JORNAL DO COMERCIO 09/09/2013
Na Instituição Social Manassés, ex-usuários de entorpecentes viram exemplo ao ajudar outras pessoas a largarem o vício
Rodrigo Borba
MARCO QUINTANA/JC
Itamar e Wesley superaram o problema e hoje utilizam suas experiências para auxiliar os jovens
Uma cena traumática acendeu o alerta de Itamar da Silva Gonçalves, de 34 anos, sobre a sua dependência química. Após agredir a filha de apenas um ano, resolveu lutar contra as drogas. Maria Luiza queria apenas um presente, mas recebeu tapas. O dinheiro para o agrado à menina já tinha outro destino programado: sustentar o vício do pai. “Ela olhava para mim chorando e dizia: ‘papai você bateu no nenê’. Para mim, foi a gota d’água”, lembra.
Após esse momento marcante, Itamar buscou e atingiu a reabilitação. Natural de Foz do Iguaçu, no Paraná, atualmente auxilia jovens a trilharem o caminho. Na Capital, é monitor da Instituição Social Manassés, a mesma organização responsável pela retomada de sua vida. “Foi uma porta de saída”, afirma agradecido.
Aos cinco anos, uma influência negativa marcou a história de Itamar. O pai o fazia beber cachaça e se vangloriava para os amigos: “o meu filho é macho como o pai”. “Para ele, era uma ‘vantagem’ me levar para um bar”, lembra. Mais tarde, acabou usuário de todos os tipos de droga, inclusive o crack. Por 13 anos viveu essa dura rotina, mas há dois está limpo.
Por pouco não teve o casamento destruído por colocar o vício à frente dele. Após a reabilitação, Itamar recuperou a convivência e o carinho da família e, a cada três meses, viaja ao Paraná para revê-la. Os companheiros de bocas de fumo ficaram para trás. “Hoje em dia, o que mais influencia é a amizade. Através do álcool, o cara te apresenta a droga, aí já era. Quem não aceita, é chamado de ‘caretão’; quando vê, já foi”, conta.
Wesley Oliveira de Almeida, de 26 anos, também quase teve a trajetória arruinada pelo mesmo problema. Devido ao vício em cocaína, diz ter ficado cinco anos escravo da droga. Roubou objetos de casa e morou nas ruas de São Paulo, sua cidade natal, por um ano. Acabou preso por furto e receptação de veículo para matar a fissura por alucinógenos. Entre as perdas causadas pela dependência, cita a da confiança da família e a da dignidade. Lamenta o fato de o problema estar difundido no País, inclusive em áreas rurais, fazendo muitos jovens passarem pelo drama que conhece bem.
Há três anos e sete meses reabilitado, Wesley também é monitor do Manassés. “A história é sempre a mesma, só muda o personagem”, alerta, falando sobre a dependência. Wesley e Itamar mudaram suas trajetórias graças à instituição. “A gente não tinha mais solução, era banido da sociedade, não tínhamos mais solução”, salienta Itamar.
Devido à convivência no instituto, a dupla estreitou o relacionamento, baseado na confiança mútua. Atualmente, se consideram familiares, irmãos de drama. “Criamos um laço de amizade inexplicável”, sublinha Itamar. Os dois já passaram por pelo menos oito estados, ajudando outros dependentes a tomarem o rumo certo, assim como ocorreu com eles.
O Manassés existe há 16 anos no Brasil. São 29 unidades em 21 estados brasileiros. O começo do tratamento se dá a partir do “intercâmbio” dos dependentes, ou seja, os jovens são levados para outros estados, longe de sua cidade natal. A medida busca tirar-los de seu ambiente, onde o acesso às drogas é fácil e as más influências, abundantes. O custo do deslocamento fica sob responsabilidade da família, mas o tratamento é gratuito.
O instituto atua há sete meses na Capital e atende a 30 jovens em recuperação. A sede fica em um casarão na rua Pinheiro Borda, na zona Sul. O tratamento, de nove meses, é realizado em duas etapas. A primeira é a de desintoxicação, onde os internos ficam reclusos e responsáveis pela limpeza da sede. Na segunda, começam a ir para a rua e vendem kits com canetas e chaveiros nos ônibus, por R$ 2,00. Além disso, alertam os passageiros para a questão, contando seus dramas. O trabalho é a principal forma de manter a instituição, com custo mensal acima dos R$ 10 mil.
A rotina no Manassés é composta de cultos evangélicos, com música e cantos de louvor, e terapia ocupacional todos os dias. Aos sábados, há jogos de futebol e churrasco. Nos finais de semana, o jogo de sinuca é liberado e alguns podem passear pela cidade, sempre acompanhados por um monitor.
União tem projeto de R$ 4 bilhões para a área
O programa Crack, é possível vencer, do governo federal, visa combater o vício desse entorpecente e de outras drogas. Dos R$ 4 bilhões destinados ao projeto, que serão investidos até 2014, foram executados R$ 840 milhões no ano passado. Até dezembro, o investimento previsto é de R$ 1,6 bilhão.
Os recursos são aplicados na implantação ou qualificação de Consultórios na Rua, Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) e Unidades de Acolhimento (UA). Desde o início do programa, foram criados 1.851 novos leitos nesses serviços.
A iniciativa tem o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e ampliar atividades de prevenção. As ações estão estruturadas em três eixos: cuidado, autoridade e prevenção.
Além disso, até 2014, o Ministério da Saúde promete repassar recursos para que estados e municípios criem 2.462 leitos, que serão usados para atendimentos e internações durante crises de abstinência e em casos de intoxicações graves. Ao todo, serão investidos R$ 670,6 milhões.
Caps AD são o principal serviço disponível em Porto Alegre
Na Capital, existem cinco Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), sendo três 24 horas, nos quais há dez leitos para o acolhimento noturno. O modelo é considerado a principal estratégia de combate à dependência no município. A maioria dos frequentadores é de usuários de crack, além de alcoolistas. Em 2012, do total de atendimentos na área de saúde mental, 63,7% foram a dependentes químicos. Além disso, dos 540 leitos na área, 280 são para esses pacientes.
O custo mensal de cada uma dessas instituições é superior a R$ 180 mil, sendo R$ 78.800,00 repassados pelo Ministério da Saúde e o restante via município. “Um serviço especializado em saúde mental não é barato, pois a nossa tecnologia é toda humana, relacionada ao vínculo, ao cuidado e à atenção. Não é como comprar um aparelho de tomografia e contratar um médico ou um técnico em enfermagem para operar”, justifica a assistente social da área técnica de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sara Jane Escouto dos Santos.
Ainda para este ano, está prevista a implantação de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) exclusiva para essa área. A Capital também conta com o projeto Consultório na Rua, pelo qual são assistidos moradores de rua, frequentemente vítimas da dependência química. “O Consultório na Rua tem um trabalho muito importante, pois vai onde o sujeito está”, enfatiza Sara. Existem, ainda, 171 leitos em hospitais gerais para atender a esse público em caso de intoxicação.
A assistente social critica o fato da divulgação errônea na qual dizem ser impossível se livrar do crack. “Muita gente com uma estrutura emocional mais frágil acreditou que não teria mais recuperação. Aí fica aquela coisa assim: ‘Ah, se eu não vou me recuperar mesmo, vou continuar usando’”, analisa.
De acordo com Sara, a meta do tratamento não deve ser a abstinência. A teoria parte do princípio de ser necessário levar em conta as condições apresentadas pelo sujeito. “É preciso partir daquilo que é possível contratar com ele. O usuário de álcool e drogas é muito imediatista. O vínculo afetivo é a base da relação com o cuidado”, ressalta. Sara frisa como fundamental os dependentes químicos manterem-se ocupados. “Pode ser importante voltar a estudar, por exemplo. A droga ocupa um lugar na vida daquele sujeito”, resume.
Família de dependentes também precisa receber tratamento
O dependente químico não é o único a ter a vida arruinada pelas drogas ou pelo álcool. Toda a sua família fica doente e também precisa de tratamento, ressalta a diretora da Associação Porto-Alegrense de Amor Exigente (Apaex), Arlete Lugo. A instituição tem o objetivo de prevenir a dependência e apoiar os familiares.
Para Arlete, os parentes precisam tomar medidas para colaborar na modificação do quadro, contudo, isso não significa “passar a mão por cima dele”. Impor limites é imperativo. “Ajudar um dependente não é dar as coisas”, frisa. A diretora cita, inclusive, o caso de pais que permitem que filhos usem entorpecentes dentro de casa.
Após se aposentar como contadora, em 1990, Arlete conheceu a instituição e resolveu aderir à causa para ajudar um irmão vítima do álcool. Depois disso, continuou atuante, dessa vez para prevenir que os filhos Cláudio e Vanessa, na época com 17 e 11 anos, respectivamente, não passassem por problemas dessa natureza. Atualmente, o alvo de atenção são os quatro netos. Para isso, ela conta com a ajuda do marido Cláudio Lugo, presidente da Apaex.
A diretora salienta a importância de os familiares estarem sempre alertas para alterações no comportamento do jovem ou adolescente. Se ele começar a ir mal na escola, por exemplo, pode ser um indício. “As famílias vêm procurar ajuda quando a droga está incomodando, ninguém pensa na prevenção”, afirma. De acordo com Arlete, muitas vezes, os pais sentem-se culpados pela situação, mas não tomam atitudes para modificar o cenário. “Troquem a culpa por responsabilidade”, provoca.
O drama do irmão poderia ter tido um fim quando ele reconheceu ser dependente e pediu para ser internado. Chegou a ganhar uma casa de Cláudio e Arlete, mas, de acordo com a irmã, não teve forças para se livrar do vício e continua a beber, mesmo que em menor quantidade. “Ajudei até onde ele quis. Hoje, ele consegue sobreviver”, conforma-se.
Na Capital, existem 20 grupos de apoio da Apaex. Os encontros gratuitos ocorrem em escolas e igrejas. Ao todo, são 40 voluntários. O projeto é custeado por doações, vendas de livros, treinamentos e palestras para empresas. O trabalho tem como base 12 princípios. Um deles é fazer com que os familiares conheçam o seu papel durante os momentos de crise para saber como agir. A Apaex também oferece cursos com o foco na prevenção.
Na Instituição Social Manassés, ex-usuários de entorpecentes viram exemplo ao ajudar outras pessoas a largarem o vício
Rodrigo Borba
MARCO QUINTANA/JC
Itamar e Wesley superaram o problema e hoje utilizam suas experiências para auxiliar os jovens
Uma cena traumática acendeu o alerta de Itamar da Silva Gonçalves, de 34 anos, sobre a sua dependência química. Após agredir a filha de apenas um ano, resolveu lutar contra as drogas. Maria Luiza queria apenas um presente, mas recebeu tapas. O dinheiro para o agrado à menina já tinha outro destino programado: sustentar o vício do pai. “Ela olhava para mim chorando e dizia: ‘papai você bateu no nenê’. Para mim, foi a gota d’água”, lembra.
Após esse momento marcante, Itamar buscou e atingiu a reabilitação. Natural de Foz do Iguaçu, no Paraná, atualmente auxilia jovens a trilharem o caminho. Na Capital, é monitor da Instituição Social Manassés, a mesma organização responsável pela retomada de sua vida. “Foi uma porta de saída”, afirma agradecido.
Aos cinco anos, uma influência negativa marcou a história de Itamar. O pai o fazia beber cachaça e se vangloriava para os amigos: “o meu filho é macho como o pai”. “Para ele, era uma ‘vantagem’ me levar para um bar”, lembra. Mais tarde, acabou usuário de todos os tipos de droga, inclusive o crack. Por 13 anos viveu essa dura rotina, mas há dois está limpo.
Por pouco não teve o casamento destruído por colocar o vício à frente dele. Após a reabilitação, Itamar recuperou a convivência e o carinho da família e, a cada três meses, viaja ao Paraná para revê-la. Os companheiros de bocas de fumo ficaram para trás. “Hoje em dia, o que mais influencia é a amizade. Através do álcool, o cara te apresenta a droga, aí já era. Quem não aceita, é chamado de ‘caretão’; quando vê, já foi”, conta.
Wesley Oliveira de Almeida, de 26 anos, também quase teve a trajetória arruinada pelo mesmo problema. Devido ao vício em cocaína, diz ter ficado cinco anos escravo da droga. Roubou objetos de casa e morou nas ruas de São Paulo, sua cidade natal, por um ano. Acabou preso por furto e receptação de veículo para matar a fissura por alucinógenos. Entre as perdas causadas pela dependência, cita a da confiança da família e a da dignidade. Lamenta o fato de o problema estar difundido no País, inclusive em áreas rurais, fazendo muitos jovens passarem pelo drama que conhece bem.
Há três anos e sete meses reabilitado, Wesley também é monitor do Manassés. “A história é sempre a mesma, só muda o personagem”, alerta, falando sobre a dependência. Wesley e Itamar mudaram suas trajetórias graças à instituição. “A gente não tinha mais solução, era banido da sociedade, não tínhamos mais solução”, salienta Itamar.
Devido à convivência no instituto, a dupla estreitou o relacionamento, baseado na confiança mútua. Atualmente, se consideram familiares, irmãos de drama. “Criamos um laço de amizade inexplicável”, sublinha Itamar. Os dois já passaram por pelo menos oito estados, ajudando outros dependentes a tomarem o rumo certo, assim como ocorreu com eles.
O Manassés existe há 16 anos no Brasil. São 29 unidades em 21 estados brasileiros. O começo do tratamento se dá a partir do “intercâmbio” dos dependentes, ou seja, os jovens são levados para outros estados, longe de sua cidade natal. A medida busca tirar-los de seu ambiente, onde o acesso às drogas é fácil e as más influências, abundantes. O custo do deslocamento fica sob responsabilidade da família, mas o tratamento é gratuito.
O instituto atua há sete meses na Capital e atende a 30 jovens em recuperação. A sede fica em um casarão na rua Pinheiro Borda, na zona Sul. O tratamento, de nove meses, é realizado em duas etapas. A primeira é a de desintoxicação, onde os internos ficam reclusos e responsáveis pela limpeza da sede. Na segunda, começam a ir para a rua e vendem kits com canetas e chaveiros nos ônibus, por R$ 2,00. Além disso, alertam os passageiros para a questão, contando seus dramas. O trabalho é a principal forma de manter a instituição, com custo mensal acima dos R$ 10 mil.
A rotina no Manassés é composta de cultos evangélicos, com música e cantos de louvor, e terapia ocupacional todos os dias. Aos sábados, há jogos de futebol e churrasco. Nos finais de semana, o jogo de sinuca é liberado e alguns podem passear pela cidade, sempre acompanhados por um monitor.
União tem projeto de R$ 4 bilhões para a área
O programa Crack, é possível vencer, do governo federal, visa combater o vício desse entorpecente e de outras drogas. Dos R$ 4 bilhões destinados ao projeto, que serão investidos até 2014, foram executados R$ 840 milhões no ano passado. Até dezembro, o investimento previsto é de R$ 1,6 bilhão.
Os recursos são aplicados na implantação ou qualificação de Consultórios na Rua, Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) e Unidades de Acolhimento (UA). Desde o início do programa, foram criados 1.851 novos leitos nesses serviços.
A iniciativa tem o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e ampliar atividades de prevenção. As ações estão estruturadas em três eixos: cuidado, autoridade e prevenção.
Além disso, até 2014, o Ministério da Saúde promete repassar recursos para que estados e municípios criem 2.462 leitos, que serão usados para atendimentos e internações durante crises de abstinência e em casos de intoxicações graves. Ao todo, serão investidos R$ 670,6 milhões.
Caps AD são o principal serviço disponível em Porto Alegre
Na Capital, existem cinco Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), sendo três 24 horas, nos quais há dez leitos para o acolhimento noturno. O modelo é considerado a principal estratégia de combate à dependência no município. A maioria dos frequentadores é de usuários de crack, além de alcoolistas. Em 2012, do total de atendimentos na área de saúde mental, 63,7% foram a dependentes químicos. Além disso, dos 540 leitos na área, 280 são para esses pacientes.
O custo mensal de cada uma dessas instituições é superior a R$ 180 mil, sendo R$ 78.800,00 repassados pelo Ministério da Saúde e o restante via município. “Um serviço especializado em saúde mental não é barato, pois a nossa tecnologia é toda humana, relacionada ao vínculo, ao cuidado e à atenção. Não é como comprar um aparelho de tomografia e contratar um médico ou um técnico em enfermagem para operar”, justifica a assistente social da área técnica de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sara Jane Escouto dos Santos.
Ainda para este ano, está prevista a implantação de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) exclusiva para essa área. A Capital também conta com o projeto Consultório na Rua, pelo qual são assistidos moradores de rua, frequentemente vítimas da dependência química. “O Consultório na Rua tem um trabalho muito importante, pois vai onde o sujeito está”, enfatiza Sara. Existem, ainda, 171 leitos em hospitais gerais para atender a esse público em caso de intoxicação.
A assistente social critica o fato da divulgação errônea na qual dizem ser impossível se livrar do crack. “Muita gente com uma estrutura emocional mais frágil acreditou que não teria mais recuperação. Aí fica aquela coisa assim: ‘Ah, se eu não vou me recuperar mesmo, vou continuar usando’”, analisa.
De acordo com Sara, a meta do tratamento não deve ser a abstinência. A teoria parte do princípio de ser necessário levar em conta as condições apresentadas pelo sujeito. “É preciso partir daquilo que é possível contratar com ele. O usuário de álcool e drogas é muito imediatista. O vínculo afetivo é a base da relação com o cuidado”, ressalta. Sara frisa como fundamental os dependentes químicos manterem-se ocupados. “Pode ser importante voltar a estudar, por exemplo. A droga ocupa um lugar na vida daquele sujeito”, resume.
Família de dependentes também precisa receber tratamento
O dependente químico não é o único a ter a vida arruinada pelas drogas ou pelo álcool. Toda a sua família fica doente e também precisa de tratamento, ressalta a diretora da Associação Porto-Alegrense de Amor Exigente (Apaex), Arlete Lugo. A instituição tem o objetivo de prevenir a dependência e apoiar os familiares.
Para Arlete, os parentes precisam tomar medidas para colaborar na modificação do quadro, contudo, isso não significa “passar a mão por cima dele”. Impor limites é imperativo. “Ajudar um dependente não é dar as coisas”, frisa. A diretora cita, inclusive, o caso de pais que permitem que filhos usem entorpecentes dentro de casa.
Após se aposentar como contadora, em 1990, Arlete conheceu a instituição e resolveu aderir à causa para ajudar um irmão vítima do álcool. Depois disso, continuou atuante, dessa vez para prevenir que os filhos Cláudio e Vanessa, na época com 17 e 11 anos, respectivamente, não passassem por problemas dessa natureza. Atualmente, o alvo de atenção são os quatro netos. Para isso, ela conta com a ajuda do marido Cláudio Lugo, presidente da Apaex.
A diretora salienta a importância de os familiares estarem sempre alertas para alterações no comportamento do jovem ou adolescente. Se ele começar a ir mal na escola, por exemplo, pode ser um indício. “As famílias vêm procurar ajuda quando a droga está incomodando, ninguém pensa na prevenção”, afirma. De acordo com Arlete, muitas vezes, os pais sentem-se culpados pela situação, mas não tomam atitudes para modificar o cenário. “Troquem a culpa por responsabilidade”, provoca.
O drama do irmão poderia ter tido um fim quando ele reconheceu ser dependente e pediu para ser internado. Chegou a ganhar uma casa de Cláudio e Arlete, mas, de acordo com a irmã, não teve forças para se livrar do vício e continua a beber, mesmo que em menor quantidade. “Ajudei até onde ele quis. Hoje, ele consegue sobreviver”, conforma-se.
Na Capital, existem 20 grupos de apoio da Apaex. Os encontros gratuitos ocorrem em escolas e igrejas. Ao todo, são 40 voluntários. O projeto é custeado por doações, vendas de livros, treinamentos e palestras para empresas. O trabalho tem como base 12 princípios. Um deles é fazer com que os familiares conheçam o seu papel durante os momentos de crise para saber como agir. A Apaex também oferece cursos com o foco na prevenção.
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