Análise: Tratamento de dependentes químicos ainda gera muitas dúvidas
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Do ponto de vista da saúde pública, a internação compulsória dos dependentes de crack em São Paulo começa com uma série de dúvidas: Que tipo de tratamento (terapias e medicamentos) será usado? Quanto tempo vai durar? O que será feito após o confinamento?
Até para justificar o dinheiro público que será empregado na operação (os valores ainda não foram anunciados pelo governo Alckmin), é importante mais clareza e transparência ao processo.
Há muita polêmica e falta de consenso sobre internações contrárias à vontade da pessoa. A medida foi duramente criticada no ano passado pela ONU (Organização das Nações Unidas), que recomendou aos países-membros a sua imediata extinção.
Para a ONU, não há evidência científica do êxito das internações compulsórias de usuários de drogas.
Ao mesmo tempo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera válida a opção em casos de risco à vida do dependente químico.
Os poucos estudos envolvendo internações compulsórias mostram taxas de recuperação entre 2% e 6%.
Mas não é possível comparar os resultados com os da internação voluntária (em torno de 30%) porque não são estudos controlados. As variáveis (condição socioeconômica e transtornos psiquiátricos) não foram isoladas.
A questão é tão complexa que até o conceito de tratamento exitoso é relativo. Para os especialistas, as recaídas fazem parte do processo de recuperação e não são, necessariamente, sinônimo de fracasso. Eles defendem que o dependente seja tratado como um doente crônico --um diabético ou um hipertenso.
Voltando às questões que abrem este texto, o país conta com uma diretriz da Sociedade Brasileira de Psiquiatria de como os médicos devem tratar os usuários de crack.
Entre as orientações há a indicação de tratamento de desintoxicação imediato e de múltiplas ações terapêuticas após a internação. O plano de Alckmin vai contemplar isso?
As experiências internacionais também mostram que o enfrentamento das drogas deve ser tratado de forma coordenada por diferentes áreas dos governos, do setor privado e das universidades.
Receitas existem aos montes. Resta saber qual delas o governo paulista deve adotar.
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