O turista será
uma incógnita
que precisará
ser resolvida
MARCELLO BLAYA PEREZ
Médico psicanalista
A liberação da maconha no vizinho Uruguai, o primeiro país latino-americano a fazer isso, vai permitir a observação dos resultados. Os problemas que o presidente Mujica quer resolver e os nossos são os mesmos.
Podemos pensar em situações semelhantes ocorridas no passado com outros “vícios” como o álcool, o tabaco e o jogo do bicho e ver o que se pode aprender de suas “soluções”.
Os primeiros europeus nos Estados Unidos eram protestantes calvinistas, rígidos moralistas. Foram os primeiros a tentar uma “lei seca” no século 17. O “pai” da psiquiatria norte-americana, Dr. Benjamin Rush (1745-1813), um dos signatários da Declaração de Independência, tentou a segunda “lei seca” em 1784, por razões de saúde pública. A verdadeira lei seca foi decretada em 1920 e seus resultados foram o oposto do pretendido, pois houve um aumento do consumo de bebidas alcoólicas, graças sobretudo ao banditismo do qual a figura máxima foi Al Capone (1899-1947). Pressionado, o recém-empossado presidente Franklin Roosevelt (1882-1945) terminou a lei seca em 1933.
O uso do tabaco, já provado ser causador de doenças graves como câncer, enfartes e AVCs, continua livre graças ao lobby dessa indústria, fato bem demonstrado no filme O Informante.
Nós, que vivemos os anos 60, 70 e 80, assistimos à “cura” do jogo do bicho quando a Caixa Econômica Federal se transformou no maior “bicheiro” do Brasil. Com mais de 10 opções de jogo, uma delas com o nome de “jogo do bicho”, foi a solução que permitiu aos programas sociais receberem mais da metade dos valores apostados.
Quando a Holanda, que tentara a liberação, proibiu a venda de maconha aos turistas, o tráfico extinto voltou com força. No Uruguai, é preciso estar registrado para comprar 10 gramas por semana e cada residência só pode plantar seis mudas de Cannabis. Mas o turista será uma incógnita que precisará ser resolvida antes que a Holanda seja repetida no Uruguai.
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