Ex-viciado em drogas, prefeito cria comunidade terapêutica no RS - FELIPE BÄCHTOLD, DE PORTO ALEGRE - FOLHA ONLINE, 04/07/2011 - 10h31
Um prefeito do Rio Grande do Sul, ex-viciado em drogas, inaugurou uma comunidade terapêutica para dependentes químicos que é totalmente bancada com recursos do município.
O prefeito Vicente Pires, 48, foi usuário de cocaína e crack até os 33 anos. Após passar meses internado em uma comunidade, ele se recuperou, começou a ministrar palestras e virou figura conhecida em Cachoeirinha (região metropolitana de Porto Alegre).
Entrou na política, se elegeu vereador e agora é prefeito pelo PSB. Criou um projeto para reabilitação de dependentes e decidiu tentar montar um centro como aquele onde se recuperou.
Inaugurada em abril, a comunidade terapêutica funciona em uma chácara na área rural do município e atende 30 pacientes ao custo de R$ 18 mil mensais.
Os internos trabalham no local e são atendidos por psiquiatras e assistentes sociais. Em encontros fechados, eles trabalham com as técnicas emprestadas de grupos como os Alcoólicos Anônimos.
A experiência levou Pires a um encontro com a presidente Dilma Rousseff para falar sobre centros de tratamento a dependentes na semana retrasada.
Segundo o município, Cachoeirinha tem a primeira comunidade do tipo bancada por uma prefeitura no país. No SUS (Sistema Único de Saúde), os dependentes químicos podem ser atendidos em Centros de Atenção Psicossocial e hospitais.
CAMPANHA
O prefeito conta que se notabilizou no município por falar abertamente sobre as drogas. "O assunto começou a ser conversado. As pessoas começaram a ver: [ele] está do nosso lado, eu tenho familiar, tenho um vizinho que está naquela situação."
Há, no entanto, quem discorde na cidade das iniciativas da prefeitura. "A sociedade é meio crítica. Dizem: 'vai gastar dinheiro público com drogado'", diz Pires.
Na eleição municipal em 2008, o passado de usuário de drogas foi explorado pelos adversários, conta o prefeito. "Subiam em carro de som e me chamavam de traficante, de ladrão, maconheiro. Mas as pessoas começaram a trabalhar a nosso favor, sabiam que eu já não era."
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se o programa for sério e envolver médicos, psicólogos, psiquiatras e agentes de saúde especialistas no tratamento de dependências, o Prefeito tem o meu aplauso demorado. Só ações estatais poderão garantir aos dependentes e familiares o tratamento e a assistência necessária para tratar, curar e tirar o dependente da rede criminosa, aliviando o sofrimento dos familiares.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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