FLAGELO MATERNO. Viciado troca carro por dívidas do crack. Mãe de usuário foi ameaçada de morte para passar Corsa a um traficante - RENATO GAVA,
A apreensão de um veículo e de instrumentos musicais, feita ontem pela Polícia Civil, revelou mais um flagelo do crack. Um usuário de 36 anos, depois de dar a traficantes praticamente todos os seus pertences pessoais, entregou também o Corsa da mãe. A mulher, uma auxiliar de enfermagem de 59 anos, negou-se a fornecer os documentos de transferência aos criminosos. Passou a ser ameaçada.
– Realmente ela passou por um inferno. Tanto que está com medo até de vir à delegacia para buscar o automóvel – contou o titular da 16ª DP, delegado Leandro Coelho.
O drama ocorreu na Restinga, na zona sul da Capital. Em 11 de março, a auxiliar deu queixa de desaparecimento do filho viciado. Um mês depois, ele foi pego na rua, em uma abordagem de rotina da Brigada Militar. Como seu nome constava na lista de desaparecidos, o rapaz foi apresentado na 16ª DP. O depoimento dele impressionou os policiais.
Músico profissional, o viciado contou que, três anos atrás, foi apresentado ao crack. Desde então, passou por clínicas, mas jamais conseguiu se recuperar. Admitiu que passou a trocar tudo que tinha em uma boca de fumo no bairro para conseguir pedras.
Ficou devendo a traficantes, que passaram a cobrar juros e, poucos dias depois, exigiram dele R$ 4 mil. Sem dinheiro, o homem entregou o carro da mãe, um Corsa 1999.
– Ele deu a eles um documento de doação do carro, mas os traficantes não aceitaram, exigiram o documento de transferência, assinado pela mãe. Como ele não conseguia, passaram a ligar para ela também, ameaçando-a. Ela ficou tão apavorada que nem sequer deu queixa de roubo do carro e nos procurou – afirmou o delegado.
Os agentes passaram a monitorar o local apontado pelo jovem. Na terça-feira, localizaram o carro na Estrada João Antônio da Silveira com o pai do traficante, um mecânico de 46 anos.
Na casa do filho dele, na Alameda F, Restinga Nova, policiais encontraram uma tuba, um pedestal, o cartão do Banrisul e outros objetos pertencentes ao viciado extorquido. O criminoso não foi localizado. Segundo o delegado, ele será indiciado por crimes de extorsão e tráfico.
“Ele tinha emprego, boa condição”. ENTREVISTA Mãe de viciado em crack - DIÁRIO GAÚCHO, 29/04/2011
Diário Gaúcho – Como começou o problema?
Mãe – Eu passei o verão no litoral, deixei a chave da minha casa, para ele regar as plantas, e a do carro. Quando voltei, no final de fevereiro, já vi que ele estava estranho. No dia 3 de março, ele sumiu. Desde então, minha vida não foi mais a mesma.
Diário Gaúcho – A senhora sabia do envolvimento dele com o crack?
Mãe – Com o crack, não. Já vi muita gente enfrentando este problema, e não pensei que aconteceria comigo. Essas coisas, a gente não sabe como começa. Ainda não sei o que vou fazer com o meu filho, não tenho condições psicológicas. Minhas irmãs que estão encaminhando ele para tratamento.
Diário Gaúcho – O que a senhora tem feito nos últimos dias?
Mãe – Depois que os traficantes passaram a me ligar, não tive mais sossego. Eles sabiam onde eu morava, me ameaçaram. Passei as últimas 10 noites dormindo em um hotel no Centro, pagando R$ 75 a diária. Fiquei sem forças até para ir ao mercado, estou consultando médicos. Um deles me disse que estou com crise do pânico. Agora, estou um pouco melhor.
Diário Gaúcho – O que a senhora pretende fazer?
Mãe – Não posso mais voltar para minha casa, nunca mais. Vou ter de diminuir meus turnos, ganhar menos, mudar toda a minha vida. Sempre trabalhei, tenho um filho formado em Administração de Empresas, e esse outro (usuário) faltava apenas um semestre para se formar em Música. Ele tinha emprego, boa condição.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
sábado, 30 de abril de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
QUADRILHA USAVA VICIADOS PARA VENDER DROGAS EM RAVES
Desarticulada quadrilha que usava viciados para vender drogas em raves no Litoral Norte. Brigada Militar e Ministério Público prenderam dez pessoas hoje - Cid Martins - RÁDIO GAÚCHA, ZERO HORA ONLINE, 28/04/2011
Foi desarticulada nesta manhã uma quadrilha de traficantes que utilizava jovens dependentes químicos para vender drogas em festas raves no Litoral Norte. Na chamada Operação Quimera, a Brigada Militar (BM) e o Ministério Público (MP), com o auxílio da Polícia Civil, prenderam dez pessoas — sete por mandados de prisão e três em flagrante.
Também são cumpridos nove mandados de busca e apreensão e já foram recolhidos uma moto, um carro Pegeout, drogas e armas.
A investigação começou há três meses e descobriu que esta quadrilha era responsável pelo tráfico de drogas nas cidades de Osório, Tramandaí e Santo Antônio da Patrulha. Neste período, outras oito pessoas foram presas.
A principal característica deste grupo criminoso é o uso de jovens da cidade de Osório, usuários de drogas e frequentadores de festas rave, para realizar a tele-entrega dos entorpecentes.
Os jovens faziam a intermediação entre outros usuários e os traficantes, para que, caso fossem flagrados em abordagens da BM, fossem enquadrados como usuários e não como traficantes, assinando um termo circunstanciado por posse de entorpecente, que é um crime de menor potencial ofensivo.
Um dos espaços preferidos pelos traficantes para comércio da droga ilícita era a Praça das Carretas, no centro da cidade de Osório.
Durante o monitoramento dos integrantes dessa organização criminosa, foi constatado que um detento da Penitenciária Modulada Estadual de Osório havia determinado a execução de três pessoas de sua relação — um homem e duas mulheres. Em razão dessa constatação, a BM realizou operação de polícia ostensiva, e agindo preventivamente, efetuou a prisão da pessoa encarregada de cometer o crime, evitando o triplo-homicídio.
A operação foi batizada de Quimera (produto da imaginação, um sonho ou fantasia), cujo nome está associado ao efeito produzido pela droga ilícita, consumida por jovens na festas raves.
Foi desarticulada nesta manhã uma quadrilha de traficantes que utilizava jovens dependentes químicos para vender drogas em festas raves no Litoral Norte. Na chamada Operação Quimera, a Brigada Militar (BM) e o Ministério Público (MP), com o auxílio da Polícia Civil, prenderam dez pessoas — sete por mandados de prisão e três em flagrante.
Também são cumpridos nove mandados de busca e apreensão e já foram recolhidos uma moto, um carro Pegeout, drogas e armas.
A investigação começou há três meses e descobriu que esta quadrilha era responsável pelo tráfico de drogas nas cidades de Osório, Tramandaí e Santo Antônio da Patrulha. Neste período, outras oito pessoas foram presas.
A principal característica deste grupo criminoso é o uso de jovens da cidade de Osório, usuários de drogas e frequentadores de festas rave, para realizar a tele-entrega dos entorpecentes.
Os jovens faziam a intermediação entre outros usuários e os traficantes, para que, caso fossem flagrados em abordagens da BM, fossem enquadrados como usuários e não como traficantes, assinando um termo circunstanciado por posse de entorpecente, que é um crime de menor potencial ofensivo.
Um dos espaços preferidos pelos traficantes para comércio da droga ilícita era a Praça das Carretas, no centro da cidade de Osório.
Durante o monitoramento dos integrantes dessa organização criminosa, foi constatado que um detento da Penitenciária Modulada Estadual de Osório havia determinado a execução de três pessoas de sua relação — um homem e duas mulheres. Em razão dessa constatação, a BM realizou operação de polícia ostensiva, e agindo preventivamente, efetuou a prisão da pessoa encarregada de cometer o crime, evitando o triplo-homicídio.
A operação foi batizada de Quimera (produto da imaginação, um sonho ou fantasia), cujo nome está associado ao efeito produzido pela droga ilícita, consumida por jovens na festas raves.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
ESTADO TEÓRICO
“O Estado teoriza demais” - Luiz Vicente da Cunha Pires, prefeito de Cachoeirinha - ZERO HORA 27/04/12/2011
Citada como referência pela CNM, a Comunidade Terapêutica Pública Reviver, de Cachoeirinha, é um antigo sonho do atual prefeito Luiz Vicente da Cunha Pires. Dependente químico durante 16 dos seus 49 anos, Pires experimentou o despreparo do Estado para lidar com viciados em crack, droga que usou por três anos. Confira sua entrevista:
Zero Hora – Como o senhor conseguiu abandonar a dependência?
Luiz Vicente da Cunha Pires – Havia a possibilidade de me internar no hospital Espírita, em Porto Alegre, ou numa comunidade terapêutica, em Montenegro. Fui para o hospital, mas três dias depois decidi sair. Não era o que eu buscava. Então, procurei a comunidade terapêutica. Nove meses depois, em 1996, saí desintoxicado.
ZH – Qual a deficiência do poder público para recuperar drogados?
Pires – Não ofertar para o usuário de crack leitos suficientes para tratar a dependência. O Estado teoriza demais e oferece poucos leitos.
ZH – Como nasceu a Comunidade Terapêutica Pública Reviver?
Pires – Eu era responsável pelo “Projeto de Cara Limpa”, criado em 2002, que tratava da internação pelo município em comunidades terapêuticas por meio da compra de vagas. Enquanto fazíamos esse atendimento, nos organizávamos para criar uma comunidade pública, bancada pelo município.
ZH – Como funciona a comunidade?
Pires – Por meio de grupos de mútua ajuda espalhados no município, os usuários são encaminhados para a rede de atendimento que, por fim, encaminha para a comunidade terapêutica. Há 30 vagas para homens (jovens e adultos) que podem ficar até nove meses internados.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Venho defendendo a criação de Centros Públicos de Tratamento de Dependências e Distúrbios mentais em municípios sede de micro-regiões com investimentos pesados do poder público. O Estado não ser omisso e negligente deixando as ONGs tratarem sozinhas assuntos tão sérios como são as questões das drogas e dos distúrbios mentais que podem levar uma pessoa se aliciada pelo crime, cometer crimes hediondos ou realizar ações terroristas.
Citada como referência pela CNM, a Comunidade Terapêutica Pública Reviver, de Cachoeirinha, é um antigo sonho do atual prefeito Luiz Vicente da Cunha Pires. Dependente químico durante 16 dos seus 49 anos, Pires experimentou o despreparo do Estado para lidar com viciados em crack, droga que usou por três anos. Confira sua entrevista:
Zero Hora – Como o senhor conseguiu abandonar a dependência?
Luiz Vicente da Cunha Pires – Havia a possibilidade de me internar no hospital Espírita, em Porto Alegre, ou numa comunidade terapêutica, em Montenegro. Fui para o hospital, mas três dias depois decidi sair. Não era o que eu buscava. Então, procurei a comunidade terapêutica. Nove meses depois, em 1996, saí desintoxicado.
ZH – Qual a deficiência do poder público para recuperar drogados?
Pires – Não ofertar para o usuário de crack leitos suficientes para tratar a dependência. O Estado teoriza demais e oferece poucos leitos.
ZH – Como nasceu a Comunidade Terapêutica Pública Reviver?
Pires – Eu era responsável pelo “Projeto de Cara Limpa”, criado em 2002, que tratava da internação pelo município em comunidades terapêuticas por meio da compra de vagas. Enquanto fazíamos esse atendimento, nos organizávamos para criar uma comunidade pública, bancada pelo município.
ZH – Como funciona a comunidade?
Pires – Por meio de grupos de mútua ajuda espalhados no município, os usuários são encaminhados para a rede de atendimento que, por fim, encaminha para a comunidade terapêutica. Há 30 vagas para homens (jovens e adultos) que podem ficar até nove meses internados.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Venho defendendo a criação de Centros Públicos de Tratamento de Dependências e Distúrbios mentais em municípios sede de micro-regiões com investimentos pesados do poder público. O Estado não ser omisso e negligente deixando as ONGs tratarem sozinhas assuntos tão sérios como são as questões das drogas e dos distúrbios mentais que podem levar uma pessoa se aliciada pelo crime, cometer crimes hediondos ou realizar ações terroristas.
OBSERVATÓRIO DO CRACK
Observatório do Crack entra em ação. Site funcionará como banco de dados público para difundir experiências - ZERO HORA 27/04/2011
Os municípios têm, a partir de hoje, um espaço para trocar informações e boas práticas de enfrentamento ao crack. Lançado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), o Observatório do Crack – uma iniciativa inédita no país – servirá como banco de dados, alimentado pela sociedade e por órgãos públicos e privados.
O ponto de partida para o lançamento do observatório foi a pesquisa sobre a situação da droga nos municípios brasileiros, realizada em novembro de 2010, que constatou o alcance nacional do problema, disseminado em todas as regiões.
A investigação aferiu o consumo ou a circulação do crack em 98% das cidades do país.
O Observatório do Crack busca acompanhar a evolução nos municípios, as ações desenvolvidas, os investimentos realizados e os resultados alcançados pelos gestores.
Observatório do Crack pode ser acessado pelo site: http://www.cnm.org.br/crack/
Os municípios têm, a partir de hoje, um espaço para trocar informações e boas práticas de enfrentamento ao crack. Lançado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), o Observatório do Crack – uma iniciativa inédita no país – servirá como banco de dados, alimentado pela sociedade e por órgãos públicos e privados.
O ponto de partida para o lançamento do observatório foi a pesquisa sobre a situação da droga nos municípios brasileiros, realizada em novembro de 2010, que constatou o alcance nacional do problema, disseminado em todas as regiões.
A investigação aferiu o consumo ou a circulação do crack em 98% das cidades do país.
O Observatório do Crack busca acompanhar a evolução nos municípios, as ações desenvolvidas, os investimentos realizados e os resultados alcançados pelos gestores.
Observatório do Crack pode ser acessado pelo site: http://www.cnm.org.br/crack/
domingo, 24 de abril de 2011
SEM LIMITES
Sem Limites (Limitless) é um filme muito ruim. A história envolve um escritor fracassado que passa a se drogar com uma “pílula” ilegal, adquirindo condições excepcionais de inteligência e capacidade física. O sujeito, então, sem esforço, se transforma em um “vencedor”. Fica milionário, seduz as mulheres e entra, triunfalmente, na política. O argumento sustenta o mito de que “usamos apenas 20% das capacidades de nosso cérebro”. A nova droga permitiria o uso de 100% da capacidade cerebral (a propósito: cientistas como James Kakalios afirmam que usamos 100% de nosso cérebro em diferentes momentos e que se 100% de nossos neurônios fossem “ligados” simultaneamente todo o oxigênio disponível seria consumido e o indivíduo provavelmente morreria).
Bobagens à parte, Sem Limites é um filme de inspiração fascista que renova a noção de “seres superiores” – capazes de derrotar impiedosamente a todos em um mundo avesso à solidariedade – e que vincula a promessa de uma “super-humanidade” à indústria farmacêutica. Claro, a droga é perigosa e pode matar; mas o protagonista sabe o que faz e termina encontrando a “dose certa”, garantindo suprimento para o resto da vida. Em síntese: se o tráfico de drogas estivesse na bolsa, suas ações teriam aumentado muito depois desse filme.
Uma rápida menção em uma palestra na UFRGS, sugerindo política mais tolerante com relação à maconha, rendeu ao governador Tarso Genro críticas contundentes. Reinaldo Azevedo (da Veja, claro) chegou a sugerir sua cassação. Silvio Holderbaum escreveu em ZH artigo com o criativo título (especialmente para um publicitário) “Em boca fechada não entra mosca”, criticando o governador, entre outras coisas, por ter se referido ao seu tempo de luta clandestina. Para o articulista, isto seria “um modo sutil de dizer que vivia fora da lei”, concluindo: “ou será que traficantes, assassinos e outros fora da lei também não vivem na clandestinidade?”. Uau! Tarso Genro se referiu à luta clandestina contra a ditadura militar. Uma época em que a “legalidade” era ilegal, fonte de usurpação perpetrada por golpe de Estado. Uma “legalidade” contra as eleições diretas, contra a liberdade de expressão e contra as garantias individuais. Bem, é claro que as pessoas têm o direito de usar apenas 20% de sua capacidade cerebral, mas chama a atenção o que há de desproporcional nas críticas.
Observe-se: o governador não defendeu a legalização da maconha. Afirmou que uma política de drogas não deve tratar a maconha da mesma forma como a heroína ou o crack. Posição que, aliás, é política pública em quase toda a Europa Ocidental e, mais recentemente, mesmo em alguns países sul-americanos. Detalhe: quem defende a descriminalização da maconha é o ex-presidente Fernando Henrique. Ao lado dos também ex-presidentes César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), FHC tem afirmado que, para além dos eventuais malefícios à saúde, é preciso repensar a política criminal por conta dos efeitos muito mais perversos do proibicionismo. A começar pelo tráfico, claro. Posição com a qual estou de pleno acordo. Mas Fernando Henrique não foi, não é e não será criticado por conta desta posição. Todos sabemos a razão. A escolha de Tarso pelos críticos, assim, diz muito mais sobre eles do que sobre o governador.
*MARCOS ROLIM, JORNALISTA
Bobagens à parte, Sem Limites é um filme de inspiração fascista que renova a noção de “seres superiores” – capazes de derrotar impiedosamente a todos em um mundo avesso à solidariedade – e que vincula a promessa de uma “super-humanidade” à indústria farmacêutica. Claro, a droga é perigosa e pode matar; mas o protagonista sabe o que faz e termina encontrando a “dose certa”, garantindo suprimento para o resto da vida. Em síntese: se o tráfico de drogas estivesse na bolsa, suas ações teriam aumentado muito depois desse filme.
Uma rápida menção em uma palestra na UFRGS, sugerindo política mais tolerante com relação à maconha, rendeu ao governador Tarso Genro críticas contundentes. Reinaldo Azevedo (da Veja, claro) chegou a sugerir sua cassação. Silvio Holderbaum escreveu em ZH artigo com o criativo título (especialmente para um publicitário) “Em boca fechada não entra mosca”, criticando o governador, entre outras coisas, por ter se referido ao seu tempo de luta clandestina. Para o articulista, isto seria “um modo sutil de dizer que vivia fora da lei”, concluindo: “ou será que traficantes, assassinos e outros fora da lei também não vivem na clandestinidade?”. Uau! Tarso Genro se referiu à luta clandestina contra a ditadura militar. Uma época em que a “legalidade” era ilegal, fonte de usurpação perpetrada por golpe de Estado. Uma “legalidade” contra as eleições diretas, contra a liberdade de expressão e contra as garantias individuais. Bem, é claro que as pessoas têm o direito de usar apenas 20% de sua capacidade cerebral, mas chama a atenção o que há de desproporcional nas críticas.
Observe-se: o governador não defendeu a legalização da maconha. Afirmou que uma política de drogas não deve tratar a maconha da mesma forma como a heroína ou o crack. Posição que, aliás, é política pública em quase toda a Europa Ocidental e, mais recentemente, mesmo em alguns países sul-americanos. Detalhe: quem defende a descriminalização da maconha é o ex-presidente Fernando Henrique. Ao lado dos também ex-presidentes César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), FHC tem afirmado que, para além dos eventuais malefícios à saúde, é preciso repensar a política criminal por conta dos efeitos muito mais perversos do proibicionismo. A começar pelo tráfico, claro. Posição com a qual estou de pleno acordo. Mas Fernando Henrique não foi, não é e não será criticado por conta desta posição. Todos sabemos a razão. A escolha de Tarso pelos críticos, assim, diz muito mais sobre eles do que sobre o governador.
*MARCOS ROLIM, JORNALISTA
A MACONHA NO PODER
A medíocre constelação de políticos que nos governa só não é pior nem se exaure nas trevas porque nela despontam algumas estrelas com luz própria, em condições de apontar caminhos. Entre nós, por exemplo, Tarso Genro foi sempre uma dessas escassas figuras lúcidas e sóbrias, capazes de entender o futuro a partir das lições do passado para interpretar o cotidiano. Por isto, foi visto como aglutinador e elegeu-se por folgada maioria absoluta.
Mas, o que dizer quando o governador Tarso Genro, ao proferir a aula magna da UFRGS, faz a defesa (quase apologia) do uso da maconha e, entre risos e aplausos, tece uma frase digna da antologia da tolice: “Nunca vi uma pessoa matar por ter fumado um cigarro de maconha!”.
E quem fuma cigarro de tabaco, mata? Por isso se restringe o tabaco ou se proíbe a propaganda na TV e rádio?
Se fosse conversa em roda de bar em fim da tarde, nada a objetar. Pode-se dizer que nunca vimos ninguém matar por beber cerveja e que o alcoolismo do “happy hour” não oferece perigo letal. No entanto, aula magna de Universidade é outra coisa: busca transmitir e amalgamar conhecimento. Ali, não se opina por opinar, nem se está num comício em busca de votos, mas tentando aprofundar teses num nível científico e inteligível.
***
Os “bixos” (ansiosos em conhecer o saber novo da Universidade) o que assimilarão para o futuro ao ouvirem o governador dizer que, na mocidade, só não usou maconha por questão de segurança, pois eram tempos de clandestinidade na ditadura, mas que sabe que a Cannabis “é muito saborosa”??
O uso das drogas é tema candente e é perverso não apenas por seu “componente econômico”, que chega ao poder e à política, como sustenta o governador. A perversão vai muito além e é inumana porque a droga afeta e degrada o sistema cerebral, em maior ou menor grau. A droga é a única doença que se semeia, que se vende e se compra. Sua maldade intrínseca é ser o oposto à beleza da vida. Ao viciar, subjuga e escraviza e, assim, se opõe aos princípios da liberdade humana, da iniciativa pessoal e do livre-arbítrio.
Não entendo como o lúcido Tarso Genro escorregou nessa casca de banana e sustentou a falácia trôpega (típica de “happy hour”) de que “muitos especialistas dizem que a Cannabis sativa faz menos mal do que o cigarro”. Estes “especialistas” em nada se especializaram e ignoram que a maconha entorpece o raciocínio, torna tudo lerdo, retarda a volição e a libido.
E, pior ainda, é porta de entrada ou caminho de passagem para “subir” às drogas pesadas, como heroína ou cocaína. Ou para “descer” à crueldade do “crack”.
***
O cidadão Tarso Genro tem suficiente formação intelectual para pensar e agir como queira, consultando apenas suas inclinações. Proferiu a aula magna, porém, na condição de governador estadual e, como tal, deve ser intérprete da coletividade que governa e à qual está subordinado. Pretender o contrário (que os governados se subordinem ao governante) seria voltar à carcomida ditadura. E ele (que, como muitos de nós, se opôs aos tempos ditatoriais) sequer imagina esse absurdo.
Para marcar o fim dos preconceitos e dos absurdos, foi elucidativo que tenha citado Marx e Heidegger para falar de democracia e República. Mas foi penoso ouvi-lo dizer que não tem “nenhum preconceito” com as drogas.
Brutal é ter preconceito ou discriminar o usuário da droga, vítima num processo escabroso. Mas entre a perversão e a vida, não há escolha. A não ser que se dê todo o poder à maconha...
*FLÁVIO TAVARES, JORNALISTA E ESCRITOR
Mas, o que dizer quando o governador Tarso Genro, ao proferir a aula magna da UFRGS, faz a defesa (quase apologia) do uso da maconha e, entre risos e aplausos, tece uma frase digna da antologia da tolice: “Nunca vi uma pessoa matar por ter fumado um cigarro de maconha!”.
E quem fuma cigarro de tabaco, mata? Por isso se restringe o tabaco ou se proíbe a propaganda na TV e rádio?
Se fosse conversa em roda de bar em fim da tarde, nada a objetar. Pode-se dizer que nunca vimos ninguém matar por beber cerveja e que o alcoolismo do “happy hour” não oferece perigo letal. No entanto, aula magna de Universidade é outra coisa: busca transmitir e amalgamar conhecimento. Ali, não se opina por opinar, nem se está num comício em busca de votos, mas tentando aprofundar teses num nível científico e inteligível.
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Os “bixos” (ansiosos em conhecer o saber novo da Universidade) o que assimilarão para o futuro ao ouvirem o governador dizer que, na mocidade, só não usou maconha por questão de segurança, pois eram tempos de clandestinidade na ditadura, mas que sabe que a Cannabis “é muito saborosa”??
O uso das drogas é tema candente e é perverso não apenas por seu “componente econômico”, que chega ao poder e à política, como sustenta o governador. A perversão vai muito além e é inumana porque a droga afeta e degrada o sistema cerebral, em maior ou menor grau. A droga é a única doença que se semeia, que se vende e se compra. Sua maldade intrínseca é ser o oposto à beleza da vida. Ao viciar, subjuga e escraviza e, assim, se opõe aos princípios da liberdade humana, da iniciativa pessoal e do livre-arbítrio.
Não entendo como o lúcido Tarso Genro escorregou nessa casca de banana e sustentou a falácia trôpega (típica de “happy hour”) de que “muitos especialistas dizem que a Cannabis sativa faz menos mal do que o cigarro”. Estes “especialistas” em nada se especializaram e ignoram que a maconha entorpece o raciocínio, torna tudo lerdo, retarda a volição e a libido.
E, pior ainda, é porta de entrada ou caminho de passagem para “subir” às drogas pesadas, como heroína ou cocaína. Ou para “descer” à crueldade do “crack”.
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O cidadão Tarso Genro tem suficiente formação intelectual para pensar e agir como queira, consultando apenas suas inclinações. Proferiu a aula magna, porém, na condição de governador estadual e, como tal, deve ser intérprete da coletividade que governa e à qual está subordinado. Pretender o contrário (que os governados se subordinem ao governante) seria voltar à carcomida ditadura. E ele (que, como muitos de nós, se opôs aos tempos ditatoriais) sequer imagina esse absurdo.
Para marcar o fim dos preconceitos e dos absurdos, foi elucidativo que tenha citado Marx e Heidegger para falar de democracia e República. Mas foi penoso ouvi-lo dizer que não tem “nenhum preconceito” com as drogas.
Brutal é ter preconceito ou discriminar o usuário da droga, vítima num processo escabroso. Mas entre a perversão e a vida, não há escolha. A não ser que se dê todo o poder à maconha...
*FLÁVIO TAVARES, JORNALISTA E ESCRITOR
sexta-feira, 22 de abril de 2011
UNIVERSITÁRIO TRAFICAVA LSD E ECSTASY EM SHOPPING
FESTA FRUSTRADA. Universitário traficava LSD e ecstasy em shopping - ZERO HORA 22/04/2011
Uma informação impediu, na noite de quarta-feira, que mais uma festa fosse regada a LSD e ecstasy em Porto Alegre. Informados de que a droga seria entregue por um traficante no estacionamento de um shopping na Avenida Assis Brasil, na zona norte da Capital, por volta das 23h, agentes do Denarc chegaram a um homem de 20 anos com o produto em um automóvel Renault C3, preto. O nome do suspeito foi preservado pela polícia.
Com o jovem, um estudante de Análise de Sistemas em uma faculdade de Porto Alegre, os policiais encontraram 50 pontos de LSD e 10 comprimidos de ecstasy. De acordo com o delegado Márcio Moreno, a venda da droga poderia render até R$ 5 mil.
– Tínhamos a informação de que a droga chegaria àquele local e prendemos um dos suspeitos, mas a operação não está encerrada. Estamos apurando o circuito dessas drogas, que são as mais difíceis de se apreender, aqui no Rio Grande do Sul – explica o responsável pela investigação.
O jovem foi abordado quando desceu do carro e autuado em flagrante. A polícia não esclarece para qual festa a droga iria. No ano passado, duas entregas semelhantes foram interceptadas pelo Denarc no mesmo local. Nas duas vezes, porém, foi deixado crack por traficantes em carros estacionados naquele local.
Uma informação impediu, na noite de quarta-feira, que mais uma festa fosse regada a LSD e ecstasy em Porto Alegre. Informados de que a droga seria entregue por um traficante no estacionamento de um shopping na Avenida Assis Brasil, na zona norte da Capital, por volta das 23h, agentes do Denarc chegaram a um homem de 20 anos com o produto em um automóvel Renault C3, preto. O nome do suspeito foi preservado pela polícia.
Com o jovem, um estudante de Análise de Sistemas em uma faculdade de Porto Alegre, os policiais encontraram 50 pontos de LSD e 10 comprimidos de ecstasy. De acordo com o delegado Márcio Moreno, a venda da droga poderia render até R$ 5 mil.
– Tínhamos a informação de que a droga chegaria àquele local e prendemos um dos suspeitos, mas a operação não está encerrada. Estamos apurando o circuito dessas drogas, que são as mais difíceis de se apreender, aqui no Rio Grande do Sul – explica o responsável pela investigação.
O jovem foi abordado quando desceu do carro e autuado em flagrante. A polícia não esclarece para qual festa a droga iria. No ano passado, duas entregas semelhantes foram interceptadas pelo Denarc no mesmo local. Nas duas vezes, porém, foi deixado crack por traficantes em carros estacionados naquele local.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
A SAÚDE MENTAL DESASSISTIDA
A história das doenças mentais é tão antiga quanto a própria humanidade. Desde sempre, algumas pessoas apresentam formas peculiares de pensar, expressar emoções e comportamentos que se caracterizam por condutas estranhas e bizarras. Nos casos extremos, tornam-se até perigosas em relação ao seu próprio bem-estar e/ou das pessoas com quem convivem – familiares e sociedade em geral. Quando o comportamento delas mostra-se excessivamente inadequado e desconectado do senso de realidade comum, o convívio social em suas próprias famílias torna-se insuportável.
Como as crianças pequenas, os doentes mentais graves necessitam cuidados básicos em relação à sua rotina, higiene, alimentação, segurança e hábitos em geral. Do ponto de vista médico e psicológico, é fundamental o tratamento adequado e permanente. Muitas vezes, ao contrário dos outros doentes, que quando sentem algum problema significativo procuram alívio para seu sofrimento, os doentes mentais graves não se consideram doentes e, portanto, julgam ser desnecessária a ajuda especializada.
Nos últimos 20 anos, em diversos países do mundo, decidiu-se que o hospital psiquiátrico era o grande vilão em relação aos problemas inerentes à assistência em saúde mental. No caso específico do Brasil, aproximadamente 80 mil leitos psiquiátricos foram fechados sem que a necessária contrapartida de atendimento ambulatorial fosse construída a tempo suficiente de minimizar as consequências negativas de uma política dessa magnitude. Em vez de qualificar os hospitais existentes e também as equipes de profissionais envolvidas na tarefa de cuidar, sobretudo dos doentes mentais graves, decretou-se reformar todo o sistema.
Recentemente, o estudo intitulado Mapa da Violência, realizado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça do Brasil, revelou que o número de suicídios no Brasil, entre os anos 1998-2008, subiu 33,5%. Estima-se que mais de 95% dos suicídios se relacionam com as doenças mentais. A epidemia de dependentes de crack é um problema significativo de saúde pública que apresenta diversos fatores na sua origem, mas, sem dúvida, um dos principais determinantes é a dificuldade no acesso ao tratamento das doenças mentais. O aumento progressivo do número de moradores de rua nos grandes centros urbanos, desde o início dos anos 1990, é um fenômeno preocupante, que coincide no tempo com a mudança acima mencionada e, surpreendentemente, muito pouco acontece em sentido contrário.
O massacre de estudantes ocorrido no último dia 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, foi conduzido por uma pessoa doente mental grave. Wellington Menezes de Oliveira vivia isolado com seus pensamentos delirantes, dominado por uma insanidade, completamente desassistido em sua saúde mental. As consequências da ausência de tratamento médico e psicológico dos doentes mentais graves são perturbadoras e cada vez mais onerosas para a sociedade.
FERNANDO LEJDERMAN, MÉDICO PSIQUIATRA - ZERO HORA 21/04/2011
Como as crianças pequenas, os doentes mentais graves necessitam cuidados básicos em relação à sua rotina, higiene, alimentação, segurança e hábitos em geral. Do ponto de vista médico e psicológico, é fundamental o tratamento adequado e permanente. Muitas vezes, ao contrário dos outros doentes, que quando sentem algum problema significativo procuram alívio para seu sofrimento, os doentes mentais graves não se consideram doentes e, portanto, julgam ser desnecessária a ajuda especializada.
Nos últimos 20 anos, em diversos países do mundo, decidiu-se que o hospital psiquiátrico era o grande vilão em relação aos problemas inerentes à assistência em saúde mental. No caso específico do Brasil, aproximadamente 80 mil leitos psiquiátricos foram fechados sem que a necessária contrapartida de atendimento ambulatorial fosse construída a tempo suficiente de minimizar as consequências negativas de uma política dessa magnitude. Em vez de qualificar os hospitais existentes e também as equipes de profissionais envolvidas na tarefa de cuidar, sobretudo dos doentes mentais graves, decretou-se reformar todo o sistema.
Recentemente, o estudo intitulado Mapa da Violência, realizado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça do Brasil, revelou que o número de suicídios no Brasil, entre os anos 1998-2008, subiu 33,5%. Estima-se que mais de 95% dos suicídios se relacionam com as doenças mentais. A epidemia de dependentes de crack é um problema significativo de saúde pública que apresenta diversos fatores na sua origem, mas, sem dúvida, um dos principais determinantes é a dificuldade no acesso ao tratamento das doenças mentais. O aumento progressivo do número de moradores de rua nos grandes centros urbanos, desde o início dos anos 1990, é um fenômeno preocupante, que coincide no tempo com a mudança acima mencionada e, surpreendentemente, muito pouco acontece em sentido contrário.
O massacre de estudantes ocorrido no último dia 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, foi conduzido por uma pessoa doente mental grave. Wellington Menezes de Oliveira vivia isolado com seus pensamentos delirantes, dominado por uma insanidade, completamente desassistido em sua saúde mental. As consequências da ausência de tratamento médico e psicológico dos doentes mentais graves são perturbadoras e cada vez mais onerosas para a sociedade.
FERNANDO LEJDERMAN, MÉDICO PSIQUIATRA - ZERO HORA 21/04/2011
terça-feira, 19 de abril de 2011
TRATAMENTO - HOSPITAL OFERECE OFICINAS DE ARTE
COMBATE À PEDRA. Arte para ajudar na luta contra o crack - ZERO HORA 19/04/2011
Hospital Conceição oferece oficinas, além do tratamento médico a viciadas
No início de fevereiro, uma adolescente de 16 anos, grávida, decidiu procurar ajuda após fumar a última pedra de crack da porção que havia roubado de um namorado, que vendia a droga.
Há dias sem dormir, ela procurou o Conselho Tutelar, que a encaminhou à Unidade de Internação Psiquiátrica para Adolescentes do Hospital Conceição (HC), em Porto Alegre. Hoje, no oitavo mês de gestação, ela e outras cinco jovens entre 13 e 16 anos estão desintoxicadas e se preparam para seguir o tratamento contra o vício em outros centros.
O trabalho feito no HC é a fase inicial de uma terapia diária que pode levar anos. Conforme a psiquiatra da Infância e da Adolescência Fernanda Krieger, as pacientes passam cerca de duas semanas em desintoxicação, e tomam sedativos para controlar a abstinência. Ao longo do tratamento, a medicação vai sendo reduzida:
– O acompanhamento médico, psicológico e ocupacional dá conta da complexidade do tratamento contra o crack. As atividades que fazemos mostram às pacientes que elas podem se sentir bem sem estar medicadas – explica Fernanda, para quem as oficinas de arte permitem que as meninas desenvolvam um talento que talvez nem saibam que tenham.
Na tarde de ontem, membros do Núcleo Urbanoide ministraram uma oficina de grafite para as seis pacientes, que pintaram as paredes da sala de convivência da Unidade de Internação Psiquiátrica para Adolescentes. Animadas, cantavam enquanto pincelavam o fundo da pintura que receberia figuras de flores e outras formas.
De acordo com a terapeuta ocupacional Nátali Pfluck, as conversas, atividades manuais e de convivência ajudam asgarotas a retomar o que foi deixado de lado em razão do vício:
Elas reaprendem coisas da vida cotidiana para cuidarem de si mesmas.
Depois que der à luz, a jovem de 16 anos deve ser transferida para uma comunidade terapêutica, onde se ocupará cuidando da filha e de si mesma:
– Não vejo a hora de ela nascer.
Hospital Conceição oferece oficinas, além do tratamento médico a viciadas
No início de fevereiro, uma adolescente de 16 anos, grávida, decidiu procurar ajuda após fumar a última pedra de crack da porção que havia roubado de um namorado, que vendia a droga.
Há dias sem dormir, ela procurou o Conselho Tutelar, que a encaminhou à Unidade de Internação Psiquiátrica para Adolescentes do Hospital Conceição (HC), em Porto Alegre. Hoje, no oitavo mês de gestação, ela e outras cinco jovens entre 13 e 16 anos estão desintoxicadas e se preparam para seguir o tratamento contra o vício em outros centros.
O trabalho feito no HC é a fase inicial de uma terapia diária que pode levar anos. Conforme a psiquiatra da Infância e da Adolescência Fernanda Krieger, as pacientes passam cerca de duas semanas em desintoxicação, e tomam sedativos para controlar a abstinência. Ao longo do tratamento, a medicação vai sendo reduzida:
– O acompanhamento médico, psicológico e ocupacional dá conta da complexidade do tratamento contra o crack. As atividades que fazemos mostram às pacientes que elas podem se sentir bem sem estar medicadas – explica Fernanda, para quem as oficinas de arte permitem que as meninas desenvolvam um talento que talvez nem saibam que tenham.
Na tarde de ontem, membros do Núcleo Urbanoide ministraram uma oficina de grafite para as seis pacientes, que pintaram as paredes da sala de convivência da Unidade de Internação Psiquiátrica para Adolescentes. Animadas, cantavam enquanto pincelavam o fundo da pintura que receberia figuras de flores e outras formas.
De acordo com a terapeuta ocupacional Nátali Pfluck, as conversas, atividades manuais e de convivência ajudam asgarotas a retomar o que foi deixado de lado em razão do vício:
Elas reaprendem coisas da vida cotidiana para cuidarem de si mesmas.
Depois que der à luz, a jovem de 16 anos deve ser transferida para uma comunidade terapêutica, onde se ocupará cuidando da filha e de si mesma:
– Não vejo a hora de ela nascer.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
MÉDICOS DEFENDEM MACONHA TERAPÊUTICA
ISIS BRUM - JORNAL DA TARDE, 17 de abril de 2011
O lançamento mundial de um medicamento produzido à base de maconha pela farmacêutica britânica GW Pharma, e que será comercializado na América do Norte e na Europa pelo laboratório Novartis, reacendeu as discussões entre os especialistas brasileiros sobre o uso medicinal da droga no País. Por aqui, o princípio ativo do remédio (Sativex), usado para aliviar a dor de pacientes com esclerose múltipla, não é permitido.
O Brasil é signatário de tratados diversos que consideram a substância ilícita, o que dificulta inclusive o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre as propriedades terapêuticas da planta e suas reações no cérebro.
Pesquisadores ouvidos pelo JT comparam a importância do estudo da cannabis sativa (nome científico da maconha) com a relevância do ópio para o desenvolvimento da morfina – medicamento essencial para o tratamento da dor aguda. E reforçam o argumento de que a possibilidade de uso medicinal não é sinônimo de liberação ou legalização da droga.
“O medicamento tem estudo clínico, existem proporções corretas das substâncias usadas, imprescindíveis ao seu funcionamento”, defende Hercílio Pereira de Oliveira Júnior, médico psiquiatra do Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Oliveira Júnior, ao contrário do remédio, a droga ilícita não tem padrões de equilíbrio entre os substratos terapêuticos e pode causar danos à saúde de quem a consome. “Pode ampliar a ansiedade, causar um estado depressivo e psicótico, com alucinações, e problemas pulmonares provocados pelo ato de fumar.”
Perspectivas
Estudos comprovam que a cannabis reduz os efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômito, estimula o apetite em pacientes com aids, pode ser usada para tratar o glaucoma e aliviar a dor crônica. “As perspectivas científicas mostram que vale a pena aprofundar os estudos sobre a planta”, avalia Oliveira Júnior.
O Sativex, por exemplo, não é vendido como cigarro – e sim na forma de um spray. Sua composição reúne apenas dois substratos da maconha: o delta9-tetraidrocanabinol e o canabidiol.
“Não causa mais ou menos dependência do que calmantes e antidepressivos. A dependência não é argumento considerável para proibir até mesmo a pesquisa”, diz Dartiu Xavier da Silveira, professor livre-docente em Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
Defensor da criação de uma agência reguladora para o setor, Oliveira critica a legislação restritiva brasileira e afirma que o preconceito trava a pesquisa de medicamentos que poderiam ser desenvolvidos até para tratar a dependência química.
“A questão não é proibir, mas controlar. Não se proíbe a morfina porque algumas pessoas fazem mau uso”, avalia. O psiquiatra lembra que não é necessário o plantio em terras brasileiras da maconha para os estudos. “Para pesquisa, podemos importar.”
Diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, o psicofarmacologista Elisaldo Carlini também acredita que o Brasil está atrasado em relação às pesquisas sobre o potencial terapêutico da maconha por puro preconceito.
“No século passado, foi considerada droga diabólica e só nos últimos 30 anos é que se retomaram os estudos terapêuticos”, conta Carlini. De acordo com ele, pesquisas mostraram que o cérebro humano possui ramais de neurotransmissores e receptores sensíveis ao estímulo da cannabis. O sistema foi chamado de endocanabinoide, que, se cientificamente estudado e estimulado, pode levar ao alívio ou à cura de várias doenças.
Legislação
Até o momento, a legislação brasileira proíbe o consumo de qualquer medicamento à base de maconha. Mas uma decisão judicial pode autorizar seu uso em casos específicos.
A comercialização do Sativex ainda não foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Procurada pelo Jornal da Tarde, a agência não se manifestou sobre o assunto.
O lançamento mundial de um medicamento produzido à base de maconha pela farmacêutica britânica GW Pharma, e que será comercializado na América do Norte e na Europa pelo laboratório Novartis, reacendeu as discussões entre os especialistas brasileiros sobre o uso medicinal da droga no País. Por aqui, o princípio ativo do remédio (Sativex), usado para aliviar a dor de pacientes com esclerose múltipla, não é permitido.
O Brasil é signatário de tratados diversos que consideram a substância ilícita, o que dificulta inclusive o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre as propriedades terapêuticas da planta e suas reações no cérebro.
Pesquisadores ouvidos pelo JT comparam a importância do estudo da cannabis sativa (nome científico da maconha) com a relevância do ópio para o desenvolvimento da morfina – medicamento essencial para o tratamento da dor aguda. E reforçam o argumento de que a possibilidade de uso medicinal não é sinônimo de liberação ou legalização da droga.
“O medicamento tem estudo clínico, existem proporções corretas das substâncias usadas, imprescindíveis ao seu funcionamento”, defende Hercílio Pereira de Oliveira Júnior, médico psiquiatra do Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Oliveira Júnior, ao contrário do remédio, a droga ilícita não tem padrões de equilíbrio entre os substratos terapêuticos e pode causar danos à saúde de quem a consome. “Pode ampliar a ansiedade, causar um estado depressivo e psicótico, com alucinações, e problemas pulmonares provocados pelo ato de fumar.”
Perspectivas
Estudos comprovam que a cannabis reduz os efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômito, estimula o apetite em pacientes com aids, pode ser usada para tratar o glaucoma e aliviar a dor crônica. “As perspectivas científicas mostram que vale a pena aprofundar os estudos sobre a planta”, avalia Oliveira Júnior.
O Sativex, por exemplo, não é vendido como cigarro – e sim na forma de um spray. Sua composição reúne apenas dois substratos da maconha: o delta9-tetraidrocanabinol e o canabidiol.
“Não causa mais ou menos dependência do que calmantes e antidepressivos. A dependência não é argumento considerável para proibir até mesmo a pesquisa”, diz Dartiu Xavier da Silveira, professor livre-docente em Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
Defensor da criação de uma agência reguladora para o setor, Oliveira critica a legislação restritiva brasileira e afirma que o preconceito trava a pesquisa de medicamentos que poderiam ser desenvolvidos até para tratar a dependência química.
“A questão não é proibir, mas controlar. Não se proíbe a morfina porque algumas pessoas fazem mau uso”, avalia. O psiquiatra lembra que não é necessário o plantio em terras brasileiras da maconha para os estudos. “Para pesquisa, podemos importar.”
Diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, o psicofarmacologista Elisaldo Carlini também acredita que o Brasil está atrasado em relação às pesquisas sobre o potencial terapêutico da maconha por puro preconceito.
“No século passado, foi considerada droga diabólica e só nos últimos 30 anos é que se retomaram os estudos terapêuticos”, conta Carlini. De acordo com ele, pesquisas mostraram que o cérebro humano possui ramais de neurotransmissores e receptores sensíveis ao estímulo da cannabis. O sistema foi chamado de endocanabinoide, que, se cientificamente estudado e estimulado, pode levar ao alívio ou à cura de várias doenças.
Legislação
Até o momento, a legislação brasileira proíbe o consumo de qualquer medicamento à base de maconha. Mas uma decisão judicial pode autorizar seu uso em casos específicos.
A comercialização do Sativex ainda não foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Procurada pelo Jornal da Tarde, a agência não se manifestou sobre o assunto.
LÍDER PARTIDÁRIO DEFENDE PLANTIO DE MACONHA EM COOPERATIVA
Líder do PT defende plantio de maconha em cooperativa - FILIPE COUTINHO, DE BRASÍLIA - FOLHA ONLINE, 17/04/2011 - 07h33
Na contramão do que prega o governo Dilma Rousseff, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), defende a liberação do plantio de maconha e a criação de cooperativas formadas por usuários.
Num recente debate sobre o assunto, o deputado disse que a política de "cerco" às drogas é "perversa" e gera mais violência. Dilma assumiu o governo incluindo entre suas prioridades o combater "sem tréguas" ao crime organizado e às drogas.
Em janeiro, a presidente desistiu de nomear o então secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas depois que ele sugeriu numa entrevista a adoção de penas alternativas para pequenos traficantes.
Assim como Abramovay, o líder do PT na Câmara afirmou que a prisão de pequenos traficantes contribui para engrossar as fileiras das organizações criminosas.
"São mães de família que sozinhas têm que criar os filhos e passam a vender", disse o deputado. "As prisões têm levado a organizar a violência contra a sociedade."
Teixeira falou sobre o assunto num debate organizado pelos grupos "Matilha Cultural" e "Desentorpecendo a Razão" em São Paulo, em 24 de fevereiro, um mês após a queda de Abramovay.
Um vídeo com a íntegra da exposição foi publicado no blog do deputado e no site Hempadão (cujo título faz uma brincadeira com as palavras "hemp", maconha em inglês, e "empadão").
MODELO ESPANHOL
Teixeira disse no debate que o governo deveria autorizar a criação de cooperativas para o plantio e a distribuição da maconha. "O melhor modelo é o da Espanha: cooperativas de usuários, onde se produz para o consumo dos próprios usuários, sem fins lucrativos", afirmou.
O líder do PT disse que, se comer sanduíches do McDonald's, "talvez o maior crime", não é proibido, o governo não poderia impedir também o plantio de maconha.
"Cabe ao Estado dizer que faz mal à saúde. Não existe crime de autolesão. Se eu quero, eu posso usar, tenho direitos como usuário. E isso o Estado não pode te negar."
Segundo ele, a forma como o governo e alguns juízes tratam as drogas é um tiro no pé: não garante a segurança nem a saúde dos usuários.
A Folha fez vários pedidos de entrevista ao deputado desde 16 de março, mas sua assessoria não deu resposta.
No debate de fevereiro, Teixeira fez um apelo aos usuários de maconha: "Só a coragem pública daqueles que vão às ruas discutir fará com que esse tema avance".
Ele disse que irá sugerir ao Ministério da Justiça que o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas faça um projeto com as "mudanças óbvias". O deputado afirmou ainda que pedirá o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) --simpatizantes de mudanças na legislação sobre drogas.
Para o líder do PT, a proliferação do crack complicou a discussão sobre a maconha. "Ele não é o todo, ele é uma parte. É o resultado dessa política de cerco. Ele não pode interditar o debate sobre as demais drogas recreativas".
Ao defender a regulamentação do plantio da maconha, Teixeira afirmou que isso não aumentaria a oferta da droga. "Esse cenário que as pessoas têm medo, de que 'no dia em que legalizar, vão oferecer ao meu filho', não é o futuro, é o presente. Hoje liberou geral. É mais fácil adquirir drogas na escola do que comprar antibióticos."
A legislação atual prevê medidas socioeducativas para usuários da droga apanhados em flagrante e prisão para os traficantes.
Na contramão do que prega o governo Dilma Rousseff, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), defende a liberação do plantio de maconha e a criação de cooperativas formadas por usuários.
Num recente debate sobre o assunto, o deputado disse que a política de "cerco" às drogas é "perversa" e gera mais violência. Dilma assumiu o governo incluindo entre suas prioridades o combater "sem tréguas" ao crime organizado e às drogas.
Em janeiro, a presidente desistiu de nomear o então secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas depois que ele sugeriu numa entrevista a adoção de penas alternativas para pequenos traficantes.
Assim como Abramovay, o líder do PT na Câmara afirmou que a prisão de pequenos traficantes contribui para engrossar as fileiras das organizações criminosas.
"São mães de família que sozinhas têm que criar os filhos e passam a vender", disse o deputado. "As prisões têm levado a organizar a violência contra a sociedade."
Teixeira falou sobre o assunto num debate organizado pelos grupos "Matilha Cultural" e "Desentorpecendo a Razão" em São Paulo, em 24 de fevereiro, um mês após a queda de Abramovay.
Um vídeo com a íntegra da exposição foi publicado no blog do deputado e no site Hempadão (cujo título faz uma brincadeira com as palavras "hemp", maconha em inglês, e "empadão").
MODELO ESPANHOL
Teixeira disse no debate que o governo deveria autorizar a criação de cooperativas para o plantio e a distribuição da maconha. "O melhor modelo é o da Espanha: cooperativas de usuários, onde se produz para o consumo dos próprios usuários, sem fins lucrativos", afirmou.
O líder do PT disse que, se comer sanduíches do McDonald's, "talvez o maior crime", não é proibido, o governo não poderia impedir também o plantio de maconha.
"Cabe ao Estado dizer que faz mal à saúde. Não existe crime de autolesão. Se eu quero, eu posso usar, tenho direitos como usuário. E isso o Estado não pode te negar."
Segundo ele, a forma como o governo e alguns juízes tratam as drogas é um tiro no pé: não garante a segurança nem a saúde dos usuários.
A Folha fez vários pedidos de entrevista ao deputado desde 16 de março, mas sua assessoria não deu resposta.
No debate de fevereiro, Teixeira fez um apelo aos usuários de maconha: "Só a coragem pública daqueles que vão às ruas discutir fará com que esse tema avance".
Ele disse que irá sugerir ao Ministério da Justiça que o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas faça um projeto com as "mudanças óbvias". O deputado afirmou ainda que pedirá o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) --simpatizantes de mudanças na legislação sobre drogas.
Para o líder do PT, a proliferação do crack complicou a discussão sobre a maconha. "Ele não é o todo, ele é uma parte. É o resultado dessa política de cerco. Ele não pode interditar o debate sobre as demais drogas recreativas".
Ao defender a regulamentação do plantio da maconha, Teixeira afirmou que isso não aumentaria a oferta da droga. "Esse cenário que as pessoas têm medo, de que 'no dia em que legalizar, vão oferecer ao meu filho', não é o futuro, é o presente. Hoje liberou geral. É mais fácil adquirir drogas na escola do que comprar antibióticos."
A legislação atual prevê medidas socioeducativas para usuários da droga apanhados em flagrante e prisão para os traficantes.
domingo, 17 de abril de 2011
OXI - MAIS LETAL QUE O CRACK, DROGA SE ESPALHA PELO BRASIL
VIAGEM AO ABISMO. Derivado de cocaína e mais letal que o crack, oxi destrói jovens e crianças no Acre - O GLOBO, 16/04/2011 às 18h46m. Carolina Benevides, enviada especial
RIO BRANCO - As ruas de Rio Branco são hoje um retrato da degradação provocada por uma nova droga, mais letal do que o crack, que está se espalhando pelo Brasil: o oxi, um subproduto da cocaína. A droga chegou ao país pelo Acre. Na capital, ao redor do Rio Acre, perto de prédios públicos, no Centro da cidade, nas periferias e em bairros de classe média alta, viciados em oxi perambulam pelas ruas e afirmam: "Não tem bairro onde não se encontre a pedra".
O oxi, abreviação de oxidado, é uma mistura de base livre de cocaína, querosene - ou gasolina, diesel e até solução de bateria -, cal e permanganato de potássio. Como o crack, o oxi é uma pedra, só que branca, e é fumado num cachimbo. A diferença é que é mais barato e mata mais rápido.
A pedra tem 80% de cocaína, enquanto o crack não passa de 40%. O oxi veio da Bolívia e do Peru e entrou no país pelo Acre, a partir dos municípios de Brasiléia e Epitaciolândia. Hoje está em todos os estados da Região Norte, em Goiânia e em Mato Grosso do Sul, no Distrito Federal, em alguns estados do Nordeste e acaba de chegar a São Paulo. No Rio, os primeiros relatos de que a pedra pode ser encontrada na capital também já começaram a aparecer. Mas a polícia ainda não registrou apreensões.
Estado que faz fronteira com o Peru e a Bolívia - os maiores produtores de cocaína do mundo - e ainda próximo à Colômbia, o Acre há tempos virou rota do tráfico internacional. De uns anos para cá, a facilidade com que a base livre de cocaína cruza as fronteiras fez com que o oxi tomasse conta da capital e de pequenos municípios. A pedra age rápido: viciados dizem que não leva 20 segundos para sentir um "barato" e que em cinco minutos a pessoa já está com vontade de usar de novo. Fumado, geralmente em latas de bebida ou em cachimbos como os que servem para o crack, o oxi tem potencial para viciar logo na primeira vez e é uma droga barata: é vendida em média por R$ 5 e até R$ 2.
- Quando a Bolívia se tornou produtora, o preço caiu e a cocaína se difundiu no Acre. A realidade é que o oxi é barato, está espalhado por Rio Branco e tem potencial para se espalhar por todo o Brasil, já que a base livre de cocaína está em todos os estados do país e já foi apreendida em todos os lugares. O oxi não precisa de laboratório para ser produzido, e isso facilita a expansão - diz Maurício Moscardi, delegado da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal no Acre, que em 2010 apreendeu no estado quase 300 quilos de base livre de cocaína.
SBT - Conexão Repórter - OXI, Uma Droga que Ameaça - 11/11/10
EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA
Na semana que passou, o senhor Tarso Genro proferiu uma palestra em uma aula magna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Nesse evento, foi aplaudido e gerou gargalhadas dos presentes. Pasmem, o assunto que gerou tal reação foi a posição do nosso governador com relação a maior tolerância à maconha.
Na ocasião, o senhor governador “também reconheceu que não foi por falta de vontade que ele não experimentou maconha na juventude”.
Conforme ele, “era porque as condições em que a gente vivia, trabalhando na clandestinidade, não permitiam adicionar mais uma questão de segurança. Apenas por isso. Mas dizem que é muito bom”.
Fazer tal afirmação é um modo sutil de dizer que vivia fora das leis, ou será que os traficantes, atravessadores de produtos roubados, assassinos e outros fora da lei também não vivem na clandestinidade?
Também afirma nosso governador que “a Cannabis sativa (nome científico da planta da maconha) é diferente da heroína. Muitos especialistas dizem fazer menos mal do que o cigarro. Dizem. Eu nunca vi uma pessoa matar por ter fumado um cigarro de maconha”.
Com relação a esta afirmação, eu gostaria que o nosso governador participasse apenas uma vez de um grupo de apoio ou tivesse tempo de ouvir um pai ou uma mãe que tem seu filho dependente dessa droga. Ele veria que o grande mal dessa droga está na destruição das relações familiares, além, é claro, das doenças que essa droga traz, sendo as sequelas mentais as mais graves. Quanto ao fato de ele não saber de alguém que matou por ter fumado um cigarro de maconha, eu também não tenho conhecimento, mas aqueles que fumam o segundo, terceiro, quarto... estes agridem, mentem, roubam e, quando a maconha não tem mais o efeito desejado pelo estado de dependência, partem para outras drogas e muitos chegam ao crack, que hoje é chamado a pedra da morte, que a mídia nos mostra diariamente que esta droga mata o usuário e este mata para ter condições de ter a droga.
Em 2009, o senhor Tarso, falando na CPI da Violência sobre a proposta do Ministério da Justiça de acabar com a prisão para pequenos traficantes, disse: “Não os identifico como pequenos traficantes, mas como jovens que são vítimas dos grupos criminosos. Eles são aparelhados pelo crime e acabam incorporados pela estrutura porque não têm alternativas”.
Com relação a esta posição, quero lembrar o senhor governador de que esses jovens “não têm alternativas” porque nossos governantes, que deveriam prover as oportunidades de estudo e emprego, não o fazem, levando muitos deles, com uma estrutura familiar frágil, ao crime, que é extremamente organizado. Temos que ter a consciência de que as drogas chegam aos dependentes por esses jovens “sem alternativas”, pois os grandes traficantes estão em total proteção na clandestinidade, inclusive nas penitenciárias, gerindo suas “organizações criminosas”.
Eu gostaria muito de ter 30 minutos do precioso tempo do nosso governador não apenas para mostrar a ele os malefícios da maconha e outras drogas. Mas, sim, para levar alguns pais que tenham esse tipo de problema em seus lares para que o senhor governador ouvisse a verdadeira realidade em que vivem essas pessoas.
Pensar todos podem, mas algumas pessoas, pela posição que ocupam perante a sociedade, deveriam medir melhor o resultado e a força que têm suas palavras.
Ser aplaudido por futuros profissionais das mais diversas áreas por defender uma maior tolerância à maconha me assusta, pois faz pensar que teremos que ter no futuro mais tolerância também com heroína, LSD, cocaína, êxtase, crack e tantas outras drogas que temos hoje no mundo.
SILVIO HOLDERBAUM, PUBLICITÁRIO - ZERO HORA 17/04/2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
CRACK LEVA GAROTA A MATAR APOSENTADA
Adolescente foi descoberta após vender macarrão roubado da casa da vítima - MARIELISE FERREIRA, zero hora 15/04/2011
Ainda abalados com a morte da aposentada Nelci Dias da Silva, 92 anos, com golpes de faca e tesoura na quarta-feira, os moradores do bairro Progresso, em Erechim, sofreram ontem um segundo choque. Acompanhada da mãe, uma garota de 13 anos confessou o crime na Delegacia da Polícia Civil, no estopim de uma história de dependência do crack que já dura dois anos.
Vinda de uma família desestruturada e pobre, a garota cresceu em meio a dificuldades com outros dois irmãos mais velhos. Há dois anos um registro policial feito pela própria mãe já acenava com um pedido de socorro. Ela relatou que um dos filhos mais velhos teria ferido o outro acidentalmente ao manusear uma espingarda, dentro de casa.
Com a situação familiar complicada, agravada pela circulação intensa de drogas no bairro onde mora, era difícil que o destino da adolescente fosse outro: passou a envolver-se com o crack.
– Isto é a droga da pedra. O bairro estava bem mais tranquilo, mas ultimamente tem droga por toda a parte e até crianças pequenas, com menos de nove anos, usando – conta uma moradora.
As amigas da garota que até o ano passado frequentava a 4ª série do Ensino Fundamental em uma escola municipal veem na droga o marco que transtornou a vida dela. Aos poucos, começou a cometer pequenos furtos no bairro, vitimando e aterrorizando moradores de Erechim como Nelci.
A situação ficou tão complicada que abandonou a casa da mãe para viver com o namorado e ainda deixou os estudos.
– Ela era uma menina normal, como a gente. Apenas tinha um pouco de dificuldade no colégio – conta uma colega da escola.
A confissão do crime foi feita em meio às lágrimas. Ela contou ao delegado que estava sob o efeito de drogas no momento em que assassinou a idosa. A motivação banal chamou ainda mais atenção: ela estaria desgostosa com Nelci, que teria reclamado entre os vizinhos de um furto de botijão de gás. O seu envolvimento no caso foi descoberto depois que ela tentou vender dois pacotes de macarrão que teria levado da casa após o assassinato.
Infratora foi internada em clínica de reabilitação
O delegado José Roberto Lukaszewigz, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Erechim viu a confissão com reservas e disse que é preciso investigar mais para encontrar evidências que confirmem e versão da garota. A investigação também deverá apurar se há outras pessoas envolvidas no caso, ou se ela realmente teria cometido o crime sozinha.
– Apenas a confissão não é suficiente, vamos buscar outras evidências que possam comprovar a participação da adolescente no crime – salientou o delegado.
Depois de confessar o crime, a garota que estava morando com a sogra precisou se mudar para a casa do pai, um porão a seis quadras do local do crime. Mas ainda na tarde de ontem, foi conduzida pelo Conselho Tutelar para uma clínica de recuperação onde foi internada.
A medida, conforme a promotoria de Justiça, é protetiva. A possibilidade de internação em casa correcional só será avaliada pela Justiça após a conclusão do inquérito, se for comprovada a participação da adolescente.
Como teria sido o crime, segundo relato da garota:
- Indignada com os comentários sobre o furto de um botijão de gás na casa da vítima, a adolescente teria batido à porta da residência durante a noite, dizendo que queria visitá-la.
- Quando Nelci abriu a porta, já foi atacada pela garota, que levava consigo uma faca. Ela contou estar sob o efeito do crack no momento em que chegou a casa da idosa.
- Antes de sair ela teria jogado um cobertor sobre a aposentada, que ficou caída ao chão do quarto, já sem vida.
Ainda abalados com a morte da aposentada Nelci Dias da Silva, 92 anos, com golpes de faca e tesoura na quarta-feira, os moradores do bairro Progresso, em Erechim, sofreram ontem um segundo choque. Acompanhada da mãe, uma garota de 13 anos confessou o crime na Delegacia da Polícia Civil, no estopim de uma história de dependência do crack que já dura dois anos.
Vinda de uma família desestruturada e pobre, a garota cresceu em meio a dificuldades com outros dois irmãos mais velhos. Há dois anos um registro policial feito pela própria mãe já acenava com um pedido de socorro. Ela relatou que um dos filhos mais velhos teria ferido o outro acidentalmente ao manusear uma espingarda, dentro de casa.
Com a situação familiar complicada, agravada pela circulação intensa de drogas no bairro onde mora, era difícil que o destino da adolescente fosse outro: passou a envolver-se com o crack.
– Isto é a droga da pedra. O bairro estava bem mais tranquilo, mas ultimamente tem droga por toda a parte e até crianças pequenas, com menos de nove anos, usando – conta uma moradora.
As amigas da garota que até o ano passado frequentava a 4ª série do Ensino Fundamental em uma escola municipal veem na droga o marco que transtornou a vida dela. Aos poucos, começou a cometer pequenos furtos no bairro, vitimando e aterrorizando moradores de Erechim como Nelci.
A situação ficou tão complicada que abandonou a casa da mãe para viver com o namorado e ainda deixou os estudos.
– Ela era uma menina normal, como a gente. Apenas tinha um pouco de dificuldade no colégio – conta uma colega da escola.
A confissão do crime foi feita em meio às lágrimas. Ela contou ao delegado que estava sob o efeito de drogas no momento em que assassinou a idosa. A motivação banal chamou ainda mais atenção: ela estaria desgostosa com Nelci, que teria reclamado entre os vizinhos de um furto de botijão de gás. O seu envolvimento no caso foi descoberto depois que ela tentou vender dois pacotes de macarrão que teria levado da casa após o assassinato.
Infratora foi internada em clínica de reabilitação
O delegado José Roberto Lukaszewigz, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Erechim viu a confissão com reservas e disse que é preciso investigar mais para encontrar evidências que confirmem e versão da garota. A investigação também deverá apurar se há outras pessoas envolvidas no caso, ou se ela realmente teria cometido o crime sozinha.
– Apenas a confissão não é suficiente, vamos buscar outras evidências que possam comprovar a participação da adolescente no crime – salientou o delegado.
Depois de confessar o crime, a garota que estava morando com a sogra precisou se mudar para a casa do pai, um porão a seis quadras do local do crime. Mas ainda na tarde de ontem, foi conduzida pelo Conselho Tutelar para uma clínica de recuperação onde foi internada.
A medida, conforme a promotoria de Justiça, é protetiva. A possibilidade de internação em casa correcional só será avaliada pela Justiça após a conclusão do inquérito, se for comprovada a participação da adolescente.
Como teria sido o crime, segundo relato da garota:
- Indignada com os comentários sobre o furto de um botijão de gás na casa da vítima, a adolescente teria batido à porta da residência durante a noite, dizendo que queria visitá-la.
- Quando Nelci abriu a porta, já foi atacada pela garota, que levava consigo uma faca. Ela contou estar sob o efeito do crack no momento em que chegou a casa da idosa.
- Antes de sair ela teria jogado um cobertor sobre a aposentada, que ficou caída ao chão do quarto, já sem vida.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
CUIDADO, COMPANHEIRO
Já havia sido bem demonstrado que o uso de maconha por jovens está associado à queda no desempenho escolar, à evasão escolar, à formação acadêmica inferior e ao aumento do desemprego medido aos 25 anos. Igualmente, está bem demonstrado o aumento da prevalência dos quadros depressivos em usuários de maconha. Agora, a prestigiosa revista British Medical Journal acaba de publicar um estudo bem controlado de seguimento de 10 anos e conduzido em diferentes centros de pesquisa, entre os quais o King’s College of London e o Max Planck Institute de Munique, com jovens usuários de maconha, concluindo o que outros autores tinham suspeitado: que o uso de maconha duplica a chance de alguém ter um quadro psicótico.
Por outro lado, também está bem demonstrado, em nossa cultura, que, na história natural de um dependente químico, a primeira droga de experimentação é o álcool. A segunda, a maconha, que, no Brasil, é a droga ilícita mais consumida e, infelizmente, Porto Alegre, a campeã no seu consumo por jovens que, ensinam-nos os últimos achados das neurociências, apenas aos 22, 23 anos completam seu amadurecimento cerebral. Antes disso, apresentam importantes dificuldades no processo de tomada de decisões razoáveis, posto que sua região cortical responsável por fazer isso, o córtex pré-frontal, encontra-se imatura.
Devido a esta grande imaturidade do cérebro juvenil, é que se impõe que tanto os pais quanto os educadores tomem conta de seus filhos/alunos adolescentes. De fato, pais que sabem onde seu filho está, com quem e fazendo o que, têm 12 vezes menos filhos envolvidos com drogas do que os que não sabem. Igualmente, um Estado que protege seus adolescentes impedindo-os de consumir bebidas alcoólicas e reduzindo a oferta das drogas ilícitas está cumprindo o seu papel.
Portanto, um dos vértices importantes de um programa de prevenção dos problemas decorrentes do consumo de drogas é diminuir o aporte global destas em nossa sociedade. Mecanismos eficazes de controle estão bem delineados. Entre eles a lei seca no trânsito, a proibição de propaganda de álcool e tabaco, bem como o desestímulo geral de consumo de drogas ilícitas.
Quando os jovens que já experimentaram maconha são perguntados por que o fizeram, a resposta universal é por curiosidade e pressão do grupo. Quando os não experimentadores, a maioria, são inquiridos sobre os motivos da não experimentação, a resposta é porque faz mal para a saúde e porque é proibido. Logo, qualquer grau de liberação de seu consumo haverá de elevá-lo, com consequente aumento de todos os problemas acima mencionados.
Conclusão: dependência química é uma doença evitável, sua prevenção se faz através de programas públicos bem orquestrados em que, segundo a Organização Mundial de Saúde, não há qualquer espaço para a liberação do consumo de maconha.
Como os profissionais de saúde que lidam com a questão encontram-se bem preparados para colaborar na elaboração destes programas, colocamo-nos à disposição. A primeira colaboração deverá ir no sentido de proteger as autoridades de expressarem opiniões que colidam com o que a ciência tem nos demonstrado e que, em boa hora, a Organização Mundial de Saúde acaba de defender.
Sérgio de Paula Ramos, Psiquiatra e psicanalista, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas - ZERO HORA 08/04/2011
Por outro lado, também está bem demonstrado, em nossa cultura, que, na história natural de um dependente químico, a primeira droga de experimentação é o álcool. A segunda, a maconha, que, no Brasil, é a droga ilícita mais consumida e, infelizmente, Porto Alegre, a campeã no seu consumo por jovens que, ensinam-nos os últimos achados das neurociências, apenas aos 22, 23 anos completam seu amadurecimento cerebral. Antes disso, apresentam importantes dificuldades no processo de tomada de decisões razoáveis, posto que sua região cortical responsável por fazer isso, o córtex pré-frontal, encontra-se imatura.
Devido a esta grande imaturidade do cérebro juvenil, é que se impõe que tanto os pais quanto os educadores tomem conta de seus filhos/alunos adolescentes. De fato, pais que sabem onde seu filho está, com quem e fazendo o que, têm 12 vezes menos filhos envolvidos com drogas do que os que não sabem. Igualmente, um Estado que protege seus adolescentes impedindo-os de consumir bebidas alcoólicas e reduzindo a oferta das drogas ilícitas está cumprindo o seu papel.
Portanto, um dos vértices importantes de um programa de prevenção dos problemas decorrentes do consumo de drogas é diminuir o aporte global destas em nossa sociedade. Mecanismos eficazes de controle estão bem delineados. Entre eles a lei seca no trânsito, a proibição de propaganda de álcool e tabaco, bem como o desestímulo geral de consumo de drogas ilícitas.
Quando os jovens que já experimentaram maconha são perguntados por que o fizeram, a resposta universal é por curiosidade e pressão do grupo. Quando os não experimentadores, a maioria, são inquiridos sobre os motivos da não experimentação, a resposta é porque faz mal para a saúde e porque é proibido. Logo, qualquer grau de liberação de seu consumo haverá de elevá-lo, com consequente aumento de todos os problemas acima mencionados.
Conclusão: dependência química é uma doença evitável, sua prevenção se faz através de programas públicos bem orquestrados em que, segundo a Organização Mundial de Saúde, não há qualquer espaço para a liberação do consumo de maconha.
Como os profissionais de saúde que lidam com a questão encontram-se bem preparados para colaborar na elaboração destes programas, colocamo-nos à disposição. A primeira colaboração deverá ir no sentido de proteger as autoridades de expressarem opiniões que colidam com o que a ciência tem nos demonstrado e que, em boa hora, a Organização Mundial de Saúde acaba de defender.
Sérgio de Paula Ramos, Psiquiatra e psicanalista, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas - ZERO HORA 08/04/2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
MACONHA - GOVERNADOR DO RS DEFENDE MAIOR TOLERÂNCIA
AULA MAGNA. Tarso defende maior tolerância à maconha. Governador ponderou que seriam necessários estudos antes de liberação - ZERO HORA 07/04/2011
Diante de um Salão de Atos lotado de alunos e professores, o governador Tarso Genro defendeu ontem, em aula magna na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma maior tolerância em relação ao uso da maconha, mas afirmou que uma eventual liberação deve ser precedida de estudos científicos. Também reconheceu que não foi por “falta de vontade” que ele não experimentou maconha na juventude.
– Na minha época, a gente não fumava não porque não tivesse vontade. Era porque as condições que a gente vivia, trabalhando na clandestinidade, não permitiam adicionar mais uma questão de segurança. Apenas por isso. Mas dizem que é muito saboroso – afirmou Tarso.
Surpresa, a plateia, que incluía o reitor, Carlos Alexandre Netto, e o vice-reitor, Rui Vicente Oppermann, respondeu com gargalhadas e aplausos. No final, o governador foi novamente aplaudido quando, emocionado, chorou ao lembrar de Nelson Mandela, o líder da luta contra o apartheid na África do Sul que disse que, além de libertar os negros da opressão, queria também libertar os brancos do medo.
– Desculpem, sempre que eu falo no Mandela, faço fiasco – justificou.
O choro e as declarações sobre drogas acabaram sendo o ponto alto da palestra A Universidade e Futuro da República, em que não faltaram citações e referências a pensadores como Karl Marx, Immanuel Kant e Martin Heidegger. Respondendo a uma pergunta sobre o tráfico, Tarso primeiro explicou que o dinheiro da droga se imiscui em todas as esferas da sociedade, transformando-se em capital industrial, financeiro e até obras de benemerência.
– Se não fosse o componente econômico, eu não veria problema para liberar as drogas em circunstâncias muito específicas. Agora, na situação atual, a legalização não ajudaria a combater essa transformação da droga em dinheiro, de dinheiro em poder, do poder em política e assim por diante. É um elemento de crise civilizatória, não sei sinceramente qual é a melhor saída – afirmou.
Tarso reforça diferenças entre maconha e as outras drogas
O governador disse também que uma regulação do uso de drogas deve ser precedida de estudos científicos que avaliem os riscos para a saúde.
– A Cannabis sativa (nome científico da planta da maconha) é diferente da heroína. Muitos especialistas dizem fazer menos mal do que o cigarro. Dizem. Eu nunca vi uma pessoa matar por ter fumado um cigarro de maconha.
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