependência química constará, obrigatoriamente, de um programa do governo federal, sendo tratada como doença crônica. Moral da história: se quiser resultados rápidos, não faça pesquisa científica. Na nova legislação americana para a área da saúde, o tratamento para distúrbios causados pelo uso de substâncias químicas é considerado um serviço essencial. Um plano de saúde não poderá existir sem oferecê-lo. Isso nunca aconteceu antes. Falhas no diagnóstico e no tratamento de problemas relacionados a drogas custam mais de US$ 100 bilhões por ano ao sistema de saúde. Não podemos continuar ignorando isso.
ZH – Em mais de 35 anos de experiência nessa área, que mudanças o senhor apontaria como as mais importantes ocorridas no período? O que se pode esperar para o futuro?
McLellan – A mudança positiva mais relevante, nos Estados Unidos, é o grande sucesso das medidas para prevenção e tratamento do tabagismo. Trata-se de uma área onde os programas de saúde pública foram muito eficientes. Outros avanços notáveis estão relacionados ao estudo dos circuitos cerebrais de recompensa, que começaram a produzir medicamentos muito bons. Em breve, haverá vacinas para problemas ligados a cigarro, cocaína e ópio, que impedirão que o paciente sinta os efeitos da droga. São vacinas para tratamento, e não preventivas. As doses funcionam por 30 dias, mas em breve surtirão efeito por até seis meses.
Dr. Thomas McLellan
Ele foi o principal desenvolvedor do Addiction Severity Index (ASI) eo Tratamento Services Review (TSR), instrumentos de medição, que caracterizam as múltiplas dimensões da substância abusando pacientes e protocolos de tratamento. Estas ferramentas foram traduzidos para mais de 20 línguas e são os instrumentos mais utilizados de seu tipo no mundo. Ele também atuou na Casa Branca, Dr. McLellan era um psicólogo e professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia e fundador e diretor-executivo do Instituto de Pesquisa de Tratamento, a pesquisa não tem fins lucrativos e operação de avaliação baseada na Filadélfia.
Entre suas muitas distinções é o Life Achievement Award da Society of Addiction Medicine.
Sediada na Filadélfia, Pensilvânia, o Instituto de Pesquisa de Tratamento é uma organização independente, não para a pesquisa de lucros e organização de desenvolvimento dedicada a reforma impulsionada pela ciência do tratamento e da política em abuso de substâncias.Entre seus projetos atuais é o desenvolvimento de um "Guia do Consumidor" para avaliar a qualidade em programas de tratamento uso de substâncias.
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