UMA MULHER COM MUITOS ORIFÍCIOS - MARCO JESÚS, MÉDICO SANITARISTA APOSENTADO - ZERO HORA 13/11/2011
Desde tempos imemoriais, a humanidade faz uso de substâncias ativas como alteradores da consciência. Ouço algumas pessoas dizer “levar a vida no seco não dá”, a vida é pesada. O uso de uma substância ativa sempre está ligado a um determinado contexto pessoal, social ou cultural. O complicado é o contexto e não a droga. As pessoas bem informadas sobre o assunto droga sabem que qualquer tratamento não funciona sem a adesão voluntária do adicto. Portanto, as drogas são uma questão muito mais de educação e saúde pública e muito menos de polícia. Na melhor das hipóteses, a droga poderia ser tratada como uma contravenção penal tal como o jogo do bicho. E isso talvez em uma sociedade muito atrasada e retrógrada. O Brasil moderno não pode conviver com uma ideia tão conservadora assim.
A droga é uma mulher de muitos orifícios. Ela possui muitos caminhos para nos apanhar distraí-dos. Um pouco de depressão. Um pouco de euforia. Um pouco de tédio. A droga em si é uma só, seja inalada, aspirada, comida, praticada, mas sua apresentação se dá sob os mais variados disfarces. Cola de sapateiro, cocaína, prato de feijoada com churrasco, sexo e jogo. Será então necessário prender e torturar todos os vendedores e usuários desses produtos? Chegou-se ao ridículo de controlar a cola de sapateiro, material essencial de uso de um trabalho digno. Menos mal, os sapateiros estão em extinção mesmo.
Em toda a minha vida, nunca senti necessidade de passar da segunda taça de vinho. No entanto, existem pessoas, por suas histórias pessoais, que não conseguem impor limites a suas práticas e consumo. Essas pessoas merecem um tratamento digno para retornarem ao equilíbrio. Perceberem, aos poucos, haver outras formas de expansão da consciência além do uso de substâncias ativas. Como a leitura, a dança e um bom filme, por exemplo. Há outras formas de conforto da alma. Como a oração e a meditação, por exemplo.
Penso ser inócua qualquer forma repressiva de combate ao uso de drogas. Como trabalhador médico, ao longo da minha vida profissional vi surgirem inúmeras drogas da moda. A todo momento, o usuário está procurando substâncias alternativas. Como técnico, sei, existe uma gama enorme de substâncias, produtos vendidos nos supermercados, que podem ter uso ativo como alterador da consciência. Remédios vendidos sem receita médica também. Então, não é possível algumas substâncias serem reprimidas e outras terem livre curso. Como também não é possível se proibir tudo sob pena de se deixar a sociedade inviável. Então se libere tudo. Como dizia o Barão de Itararé “prendam-se todos os ladrões ou nos locupletamos todos”. Tentar prender todos os ladrões é possível. Proibir todas as substâncias ativas não. Assim sou a favor da liberalização das drogas e a favor de investimentos pesados em educação e saúde para prevenção.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Quem é a favor das drogas, não pode ser a favor e nem pedir investimentos em educação e saúde. A droga é um dos principais inibidores da educação e causa tanta dependência que leva uma pessoa a infernizar a família, cometer crimes, perder a saúde e sucumbir à morte.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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