ZERO HORA 22 de setembro de 2013 | N° 17561
EDITORIAL INTERATIVO
A notícia divulgada na última quinta-feira deveria provocar uma mobilização nacional de autoridades, cidadãos e instituições em busca de soluções urgentes e inovadoras para o problema. O Brasil já tem um contingente de 370 mil usuários de crack. E a pesquisa que aponta esse número, encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), portanto merecedora de total credibilidade, foi feita apenas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Se considerarmos a proliferação da droga pelos demais municípios, o número de usuários é muito maior. Isso significa a existência no país de um verdadeiro exército de dependentes, com todas as implicações que esta condição impõe para a saúde desses indivíduos, para a desagregação de suas famílias e até mesmo para a segurança da sociedade.
O estudo Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, divulgado pelos ministérios da Justiça e da Saúde, traz algumas informações surpreendentes, entre as quais a de que a Região Nordeste concentra a maior parte dos usuários – cerca de 40% do total de pessoas que fazem uso regular da droga nas capitais brasileiras. Desfaz a suposição de que o consumo seria maior na Região Sudeste, que tem maior visibilidade devido à existência das chamadas cracolândias, onde a droga letal e destruidora é utilizada até mesmo durante o dia e à vista de todos.
Faz parte do estudo encomendado pelo governo federal a pesquisa Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, que traz informações sobre as características epidemiológicas dessa parcela da população. É um indicativo importante para a aplicação de políticas públicas preventivas e de tratamento efetivo para os doentes. Aí é que está o xis da questão: mesmo com programas bem-intencionados, tanto oficiais quanto por parte de ONGs, o Brasil parece estar perdendo a batalha para essa droga que vicia nas primeiras experimentações e degrada a vida dos consumidores. Sinal de que as políticas públicas precisam ser redirecionadas para ações inovadoras e talvez mais radicais.
Se os números agora conhecidos assustam, muito mais dramático e doloroso é o microcosmo das famílias atingidas pelo infortúnio de ter algum de seus membros escravizado pela pedra e pela dificuldade de encontrar tratamento eficaz. Não é incomum que dilemas relacionados ao consumo de crack terminem em tragédias familiares. E quem tem a sorte de não ter o problema em casa também não está livre de suas consequências, pois os usuários, muitas vezes transformados em verdadeiros zumbis, acabam engrossando as cifras de criminalidade. Todos, portanto, somos vítimas do crack. E, até por isso, todos temos que nos envolver na solução desse problema do tamanho do Brasil.
O editorial foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados entre as manifestações recebidas até 18h de sexta-feira. A questão: Editorial defende políticas inovadoras e radicais para combater o crack. Você concorda?
O LEITOR CONCORDA
Entendo que é muito difícil a conscientização, porém reforço que não são oferecidos tratamentos por parte das organizações de saúde para esse tipo de doença. Apoio a internação involuntária, dependendo da condição do usuário, seguida de um trabalho de esclarecimento, conscientização do usuário e também da família sobre a doença, assim como o acesso a locais de tratamento gratuitos. É muito mais que uma questão de saúde e segurança.
Cláudia Balbé de Souza, Canoas (RS)
Sou professora do Ensino Médio de uma escola estadual de um município de cerca de 3,5 mil habitantes, Nova Alvorada (RS). Vivencio o problema das drogas diariamente com alunos e outros dependentes que margeiam a escola, portanto o problema das drogas, especialmente o crack, é muito mais abrangente do que se pensa, pois o tráfico atinge todas as cidades, mesmo as pequenas como a nossa, todas as classes sociais e todas as idades, especialmente os jovens. Penso que políticas inovadoras e mais radicais são urgentemente necessárias, já passou da hora de realmente combatermos esse mal.
Ides Mesacasa Salla, Nova Alvorada (RS)
Concordo, mas depende da política “inovadora e radical”. Forçar internações, prender usuários e outras formas paliativas que já apareceram podem diminuir, mas estão longe de acabar com esse mal. Deve haver estratégias para acabar-se com o foco disso, os traficantes, além de se canalizarem recursos (quem sabe os dos jatinhos de políticos, ou de seus “aluguéis” de casas e carros oficiais), para aumentar os programas de ensino e emprego, e dar outro foco para pessoas que, por não terem outra oportunidade na vida, outrora se afundavam no álcool, na cola de sapateiro ou na depressão, hoje tudo resumido no crack, barato, viciante e mortal.
Juliano Pereira dos Anjos,Esteio (RS)
Todos concordam, mas isso aí não tem volta, infelizmente. Talvez a educação pudesse ser a grande inovação, se fosse levada a sério. Visite nossos colégios cercados de traficantes por todos os lados, verdadeiras ilhas de prosperidade para eles, professores acuados pelos alunos, amedrontados, impotentes. Para inovar radicalmente, precisamos repensar o país como um todo, caso contrário é tempo perdido.
Luiz Bavaresco, Nova Prata (RS)
Obviamente que tem que haver concordância em formas novas de controlar essa epidemia que é o crack.
@GeremiasMachado
O LEITOR DISCORDA
Não concordo. O único caminho é realizarem um mutirão, em todo o âmbito carcerário, que se encontra dominado por facções criminosas. Quem domina o crime? Seria como indagar, quem alimenta o armamento da Al-Qaeda, no Oriente? Solução é pena de morte!
Cláudio Fortes Carpes, Montenegro (RS)
Outros comentários de leitores sobre o editorial desta página estão em zerohora.com/opiniaozh
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo que o editorial que é urgente a necessidade de "uma mobilização nacional de autoridades, cidadãos e instituições em busca de soluções urgentes e inovadoras para o problema" das drogas. No meu tempo da ativa tive experiências e dissabores diante da minha impotência em ajudar pessoas e familiares destruídas pelas drogas. Na época, defendia a integração de três segmentos no combate à drogas: a prevenção às drogas, o tratamento das dependências e a repressão policial. Infelizmente, não há motivação e nem investimentos do Estado em criar e aproximar este sistema das pessoas e famílias envolvidas com problemas de drogas, preferindo a repressão policial e campanhas midiáticas sem oferecer qualquer estrutura para assistência à famílias e tratamento das dependências. Por este motivo defendo a política de internação obrigatória via justiça que obriga o Estado a investir em assistência e centros de tratamento das dependências. Para complementar a posição do leitor Claudio Fortes Carpes, os presídios estão lotados de presos dependentes de drogas devido às políticas inócuas e falaciosa promovidas até agora.
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