COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sexta-feira, 2 de março de 2012

CÉLEBRE BARÃO DA DROGAS DO RS É CONDENADO PELA PRIMEIRA VEZ.


DECISÃO EMBLEMÁTICA. Paulão é condenado pela primeira vez por tráfico. Barão da droga em Porto Alegre é enfim sentenciado pelo crime em que atua desde a década de 80 - JOSÉ LUÍS COSTA, ZERO HORA 02/03/2012

O mais célebre barão da droga no Rio Grande do Sul, Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, 53 anos, foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisão por associação para o tráfico pela 7ª Vara Criminal da Capital. A pena pode ser considerada pequena, mas a decisão é emblemática por ser a primeira vez que Paulão é sentenciado por esse tipo de crime.

Em três décadas de passagens pela polícia, Paulão coleciona prisões por suspeita de tráfico e denúncias por ordenar assassinatos, mas nunca tinha sido punido pela Justiça por envolvimento com drogas.

A polícia jamais tinha conseguido flagrar Paulão com droga ou provar que ele vendesse maconha, cocaína e crack, embora fossem fartos os relatos extraoficiais de que ele comanda uma quadrilha da Vila Maria da Conceição. Uma das dificuldades sempre foi convencer pessoas a testemunhar contra Paulão pela sua fama de mandar executar desafetos. Em depoimentos, Paulão nega ligações com o tráfico.

Preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), Paulão, antes da sentença, já cumpria pena de 22 anos de prisão pela morte de um suposto inimigo na região em que comanda, até hoje, um exército de seguidores. Em 22 de março, Paulão voltará ao banco dos réus da 2ª Vara do Júri da Capital para ser julgado como mandante um outro homicídio.

Além de Paulão, outros 24 comparsas foram condenados por associação ao tráfico, entre eles Carlos Alberto Silveira Drey, o Beto, 28 anos. Enteado de Paulão, Beto recebeu uma pena de quatro anos e oito meses, e já estava na Penitenciária Modulada de Charqueadas, condenado por receptação.

Defesa e promotoria apelarão contra sentença

Com quase cem páginas, a sentença por associação para o tráfico é datada de 29 de dezembro, mas só foi tornada pública ontem. A pena não agradou nem a defesa nem o Ministério Público, que estão entrando com recursos no Tribunal de Justiça do Estado. O advogado Antônio Prestes do Nascimento tenta anular ou reduzir a punição, e o promotor Ricardo Herbstrith requer o aumento da pena.

A primeira condenação de Paulão por tráfico é resultado de um ano de investigações da Promotoria Especializada Criminal da Capital. Comandados por Herbstrith, policiais monitoraram contatos telefônicos de Paulão e registraram imagens de venda de drogas com um saldo inicial de 31 prisões e apreensão de 71 quilos de drogas.

Em setembro de 2008, 250 PMs cercaram a Vila Maria da Conceição, mas Paulão havia fugido. Após 18 meses, graças ao monitoramento do perfil no Orkut de um comparsa, ele acabou localizado pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) na praia de Copacabana, zona sul carioca, em março de 2010.


A PEDAGOGIA DA LEI - CARLOS WAGNER

A primeira condenação por associação ao tráfico de Paulo Ricardo dos Santos, o Paulão, acabou com a fama de intocável que ele mantinha entre os traficantes de Porto Alegre. Ainda ecoam pelas ruelas da Vila Maria da Conceição de onde Paulão comandou, por décadas, com mão de ferro, o tráfico de drogas as palavras gritadas por ele: Ninguém vai me prender.

Não só foi preso como condenado.

Paulão, por muitos anos, era um exemplo de que o crime compensava. Imagine: um trabalhador, morador da Conceição, tentando ensinar ao filho que o certo é ganhar o dinheiro com o suor do rosto. Uma tarefa quase impossível frente ao exemplo dado pelo então todo-poderoso chefe dos traficantes, um homem arrogante, que se vangloriava de estar acima da lei.

Nesse contexto, é pedagógica a condenação de Paulão, que, aos 53 anos, vive há três décadas do comércio ilegal de maconha e cocaína. A punição dá o que pensar para os gerentes dos pontos de venda de drogas que ainda atuam na Conceição. Não há como saber o real impacto que ela terá no tráfico, mas uma coisa é certa: o fato de acabar com a fama de intocável de Paulão ajuda os pais a mostrar aos filhos que um dia a Justiça chega.

Quem é Paulão

- Apontado como líder do tráfico na Vila Maria da Conceição, na zona leste da Capital, Paulo Ricardo dos Santos da Silva, o Paulão, 53 anos, foi preso pela primeira vez em março de 1982 sob suspeita de tráfico.

- Tempos depois, foi condenado por um homicídio e fugiu do semiaberto, surgindo acusações de que ele era o mandante da morte de pelo menos dois desafetos.

- Em dezembro de 2007, ele voltou a ser preso, ganhando direito de liberdade condicional em julho de 2008. Dois meses depois, com ordem de prisão por tráfico, fugiu de uma ofensiva do Ministério Público.

- Em março de 2009, mesmo foragido, foi condenado a 22 anos de prisão pela morte de José Antônio Rodrigues Braga, o Corujinha, 40 anos. A vítima foi executada em junho de 1998.

- Em março de 2010, Paulão foi recapturado em Copacabana, no Rio. Em 22 de março, ele voltará ao banco dos réus da 2ª Vara do Júri da Capital para ser julgado pela morte de Adão Jorge da Rosa Pacheco, o Adão “Zoiudo”, 48 anos.

- Adão foi morto a estocadas na enfermaria do Presídio Central de Porto Alegre em 19 de setembro de 2007. Segundo denúncia do Ministério Público, ele teria comandando o tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição, nos anos 1980, e seria inimigo de Paulão.

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