A história das doenças mentais é tão antiga quanto a própria humanidade. Desde sempre, algumas pessoas apresentam formas peculiares de pensar, expressar emoções e comportamentos que se caracterizam por condutas estranhas e bizarras. Nos casos extremos, tornam-se até perigosas em relação ao seu próprio bem-estar e/ou das pessoas com quem convivem – familiares e sociedade em geral. Quando o comportamento delas mostra-se excessivamente inadequado e desconectado do senso de realidade comum, o convívio social em suas próprias famílias torna-se insuportável.
Como as crianças pequenas, os doentes mentais graves necessitam cuidados básicos em relação à sua rotina, higiene, alimentação, segurança e hábitos em geral. Do ponto de vista médico e psicológico, é fundamental o tratamento adequado e permanente. Muitas vezes, ao contrário dos outros doentes, que quando sentem algum problema significativo procuram alívio para seu sofrimento, os doentes mentais graves não se consideram doentes e, portanto, julgam ser desnecessária a ajuda especializada.
Nos últimos 20 anos, em diversos países do mundo, decidiu-se que o hospital psiquiátrico era o grande vilão em relação aos problemas inerentes à assistência em saúde mental. No caso específico do Brasil, aproximadamente 80 mil leitos psiquiátricos foram fechados sem que a necessária contrapartida de atendimento ambulatorial fosse construída a tempo suficiente de minimizar as consequências negativas de uma política dessa magnitude. Em vez de qualificar os hospitais existentes e também as equipes de profissionais envolvidas na tarefa de cuidar, sobretudo dos doentes mentais graves, decretou-se reformar todo o sistema.
Recentemente, o estudo intitulado Mapa da Violência, realizado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça do Brasil, revelou que o número de suicídios no Brasil, entre os anos 1998-2008, subiu 33,5%. Estima-se que mais de 95% dos suicídios se relacionam com as doenças mentais. A epidemia de dependentes de crack é um problema significativo de saúde pública que apresenta diversos fatores na sua origem, mas, sem dúvida, um dos principais determinantes é a dificuldade no acesso ao tratamento das doenças mentais. O aumento progressivo do número de moradores de rua nos grandes centros urbanos, desde o início dos anos 1990, é um fenômeno preocupante, que coincide no tempo com a mudança acima mencionada e, surpreendentemente, muito pouco acontece em sentido contrário.
O massacre de estudantes ocorrido no último dia 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, foi conduzido por uma pessoa doente mental grave. Wellington Menezes de Oliveira vivia isolado com seus pensamentos delirantes, dominado por uma insanidade, completamente desassistido em sua saúde mental. As consequências da ausência de tratamento médico e psicológico dos doentes mentais graves são perturbadoras e cada vez mais onerosas para a sociedade.
FERNANDO LEJDERMAN, MÉDICO PSIQUIATRA - ZERO HORA 21/04/2011
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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