WANDERLEY SOARES, REDE PAMPA, O SUL, 24/05/2011
Sobre a Marcha da Maconha, apenas não entendo como os consumidores de cigarros lícitos não organizam movimentos iguais contra o massacre que estão sofrendo.
Abro espaço para momentos de indignação do procurador de Justiça Marcelo Roberto Ribeiro que esteve em contato com a minha torre.
Disse Marcelo: "Domingo último, dia 22, testemunhei estupefato dois eventos contraditórios. Vejam que ironia.Pela manhã, uma maratona, da qual participaram, centenas de pessoas de diferentes cidades brasileiras dentre as quais muitas vestiam camisetas em que se lia ?Crack não!? À tarde, a Marcha da Maconha, com a autorização das autoridades locais, durante a qual fortes manifestações foram ouvidas a favor do uso e liberação dessa substância.
Imagino o que deve estar passando pela cabeça do nosso jovem.
Afinal, posso ou não fumar ou comercializar maconha? Como poderá a justiça gaúcha processar-me e condenar-me a uma pena mínima de cinco anos de reclusão, a ser cumprida, inicialmente, em regime fechado por esse delito?
Fiquei triste com tudo isso, ainda mais depois que li nos jornais que a Polícia Federal apreendeu, no último sábado, 2,7 toneladas de maconha em Viamão.
Bem fez a justiça paulista, que, a pedido do Ministério Público, não permitiu a reedição dessa marcha, mantendo-se fiel ao seu perfil e ao seu dever de punir esses infratores independentemente da natureza da droga, os quais vêm desestabilizando a sociedade e infelicitando a família brasileira".
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
terça-feira, 24 de maio de 2011
UM GOLPE NO BARÃO DO PÓ NO RS
Um golpe no barão do pó. Traficante com base em Alvorada distribuía um quilo de cocaína por dia para quadrilhas - EDUARDO TORRES | ESPECIAL - ZERO HORA 24/05/2011
Do bairro Formosa, em Alvorada, um homem de 34 anos distribuía um quilo de cocaína por dia para traficantes do município e de boa parte da Região Metropolitana. Em dois meses de investigação, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) apurou que o traficante mantinha um modelo de administração do tráfico típico dos barões da droga e que já lhe rendia poder e uma pequena fortuna.
Desde o dia 12, o homem, apelidado de Barão, está preso temporariamente enquanto a polícia busca ramificações de suas operações. O nome dele não foi divulgado.
– Ele estava estabelecido havia muito tempo em Alvorada. Na Vila Americana, ele é temido e respeitado. Ele criou um modo de manter os negócios praticamente sem ter contato com a droga. É um atacadista, está acima de disputas entre traficantes – afirma o delegado Thiago Bennemann, que comanda as investigações.
Em 1999, o homem foi indiciado por homicídio e associação ao tráfico, mas nunca foi preso por vender drogas. Não mais do que 10 comparsas, com extrema confiança do Barão, garantia o modo de agir do chefe. O gerente seria um primo dele, que faria o contato direto com a droga e os revendedores do produto. Ele está sendo procurado. O Barão movimentava até R$ 500 mil por mês, com a distribuição da droga entre Alvorada, zona norte de Porto Alegre, Cachoeirinha, Guaíba, Viamão e Canoas.
Polícia apreendeu prensa hidráulica em residência
No começo do mês, Everton Fernando Silva da Silva foi preso em flagrante no bairro Sarandi, na Capital com 540 gramas de cocaína dentro de um Gol. Everton era um mula que levaria a encomenda para traficantes. Na casa do Barão, foi apreendida uma prensa hidráulica capaz de processar até 15 toneladas.
– Estamos apurando a origem dessa droga, os contatos da quadrilha e o destino do dinheiro que o Barão acumulou ao longo dos anos – diz o delegado Tiago.
Traficante promovia festa em casa na praia
Oficialmente, Barão diz trabalhar com compra e venda de carros, mas o patrimônio está bem acima do que poderia ganhar esse tipo de negócio. Uma residência no bairro Formosa e outra em Imbé valem em torno de R$ 1 milhão. Na praia, uma empresa de segurança controlava o ambiente das festas promovidas pelo bando. A polícia filmou as instalações de cada cômodo da casa.
A operação apreendeu uma Land Rover, usada por Barão para passeio, avaliada em R$ 180 mil, um Audi A4 do gerente da quadrilha, uma Space Fox, um Palio Fire e um Gol que seriam usados para transportar drogas. Também foram recolhidas duas pistolas – uma 380 e outra 9mm, e cartuchos de fuzil 5.56.
Do bairro Formosa, em Alvorada, um homem de 34 anos distribuía um quilo de cocaína por dia para traficantes do município e de boa parte da Região Metropolitana. Em dois meses de investigação, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) apurou que o traficante mantinha um modelo de administração do tráfico típico dos barões da droga e que já lhe rendia poder e uma pequena fortuna.
Desde o dia 12, o homem, apelidado de Barão, está preso temporariamente enquanto a polícia busca ramificações de suas operações. O nome dele não foi divulgado.
– Ele estava estabelecido havia muito tempo em Alvorada. Na Vila Americana, ele é temido e respeitado. Ele criou um modo de manter os negócios praticamente sem ter contato com a droga. É um atacadista, está acima de disputas entre traficantes – afirma o delegado Thiago Bennemann, que comanda as investigações.
Em 1999, o homem foi indiciado por homicídio e associação ao tráfico, mas nunca foi preso por vender drogas. Não mais do que 10 comparsas, com extrema confiança do Barão, garantia o modo de agir do chefe. O gerente seria um primo dele, que faria o contato direto com a droga e os revendedores do produto. Ele está sendo procurado. O Barão movimentava até R$ 500 mil por mês, com a distribuição da droga entre Alvorada, zona norte de Porto Alegre, Cachoeirinha, Guaíba, Viamão e Canoas.
Polícia apreendeu prensa hidráulica em residência
No começo do mês, Everton Fernando Silva da Silva foi preso em flagrante no bairro Sarandi, na Capital com 540 gramas de cocaína dentro de um Gol. Everton era um mula que levaria a encomenda para traficantes. Na casa do Barão, foi apreendida uma prensa hidráulica capaz de processar até 15 toneladas.
– Estamos apurando a origem dessa droga, os contatos da quadrilha e o destino do dinheiro que o Barão acumulou ao longo dos anos – diz o delegado Tiago.
Traficante promovia festa em casa na praia
Oficialmente, Barão diz trabalhar com compra e venda de carros, mas o patrimônio está bem acima do que poderia ganhar esse tipo de negócio. Uma residência no bairro Formosa e outra em Imbé valem em torno de R$ 1 milhão. Na praia, uma empresa de segurança controlava o ambiente das festas promovidas pelo bando. A polícia filmou as instalações de cada cômodo da casa.
A operação apreendeu uma Land Rover, usada por Barão para passeio, avaliada em R$ 180 mil, um Audi A4 do gerente da quadrilha, uma Space Fox, um Palio Fire e um Gol que seriam usados para transportar drogas. Também foram recolhidas duas pistolas – uma 380 e outra 9mm, e cartuchos de fuzil 5.56.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
OXI PODE MATAR 30% DOS USUÁRIOS EM APENAS UM ANO
Uma droga mais devastadora do que o crack invade as ruas das cidades por todo Brasil. FANTASTICO, REDE GLOBO, Domingo, 22/05/2011
O crack apareceu nos anos 80 nos Estados Unidos. Nós não tomamos nenhuma medida preventiva. Sequer educamos as crianças. O que aconteceu? A primeira cracolândia se estabeleceu em São Paulo e a droga se espalhou pelo Brasil inteiro. As estimativas são de que existam 1,2 milhão de usuários de crack pelo país. É uma epidemia. Agora surge o oxi. Uma preparação mais bruta, mais barata da cocaína e ainda mais destruidora do que o crack. É difícil prever o que vai acontecer? Nós vamos assistir passivamente à disseminação do oxi pelo Brasil inteiro? Nós não vamos fazer nada?
“O oxi é um tipo de crack adulterado. Fundamentalmente todos eles vêm da pasta base de cocaína. É fundamentalmente você colocar nesta pasta base ou querosene, ou gasolina ou cal. E você vai transformar de uma forma muito tosca, com uma tecnologia muito tosca, um subproduto do crack, mais adulterado, que tem as características de ser mais barato, mais poderoso, e mais de fácil acesso para o usuário”, explica Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.
O oxi entrou no Brasil há sete anos pelas fronteiras que o Acre faz com a Bolívia e o Peru. Ficou restrito ao norte do país até este ano, quando se espalhou por diversos estados. A primeira apreensão de oxi na cidade de São Paulo foi em março deste ano de 2011. É possível que o oxi já existisse antes?
“Eu acredito firmemente nisso. É muito provável que esse produto já estivesse em circulação pelo menos naquela região da cracolândia há mais tempo”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
Quando você fuma o oxi, o querosene provoca náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões. Os vapores de cal irritam os olhos, provocam perda parcial da visão e cegueira. O oxi queima por onde passa. Boca, garganta, brônquios e pulmões ardem. Você pensa que está fumando cocaína, mas na verdade está se envenenando com querosene e cal.
“Quando ele vai ser queimado fica o resíduo da não queima de parte da querosene. A fumaça que sai é a fumaça que vai ser inalada. Querosene, cal. E nós temos o resíduo que sobra, uma espécie de uma graxa. O cheiro de combustível pela queima do querosene. A sobra é esse líquido oleoso, conhecida como oxi ou oxidado porque ele fica realmente oxidado”, explica um delegado.
“Eu acredito que o oxi pode alcançar muito rapidamente os consumidores de crack. O crack alcançou mais de 90% das cidades brasileiras por ser uma droga conhecida como barata. O oxi é mais barato do que o crack”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
“Fizeram uma pesquisa de um ano com cerca de cem usuários e constataram que, em um ano, 30% desses usuários acabaram morrendo em razão dos efeitos dessa droga lá no Acre. Hoje, o oxi chega em uma zona onde o pessoal já está com graves problemas de saúde. A maioria dos que estão na Cracolândia sofre de AIDS, sofre de tuberculose, e, por incrível que pareça, sarna, em razão da promiscuidade que eles estão vivendo. Então o oxi entrando em um campo desses realmente vai causar mais malefícios”, alerta Reinaldo Corrêa, delegado do Denarc.
Marcos Antônio é um usuário de oxi e crack em tratamento. A dependência o fez roubar objetos da família e morar na Cracolândia.
“Passei três noites lá. Eu vi crianças de 7 anos de idade na fissura, ameaçando pessoas para dar um trago. Por ele ser muito barato, está entrando como uma avalanche no mercado. Lá na Cracolândia você compra trago por R$ 0,50. A gente se sente uma escória, a gente se sente um verme ali”, conta Marcos. “Vi que eu precisava me internar no momento em que vi meus filhos abandonados. Tenho duas filhas adolescentes.”
Uma droga devastadora como o oxi destruirá um número incalculável de usuários e famílias. Dependência química não é caso de polícia. É doença que precisa ser enfrentada com medidas preventivas e assistência médica para tratamento dos dependentes. Estamos diante de uma tragédia anunciada: o oxi. Ainda dá tempo para reagir.
A droga, que é um subproduto do crack, é mais barata e mais viciante. A mistura perigosa pode provocar náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões.
O crack apareceu nos anos 80 nos Estados Unidos. Nós não tomamos nenhuma medida preventiva. Sequer educamos as crianças. O que aconteceu? A primeira cracolândia se estabeleceu em São Paulo e a droga se espalhou pelo Brasil inteiro. As estimativas são de que existam 1,2 milhão de usuários de crack pelo país. É uma epidemia. Agora surge o oxi. Uma preparação mais bruta, mais barata da cocaína e ainda mais destruidora do que o crack. É difícil prever o que vai acontecer? Nós vamos assistir passivamente à disseminação do oxi pelo Brasil inteiro? Nós não vamos fazer nada?
“O oxi é um tipo de crack adulterado. Fundamentalmente todos eles vêm da pasta base de cocaína. É fundamentalmente você colocar nesta pasta base ou querosene, ou gasolina ou cal. E você vai transformar de uma forma muito tosca, com uma tecnologia muito tosca, um subproduto do crack, mais adulterado, que tem as características de ser mais barato, mais poderoso, e mais de fácil acesso para o usuário”, explica Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.
O oxi entrou no Brasil há sete anos pelas fronteiras que o Acre faz com a Bolívia e o Peru. Ficou restrito ao norte do país até este ano, quando se espalhou por diversos estados. A primeira apreensão de oxi na cidade de São Paulo foi em março deste ano de 2011. É possível que o oxi já existisse antes?
“Eu acredito firmemente nisso. É muito provável que esse produto já estivesse em circulação pelo menos naquela região da cracolândia há mais tempo”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
Quando você fuma o oxi, o querosene provoca náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões. Os vapores de cal irritam os olhos, provocam perda parcial da visão e cegueira. O oxi queima por onde passa. Boca, garganta, brônquios e pulmões ardem. Você pensa que está fumando cocaína, mas na verdade está se envenenando com querosene e cal.
“Quando ele vai ser queimado fica o resíduo da não queima de parte da querosene. A fumaça que sai é a fumaça que vai ser inalada. Querosene, cal. E nós temos o resíduo que sobra, uma espécie de uma graxa. O cheiro de combustível pela queima do querosene. A sobra é esse líquido oleoso, conhecida como oxi ou oxidado porque ele fica realmente oxidado”, explica um delegado.
“Eu acredito que o oxi pode alcançar muito rapidamente os consumidores de crack. O crack alcançou mais de 90% das cidades brasileiras por ser uma droga conhecida como barata. O oxi é mais barato do que o crack”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
“Fizeram uma pesquisa de um ano com cerca de cem usuários e constataram que, em um ano, 30% desses usuários acabaram morrendo em razão dos efeitos dessa droga lá no Acre. Hoje, o oxi chega em uma zona onde o pessoal já está com graves problemas de saúde. A maioria dos que estão na Cracolândia sofre de AIDS, sofre de tuberculose, e, por incrível que pareça, sarna, em razão da promiscuidade que eles estão vivendo. Então o oxi entrando em um campo desses realmente vai causar mais malefícios”, alerta Reinaldo Corrêa, delegado do Denarc.
Marcos Antônio é um usuário de oxi e crack em tratamento. A dependência o fez roubar objetos da família e morar na Cracolândia.
“Passei três noites lá. Eu vi crianças de 7 anos de idade na fissura, ameaçando pessoas para dar um trago. Por ele ser muito barato, está entrando como uma avalanche no mercado. Lá na Cracolândia você compra trago por R$ 0,50. A gente se sente uma escória, a gente se sente um verme ali”, conta Marcos. “Vi que eu precisava me internar no momento em que vi meus filhos abandonados. Tenho duas filhas adolescentes.”
Uma droga devastadora como o oxi destruirá um número incalculável de usuários e famílias. Dependência química não é caso de polícia. É doença que precisa ser enfrentada com medidas preventivas e assistência médica para tratamento dos dependentes. Estamos diante de uma tragédia anunciada: o oxi. Ainda dá tempo para reagir.
A droga, que é um subproduto do crack, é mais barata e mais viciante. A mistura perigosa pode provocar náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões.
APREENSÃO DE 2,7 TONELADAS NO RS
Apreensão da PF chega a 2,7 toneladas. Já são 5,3 toneladas de maconha retiradas de circulação este ano no Estado -GUILHERME MAZUI, ZERO HORA 23/05/2011
Em três grandes apreensões realizadas neste ano, as polícias gaúchas tiraram de circulação mais de 5,3 toneladas de maconha no Rio Grande do Sul. Na manhã de sábado, a Polícia Federal apreendeu 2,7 toneladas da droga em um sítio em Viamão, na Região Metropolitana.
A operação, que resultou na prisão em flagrante de três homens, dois gaúchos e um sul-mato-grossense, seria a terceira maior apreensão do entorpecente nos últimos anos – o recorde é de 3,9 toneladas, em 1997.
A primeira grande operação de 2011 foi realizada em fevereiro, quando a Polícia Civil de Alvorada encontrou 1.151 quilos da erva, prensada e embalada, numa chácara na Vila Aparecida. Neste mês, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) já haviam localizado 1,5 tonelada em Carlos Barbosa, na Serra.
Com a mega-apreensão de sábado, as três operações das polícias totalizam mais de 5 toneladas recolhidas, o equivalente ao dobro da erva apreendida em 2010. Os grandes volumes e o curto intervalo entre as operações estariam ligados ao período de produção do entorpecente, no Paraguai.
– Normalmente os traficantes transportam menores quantidades, até cem quilos. No entanto, nesta época do ano se produz maconha, então há condições de transportar mais – explica o delegado Ildo Gasparetto, superintendente da Polícia Federal no Estado.
A droga apreendida em Viamão tem origem paraguaia. Entrou no Brasil pelo Mato Grosso do Sul e foi transportada em um caminhão. Dividida em tabletes, estava acondicionada em sacos usados, com escritos em espanhol, no galpão de um sítio de Águas Claras, no interior de Viamão, de onde seria distribuída provavelmente para a Região Metropolitana.
A PF chegou ao local após uma dica que a levou a identificar o Clio dos traficantes. Segundo a polícia, os proprietários do sítio não teriam relação com a quadrilha – inclusive não moravam na área. Os traficantes tiveram acesso ao local graças ao parentesco com o caseiro, que foi ouvido e liberado.
– O inquérito continua. Vamos ouvir outros envolvidos buscando identificar o caminhão – revela o delegado Fabrício Argenta, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF, que comandou a operação.
Para o delegado, as apreensões indicam que, apesar do crescimento do uso da cocaína e do crack, a maconha continua tendo saída no mercado.
– A maconha sempre teve público. Se vem em grandes quantidades, é sinal de que há quem compre.
sábado, 21 de maio de 2011
APREENSÕES DE DROGAS NO RS
Polícia apreendeu mais de 4 tonelas de drogas em grandes operações desde o início do ano no RS. Neste sábado, PF encontrou pelo menos 1,5 tonelada em sítio de Viamão. DIARIO GAÚCHO, 21/05/2011
Com a apreensão de pelo menos 1,5 tonelada de maconha neste sábado em Viamão, na Região Metropolitana, policiais gaúchos já retiraram de circulação mais de 4 toneladas de drogas em grandes operações realizadas no Rio Grande do Sul desde o início do ano. No dia 12 de maio, cerca de 1,5 tonelada de maconha foi apreendida em um sítio abandonado em Carlos Barbosa, na Serra. Em fevereiro,a Polícia Civil de Alvorada encontrou 1.151 quilos da erva, prensada e embalada, em uma chácara na Vila Aparecida.
Confira as principais apreensões de drogas no RS
AGOSTO DE 1994 - 2,9 toneladas da droga são encontradas escondidas num caminhão em Bagé.
SETEMBRO DE 1997 - 3,9 toneladas da droga, que estavam num caminhão, são apreendidas em Iraí, na divisa com Santa Catarina. A descoberta é considerada recorde no Estado.
AGOSTO DE 1999 - 1,3 tonelada de maconha é apreendida pela Polícia Federal na BR-392, no distrito da Cascata, em Pelotas. A droga está escondida no fundo falso da carroceria do veículo, com placas do Paraná.
ABRIL DE 2005 - Uma operação da Receita Federal em Iraí, resulta na apreensão de 2,1 toneladas de maconha, encontradas sob uma carga de farelo de trigo transportada por um caminhão que ia do Paraná para a Grande Porto Alegre.
MARÇO DE 2009 - Mais de uma tonelada é apreendida no posto fiscal de Iraí. Trazidos de Foz do Iguacu (PR), os 1.297 tijolos estavam dentro de sacas de caco de vidro.
JUNHO DE 2009 - Em menos de 12 horas, Canoas é palco de duas apreensões, que totalizaram 1,5 tonelada de maconha, em um caminhão e duas casas.
FEVEREIRO DE 2011 - A Polícia Civil de Alvorada encontrara 1.151 quilos da erva, prensada e embalada, em uma chácara na Vila Aparecida.
MAIO DE 2011 - Depois de um mês de investigações, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) flagraram quatro homens com 1,5 tonelada da droga em uma comunidade rural de Carlos Barbosa.
Com a apreensão de pelo menos 1,5 tonelada de maconha neste sábado em Viamão, na Região Metropolitana, policiais gaúchos já retiraram de circulação mais de 4 toneladas de drogas em grandes operações realizadas no Rio Grande do Sul desde o início do ano. No dia 12 de maio, cerca de 1,5 tonelada de maconha foi apreendida em um sítio abandonado em Carlos Barbosa, na Serra. Em fevereiro,a Polícia Civil de Alvorada encontrou 1.151 quilos da erva, prensada e embalada, em uma chácara na Vila Aparecida.
Confira as principais apreensões de drogas no RS
AGOSTO DE 1994 - 2,9 toneladas da droga são encontradas escondidas num caminhão em Bagé.
SETEMBRO DE 1997 - 3,9 toneladas da droga, que estavam num caminhão, são apreendidas em Iraí, na divisa com Santa Catarina. A descoberta é considerada recorde no Estado.
AGOSTO DE 1999 - 1,3 tonelada de maconha é apreendida pela Polícia Federal na BR-392, no distrito da Cascata, em Pelotas. A droga está escondida no fundo falso da carroceria do veículo, com placas do Paraná.
ABRIL DE 2005 - Uma operação da Receita Federal em Iraí, resulta na apreensão de 2,1 toneladas de maconha, encontradas sob uma carga de farelo de trigo transportada por um caminhão que ia do Paraná para a Grande Porto Alegre.
MARÇO DE 2009 - Mais de uma tonelada é apreendida no posto fiscal de Iraí. Trazidos de Foz do Iguacu (PR), os 1.297 tijolos estavam dentro de sacas de caco de vidro.
JUNHO DE 2009 - Em menos de 12 horas, Canoas é palco de duas apreensões, que totalizaram 1,5 tonelada de maconha, em um caminhão e duas casas.
FEVEREIRO DE 2011 - A Polícia Civil de Alvorada encontrara 1.151 quilos da erva, prensada e embalada, em uma chácara na Vila Aparecida.
MAIO DE 2011 - Depois de um mês de investigações, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) flagraram quatro homens com 1,5 tonelada da droga em uma comunidade rural de Carlos Barbosa.
ÓXI - JOVEM VICIADA SOFRE OVERDOSE. MP PRESTA ASSISTÊNCIA À FAMÍLIA
Internada por overdose jovem viciada em óxi. Mãe da adolescente afirma que outras pessoas estão usando substância - ADRIANO DUARTE E GUILHERME A.Z. PULITA | CAXIAS DO SUL, ZERO HORA 21/05/2011
A mãe da adolescente que teve uma overdose ao engolir uma pedra de óxi afirma que traficantes estão vendendo a substância há pelo menos um mês na região do bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul. Ela formalizou a denúncia na tarde de ontem na Polícia Civil, um dia depois de a filha ter sido internada no Pronto-atendimento 24 horas.
Até o fechamento desta edição, a garota seguia em observação. Assim que for liberada pelos médicos, ela deve ser encaminhada para tratamento em Porto Alegre.
Agentes da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) fizeram diligências ontem, para tentar identificar quem seriam os traficantes. Mas a responsável pelo caso, delegada Suely Rech, prefere não confirmar a existência da droga em Caxias. Por ser mais barato que o crack e conter produtos como querosene e cal virgem, o óxi pode matar um viciado em até um ano.
– Tenho dois conhecidos que estão usando o tal óxi. Tá todo mundo falando. Outro dia, teve um rapaz me oferecendo umas roupas por dois reais porque disse que chegou um negócio mais barato – conta a mãe.
Somente exames poderão confirmar caso de overdose
A possibilidade de a droga, que se alastrou em várias regiões do país, estar sendo disseminada em Caxias surgiu por meio de uma ocorrência registrada pela mãe da adolescente. A mulher de 37 anos relatou que a filha furtou panelas e pratos da família para trocar pelo óxi em um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, região do Desvio Rizzo. O traficante estaria vendendo cada pedra a R$ 3. Na quinta-feira, a menor confirmou ao Pioneiro que estava consumindo o tóxico desde o começo da última semana. Ainda na quinta, a adolescente recebeu mais drogas de uma traficante na porta de casa, segundo a mãe:
– Expulsei aquela mulher (traficante). Minha filha tava fumando a pedra no pátio. Ela me mostrou as outras pedras que tinha mão.
Pouco depois, mãe e filha brigaram. A adolescente se refugiou no banheiro e contou ao irmão de 11 anos que havia engolido uma pedra. Segundo a mãe, a substância tinha a coloração roxa – uma das três cores do óxi depois de processado. Em seguida, a jovem surtou e teria ameaçado a mãe com uma faca. Na confusão, a garota gritou que sentia o corpo queimar e passou mal.
– Ela estava gelada, queria tirar a pedra de dentro da garganta. Quando vi, desmaiei – conta a mãe.
Vizinhos comunicaram à Brigada Militar (BM) que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A paciente foi levada ao Pronto-atendimento 24 horas como vítima de overdose por óxi. Entretanto, isso só poderá ser confirmado por exames mais complexos. A Secretaria Municipal da Saúde não divulgou o prontuário médico da adolescente.
MP tenta manter família unida
A intenção da Secretaria da Saúde é encaminhar a adolescente ao Centro de Dependência Química (CDQUIM) do Hospital Parque Belém, em Porto Alegre, onde deverá permanecer por tempo indeterminado. Essa será a sétima vez que a jovem passará pela unidade, segundo a mãe. O caso está sendo acompanhado pela promotora de Justiça Adriana Diesel Chesani:
– Já atendemos muitas vezes essa menina. O tratamento agora deve durar cerca de um mês, como é de costume. Após, ela deve ser levada para um comunidade terapêutica.
O óxi é apenas um dos problemas na família de nove irmãos. Cinco deles moram com a mãe, no Vila Amélia. Uma irmã de 16 anos também é viciada em crack. Um outro menino também seria usuário. Apesar de a família ser desestruturada e pobre, a promotora Adriana diz que se tenta de todas as formas manter a mãe e os filhos juntos, pois a separação poderia ser pior para as crianças.
A mãe da jovem também se diz ameaçada. Na quinta-feira, suspeitos teriam efetuado tiros na rua em frente à casa da família. As ameaças, porém, não foram formalizadas na Polícia Civil ou na Brigada Militar.
Sem mudança - Autoridades policiais e da saúde declararam ao Pioneiro que as ações de prevenção ao uso do óxi e de combate ao tráfico de drogas serão mantidas no ritmo atual.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O tratamento e a assistência familiar deveriam ser de responsabilidade dos órgãos de Saúde dos Poderes Executivo Estadual e Municipal, cabendo às Forças Policiais a segurança contra retaliações do tráfico. Entretanto, é bom louvar a iniciativa da promotora pública local.
A mãe da adolescente que teve uma overdose ao engolir uma pedra de óxi afirma que traficantes estão vendendo a substância há pelo menos um mês na região do bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul. Ela formalizou a denúncia na tarde de ontem na Polícia Civil, um dia depois de a filha ter sido internada no Pronto-atendimento 24 horas.
Até o fechamento desta edição, a garota seguia em observação. Assim que for liberada pelos médicos, ela deve ser encaminhada para tratamento em Porto Alegre.
Agentes da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) fizeram diligências ontem, para tentar identificar quem seriam os traficantes. Mas a responsável pelo caso, delegada Suely Rech, prefere não confirmar a existência da droga em Caxias. Por ser mais barato que o crack e conter produtos como querosene e cal virgem, o óxi pode matar um viciado em até um ano.
– Tenho dois conhecidos que estão usando o tal óxi. Tá todo mundo falando. Outro dia, teve um rapaz me oferecendo umas roupas por dois reais porque disse que chegou um negócio mais barato – conta a mãe.
Somente exames poderão confirmar caso de overdose
A possibilidade de a droga, que se alastrou em várias regiões do país, estar sendo disseminada em Caxias surgiu por meio de uma ocorrência registrada pela mãe da adolescente. A mulher de 37 anos relatou que a filha furtou panelas e pratos da família para trocar pelo óxi em um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, região do Desvio Rizzo. O traficante estaria vendendo cada pedra a R$ 3. Na quinta-feira, a menor confirmou ao Pioneiro que estava consumindo o tóxico desde o começo da última semana. Ainda na quinta, a adolescente recebeu mais drogas de uma traficante na porta de casa, segundo a mãe:
– Expulsei aquela mulher (traficante). Minha filha tava fumando a pedra no pátio. Ela me mostrou as outras pedras que tinha mão.
Pouco depois, mãe e filha brigaram. A adolescente se refugiou no banheiro e contou ao irmão de 11 anos que havia engolido uma pedra. Segundo a mãe, a substância tinha a coloração roxa – uma das três cores do óxi depois de processado. Em seguida, a jovem surtou e teria ameaçado a mãe com uma faca. Na confusão, a garota gritou que sentia o corpo queimar e passou mal.
– Ela estava gelada, queria tirar a pedra de dentro da garganta. Quando vi, desmaiei – conta a mãe.
Vizinhos comunicaram à Brigada Militar (BM) que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A paciente foi levada ao Pronto-atendimento 24 horas como vítima de overdose por óxi. Entretanto, isso só poderá ser confirmado por exames mais complexos. A Secretaria Municipal da Saúde não divulgou o prontuário médico da adolescente.
MP tenta manter família unida
A intenção da Secretaria da Saúde é encaminhar a adolescente ao Centro de Dependência Química (CDQUIM) do Hospital Parque Belém, em Porto Alegre, onde deverá permanecer por tempo indeterminado. Essa será a sétima vez que a jovem passará pela unidade, segundo a mãe. O caso está sendo acompanhado pela promotora de Justiça Adriana Diesel Chesani:
– Já atendemos muitas vezes essa menina. O tratamento agora deve durar cerca de um mês, como é de costume. Após, ela deve ser levada para um comunidade terapêutica.
O óxi é apenas um dos problemas na família de nove irmãos. Cinco deles moram com a mãe, no Vila Amélia. Uma irmã de 16 anos também é viciada em crack. Um outro menino também seria usuário. Apesar de a família ser desestruturada e pobre, a promotora Adriana diz que se tenta de todas as formas manter a mãe e os filhos juntos, pois a separação poderia ser pior para as crianças.
A mãe da jovem também se diz ameaçada. Na quinta-feira, suspeitos teriam efetuado tiros na rua em frente à casa da família. As ameaças, porém, não foram formalizadas na Polícia Civil ou na Brigada Militar.
Sem mudança - Autoridades policiais e da saúde declararam ao Pioneiro que as ações de prevenção ao uso do óxi e de combate ao tráfico de drogas serão mantidas no ritmo atual.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O tratamento e a assistência familiar deveriam ser de responsabilidade dos órgãos de Saúde dos Poderes Executivo Estadual e Municipal, cabendo às Forças Policiais a segurança contra retaliações do tráfico. Entretanto, é bom louvar a iniciativa da promotora pública local.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
ÓXI SE SOMA AO CRACK
GUILHERME A.Z. PULITA | CAXIAS DO SUL - ZERO HORA 20/05/2011
A dificuldade em diagnosticar e combater o crack ganhou na semana passada um agravante, quando as primeiras pedras de óxi – também derivadas da cocaína, porém mais destrutivas e mais baratas que o crack – foram apreendidas. À frente da Coordenação da Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde há dois meses, o psiquiatra Roberto Tykanori avalia que a disseminação do óxi no território brasileiro não muda a estratégia de assistência aos dependentes químicos, mas requer reforço na prevenção:
– Para a assistência de saúde, não há grande mudança. A base do crack e do óxi é a mesma, a cocaína. Como é uma droga de menor preço, o óxi tende a se tornar mais acessível à população mais vulnerável. Por isso, temos de ter uma atenção cada vez maior na prevenção.
O caminho de uma pedra a outra pior vem sendo atravessado por adolescentes em Caxias do Sul há pelo menos quatro dias. O óxi é oferecido aos viciados que frequentam um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, zona oeste da cidade. Vendidas a R$ 3 (R$ 2 mais barato que o crack) as pedras da nova droga estariam atraindo cada dia mais pessoas ao ponto.
Uma adolescente de 17 anos é uma das que abandonaram o crack e contraiu novos problemas. Durante os três anos em que fumou crack, ela afirma nunca ter furtado nada. Em três dias mergulhada no óxi, ela começou a dilacerar o já precário patrimônio da família moradora do loteamento vizinho, o São Gabriel. Da casa com três cadeiras, poucos e danificados móveis, a jovem levou ao traficante seis pratos, um batedeira e uma jaqueta. Tudo trocado por algumas pedras de óxi.
Sem pai, que a garota disse ter morrido atropelado, ela vive com a mãe, que trabalha durante a manhã, e pelo menos um casal de irmãos menores. A irmã que a apresentou para o crack, um ano mais nova que ela, teria passado por uma clínica de recuperação e hoje moraria em uma fazenda. A menina não tem muita perspectiva para o futuro. Disse ter abandonado a escola no 1º ano do Ensino Médio porque a caminho do colégio encontrava amigos que a convidavam para usar drogas. Hoje, nem amigos ela tem mais. Passa os dias na casa imunda, com restos de comida pelo chão e sobre uma mesa, ou perambulando pelas ruas, em busca de R$ 3.
LUTA CONTRA A PEDRA - “Me escurece as vistas na hora e me dá uma tristeza”
Os cabelos curtos e o corpo esquelético fazem a adolescente de 17 anos parecer um menino doente. Usuária de crack há quatro anos, ela perambula nos últimos dias pelas ruas de Caxias do Sul em busca de dinheiro para consumir mais do óxi, droga que chegou à Serra na última semana. Ontem, ela conversou com a reportagem do jornal Pioneiro (assista ao depoimento em vídeo em www.zerohora.com) sobre a nova droga.
Quando você conheceu o óxi? Há quanto tempo está fumando?
Dois ou três dias.
Foi o traficante quem te ofereceu outro tipo de droga?
Sim. Eu fui buscar e ele (o traficante) perguntou se queria experimentar essa que era melhor. Daí, perguntei se era mais cara ou mais barata. Daí ele disse que era R$ 2 mais barato que o crack.
E o efeito, é mais forte que o crack?
É mais forte. Com crack eu só me travo, não falo com ninguém. Essa aí (óxi) me escurece as vistas na hora e me dava uma tristeza, sabe. São uns efeitos muito estranhos...
E a fissura (necessidade de consumir mais droga) é maior?
É maior. Antes, quando eu só fumava crack eu não roubava nada da minha mãe, mas agora que comecei a pegar essa (óxi) comecei a roubar. Jaqueta, os pratos, essas coisas...
Você acha que consegue parar de fumar?
Acho que não consigo.
Você sabia da existência da droga nova?
Sabia que tinha em Porto Alegre. Tá vendendo mais que o crack. Vai um monte de gente. É cheio lá (no ponto de tráfico da Vila Amélia).
A pedra é do mesmo tamanho que a de crack?
Do mesmo tamanho. É dois pilas mais barato, para nós é melhor.
A dificuldade em diagnosticar e combater o crack ganhou na semana passada um agravante, quando as primeiras pedras de óxi – também derivadas da cocaína, porém mais destrutivas e mais baratas que o crack – foram apreendidas. À frente da Coordenação da Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde há dois meses, o psiquiatra Roberto Tykanori avalia que a disseminação do óxi no território brasileiro não muda a estratégia de assistência aos dependentes químicos, mas requer reforço na prevenção:
– Para a assistência de saúde, não há grande mudança. A base do crack e do óxi é a mesma, a cocaína. Como é uma droga de menor preço, o óxi tende a se tornar mais acessível à população mais vulnerável. Por isso, temos de ter uma atenção cada vez maior na prevenção.
O caminho de uma pedra a outra pior vem sendo atravessado por adolescentes em Caxias do Sul há pelo menos quatro dias. O óxi é oferecido aos viciados que frequentam um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, zona oeste da cidade. Vendidas a R$ 3 (R$ 2 mais barato que o crack) as pedras da nova droga estariam atraindo cada dia mais pessoas ao ponto.
Uma adolescente de 17 anos é uma das que abandonaram o crack e contraiu novos problemas. Durante os três anos em que fumou crack, ela afirma nunca ter furtado nada. Em três dias mergulhada no óxi, ela começou a dilacerar o já precário patrimônio da família moradora do loteamento vizinho, o São Gabriel. Da casa com três cadeiras, poucos e danificados móveis, a jovem levou ao traficante seis pratos, um batedeira e uma jaqueta. Tudo trocado por algumas pedras de óxi.
Sem pai, que a garota disse ter morrido atropelado, ela vive com a mãe, que trabalha durante a manhã, e pelo menos um casal de irmãos menores. A irmã que a apresentou para o crack, um ano mais nova que ela, teria passado por uma clínica de recuperação e hoje moraria em uma fazenda. A menina não tem muita perspectiva para o futuro. Disse ter abandonado a escola no 1º ano do Ensino Médio porque a caminho do colégio encontrava amigos que a convidavam para usar drogas. Hoje, nem amigos ela tem mais. Passa os dias na casa imunda, com restos de comida pelo chão e sobre uma mesa, ou perambulando pelas ruas, em busca de R$ 3.
LUTA CONTRA A PEDRA - “Me escurece as vistas na hora e me dá uma tristeza”
Os cabelos curtos e o corpo esquelético fazem a adolescente de 17 anos parecer um menino doente. Usuária de crack há quatro anos, ela perambula nos últimos dias pelas ruas de Caxias do Sul em busca de dinheiro para consumir mais do óxi, droga que chegou à Serra na última semana. Ontem, ela conversou com a reportagem do jornal Pioneiro (assista ao depoimento em vídeo em www.zerohora.com) sobre a nova droga.
Quando você conheceu o óxi? Há quanto tempo está fumando?
Dois ou três dias.
Foi o traficante quem te ofereceu outro tipo de droga?
Sim. Eu fui buscar e ele (o traficante) perguntou se queria experimentar essa que era melhor. Daí, perguntei se era mais cara ou mais barata. Daí ele disse que era R$ 2 mais barato que o crack.
E o efeito, é mais forte que o crack?
É mais forte. Com crack eu só me travo, não falo com ninguém. Essa aí (óxi) me escurece as vistas na hora e me dava uma tristeza, sabe. São uns efeitos muito estranhos...
E a fissura (necessidade de consumir mais droga) é maior?
É maior. Antes, quando eu só fumava crack eu não roubava nada da minha mãe, mas agora que comecei a pegar essa (óxi) comecei a roubar. Jaqueta, os pratos, essas coisas...
Você acha que consegue parar de fumar?
Acho que não consigo.
Você sabia da existência da droga nova?
Sabia que tinha em Porto Alegre. Tá vendendo mais que o crack. Vai um monte de gente. É cheio lá (no ponto de tráfico da Vila Amélia).
A pedra é do mesmo tamanho que a de crack?
Do mesmo tamanho. É dois pilas mais barato, para nós é melhor.
O PAC DO CRACK ESTACIONA
Passado um ano do lançamento pelo governo federal, plano milionário de combate à epidemia da droga apresenta poucos resultados visíveis - MAICON BOCK - ZERO HORA 20/05/2011
Lançado com estardalhaço há exato um ano pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, o chamado PAC do Crack, está praticamente estacionado na árdua tarefa de barrar o avanço da droga que assola o país.
Das oito medidas prioritárias anunciadas como forma de diminuir os prejuízos econômicos e sociais causados pela pedra, três não tiveram desdobramentos perceptíveis.
Medidas como o treinamento de agentes para atuar na reinserção social de dependentes recuperados e a criação de cursos de especialização saíram do papel, e começam a dar os primeiros resultados à sociedade. Já o combate ao tráfico de drogas nas fronteiras e a ampliação de leitos tiveram andamento modesto.
No caso dos agentes, a meta era ambiciosa: treinar 100 mil pessoas. Ontem, não havia número disponível do contingente treinado. Já quanto aos leitos, a intenção era injetar recursos a curto prazo para ampliar a rede de atenção a dependentes. No lançamento, a meta era investir R$ 90 milhões exclusivamente na ampliação de 2,5 mil para 5 mil leitos para viciados em hospitais gerais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Coordenador da Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde, o psiquiatra Roberto Tykanori informou que apenas 248 novos leitos exclusivos para o tratamento de dependentes foram criados, sendo 69 no Rio Grande do Sul, resultado de um investimento de R$ 4 milhões.
Na rede hospitalar, estão disponíveis no Brasil um total de 32.735 leitos, sendo que eles atendem dependentes de drogas e também portadores de doenças psíquicas em geral. A esse montante, somam-se outros cerca de 2 mil leitos em centros de atendimento psicossocial e comunidades terapêuticas, que também recebem recursos financeiros do governo federal.
– No ano passado, quando lançamos o Plano de Enfrentamento ao Crack, partimos de uma ação emergencial. Agora, nosso objetivo é trabalhar um plano de assistência mais abrangente e organizado – explica o psiquiatra do Ministério da Saúde.
Envolvendo nove ministérios, o PAC do Crack previa o investimento de R$ 410 milhões para o conjunto de ações. Ontem à tarde, o governo federal não soube informar o percentual já investido. Dos R$ 90 milhões previstos para ações do Ministério da Saúde, já teriam sido investidos R$ 70 milhões até o momento.
Para as próximas ações, o governo federal espera a conclusão de um estudo que fará um raio X da situação do crack no país, contemplando diferenças regionais. A ideia é conhecer o perfil dos usuários e das pessoas mais propensas a cair no vício, as regiões onde ele está mais disseminado e as formas de tratamento mais eficazes.
O levantamento, que está sendo desenvolvido em parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), deve apontar os primeiros resultados até o fim do ano. Já foram feitos pilotos em algumas cidades de médio e grande portes do país para testar o método a ser utilizado.
No Estado, UFPel, UFSM, UFCSPA, Furg e UFRGS participam de ações do PAC do Crack. Cada instituição contará com um centro destinado a treinar profissionais de saúde e de assistência social que já atendem usuários de drogas e suas famílias em seus municípios. Ao lado de instituições de outros 18 Estados, totalizando 844 municípios, as universidades gaúchas deverão formar 14,7 mil profissionais.
Lançado com estardalhaço há exato um ano pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, o chamado PAC do Crack, está praticamente estacionado na árdua tarefa de barrar o avanço da droga que assola o país.
Das oito medidas prioritárias anunciadas como forma de diminuir os prejuízos econômicos e sociais causados pela pedra, três não tiveram desdobramentos perceptíveis.
Medidas como o treinamento de agentes para atuar na reinserção social de dependentes recuperados e a criação de cursos de especialização saíram do papel, e começam a dar os primeiros resultados à sociedade. Já o combate ao tráfico de drogas nas fronteiras e a ampliação de leitos tiveram andamento modesto.
No caso dos agentes, a meta era ambiciosa: treinar 100 mil pessoas. Ontem, não havia número disponível do contingente treinado. Já quanto aos leitos, a intenção era injetar recursos a curto prazo para ampliar a rede de atenção a dependentes. No lançamento, a meta era investir R$ 90 milhões exclusivamente na ampliação de 2,5 mil para 5 mil leitos para viciados em hospitais gerais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Coordenador da Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde, o psiquiatra Roberto Tykanori informou que apenas 248 novos leitos exclusivos para o tratamento de dependentes foram criados, sendo 69 no Rio Grande do Sul, resultado de um investimento de R$ 4 milhões.
Na rede hospitalar, estão disponíveis no Brasil um total de 32.735 leitos, sendo que eles atendem dependentes de drogas e também portadores de doenças psíquicas em geral. A esse montante, somam-se outros cerca de 2 mil leitos em centros de atendimento psicossocial e comunidades terapêuticas, que também recebem recursos financeiros do governo federal.
– No ano passado, quando lançamos o Plano de Enfrentamento ao Crack, partimos de uma ação emergencial. Agora, nosso objetivo é trabalhar um plano de assistência mais abrangente e organizado – explica o psiquiatra do Ministério da Saúde.
Envolvendo nove ministérios, o PAC do Crack previa o investimento de R$ 410 milhões para o conjunto de ações. Ontem à tarde, o governo federal não soube informar o percentual já investido. Dos R$ 90 milhões previstos para ações do Ministério da Saúde, já teriam sido investidos R$ 70 milhões até o momento.
Para as próximas ações, o governo federal espera a conclusão de um estudo que fará um raio X da situação do crack no país, contemplando diferenças regionais. A ideia é conhecer o perfil dos usuários e das pessoas mais propensas a cair no vício, as regiões onde ele está mais disseminado e as formas de tratamento mais eficazes.
O levantamento, que está sendo desenvolvido em parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), deve apontar os primeiros resultados até o fim do ano. Já foram feitos pilotos em algumas cidades de médio e grande portes do país para testar o método a ser utilizado.
No Estado, UFPel, UFSM, UFCSPA, Furg e UFRGS participam de ações do PAC do Crack. Cada instituição contará com um centro destinado a treinar profissionais de saúde e de assistência social que já atendem usuários de drogas e suas famílias em seus municípios. Ao lado de instituições de outros 18 Estados, totalizando 844 municípios, as universidades gaúchas deverão formar 14,7 mil profissionais.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
REFÉNS DO VÍCIO - BANDO EXTORQUIA USUÁRIOS DE DROGAS
Operação que mobilizou cem policiais prendeu homem apontado como chefe do tráfico em bairro violento de São Leopoldo - LETÍCIA BARBIERI | VALE DO SINOS/CASA ZERO HORA, ZERO HORA 18/05/2011
Com um aparato montado com cem policiais, três cães farejadores e botes, a Polícia Civil deflagrou ontem, no Vale do Sinos, a operação Reconquista 6 e acredita ter prendido o chefe do tráfico de drogas do bairro Vicentina, um dos mais violentos de São Leopoldo. Conforme apurou o delegado Alencar Carraro, titular da 3ª Delegacia da Polícia Civil de São Leopoldo, Jurandi da Conceição, 35 anos, se apresentava como empresário, mas por trás de duas lojas administrava também um esquema fazendo com que usuários vendessem drogas para sustentar o próprio vício.
– Ele se utilizava da situação degradante dessas pessoas para que praticassem a venda das drogas e produtos de origem ilícita. Em outros casos, a quadrilha ficava com bens deles e depois extorquia. A gente sabe como é, o viciado chega lá e, se não tem dinheiro, deixa qualquer coisa de garantia – detalha o delegado.
Foi uma dessas vítimas que levou os policiais a identificar o esquema. Em troca de drogas, um usuário deixou a motocicleta e depois passou a ser extorquido para tê-la de volta. Denunciou o caso na Polícia Civil e acabou revelando uma rede de extorsão, venda de drogas, cigarros contrabandeado, CDs e DVDs falsificados.
– Assim chegamos nesse indivíduo que controlava o tráfico. Quatro ou cinco pessoas distribuíam a droga para ele em 15 bocas de fumo, sempre em poucas quantidades para que, se fossem flagrados, passassem por usuários e não traficantes – conta o delegado.
Com antecedentes por tráfico, em liberdade condicional, Conceição foi preso ontem com nove integrantes da quadrilha. Outras três pessoas já haviam sido detidas na última semana. Cerca de 500 CDs e DVDs, 50 maços de cigarro do Paraguai, dois carros, duas armas e R$ 11 mil foram apreendidos com a quadrilha em uma operação que envolveu policiais civis e militares, guardas municipais e bombeiros.
Um bote foi usado na operação para chegar até um casebre localizado nas margens do Rio dos Sinos. Segundo a polícia, era o local onde a quadrilha armazenava a droga, mas nada foi encontrado. Apenas algumas pedras de crack foram apreendidas na operação.
A Operação Reconquista 6 dá continuidade ao plano de ações da Polícia Civil nas regiões conflagradas do Vale do Sinos para restabelecer a paz nas comunidades. O delegado regional, Bolivar Llantada, estima que 40% do número dos homicídios já tenha diminuído na região nos últimos dois meses.
O ESQUEMA
- Conforme a Polícia Civil, Jurandi da Conceição liderava uma quadrilha de tráfico de drogas e uma rede de extorsão, no bairro Vicentina, em São Leopoldo. Sem tocar diretamente na droga, ele administrava o esquema liderando cinco pessoas de sua confiança.
- A droga era distribuída entre 15 bocas de fumo da região. Usuários recebiam pequenas quantidades para vender, para caracterizar uso pessoal em caso de flagrante. Em troca de drogas, alguns deixavam bens como carros e motos – depois, eram extorquidos para ter o bem de volta.
- Atrás de um bazar e uma funilaria, Conceição se apresentava como empresário, mas era visto todos os dias nas bocas de fumo negociando e dando ordens. Imagens foram feitas pela polícia e serão anexadas ao inquérito.
- Os presos foram encaminhados ao Presídio Central e à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre.
OS NÚMEROS
- Cerca de cem homens entre policiais civis, militares, guardas municipais e bombeiros do Vale do Sinos se reuniram, em São Leopoldo, para cumprir 22 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão.
- Duas pessoas foram detidas por mandados de prisão temporária e oito em flagrante com armas, munições e cigarros contrabandeados. Desde a semana passada a polícia soma 13 prisões e R$ 11 mil recolhidos.
Com um aparato montado com cem policiais, três cães farejadores e botes, a Polícia Civil deflagrou ontem, no Vale do Sinos, a operação Reconquista 6 e acredita ter prendido o chefe do tráfico de drogas do bairro Vicentina, um dos mais violentos de São Leopoldo. Conforme apurou o delegado Alencar Carraro, titular da 3ª Delegacia da Polícia Civil de São Leopoldo, Jurandi da Conceição, 35 anos, se apresentava como empresário, mas por trás de duas lojas administrava também um esquema fazendo com que usuários vendessem drogas para sustentar o próprio vício.
– Ele se utilizava da situação degradante dessas pessoas para que praticassem a venda das drogas e produtos de origem ilícita. Em outros casos, a quadrilha ficava com bens deles e depois extorquia. A gente sabe como é, o viciado chega lá e, se não tem dinheiro, deixa qualquer coisa de garantia – detalha o delegado.
Foi uma dessas vítimas que levou os policiais a identificar o esquema. Em troca de drogas, um usuário deixou a motocicleta e depois passou a ser extorquido para tê-la de volta. Denunciou o caso na Polícia Civil e acabou revelando uma rede de extorsão, venda de drogas, cigarros contrabandeado, CDs e DVDs falsificados.
– Assim chegamos nesse indivíduo que controlava o tráfico. Quatro ou cinco pessoas distribuíam a droga para ele em 15 bocas de fumo, sempre em poucas quantidades para que, se fossem flagrados, passassem por usuários e não traficantes – conta o delegado.
Com antecedentes por tráfico, em liberdade condicional, Conceição foi preso ontem com nove integrantes da quadrilha. Outras três pessoas já haviam sido detidas na última semana. Cerca de 500 CDs e DVDs, 50 maços de cigarro do Paraguai, dois carros, duas armas e R$ 11 mil foram apreendidos com a quadrilha em uma operação que envolveu policiais civis e militares, guardas municipais e bombeiros.
Um bote foi usado na operação para chegar até um casebre localizado nas margens do Rio dos Sinos. Segundo a polícia, era o local onde a quadrilha armazenava a droga, mas nada foi encontrado. Apenas algumas pedras de crack foram apreendidas na operação.
A Operação Reconquista 6 dá continuidade ao plano de ações da Polícia Civil nas regiões conflagradas do Vale do Sinos para restabelecer a paz nas comunidades. O delegado regional, Bolivar Llantada, estima que 40% do número dos homicídios já tenha diminuído na região nos últimos dois meses.
O ESQUEMA
- Conforme a Polícia Civil, Jurandi da Conceição liderava uma quadrilha de tráfico de drogas e uma rede de extorsão, no bairro Vicentina, em São Leopoldo. Sem tocar diretamente na droga, ele administrava o esquema liderando cinco pessoas de sua confiança.
- A droga era distribuída entre 15 bocas de fumo da região. Usuários recebiam pequenas quantidades para vender, para caracterizar uso pessoal em caso de flagrante. Em troca de drogas, alguns deixavam bens como carros e motos – depois, eram extorquidos para ter o bem de volta.
- Atrás de um bazar e uma funilaria, Conceição se apresentava como empresário, mas era visto todos os dias nas bocas de fumo negociando e dando ordens. Imagens foram feitas pela polícia e serão anexadas ao inquérito.
- Os presos foram encaminhados ao Presídio Central e à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre.
OS NÚMEROS
- Cerca de cem homens entre policiais civis, militares, guardas municipais e bombeiros do Vale do Sinos se reuniram, em São Leopoldo, para cumprir 22 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão.
- Duas pessoas foram detidas por mandados de prisão temporária e oito em flagrante com armas, munições e cigarros contrabandeados. Desde a semana passada a polícia soma 13 prisões e R$ 11 mil recolhidos.
terça-feira, 17 de maio de 2011
OXI, UMA DROGA AINDA PIOR
O oxi – uma pedra tóxica feita com cal, gasolina e pasta de cocaína – se espalha pelo país e assusta as autoridades mais que o crack - HUMBERTO MAIA JUNIOR, COM RODRIGO TURRER - REVISTA ÉPOCA, 14/05/2011
Pedro tinha 8 anos quando começou a fumar maconha. Aos 14, experimentou cocaína. Com 19, foi apresentado ao crack. “Eu fumava cinco pedras e bebia até 12 copos de pinga.” Em janeiro deste ano, seu fornecedor de drogas, em Brasília, passou a oferecer pedras diferentes, com cheiro de querosene e consistência mais mole. Pedro estranhou. “Dizia a ele que a pedra estava batizada, que não era boa. O cara me dizia que era o que tinha e ainda me daria umas (pedras) a mais.” Não demorou para Pedro notar a diferença no efeito. A nova pedra era mais viciante. Para não sofrer com crises de abstinência, dobrou o consumo para até dez pedras por dia. Descobriu então que, em vez de crack, estava fumando uma droga chamada oxi. “Quando soube, vi que estava botando um veneno ainda maior no meu corpo. Fiquei com medo de morrer.” Aos 27 anos, depois de quase duas décadas de dependência química, Pedro sentiu que tinha ido longe demais. Internou-se numa clínica.
A história de Pedro (nome fictício) ilustra o terror provocado pelo oxi, droga que está se espalhando rapidamente pelo Brasil. O oxi está sendo tratado pelos médicos como algo mais letal que o crack, considerado até agora a mais devastadora das drogas. Mas é consumido por pessoas que não sabem disso, porque é vendido em bocas de fumo como se fosse crack. “O oxi invadiu os postos de venda tradicionais. Isso preocupa”, diz o delegado Reinaldo Correa, titular da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil de São Paulo.
A primeira apreensão confirmada do oxi em São Paulo ocorreu quase por acaso. Em março, a polícia apreendeu 60 quilos de algo que foi classificado como crack. O equívoco foi corrigido quando esse carregamento foi usado numa demonstração para novos policiais. “Queimamos algumas pedras e, pelos resíduos, concluímos que era oxi”, afirma Correa. Quase diariamente, a polícia de algum Estado do Brasil anuncia ter apreendido a droga pela primeira vez (leia o mapa abaixo) . Em alguns casos, como em Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul, as primeiras apreensões foram feitas na semana passada. Não é que o oxi surgiu em tantos lugares em tão pouco tempo. Ele já havia se espalhado sem ser notado.
Como o crack, o oxi é vendido em pedras que, quando queimadas, liberam uma fumaça. Inalada, em poucos segundos vai para o cérebro, provocando euforia e bem-estar. “Visualmente, são quase idênticas”, diz Correa. A diferenciação pode ser feita pela fumaça, que no caso do crack é mais branca, ou pelos resíduos: o crack deixa cinzas, enquanto o oxi libera uma substância oleosa. Por causa da dificuldade em distinguir uma droga da outra, é impossível ter exata noção da penetração do oxi entre os usuários. “Sabemos apenas que ele está aqui há algum tempo”, afirma Correa.
Recente nos Estados mais ao sul do país, o oxi é velho conhecido dos viciados da Região Norte. Acredita-se que a droga entrou no Brasil ainda na década de 1980, a partir de Brasileia e Epitaciolândia, cidades do Acre que fazem fronteira com a Bolívia. O consumo da substância foi registrado por pesquisadores em 2003, quando Álvaro Mendes, vice-presidente da Associação Brasileira de Redução de Danos (Aborda), pesquisava o uso de merla, outro derivado da cocaína, entre os acrianos. “No primeiro momento, o oxi era usado pelas classes sociais mais baixas e por místicos que iam ao Acre atrás da ayahuasca (chá alucinógeno usado em cerimônias do Santo Daime)”, diz Mendes. A droga chegou à capital, Rio Branco, de onde se espalhou para outros Estados da região. “Hoje, é consumida em todas as classes sociais”, diz Mendes.
A dentista Sandra Crivello se lembra de quando viu o primeiro caso de dependência por oxi em São Paulo. Foi no fim do ano passado, quando recebeu uma ligação de uma Organização Não Governamental (ONG) que faz atendimento a jovens viciados em drogas. Queriam que ela atendesse um rapaz com problemas na boca. Encontrou o paciente na porta da ONG. A imagem do rapaz chocou Sandra, que há mais de 20 anos atende meninos de rua viciados. Loiro, pele branca e aparentando 20 anos, chocava pela magreza e pelo cheiro quase insuportável de vômito e fezes. “Ele estava em condição de torpor, parecia viver em outro mundo.”
– Foi você que veio me ver? Olha, está doendo muito – disse o rapaz, chorando, antes de puxar os lábios com força exagerada. Sandra não se esquece do que viu. “Tinha até osso necrosado.” Perguntou ao rapaz:
– O que você usou? Não vem me dizer que é crack que eu sei que não é.
– Eu bebi.
– Bebida não é. O que você usou?
– Foi oxi.
Sandra, que já tinha ouvido falar do oxi, diz que respirou fundo. “Agora que essa porcaria chegou aqui, não falta mais nada. Só pedi que Deus nos ajudasse.” Como Sandra, vários profissionais que têm contato com o mundo das drogas temem que o oxi tome o lugar do crack. Motivos não faltam, da facilidade de fabricação ao preço baixo. O crack é feito com pasta-base de cocaína, misturada com bicarbonato de sódio e um solvente, que pode ser éter ou amoníaco. É difícil obter grandes quantidades dessas substâncias, porque a venda é controlada pela Polícia Federal. Já o oxi é feito com pasta-base de coca misturada a cal virgem e a gasolina ou a querosene. “O refinamento do crack demanda uma cozinha e um processo laboratorial mais complexo”, diz Ronaldo Laranjeira, coordenador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Para fabricar o oxi, basta misturar a pasta-base com um derivado de petróleo em qualquer panela. Pode ser feito no fundo de um quintal.” O resultado é que os traficantes podem cobrar preço menor. Se uma pedra de crack custa ao viciado entre R$ 7 e R$ 10 na “cracolândia”, região central de São Paulo onde usuários e traficantes circulam livremente dia e noite, a pedra de oxi sai por cerca de R$ 2. Esse valor torna a droga acessível a um público muito maior. “Dependentes buscam o que é mais barato”, diz Luiz Alberto Chaves de Oliveira, chefe da Coordenadoria de Atenção às Drogas da Prefeitura de São Paulo. Também procuram o que tem efeito mais forte e mais rápido. O oxi, ao que parece, atende a essas necessidades. E tem tanto ou mais poder de viciar que o crack. “O oxi parece gerar ainda mais dependência. É potencialmente mais forte que o crack, que já é muito destrutivo”, diz Cláudio Alexandre, psicólogo do Grupo Viva, que atende dependentes de drogas.
O agente penitenciário André (nome fictício), de 34 anos, morador de Rio Branco, no Acre, conhece bem os efeitos do oxi. “Quem usa chama de veneno”, diz. Como todo veneno, é traiçoeiro. André descreve o gosto da fumaça como algo “gostoso”. “Pega mais, dá uma viagem.” Não demora e surgem os efeitos adversos – dor de cabeça, vômitos e diarreias. E paranoia. André diz que ouvia vozes. “Era o demônio falando no meu ouvido.” Os efeitos também são físicos. “Via muitos usuários sujos de vômito e diarreia.” Mesmo assim, André não conseguia abandonar o uso. Vendeu o que tinha para comprar pedras. “Pedia aos boqueiros (quem trabalha nas bocas de fumo) que passassem na minha casa e pegassem tudo.” Geladeira, fogão, DVD, um a um, todos os móveis e eletrodomésticos foram trocados por pedras brancas. “Só não troquei a vida”, diz André, que está internado numa clínica ligada a uma ONG em Rio Branco. Ele afirma que só buscou tratamento porque, desempregado, não tinha mais dinheiro para abastecer o vício.
Paulina Duarte, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), diz que o governo federal está avaliando o impacto do oxi. Junto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Senad está finalizando uma pesquisa sobre o uso de derivados de cocaína no país. O estudo incompleto sugere que, pela facilidade com que é produzido, o oxi pode subverter a lógica usual do tráfico. “Não há um fornecedor fixo que distribui um só produto”, diz Paulina. “A droga é produzida em casa, de forma primitiva e artesanal.” Uma nova organização do tráfico poderia exigir uma mudança na forma de repressão policial. “Para combater o oxi, não temos de caçar apenas grandes traficantes”, afirma Paulina. “Precisaremos de uma polícia ativa, que atue diretamente nos pontos urbanos.”
Também é preciso que o serviço de saúde tenha exata noção das substâncias que compõem o oxi, a fim de entender seus efeitos e propor tratamento adequado. Por enquanto, faltam estudos laboratoriais que atestem a composição da substância. Na década de 1980, a Alemanha queria montar uma política para diminuir as mortes provocadas por overdose de heroína. Descobriu-se que o que estava matando era uma versão da droga com aditivos. Somente a partir dessa constatação o serviço de saúde organizou a melhor forma de tratamento. O Brasil suspeita, mas não tem certeza, do que é feito o oxi. Saber é o primeiro passo de uma longa batalha contra a nova droga.
APENADOS DO RS RECEBERÃO TRATAMENTO
Presídio Central abre ala para dependentes. Em projeto pioneiro no Estado, área terá capacidade para receber até 90 detentos usuários de drogas - ZERO HORA 17/05/2011
Os presidiários dependentes químicos terão a partir desta semana três chances de tratamento, antes de voltarem ao mundo da legalidade. A nova etapa fica no Presídio Central de Porto Alegre, que deve inaugurar até o final da semana uma ala destinada a dependentes de drogas.
A primeira já existe desde 2007 e fica no Hospital Vila Nova, onde passam por desintoxicação, internados durante 21 dias, numa enfermaria com 18 leitos. A terceira etapa de tratamento, após a do Presídio Central, deverá ser no semiaberto.
O Pavilhão E do Presídio Central abriga a nova área que terá capacidade para receber até 90 detentos. Para ali serão encaminhados os que passaram pela desintoxicação na fase hospitalar. Esses presidiários não terão contato com os demais apenados. Ficarão em separado, com tratamento ministrado por uma equipe especializada, composta por psiquiatras e psicólogos.
Ontem uma comitiva composta por promotores, policiais, integrantes do sistema penitenciário e especialistas em drogadição visitou o Central para conhecer as obras do setor destinado aos dependentes de drogas. Falta concluir a pintura e instalar beliches no local, tarefas que devem ficar prontas quinta-feira.
Numa primeira etapa, serão tratados apenas 14 detentos, selecionados dentro de um grupo que ocupa hoje leitos no Hospital Vila Nova, da ala de desintoxicação dos dependentes químicos. Depois, a nova ala do Presídio Central será ocupada gradualmente.
Semiaberto também deve fazer parte de tratamento
A terceira etapa de tratamento será no semiaberto, adianta o chefe da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), Gelson Treiesleben.
– O projeto do Central é pioneiro no Estado. Começaremos com os 14, e vamos expandir, inclusive para o regime semiaberto – relata Treiesleben.
O escolhido é o Albergue Miguel Dario, em Porto Alegre, onde uma ala já está designada. Falta instalar água e luz no local.
Integrante da comissão de Execução Criminal do Ministério Público, encarregada de zelar pelos direitos dos presos, a promotora Cynthia Jappur comemora a abertura da ala no Presídio Central e a promessa da ala no semiaberto. Mas pede mais.
– Queremos locais de tratamento também para os presos do aberto. A questão das drogas se mostra com todo seu rigor no sistema penitenciário. Quanto mais tratarmos, menos problemas a sociedade terá com esses detentos – pondera.
A abertura da ala para tratamento de dependentes químicos não implica em reabertura do Hospital Penitenciário, fechado nos Anos 90, enfatiza a Susepe. É apenas um local de resguardo de doentes.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Parabéns aos idealizadores da idéia. Já estava na hora desta providência se tornar realidade. O crescendo do consumo de drogas em todo o Brasil exige ação de Estado. Uma das medidas essenciais para deter esta epidemia é a construção de Centros de tratamento de Dependências em micro-regiões para receber as pessoas dependentes e prestar assistência e orientação aos familiares. Hoje, diante do descaso do Estado, proliferam iniciativas privadas, muitas sem capacidade e organização, oportunizando fraudes e erros.
Os presidiários dependentes químicos terão a partir desta semana três chances de tratamento, antes de voltarem ao mundo da legalidade. A nova etapa fica no Presídio Central de Porto Alegre, que deve inaugurar até o final da semana uma ala destinada a dependentes de drogas.
A primeira já existe desde 2007 e fica no Hospital Vila Nova, onde passam por desintoxicação, internados durante 21 dias, numa enfermaria com 18 leitos. A terceira etapa de tratamento, após a do Presídio Central, deverá ser no semiaberto.
O Pavilhão E do Presídio Central abriga a nova área que terá capacidade para receber até 90 detentos. Para ali serão encaminhados os que passaram pela desintoxicação na fase hospitalar. Esses presidiários não terão contato com os demais apenados. Ficarão em separado, com tratamento ministrado por uma equipe especializada, composta por psiquiatras e psicólogos.
Ontem uma comitiva composta por promotores, policiais, integrantes do sistema penitenciário e especialistas em drogadição visitou o Central para conhecer as obras do setor destinado aos dependentes de drogas. Falta concluir a pintura e instalar beliches no local, tarefas que devem ficar prontas quinta-feira.
Numa primeira etapa, serão tratados apenas 14 detentos, selecionados dentro de um grupo que ocupa hoje leitos no Hospital Vila Nova, da ala de desintoxicação dos dependentes químicos. Depois, a nova ala do Presídio Central será ocupada gradualmente.
Semiaberto também deve fazer parte de tratamento
A terceira etapa de tratamento será no semiaberto, adianta o chefe da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), Gelson Treiesleben.
– O projeto do Central é pioneiro no Estado. Começaremos com os 14, e vamos expandir, inclusive para o regime semiaberto – relata Treiesleben.
O escolhido é o Albergue Miguel Dario, em Porto Alegre, onde uma ala já está designada. Falta instalar água e luz no local.
Integrante da comissão de Execução Criminal do Ministério Público, encarregada de zelar pelos direitos dos presos, a promotora Cynthia Jappur comemora a abertura da ala no Presídio Central e a promessa da ala no semiaberto. Mas pede mais.
– Queremos locais de tratamento também para os presos do aberto. A questão das drogas se mostra com todo seu rigor no sistema penitenciário. Quanto mais tratarmos, menos problemas a sociedade terá com esses detentos – pondera.
A abertura da ala para tratamento de dependentes químicos não implica em reabertura do Hospital Penitenciário, fechado nos Anos 90, enfatiza a Susepe. É apenas um local de resguardo de doentes.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Parabéns aos idealizadores da idéia. Já estava na hora desta providência se tornar realidade. O crescendo do consumo de drogas em todo o Brasil exige ação de Estado. Uma das medidas essenciais para deter esta epidemia é a construção de Centros de tratamento de Dependências em micro-regiões para receber as pessoas dependentes e prestar assistência e orientação aos familiares. Hoje, diante do descaso do Estado, proliferam iniciativas privadas, muitas sem capacidade e organização, oportunizando fraudes e erros.
DROGAS ENCURRALAM ESCOLAS
VIZINHANÇA PERIGOSA. Em busca de clientes ou de alvos fáceis para assaltos, viciados e traficantes se aproximam de colégios da Região Metropolitana - RENATO GAVA, ZERO HORA 17/05/2011
De um lado do muro, crianças jogando futebol no pátio da escola municipal. Do outro, a 20 metros do recreio, três viciados. Mães e filhos passam pela rua quando o trio puxa dos bolsos cachimbos improvisados e começa a tragar o crack. As mulheres só aceleram o passo.
Acena testemunhada pela reportagem do jornal Diário Gaúcho no Colégio Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, zona norte da Capital, é comum em escolas públicas da Região Metropolitana, principais alvos dos traficantes atualmente. Dos alunos, os traficantes aproveitam tudo. São clientes para as drogas e, ainda, presas fáceis para viciados, de quem roubam seus celulares, tênis e material escolar para trocar por crack.
Diretora do colégio, Cleusa Leppa assegura que o Liberato é um colégio sem grande problemas de violência. Mas reconhece que a presença de usuários ao redor tem sido constante:
– Desde janeiro esses (viciados) ficam ali, no muro. A Brigada Militar já os prendeu, mas eles foram soltos e voltaram. Ficamos de olho neles.
– Isso não é nada. No intervalo das aulas, sobretudo à noite, tem traficante que pula o muro, oferece droga a quem quiser pegar – relata uma aluna de 16 anos.
Cleusa admite que o problema ocorreu, mas poucas vezes:
– Não temos problema de invasão. Alguns eram ex-alunos e foram retirados. É o que fazemos sempre que percebemos que há, no pátio, alguém que não é aluno.
O convívio perigoso entre traficantes, viciados e estudantes se repete na Zona Sul. Há dois anos, a dona de casa Elaine Santos, 36 anos, passou a buscar a filha de 12 anos. Sempre às 18h, ela e outras mães, que tempos atrás esperavam tranquilas pelos filhos em suas residências, hoje se encontram no portão da escola.
Não é o caminho de poucos quarteirões até em casa que as preocupa. Elas não querem é que filhos e filhas sejam abordadas no entorno da escola.
– Eles respeitam quando ela está comigo. Só não sei até quando – lamenta a mãe.
No Escola Municipal Senador Alberto Pasqualini, uma mãe conta que, quando não pode levar a filha de 14 anos à escola, prefere que ela não vá.
– Fico com o coração na mão. Todo mundo aqui sabe dos traficantes, eles desfilam. A escola não deixa eles entrarem, mas eles esperam os guris saírem – conta a doméstica de 33 anos.
Na semana passada, a Brigada Militar prendeu um viciado de 22 anos que admitiu ter realizado 10 assaltos ao redor das escolas Ildo Meneghetti e Alberto Pasqualini, ambas na Restinga. Como não foi pego em flagrante, o rapaz foi solto. O delegado Luciano Coelho está concluindo os inquéritos e poderá pedir sua prisão preventiva.
– Eu disse para ele separar algumas roupas e voltar para cá no dia seguinte, pois o levaríamos a uma clínica. Chegamos a ajeitar as coisas, mas ele não apareceu e, dois dias depois, temos quase certeza que cometeu outro furto, contra um vizinho – relata o chefe de investigações da 16ª Delegacia da Polícia Civil, Sérgio Lopes.
Falta de dados dificulta ações das autoridades
Embora as autoridades reconheçam o problema da proximidade entre escolas e tráfico de drogas, não existe, oficialmente, nenhuma verba ou programa exclusivo para combatê-lo. Os criminosos sabem disso, e estão aproveitando.
A Secretaria Estadual de Educação, por meio de sua assessoria, divulgou que o órgão não sabe a quantidade de drogas e de drogados apreendidos nos estabelecimentos de ensino.
Das 2.554 escolas estaduais gaúchas, apenas 27 (1%) têm seguranças armados, contratados pela gestão anterior do governo e que só estão em atividade porque seus contratos seguem em vigor. Quando o prazo terminar, o serviço não será renovado.
Na Capital, dos 986 estabelecimentos de ensino público, 68 (6%) têm o projeto PM residente – policiais que moram na escola. Em outros 32, militares da reserva, voluntários, participam de rondas. Os demais colégios dependem de rondas esporádicas de policiais pela vizinhança.
– A segurança dos colégios é uma de nossas prioridades. Mas o ambiente escolar é um alvo de traficantes, que querem esse público para vender as drogas – admite o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital, coronel Atamar Cabreira.
Conforme dados da Brigada, 26% dos presos por furto têm antecedentes por posse de drogas. Um crime leva ao outro.
– Quem usa seis pedras ao dia precisa de R$ 1,8 mil para sustentar o vício. Ele vai a campo, começa a fazer pequenos furtos – raciocina o coronel.
Ontem, policiais civis da 2ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) prenderam dois homens que vendiam drogas em frente a uma escola no centro de São Leopoldo.
De acordo com o delegado Rodrigo Zucco, trata-se de uma nova ação do departamento chamada Anjos da Lei. Em vigor desde a semana passada, ela visa a coibir o tráfico no entorno de locais onde há aglomeração de jovens, como escolas e praças.
De um lado do muro, crianças jogando futebol no pátio da escola municipal. Do outro, a 20 metros do recreio, três viciados. Mães e filhos passam pela rua quando o trio puxa dos bolsos cachimbos improvisados e começa a tragar o crack. As mulheres só aceleram o passo.
Acena testemunhada pela reportagem do jornal Diário Gaúcho no Colégio Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, zona norte da Capital, é comum em escolas públicas da Região Metropolitana, principais alvos dos traficantes atualmente. Dos alunos, os traficantes aproveitam tudo. São clientes para as drogas e, ainda, presas fáceis para viciados, de quem roubam seus celulares, tênis e material escolar para trocar por crack.
Diretora do colégio, Cleusa Leppa assegura que o Liberato é um colégio sem grande problemas de violência. Mas reconhece que a presença de usuários ao redor tem sido constante:
– Desde janeiro esses (viciados) ficam ali, no muro. A Brigada Militar já os prendeu, mas eles foram soltos e voltaram. Ficamos de olho neles.
– Isso não é nada. No intervalo das aulas, sobretudo à noite, tem traficante que pula o muro, oferece droga a quem quiser pegar – relata uma aluna de 16 anos.
Cleusa admite que o problema ocorreu, mas poucas vezes:
– Não temos problema de invasão. Alguns eram ex-alunos e foram retirados. É o que fazemos sempre que percebemos que há, no pátio, alguém que não é aluno.
O convívio perigoso entre traficantes, viciados e estudantes se repete na Zona Sul. Há dois anos, a dona de casa Elaine Santos, 36 anos, passou a buscar a filha de 12 anos. Sempre às 18h, ela e outras mães, que tempos atrás esperavam tranquilas pelos filhos em suas residências, hoje se encontram no portão da escola.
Não é o caminho de poucos quarteirões até em casa que as preocupa. Elas não querem é que filhos e filhas sejam abordadas no entorno da escola.
– Eles respeitam quando ela está comigo. Só não sei até quando – lamenta a mãe.
No Escola Municipal Senador Alberto Pasqualini, uma mãe conta que, quando não pode levar a filha de 14 anos à escola, prefere que ela não vá.
– Fico com o coração na mão. Todo mundo aqui sabe dos traficantes, eles desfilam. A escola não deixa eles entrarem, mas eles esperam os guris saírem – conta a doméstica de 33 anos.
Na semana passada, a Brigada Militar prendeu um viciado de 22 anos que admitiu ter realizado 10 assaltos ao redor das escolas Ildo Meneghetti e Alberto Pasqualini, ambas na Restinga. Como não foi pego em flagrante, o rapaz foi solto. O delegado Luciano Coelho está concluindo os inquéritos e poderá pedir sua prisão preventiva.
– Eu disse para ele separar algumas roupas e voltar para cá no dia seguinte, pois o levaríamos a uma clínica. Chegamos a ajeitar as coisas, mas ele não apareceu e, dois dias depois, temos quase certeza que cometeu outro furto, contra um vizinho – relata o chefe de investigações da 16ª Delegacia da Polícia Civil, Sérgio Lopes.
Falta de dados dificulta ações das autoridades
Embora as autoridades reconheçam o problema da proximidade entre escolas e tráfico de drogas, não existe, oficialmente, nenhuma verba ou programa exclusivo para combatê-lo. Os criminosos sabem disso, e estão aproveitando.
A Secretaria Estadual de Educação, por meio de sua assessoria, divulgou que o órgão não sabe a quantidade de drogas e de drogados apreendidos nos estabelecimentos de ensino.
Das 2.554 escolas estaduais gaúchas, apenas 27 (1%) têm seguranças armados, contratados pela gestão anterior do governo e que só estão em atividade porque seus contratos seguem em vigor. Quando o prazo terminar, o serviço não será renovado.
Na Capital, dos 986 estabelecimentos de ensino público, 68 (6%) têm o projeto PM residente – policiais que moram na escola. Em outros 32, militares da reserva, voluntários, participam de rondas. Os demais colégios dependem de rondas esporádicas de policiais pela vizinhança.
– A segurança dos colégios é uma de nossas prioridades. Mas o ambiente escolar é um alvo de traficantes, que querem esse público para vender as drogas – admite o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital, coronel Atamar Cabreira.
Conforme dados da Brigada, 26% dos presos por furto têm antecedentes por posse de drogas. Um crime leva ao outro.
– Quem usa seis pedras ao dia precisa de R$ 1,8 mil para sustentar o vício. Ele vai a campo, começa a fazer pequenos furtos – raciocina o coronel.
Ontem, policiais civis da 2ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) prenderam dois homens que vendiam drogas em frente a uma escola no centro de São Leopoldo.
De acordo com o delegado Rodrigo Zucco, trata-se de uma nova ação do departamento chamada Anjos da Lei. Em vigor desde a semana passada, ela visa a coibir o tráfico no entorno de locais onde há aglomeração de jovens, como escolas e praças.
domingo, 15 de maio de 2011
O ALERTA DE QUEM ENFRENTOU O "OXI"
ENTREVISTA. “O óxi não dá chance”. Denivaldo Kleper, técnico em redução de danos no Acre, um dos primeiros Estados a detectar a droga - MARCELO GONZATTO, zero hora 15/05/2011
O Rio Grande do Sul, um dos mais recentes Estados a detectar a chegada da nova droga chamada óxi, tem uma dura lição a aprender com a primeira região do país a testemunhar a devastação provocada pela mistura de cocaína, cal e querosene. No Acre, distante cerca de 4 mil quilômetros, o entorpecente mais barato e destrutivo do que o crack já faz vítimas, impulsiona a criminalidade e desafia os serviços de saúde há mais de uma década.
Confinado à Região Amazônica até poucos meses atrás, o óxi iniciou sua jornada rumo às demais regiões do país com a sanha de uma fera recém-saída da jaula. Inicialmente rumou para o Nordeste, para o Centro-Oeste, chegou ao Sudeste e, agora, mostra suas garras no extremo-sul do Brasil. Por onde passou, deixou como rastro vítimas sem dentes, desorientadas, com falência de órgãos ou mortas.
Em Rio Branco, a capital acreana, a droga mais feroz de que sem tem notícia mantém como reféns crianças, adultos, homens e mulheres de diferentes classes sociais. Conforme a gerência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) voltado para o combate a álcool e drogas da cidade, o óxi é capaz de destruir a vida de um dependente em cerca de um mês. Danos gástricos, magreza extrema e descontrole psíquico são alguns dos sintomas mais brandos de quem chega em busca de auxílio.
Quem não tem condições nem mesmo de buscar ajuda por conta própria acaba sendo atendido por especialistas como o técnico em redução de danos Denivaldo Kleper, 35 anos. Responsável por planejar estratégias que diminuam o impacto da dependência química, Kleper conhece como poucos no Brasil o estrago feito pelo óxi no corpo e na vida de seus usuários.
Trabalhando com dependentes químicos há uma década e meia, desde antes da chegada da nova droga ao Brasil, ele confessa jamais ter visto algo igual à combinação mortífera da pedra de óxi. Ao monitorar dependentes nos locais de uso, ele relata na entrevista a seguir, concedida por telefone de Rio Branco, a degradação extrema provocada pela nova ameaça que cruzou o Brasil de um salto e chegou ao Rio Grande do Sul:
Zero Hora – Quanto o óxi é mais grave do que o crack?
Denivaldo Kleper – Em relação ao uso, a pessoa se vicia mais rápido e cada vez que fuma uma pedra quer fumar mais. As diferenças vão desde a composição, que inclui gasolina ou querosene e até solução de bateria. Por isso, chega a ser mais impactante do que o crack tanto no aspecto físico quanto no aspecto mental.
ZH – Que tipo de dano é mais comum?
Kleper – Há um emagrecimento muito rápido, diarreia instantânea...
ZH – Instantânea?
Kleper – Ao usar, dá dor de barriga, e o dependente defeca na hora. Vomita também. Defeca, vomita e, mesmo assim, continua fumando. A higiene (no local) onde se fuma é horrível. Eles pegam casas abandonadas e fazem de brete, como chamamos, para usar. Acompanhei dependentes nesses lugares. Há fezes e vômito para tudo que é lado. Eles não ligam para isso, só se importam em usar e não serem perturbados.
ZH – Qual o perfil de quem usa óxi no Acre hoje?
Kleper – Começou na periferia, mas hoje já está nas classes média e alta. Aqui nós não tivemos o crack, sempre foi o óxi. E daqui saiu para o Brasil. É que o custo de uma pedra de crack fica entre R$ 5 e R$ 10, e o óxi aqui custa apenas R$ 2. O dano social é igual ao do crack, a pessoa larga a família, vive na rua, assalta, furta para fazer uso. Tem muitos que vigiam motos na rua, conseguem R$ 2 e já saem para comprar.
ZH – Há muitos relatos de casos graves e mortes?
Kleper – Em 2003, começamos a fazer uma pesquisa na região da fronteira, que finalizamos em 2005. Depois de dois anos, voltamos a procurar as pessoas que havíamos entrevistado, e muitas delas já tinham morrido pelo uso do óxi. A nossa estimativa é de que a vida de um usuário frequente dura de um a dois anos.
ZH – Morre de quê?
Kleper – Ficam debilitados demais. A droga debilita o fígado, os rins, o estômago, sem falar no risco de infarto durante o uso, porque acelera demais o coração. Também perdem os dentes, emagrecem rapidamente e sofrem delírios de não falar coisa com coisa. Há um adoecimento mental muito rápido, e não conseguem mais organizar as ideias.
ZH – É muito difícil recuperar um dependente de óxi?
Kleper – É muito difícil por causa da abstinência. O usuário fica muito temperamental e está sujeito a criar situações de violência. Leva cinco, seis segundos para chegar ao barato, mas a sensação dura pouco, vai rápido. Aí querem usar mais, mais e mais. Quanto mais usa, mais quer. Por isso, o consumo e a dependência são muito mais graves, até em comparação ao crack. Por isso, trabalhamos com a ótica de redução de danos para que o usuário possa se reinserir socialmente e se recuperar física e mentalmente.
ZH – O senhor recorda de algum caso mais marcante?
Kleper – Acompanhei um rapaz que usava diariamente. Conseguimos fazer com que parasse por dois anos, agora voltou. Ele chegou a perder as digitais dos dedos, porque queimava as mãos com a droga ao fumar e esfregava os dedos no cimento para limpar. Tem também uma garota de 13 anos, que começou a usar com 11. Hoje fui buscá-la para levar ao Caps, e todos se surpreenderam com a debilidade física dela. Aqui já está chegando até nas crianças. Não tem mais idade ou classe social. O crack ainda te dá uma chance, o óxi é muito forte, não te dá chance. Não existe quem diga que fumou uma pedra e parou. Não existe isso.
ZH – Qual o impacto social no Acre em uma década de óxi?
Kleper – O impacto é muito grande. A massa, a população de periferia, já está em condição de vulnerabilidade e, quando começam a usar, ou vão traficar, ou roubar e furtar. Se é mulher ou travesti, vai se prostituir para conseguir meios de fazer uso. O desconhecimento da sociedade em relação à droga, mesmo aqui onde ela já existe há algum tempo, contribui para marginalizar o usuário.
ZH – Há leitos disponíveis para tratamento contra o óxi?
Kleper – Há setores de desintoxicação que funcionam nos hospitais de emergência e urgência. A pessoa vem em situação de uso abusivo e entra em um quadro agudo de intoxicação. Vai para o pronto socorro, desintoxica e vai para setor de leitos, onde fica até sete dias. Mas não é o suficiente. Muitos saem desse processo e voltam direto para o uso. O trabalho que fazemos na rua serve de porta de entrada para a rede de saúde. Agora, o Caps deve passar a abrir 24 horas para poder atender as pessoas em período de crise.
ZH – O senhor trabalha há 14 anos com redução de danos, antes mesmo da chegada do óxi. Já havia visto algo parecido?
Kleper – Trabalho com usuários de drogas há 14 anos e nunca vi nada parecido. Nem droga injetável, como heroína, ou LSD, cocaína, nada. É muito impactante. Em um, dois meses, já dá para ver a diferença no usuário, tanto física quanto mental. Nunca vi nada igual.
O Rio Grande do Sul, um dos mais recentes Estados a detectar a chegada da nova droga chamada óxi, tem uma dura lição a aprender com a primeira região do país a testemunhar a devastação provocada pela mistura de cocaína, cal e querosene. No Acre, distante cerca de 4 mil quilômetros, o entorpecente mais barato e destrutivo do que o crack já faz vítimas, impulsiona a criminalidade e desafia os serviços de saúde há mais de uma década.
Confinado à Região Amazônica até poucos meses atrás, o óxi iniciou sua jornada rumo às demais regiões do país com a sanha de uma fera recém-saída da jaula. Inicialmente rumou para o Nordeste, para o Centro-Oeste, chegou ao Sudeste e, agora, mostra suas garras no extremo-sul do Brasil. Por onde passou, deixou como rastro vítimas sem dentes, desorientadas, com falência de órgãos ou mortas.
Em Rio Branco, a capital acreana, a droga mais feroz de que sem tem notícia mantém como reféns crianças, adultos, homens e mulheres de diferentes classes sociais. Conforme a gerência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) voltado para o combate a álcool e drogas da cidade, o óxi é capaz de destruir a vida de um dependente em cerca de um mês. Danos gástricos, magreza extrema e descontrole psíquico são alguns dos sintomas mais brandos de quem chega em busca de auxílio.
Quem não tem condições nem mesmo de buscar ajuda por conta própria acaba sendo atendido por especialistas como o técnico em redução de danos Denivaldo Kleper, 35 anos. Responsável por planejar estratégias que diminuam o impacto da dependência química, Kleper conhece como poucos no Brasil o estrago feito pelo óxi no corpo e na vida de seus usuários.
Trabalhando com dependentes químicos há uma década e meia, desde antes da chegada da nova droga ao Brasil, ele confessa jamais ter visto algo igual à combinação mortífera da pedra de óxi. Ao monitorar dependentes nos locais de uso, ele relata na entrevista a seguir, concedida por telefone de Rio Branco, a degradação extrema provocada pela nova ameaça que cruzou o Brasil de um salto e chegou ao Rio Grande do Sul:
Zero Hora – Quanto o óxi é mais grave do que o crack?
Denivaldo Kleper – Em relação ao uso, a pessoa se vicia mais rápido e cada vez que fuma uma pedra quer fumar mais. As diferenças vão desde a composição, que inclui gasolina ou querosene e até solução de bateria. Por isso, chega a ser mais impactante do que o crack tanto no aspecto físico quanto no aspecto mental.
ZH – Que tipo de dano é mais comum?
Kleper – Há um emagrecimento muito rápido, diarreia instantânea...
ZH – Instantânea?
Kleper – Ao usar, dá dor de barriga, e o dependente defeca na hora. Vomita também. Defeca, vomita e, mesmo assim, continua fumando. A higiene (no local) onde se fuma é horrível. Eles pegam casas abandonadas e fazem de brete, como chamamos, para usar. Acompanhei dependentes nesses lugares. Há fezes e vômito para tudo que é lado. Eles não ligam para isso, só se importam em usar e não serem perturbados.
ZH – Qual o perfil de quem usa óxi no Acre hoje?
Kleper – Começou na periferia, mas hoje já está nas classes média e alta. Aqui nós não tivemos o crack, sempre foi o óxi. E daqui saiu para o Brasil. É que o custo de uma pedra de crack fica entre R$ 5 e R$ 10, e o óxi aqui custa apenas R$ 2. O dano social é igual ao do crack, a pessoa larga a família, vive na rua, assalta, furta para fazer uso. Tem muitos que vigiam motos na rua, conseguem R$ 2 e já saem para comprar.
ZH – Há muitos relatos de casos graves e mortes?
Kleper – Em 2003, começamos a fazer uma pesquisa na região da fronteira, que finalizamos em 2005. Depois de dois anos, voltamos a procurar as pessoas que havíamos entrevistado, e muitas delas já tinham morrido pelo uso do óxi. A nossa estimativa é de que a vida de um usuário frequente dura de um a dois anos.
ZH – Morre de quê?
Kleper – Ficam debilitados demais. A droga debilita o fígado, os rins, o estômago, sem falar no risco de infarto durante o uso, porque acelera demais o coração. Também perdem os dentes, emagrecem rapidamente e sofrem delírios de não falar coisa com coisa. Há um adoecimento mental muito rápido, e não conseguem mais organizar as ideias.
ZH – É muito difícil recuperar um dependente de óxi?
Kleper – É muito difícil por causa da abstinência. O usuário fica muito temperamental e está sujeito a criar situações de violência. Leva cinco, seis segundos para chegar ao barato, mas a sensação dura pouco, vai rápido. Aí querem usar mais, mais e mais. Quanto mais usa, mais quer. Por isso, o consumo e a dependência são muito mais graves, até em comparação ao crack. Por isso, trabalhamos com a ótica de redução de danos para que o usuário possa se reinserir socialmente e se recuperar física e mentalmente.
ZH – O senhor recorda de algum caso mais marcante?
Kleper – Acompanhei um rapaz que usava diariamente. Conseguimos fazer com que parasse por dois anos, agora voltou. Ele chegou a perder as digitais dos dedos, porque queimava as mãos com a droga ao fumar e esfregava os dedos no cimento para limpar. Tem também uma garota de 13 anos, que começou a usar com 11. Hoje fui buscá-la para levar ao Caps, e todos se surpreenderam com a debilidade física dela. Aqui já está chegando até nas crianças. Não tem mais idade ou classe social. O crack ainda te dá uma chance, o óxi é muito forte, não te dá chance. Não existe quem diga que fumou uma pedra e parou. Não existe isso.
ZH – Qual o impacto social no Acre em uma década de óxi?
Kleper – O impacto é muito grande. A massa, a população de periferia, já está em condição de vulnerabilidade e, quando começam a usar, ou vão traficar, ou roubar e furtar. Se é mulher ou travesti, vai se prostituir para conseguir meios de fazer uso. O desconhecimento da sociedade em relação à droga, mesmo aqui onde ela já existe há algum tempo, contribui para marginalizar o usuário.
ZH – Há leitos disponíveis para tratamento contra o óxi?
Kleper – Há setores de desintoxicação que funcionam nos hospitais de emergência e urgência. A pessoa vem em situação de uso abusivo e entra em um quadro agudo de intoxicação. Vai para o pronto socorro, desintoxica e vai para setor de leitos, onde fica até sete dias. Mas não é o suficiente. Muitos saem desse processo e voltam direto para o uso. O trabalho que fazemos na rua serve de porta de entrada para a rede de saúde. Agora, o Caps deve passar a abrir 24 horas para poder atender as pessoas em período de crise.
ZH – O senhor trabalha há 14 anos com redução de danos, antes mesmo da chegada do óxi. Já havia visto algo parecido?
Kleper – Trabalho com usuários de drogas há 14 anos e nunca vi nada parecido. Nem droga injetável, como heroína, ou LSD, cocaína, nada. É muito impactante. Em um, dois meses, já dá para ver a diferença no usuário, tanto física quanto mental. Nunca vi nada igual.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
ÓXI - ENTRE A VELHA E A NOVA PORCARIA
SUA SEGURANÇA | Humberto Trezzi - Entre a velha e a nova porcaria - ZERO HORA, 13/05/2011
A droga nisso tudo desculpem a redundância é que o óxi é barato. Essa nova porcaria a assolar os pulmões dos brasileiros é isso mesmo, um coquetel de químicos de fácil carburação e difícil solução, por parte das autoridades. Se com o crack já são quase nulas as perspectivas de derrotar o vício, o que dizer de seu subproduto mais terrível e menos custoso? O melhor é, como ressaltam todas as campanhas, não testar a curiosidade, não chegar perto, não mexer.
Mas quem convence viciados a não testarem uma nova droga, ainda por cima, barata? De olho no potencial de vendas e na relação custo-benefício favorável ao comerciante, os traficantes logo vão aderir a essa novidade. E as ruas, já abarrotadas de usuários de crack, agora serão infestadas por legiões de consumidores de pedra (oxi)dável – e mortífera. Justo num momento de estabilização nos homicídios, é de se esperar que o Brasil enfrente novas ondas de assassinatos resultantes de acertos de conta entre quadrilhas que disputam o mercado dos refugos da cocaína.
Foi mesmo dia de novidades na área dos tóxicos. Além da confirmação de que o óxi desembarcou em território gaúcho, ocorreu na Serra a apreensão de cerca de 1,5 tonelada de maconha (leia mais na página 36), a mostrar que velhos hábitos persistem. Entre a nova e a antiga droga, os policiais continuam tendo muito trabalho.
A droga nisso tudo desculpem a redundância é que o óxi é barato. Essa nova porcaria a assolar os pulmões dos brasileiros é isso mesmo, um coquetel de químicos de fácil carburação e difícil solução, por parte das autoridades. Se com o crack já são quase nulas as perspectivas de derrotar o vício, o que dizer de seu subproduto mais terrível e menos custoso? O melhor é, como ressaltam todas as campanhas, não testar a curiosidade, não chegar perto, não mexer.
Mas quem convence viciados a não testarem uma nova droga, ainda por cima, barata? De olho no potencial de vendas e na relação custo-benefício favorável ao comerciante, os traficantes logo vão aderir a essa novidade. E as ruas, já abarrotadas de usuários de crack, agora serão infestadas por legiões de consumidores de pedra (oxi)dável – e mortífera. Justo num momento de estabilização nos homicídios, é de se esperar que o Brasil enfrente novas ondas de assassinatos resultantes de acertos de conta entre quadrilhas que disputam o mercado dos refugos da cocaína.
Foi mesmo dia de novidades na área dos tóxicos. Além da confirmação de que o óxi desembarcou em território gaúcho, ocorreu na Serra a apreensão de cerca de 1,5 tonelada de maconha (leia mais na página 36), a mostrar que velhos hábitos persistem. Entre a nova e a antiga droga, os policiais continuam tendo muito trabalho.
ÓXI - AVANÇO RÁPIDO ASSUSTA
Avanço rápido assusta especialistas - ZERO HORA 13/05/2011
As características da nova onda tóxica que atinge o país provocam alarme entre médicos e representantes de entidades antidrogas. O receio é de que o maior poder de destruição e o menor preço coloquem em xeque os esforços feitos até o momento – e sem grande sucesso – para barrar o crack.
Um dos maiores especialistas brasileiros em dependência química, o professor de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo Ronaldo Laranjeira, se confessa estupefato com a escalada do óxi – que em poucos meses se alastrou de Norte a Sul.
– Se há dois meses me perguntassem se poderia haver coisa pior do que o crack, eu diria que não. Incrivelmente, o óxi tem uma tecnologia de produção mais tosca, é mais barato e mais potente – declara.
A previsão do especialista é de que o novo entorpecente vai se disseminar principalmente entre quem já é usuário de droga e se encontra em situação vulnerável. O problema é que a rede de atendimento terá de enfrentar, a partir de agora, um inimigo ainda mais poderoso na luta contra a drogadição.
– O que está muito ruim vai ficar pior. Em 10 anos, não tivemos um programa decente do governo federal contra o crack, então agora vamos ficar mais perdidos ainda – avalia Laranjeira.
Diretor-executivo do Instituto Crack Nem Pensar, Alceu Terra Nascimento também acredita que a versão ainda mais suja da cocaína é “uma dificuldade a mais” em um cenário já desconfortável.
– O crack continua crescendo. Melhoramos a mobilização da sociedade, a articulação dos órgãos diretamente ligados a esse problema, o que já é uma boa notícia, mas pouca coisa vem acontecendo na prática – acredita Nascimento.
O psiquiatra gaúcho Flavio Pechansky afirma que os especialistas ainda precisam estudar melhor o impacto do óxi no organismo, mas arrisca estimar o perfil dos pacientes que deverão começar a bater nas portas das clínicas em pouco tempo:
– Como a mistura é muito mais letal, provavelmente os dependentes serão ainda mais desorganizados. Terão mais lesões mentais e físicas, principalmente nos pulmões.
ÓXI, A NOVA AMEAÇA QUE ATINGE O SUL
Estado confirma a primeira apreensão da droga que assusta médicos em todo o país por ser ainda mais letal que o crack - EDUARDO TORRES E MARCELO GONZATTO, ZERO HORA 13/05/2011
Uma nova droga, mais barata e mortífera do que o crack, chegou ao Rio Grande do Sul deixando em alerta médicos, representantes de organizações sociais e autoridades. A Polícia Civil confirmou ontem que 360 gramas de pedras derivadas da cocaína apreendidas no mês passado em Porto Alegre eram o chamado óxi – cocaína misturada a querosene e cal virgem capaz de matar até 30% dos usuários em um ano.
Depois de se alastrar pelo norte do país, o óxi foi recentemente identificado no Centro-Oeste, no Sudeste e no Paraná. A quantidade retirada das mãos de traficantes no bairro Rubem Berta seria suficiente para produzir 1,5 mil pedras.
– Desconfiamos do cheiro, da consistência e da cor daquilo que julgávamos ser crack. É possível que os usuários estejam consumindo isso enganados e se destruindo mais rápido – alerta o diretor de investigações do Denarc, delegado Heliomar Franco.
Embora sejam semelhantes na forma, os dois derivados da cocaína diferem na composição. Enquanto o crack é produzido misturando-se a cocaína a bicarbonato de sódio e amônia, o novo entorpecente é produzido com a inclusão de dois elementos ainda mais tóxicos e corrosivos, a fim de baratear a produção: querosene e cal virgem. Também podem ser usados gasolina e líquido de bateria. Devido à adaptação da receita, o preço de venda da pedra cai de cerca de R$ 5 para R$ 2.
A redução de valor contrasta com a elevação dos danos provocados. Quando esse coquetel letal é fumado pelo usuário, além dos estragos provocados tradicionalmente pela cocaína, os aditivos químicos corroem vias respiratórias, pulmões, fígado e rins. Até os dentes caem em pouco tempo. No Brasil, o único estudo sobre o assunto, da Associação Brasileira de Redução de Danos, feito com cem usuários da Região Norte, mostrou que 30% deles morreram em menos de um ano.
– O querosene e a cal virgem, que servem para tirar a acidez da pasta de cocaína, queimam as mucosas internas de forma absurda. Queima desde a mucosa bucal até os pulmões, rins e fígado – revela o responsável pelo setor de desintoxicação de dependentes do Hospital Vila Nova, Cássio Castelarin.
Efeito se esvai em apenas 15 minutos
Outro agravante é o tempo de euforia provocado pela substância. Enquanto no caso do crack pode chegar até a meia hora, conforme o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, o óxi se esvai em menos de 15 minutos. Na prática, isso provoca um aumento no consumo e uma forma de dependência ainda mais grave. De acordo com o delegado Rodrigo Zucco, que comanda a investigação sobre o óxi, a nova droga foi encontrada em poder de traficantes ligados ao grupo criminoso Bala na Cara – com ação em Porto Alegre (Zona Norte, Serraria e Bom Jesus), Alvorada, Viamão e Cachoeirinha.
– Quando se vende uma pedra a R$ 2, os usuários correm para lá. Agora sabemos da presença do óxi no Rubem Berta, mas não descartamos em outras áreas de influência da quadrilha – aponta.
Até o momento, o óxi teria chegado pronto ao Estado, mas como seus componentes são baratos e de fácil acesso, a polícia considera que o início da fabricação local é uma questão de tempo.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
JOVENS DA CLASSE MÉDIA TRAFICANDO
Dois jovens de classe média são presos por tráfico na Tijuca. O GLOBO, 11/05/2011 às 11h26m - Athos Moura
RIO - Dois jovens de classe média foram presos, nesta terça-feira, na Tijuca, acusados de tráfico de drogas e associação para o tráfico por comercializarem cerca de um quilo de maconha. Jhuliana Ribeiro de Aguiar Thibaut, de 19 anos, escondeu a droga no depósito da loja em que trabalhava no Off Shopping, na Tijuca. Ela entregaria a maconha para Felipe Yanes, de 20 anos. A transação foi descoberta por acaso e ambos acabaram presos em flagrante.
Policiais da 19ª DP (Tijuca) já investigavam a nova modalidade do tráfico na região do Off Shopping e do Shopping Tijuca, na Rua Barão de Mesquita. De acordo com o delegado adjunto da unidade Leonardo Luís Macharet, desde que as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP) foram instaladas nas comunidades do bairro, o tipo de tráfico mudou.
- Hoje em dia não existe mais tráfico nos morros, e as pessoas estão vindo para o asfalto vender e comprar. Os traficantes muitas vezes são pessoas de classe média que acabam vendendo para sustentar o próprio vício. Tínhamos informações de que algumas pessoas estavam agindo naquela localidade inclusive com o auxílio de taxista para entregarem a droga em casa - relatou o delegado.
Na manhã desta quarta-feira, porém, a Polícia Civil desmentiu a declaração do delegado, através de nota. Segundo o comunicado, "a chefia de Polícia Civil esclarece que a prisão de dois jovens de classe média, acusados de comercializarem cerca de um quilo de maconha em um shopping da Tijuca, não é indício de que o tráfico de drogas tenha migrado das comunidades ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para o asfalto, ao contrário do que disse o delegado-adjunto da 19ª DP (Tijuca), Leonardo Luís Macharet".
Na tarde desta terça-feira, dois policiais civis foram até a região para investigar. Uma vendedora de uma loja do Off Shopping desconfiou do volume e do cheiro de um pacote deixado no estoque do estabelecimento. Ela chamou os seguranças do shopping e em seguida, a polícia. Os agentes perguntaram a quem pertencia aquele pacote e foram informados de que a dona era Jhuliana. Os policiais foram até a casa da vendedora, que já havia saído do trabalho, e a prenderem.
Pouco depois dos policiais retornarem à loja, Felipe Yanes foi ao estabelecimento procurar por Jhuliana dizendo que ela havia deixado um pacote para ele. O jovem também acabou preso. Em depoimento, ele confessou que pagou pela droga de manhã e retornou à tarde para buscá-la.
O delegado Macharet acredita que existam outras pessoas envolvidas na transação da droga. Caso condenados, a dupla pode pegar de três a 15 anos de prisão.
RIO - Dois jovens de classe média foram presos, nesta terça-feira, na Tijuca, acusados de tráfico de drogas e associação para o tráfico por comercializarem cerca de um quilo de maconha. Jhuliana Ribeiro de Aguiar Thibaut, de 19 anos, escondeu a droga no depósito da loja em que trabalhava no Off Shopping, na Tijuca. Ela entregaria a maconha para Felipe Yanes, de 20 anos. A transação foi descoberta por acaso e ambos acabaram presos em flagrante.
Policiais da 19ª DP (Tijuca) já investigavam a nova modalidade do tráfico na região do Off Shopping e do Shopping Tijuca, na Rua Barão de Mesquita. De acordo com o delegado adjunto da unidade Leonardo Luís Macharet, desde que as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP) foram instaladas nas comunidades do bairro, o tipo de tráfico mudou.
- Hoje em dia não existe mais tráfico nos morros, e as pessoas estão vindo para o asfalto vender e comprar. Os traficantes muitas vezes são pessoas de classe média que acabam vendendo para sustentar o próprio vício. Tínhamos informações de que algumas pessoas estavam agindo naquela localidade inclusive com o auxílio de taxista para entregarem a droga em casa - relatou o delegado.
Na manhã desta quarta-feira, porém, a Polícia Civil desmentiu a declaração do delegado, através de nota. Segundo o comunicado, "a chefia de Polícia Civil esclarece que a prisão de dois jovens de classe média, acusados de comercializarem cerca de um quilo de maconha em um shopping da Tijuca, não é indício de que o tráfico de drogas tenha migrado das comunidades ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para o asfalto, ao contrário do que disse o delegado-adjunto da 19ª DP (Tijuca), Leonardo Luís Macharet".
Na tarde desta terça-feira, dois policiais civis foram até a região para investigar. Uma vendedora de uma loja do Off Shopping desconfiou do volume e do cheiro de um pacote deixado no estoque do estabelecimento. Ela chamou os seguranças do shopping e em seguida, a polícia. Os agentes perguntaram a quem pertencia aquele pacote e foram informados de que a dona era Jhuliana. Os policiais foram até a casa da vendedora, que já havia saído do trabalho, e a prenderem.
Pouco depois dos policiais retornarem à loja, Felipe Yanes foi ao estabelecimento procurar por Jhuliana dizendo que ela havia deixado um pacote para ele. O jovem também acabou preso. Em depoimento, ele confessou que pagou pela droga de manhã e retornou à tarde para buscá-la.
O delegado Macharet acredita que existam outras pessoas envolvidas na transação da droga. Caso condenados, a dupla pode pegar de três a 15 anos de prisão.
domingo, 8 de maio de 2011
MARCHA DA MACONHA REÚNE 5 MIL PESSOAS
Marcha da Maconha reúne 5 mil pessoas na orla de Ipanema, neste sábado. O GLOBO, 07/05/2011 às 17h47m - Monique Vasconcelos
RIO - Três jovens foram presos por volta das 18h30m deste sábado, durante a realização da 8° Marcha pela Legalização da Maconha, que reuniu 5 mil pessoas na orla de Ipanema, Zona Sul do Rio. Eles foram detidos por policiais do 23º BPM (Leblon), por desacato à autoridade, e encaminhados para a 14ª DP (Leblon). Acabaram liberados à noite. Durante a passeata, houve confusão e os policiais usaram spray de pimenta para conter os ânimos. A confusão teria começado quando um dos jovens colou um adesivo favorável à descriminalização da cannabis sativa em uma motocicleta da PM.
A manifestação foi autorizada por uma ordem judicial que permite o movimento, desde que os participantes não utilizem ou incentivem o uso de qualquer substância ilícita.
O músico Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, também participa da marcha, assim como o ex-ministro e atual secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc.
- Queremos legalizar a maconha para evitar a bagunça que é hoje. Temos que diminuir o movimento financeiro do tráfico de drogas - disse Santa Cruz.
Um dos organizadores, o advogado André Barros afirmou que os participantes não poderão ser detidos pelo fato de estarem na marcha:
- A Polícia Militar está presente para garantir o direito de reunião e conforme previsto na Constituição Federal. Sempre fui a favor da legalização da maconha.
O secretário Carlos Minc, chegou pouco antes do início da marcha e vestia um colete feito a partir de fibras cânhamo.
- É uma alegria encontrar essa juventude. Estamos vivendo uma fase maravilhosa no Brasil. O Supremo deu ganho de causa aos homoafetivos e Censo do IBGE mostrou que negros e pardos já são maioria no país. Chegou a hora de dar um basta na discriminação desta substância.
A marcha contou com integrantes da Orquestra Vegetal que entoam marchinhas de carnaval adaptadas para o uso da planta.
Marcha é um dos assuntos mais comentados no Twitter
Em sua página na internet, o grupo que organizou o ato afirma que não tem a intenção "de fazer apologia à maconha ou ao seu uso, nem incentivar qualquer tipo de atividade criminosa".
A manifestação está entre os assuntos mais comentados na rede sociais da internet neste sábado. No início da tarde, a hastag #marchadamaconha chegou a ser a mais repercutida no Twitter.
RIO - Três jovens foram presos por volta das 18h30m deste sábado, durante a realização da 8° Marcha pela Legalização da Maconha, que reuniu 5 mil pessoas na orla de Ipanema, Zona Sul do Rio. Eles foram detidos por policiais do 23º BPM (Leblon), por desacato à autoridade, e encaminhados para a 14ª DP (Leblon). Acabaram liberados à noite. Durante a passeata, houve confusão e os policiais usaram spray de pimenta para conter os ânimos. A confusão teria começado quando um dos jovens colou um adesivo favorável à descriminalização da cannabis sativa em uma motocicleta da PM.
A manifestação foi autorizada por uma ordem judicial que permite o movimento, desde que os participantes não utilizem ou incentivem o uso de qualquer substância ilícita.
O músico Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, também participa da marcha, assim como o ex-ministro e atual secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc.
- Queremos legalizar a maconha para evitar a bagunça que é hoje. Temos que diminuir o movimento financeiro do tráfico de drogas - disse Santa Cruz.
Um dos organizadores, o advogado André Barros afirmou que os participantes não poderão ser detidos pelo fato de estarem na marcha:
- A Polícia Militar está presente para garantir o direito de reunião e conforme previsto na Constituição Federal. Sempre fui a favor da legalização da maconha.
O secretário Carlos Minc, chegou pouco antes do início da marcha e vestia um colete feito a partir de fibras cânhamo.
- É uma alegria encontrar essa juventude. Estamos vivendo uma fase maravilhosa no Brasil. O Supremo deu ganho de causa aos homoafetivos e Censo do IBGE mostrou que negros e pardos já são maioria no país. Chegou a hora de dar um basta na discriminação desta substância.
A marcha contou com integrantes da Orquestra Vegetal que entoam marchinhas de carnaval adaptadas para o uso da planta.
Marcha é um dos assuntos mais comentados no Twitter
Em sua página na internet, o grupo que organizou o ato afirma que não tem a intenção "de fazer apologia à maconha ou ao seu uso, nem incentivar qualquer tipo de atividade criminosa".
A manifestação está entre os assuntos mais comentados na rede sociais da internet neste sábado. No início da tarde, a hastag #marchadamaconha chegou a ser a mais repercutida no Twitter.
sábado, 7 de maio de 2011
A QUESTÃO POR TRÁS DA CORTINA DE FUMAÇA
Glauco Xenofonte - Artigo do leitor , O GLOBO, 06/05/2011 às 20h48m
Por essa ninguém esperava! Acharam pés de maconha na casa onde o Osama bin Laden se escondia no Paquistão. No entanto, antes de ser motivo de espanto, essa descoberta (quase tão interessante quanto achar o terrorista em si) parece mostrar que até o mais radical dos radicais pode fazer uso da erva. O que quase ninguém sabe, ou não se interessa em saber, é que naqueles lados do planeta, maconha dá que nem chuchu na serra e registros históricos indicam o seu uso no Oriente Médio há pelo menos 3 mil anos. Curioso que, paralelamente, o álcool é mal visto por muitos de lá e seu consumo chega a ser proibido em determinados lugares.
Mas, questões culturais e de saúde envolvendo as drogas - incluindo o álcool - ficam em segundo plano quando em comparação à segurança pública. Hoje, a maior parte das substâncias proibidas ao consumo virou caso de polícia. Isso por causa de uma lei assinada em 1912, da qual o Brasil e muitos outros países foram "amigavelmente" convidados a ser signatários. Desde então, a violência em torno delas só fez crescer.
O álcool, proibido nos EUA, criou lendas como Al Capone, assim como muitos mortos, até ser liberado novamente.
São para alguns desses fatos que a Marcha da Maconha quer chamar a atenção neste sábado, dia 7 de maio. Sua organização, em todas as cidades do mundo que realizam o evento, busca o debate das consequências sociais ligadas à proibição e também ao consumo de entorpecentes e estimulantes. A manifestação festiva está longe de denegrir a sua imagem. Até mesmo na sisuda Londres, os manifestantes se fantasiam. Se olharmos as demais marchas, as religiosas também carregam suas fantasias e folclores, não merecendo menos respeito por isso.
No entanto, o que realmente deveria ser discutido, não recebe a devida atenção, ou pelo menos, não como deveria. É muito espantoso que em épocas de luta por democracia nos quatro cantos do globo, aqui no Brasil, senadores e deputados se manifestam publicamente a favor da proibição da Marcha da Maconha.
Vamos ver se entendemos direito: diz a Constituição Federal em seu Artigo 5°, parágrafo XVI que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente". Em todas as edições da marcha realizadas no Rio de Janeiro até agora, não houve desrespeito a nada do que consta neste trecho da Carta Magna brasileira.
Até onde se ensina nas escolas, políticos e juízes não estão acima da Constituição. O argumento usado pelo lado que deseja proibir fala sobre apologia, que segundo o dicionário é o "discurso ou escrito laudatório para justificar ou defender alguém ou alguma coisa". Para não ficar dúvida, laudatório diz respeito a louvor. Bem, quem for à marcha, verá que não se faz louvor algum à venda de maconha, mas são cantadas palavras de ordem generalistas que defendem a liberdade de plantio, o uso recreativo, religioso e científico.
A intenção ou realização da Marcha da Maconha não incentiva a venda, o que aí sim seria apologia ao crime, já que o comércio de drogas é proibido. Dizer que se faz apologia ao consumo, já que este também é proibido, chega a ser infantil. O consumo é o último estágio da cadeia produtiva das drogas e nem a proibição ou a marcha teriam razão para existir se as drogas fossem feitas para ficar nas prateleiras para serem admiradas. Mas a Marcha da Maconha também não deve ser a única etapa para a ampliação do debate e por um tratamento mais democrático e republicano aos cidadãos usuários. É importante que a discussão ocorra em outras esferas e que, principalmente, o governo federal fomente o debate e busque as melhores estratégias para diminuir o impacto negativo que as drogas têm hoje na sociedade brasileira. Uma dica: Redução de Danos.
Por essa ninguém esperava! Acharam pés de maconha na casa onde o Osama bin Laden se escondia no Paquistão. No entanto, antes de ser motivo de espanto, essa descoberta (quase tão interessante quanto achar o terrorista em si) parece mostrar que até o mais radical dos radicais pode fazer uso da erva. O que quase ninguém sabe, ou não se interessa em saber, é que naqueles lados do planeta, maconha dá que nem chuchu na serra e registros históricos indicam o seu uso no Oriente Médio há pelo menos 3 mil anos. Curioso que, paralelamente, o álcool é mal visto por muitos de lá e seu consumo chega a ser proibido em determinados lugares.
Mas, questões culturais e de saúde envolvendo as drogas - incluindo o álcool - ficam em segundo plano quando em comparação à segurança pública. Hoje, a maior parte das substâncias proibidas ao consumo virou caso de polícia. Isso por causa de uma lei assinada em 1912, da qual o Brasil e muitos outros países foram "amigavelmente" convidados a ser signatários. Desde então, a violência em torno delas só fez crescer.
O álcool, proibido nos EUA, criou lendas como Al Capone, assim como muitos mortos, até ser liberado novamente.
São para alguns desses fatos que a Marcha da Maconha quer chamar a atenção neste sábado, dia 7 de maio. Sua organização, em todas as cidades do mundo que realizam o evento, busca o debate das consequências sociais ligadas à proibição e também ao consumo de entorpecentes e estimulantes. A manifestação festiva está longe de denegrir a sua imagem. Até mesmo na sisuda Londres, os manifestantes se fantasiam. Se olharmos as demais marchas, as religiosas também carregam suas fantasias e folclores, não merecendo menos respeito por isso.
No entanto, o que realmente deveria ser discutido, não recebe a devida atenção, ou pelo menos, não como deveria. É muito espantoso que em épocas de luta por democracia nos quatro cantos do globo, aqui no Brasil, senadores e deputados se manifestam publicamente a favor da proibição da Marcha da Maconha.
Vamos ver se entendemos direito: diz a Constituição Federal em seu Artigo 5°, parágrafo XVI que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente". Em todas as edições da marcha realizadas no Rio de Janeiro até agora, não houve desrespeito a nada do que consta neste trecho da Carta Magna brasileira.
Até onde se ensina nas escolas, políticos e juízes não estão acima da Constituição. O argumento usado pelo lado que deseja proibir fala sobre apologia, que segundo o dicionário é o "discurso ou escrito laudatório para justificar ou defender alguém ou alguma coisa". Para não ficar dúvida, laudatório diz respeito a louvor. Bem, quem for à marcha, verá que não se faz louvor algum à venda de maconha, mas são cantadas palavras de ordem generalistas que defendem a liberdade de plantio, o uso recreativo, religioso e científico.
A intenção ou realização da Marcha da Maconha não incentiva a venda, o que aí sim seria apologia ao crime, já que o comércio de drogas é proibido. Dizer que se faz apologia ao consumo, já que este também é proibido, chega a ser infantil. O consumo é o último estágio da cadeia produtiva das drogas e nem a proibição ou a marcha teriam razão para existir se as drogas fossem feitas para ficar nas prateleiras para serem admiradas. Mas a Marcha da Maconha também não deve ser a única etapa para a ampliação do debate e por um tratamento mais democrático e republicano aos cidadãos usuários. É importante que a discussão ocorra em outras esferas e que, principalmente, o governo federal fomente o debate e busque as melhores estratégias para diminuir o impacto negativo que as drogas têm hoje na sociedade brasileira. Uma dica: Redução de Danos.
MARCHA DA MACONHA - REIVINDICAÇÃO OU APOLOGIA AO CRIME?
Milton Corrêa da Costa - Artigo do leitor, O GLOBO, 06/05/2011, 20h43m
Será realizada, através de uma liminar concedida pelo 4º Juizado Especial Criminal, neste sábado, na Zona Sul no Rio, mais uma edição da chamada Marcha da Maconha. Militantes pró-legalização da cannabis, que se auto-afirmam progressistas da causa, obtiveram um habeas corpus preventivo que garante a realização do evento.
A autorização, no entanto, impede expressamente, e não poderia ser diferente - a Lei de Entorpecentes (nº 11.343/06) está em pleno vigor em território nacional - o uso de qualquer substância entorpecente durante a marcha. Ou seja, a autorização judicial para a realização da marcha não é sinônimo de "liberou geral" ou de apologia ao uso de drogas. Portanto, no trajeto da marcha, não há área de exclusão à ação policial.
O evento tem que se desenvolver na observância dos preceitos legais da ordem pública e fumar maconha continua até agora sendo crime.
Não se trata, inclusive, de nenhuma medida judicial extraordinária uma vez que a constituição brasileira, nos moldes do estado democrárico de direito, permite manifestações reivindicatórias (pacíficas) em vias públicas, mediante autorização e permissão prévias das autoridades competentes, observados os aspectos do necessário planejamento no que tange a medidas de segurança pública, defesa civil e circulação viária. Até aí, tudo bem.
Ocorre, no entanto, que tal evento, que invoca incrementar o debate sobre políticas públicas visando a descriminalização e legalização da maconha para o uso, comércio e plantio para consumo próprio, constitui tema de discussão extremamente complexa na sociedade brasileira e em todo mundo, onde não há verdades absolutas. Usuários da droga chegam a afirmar, em defesa da causa, que a cannabis traz mais benefícios ao organismo do que malefícios. Alguns afirmam que a maconha acarretaria ao indivíduo menos mal do que o tabaco e o álcool, e se estes são legalizados por que não a maconha? Como se a legalidade de um mal fosse argumento convincente para legalizar outro.
Tais argumentos, no entanto, à exceção do uso da cannabis para fins medicinais, já devidamente comprovado com sucesso em experiências no mundo, não nos mostram cientificamente que fumar 'baseado' faz bem em todos os casos. Se muitos a usam durante anos e não afeta suas vidas, também é fácil contra-argumentar que alguns fumam cigarro ou usam álcool a vida toda e não morrem por tal dependência, apesar de termos conhecimento de que tais drogas (lícitas) trazem graves danos à saúde.
Estudos e pesquisas mostram, inclusive, que a maconha não é droga tão inofensiva assim. O hábito de fumar maconha frequentemente, mesmo em pouca quantidade, pode danificar seriamente a área do cérebro responsável pela memória, segundo estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os resultados mostram que os déficits no armazenamento de informações e na evocação da memória nos usuários persistiram após um tempo médio de 14 dias de abstinência. A parte do cérebro mais atingida é a responsável pelo processamento da memória e pela execução de atividades complexas que requerem planejamento e gerenciamento das informações. Quando o uso é crônico e se inicia antes dos 15 anos de idade, o risco de danos é ainda maior, devido ao efeito tóxico e cumulativo da substância da maconha no desempenho cerebral .
O fato é que, como toda droga, a maconha, tal e qual o álcool, é uma perigosa porta de entrada para drogas mais pesadas como o o crack, a cocaína, o ecstasy e agora também o oxi, um subproduto da cocaína, mais letal do que o crack, que chegou ao país através do Acre. Registre-se que num debate recente, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, concluiu-se que a venda indiscriminada de bebidas a jovens, sem o devido controle, além de funcionar como uma espécie de porta de entrada para o consumo de outras drogas, seria argumento suficiente para derrubar qualquer inciativa de liberação do consumo de drogas no país.Se o programa nacional de combate ao crack não consegue frear o avanço do uso de tal substância, atingindo hoje apenas 1/3 dos 95% dos municípios brasileiros envoltos com agrave problemática, por que ainda pensar em legalizar o uso da maconha pondo em mais risco toda a juventude?
Sobre o perigo do crack o médico psiquiatra Emanuel Fortes Silveira Cavalcanti, representante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), presente ao debate da comissão do Senado, lembrou que o consumo da droga tem aumentado no país e que, em Goiás, por exemplo, 60% dos julgamentos de crimes têm como réus usuários da droga. Ele não poupou críticas à "falta de controle" do governo sobre as indústrias químicas que fabricam éter e acetona, insumos fundamentais para o refino da cocaína e, por consequência, do crack, que é um derivado da droga.
O fato é que drogas não agregam valores sociais positivos e tèm sido causa da destruição de jovens e de muitas famílias. O 'mundo colorido' preconizado pelos usuários de drogas é falso. Ademais, não se pode legislar para beneficiar uma minoria que fuma maconha e afirma levar uma vida normal. Não. Uma legislação sobre esse tema deve ter por objetivo a proteção de toda a sociedade, não de minorias.
Quando o assunto é drogas o melhor caminho é a prevenção ao uso e a repressão qualificada ao tráfico. Que a marcha do próximo sábado no Rio não se transforme num instrumento de apologia às drogas. Tentar mostrar que a maconha é um grande 'barato' é argumento falso.
Será realizada, através de uma liminar concedida pelo 4º Juizado Especial Criminal, neste sábado, na Zona Sul no Rio, mais uma edição da chamada Marcha da Maconha. Militantes pró-legalização da cannabis, que se auto-afirmam progressistas da causa, obtiveram um habeas corpus preventivo que garante a realização do evento.
A autorização, no entanto, impede expressamente, e não poderia ser diferente - a Lei de Entorpecentes (nº 11.343/06) está em pleno vigor em território nacional - o uso de qualquer substância entorpecente durante a marcha. Ou seja, a autorização judicial para a realização da marcha não é sinônimo de "liberou geral" ou de apologia ao uso de drogas. Portanto, no trajeto da marcha, não há área de exclusão à ação policial.
O evento tem que se desenvolver na observância dos preceitos legais da ordem pública e fumar maconha continua até agora sendo crime.
Não se trata, inclusive, de nenhuma medida judicial extraordinária uma vez que a constituição brasileira, nos moldes do estado democrárico de direito, permite manifestações reivindicatórias (pacíficas) em vias públicas, mediante autorização e permissão prévias das autoridades competentes, observados os aspectos do necessário planejamento no que tange a medidas de segurança pública, defesa civil e circulação viária. Até aí, tudo bem.
Ocorre, no entanto, que tal evento, que invoca incrementar o debate sobre políticas públicas visando a descriminalização e legalização da maconha para o uso, comércio e plantio para consumo próprio, constitui tema de discussão extremamente complexa na sociedade brasileira e em todo mundo, onde não há verdades absolutas. Usuários da droga chegam a afirmar, em defesa da causa, que a cannabis traz mais benefícios ao organismo do que malefícios. Alguns afirmam que a maconha acarretaria ao indivíduo menos mal do que o tabaco e o álcool, e se estes são legalizados por que não a maconha? Como se a legalidade de um mal fosse argumento convincente para legalizar outro.
Tais argumentos, no entanto, à exceção do uso da cannabis para fins medicinais, já devidamente comprovado com sucesso em experiências no mundo, não nos mostram cientificamente que fumar 'baseado' faz bem em todos os casos. Se muitos a usam durante anos e não afeta suas vidas, também é fácil contra-argumentar que alguns fumam cigarro ou usam álcool a vida toda e não morrem por tal dependência, apesar de termos conhecimento de que tais drogas (lícitas) trazem graves danos à saúde.
Estudos e pesquisas mostram, inclusive, que a maconha não é droga tão inofensiva assim. O hábito de fumar maconha frequentemente, mesmo em pouca quantidade, pode danificar seriamente a área do cérebro responsável pela memória, segundo estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os resultados mostram que os déficits no armazenamento de informações e na evocação da memória nos usuários persistiram após um tempo médio de 14 dias de abstinência. A parte do cérebro mais atingida é a responsável pelo processamento da memória e pela execução de atividades complexas que requerem planejamento e gerenciamento das informações. Quando o uso é crônico e se inicia antes dos 15 anos de idade, o risco de danos é ainda maior, devido ao efeito tóxico e cumulativo da substância da maconha no desempenho cerebral .
O fato é que, como toda droga, a maconha, tal e qual o álcool, é uma perigosa porta de entrada para drogas mais pesadas como o o crack, a cocaína, o ecstasy e agora também o oxi, um subproduto da cocaína, mais letal do que o crack, que chegou ao país através do Acre. Registre-se que num debate recente, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, concluiu-se que a venda indiscriminada de bebidas a jovens, sem o devido controle, além de funcionar como uma espécie de porta de entrada para o consumo de outras drogas, seria argumento suficiente para derrubar qualquer inciativa de liberação do consumo de drogas no país.Se o programa nacional de combate ao crack não consegue frear o avanço do uso de tal substância, atingindo hoje apenas 1/3 dos 95% dos municípios brasileiros envoltos com agrave problemática, por que ainda pensar em legalizar o uso da maconha pondo em mais risco toda a juventude?
Sobre o perigo do crack o médico psiquiatra Emanuel Fortes Silveira Cavalcanti, representante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), presente ao debate da comissão do Senado, lembrou que o consumo da droga tem aumentado no país e que, em Goiás, por exemplo, 60% dos julgamentos de crimes têm como réus usuários da droga. Ele não poupou críticas à "falta de controle" do governo sobre as indústrias químicas que fabricam éter e acetona, insumos fundamentais para o refino da cocaína e, por consequência, do crack, que é um derivado da droga.
O fato é que drogas não agregam valores sociais positivos e tèm sido causa da destruição de jovens e de muitas famílias. O 'mundo colorido' preconizado pelos usuários de drogas é falso. Ademais, não se pode legislar para beneficiar uma minoria que fuma maconha e afirma levar uma vida normal. Não. Uma legislação sobre esse tema deve ter por objetivo a proteção de toda a sociedade, não de minorias.
Quando o assunto é drogas o melhor caminho é a prevenção ao uso e a repressão qualificada ao tráfico. Que a marcha do próximo sábado no Rio não se transforme num instrumento de apologia às drogas. Tentar mostrar que a maconha é um grande 'barato' é argumento falso.
domingo, 1 de maio de 2011
MAIS BARATO, VICIANTE E DEVASTADOR, OXI CHEGA A SP
Mais devastador e barato que crack, oxi chega a SP. Na área da cracolândia, no centro, droga capaz de viciar já nas primeiras pitadas é oferecida por traficantes como 'pedra de R$ 2'- 01 de maio de 2011 - William Cardoso - O Estado de S.Paulo
Mais destrutivo e viciante do que o crack, o oxi chegou à cracolândia. As pedras, que são vendidas por R$ 2, cinco vezes menos do que o crack, matam um terço dos viciados já no primeiro ano de uso. Especialistas dizem que a nova droga deve agravar ainda mais os problemas de saúde pública na Luz, região central, onde centenas de dependentes químicos vagam dia e noite.
As pedras de oxi são feitas de pasta base de cocaína acrescida de cal virgem, querosene ou gasolina, ingredientes mais baratos e corrosivos do que o bicarbonato de sódio e o amoníaco, que compõem o crack. Segundo especialistas, assim como o crack, o oxi é capaz de viciar nas primeiras vezes em que é consumido.
Entre os dependentes que circulam pela cracolândia, o oxi é conhecido como "a pedra de R$ 2". O comércio de drogas nas proximidades da Estação Júlio Prestes é livre, a qualquer hora do dia ou da noite, como em uma feira livre com mais de 150 pessoas. As pedras de R$ 2 surgem em pequena quantidade nas mãos dos traficantes, que também são usuários e fazem a venda para sustentar o próprio vício.
Na Rua Helvétia, há também uma feira do rolo, onde viciados negociam roupas usadas, tênis, produtos eletrônicos e até objetos sem valor aparente em um escambo frenético, sempre tendo a obtenção das pedras como objetivo final. Lá, o oxi é oferecido aos gritos de "pedra de R$ 2!". A droga é uma opção ao crack, cuja pedra custa R$ 10 e permanece no topo da preferência dos "noias". Assim são chamados os dependentes de droga da região, que reagem de forma agressiva. Confundido com policial à paisana, o repórter do Estado foi agredido por um grupo de usuários na última semana.
As apreensões realizadas na cracolândia ainda não foram capazes de detectar o oxi, mais por questão de método do que por falta da droga no mercado. "No exame do Instituto de Criminalística, dá positivo para cocaína. Como é em pedra, fica caracterizado como crack, mas também pode ser oxi", afirma o diretor da Divisão de Educação e Prevenção do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), Reinaldo Correa.
A partir de agora, as pedras apreendidas serão testadas também para oxi. Há indícios de que 60 quilos de crack apreendidos em março na capital sejam, na verdade, oxi. Amostras foram queimadas e restou óleo, característica da nova droga.
Mudança. Para especialistas, oxi deve ganhar espaço entre usuários de crack. "Se oferecer àqueles que já estão na sarjeta algo mais barato e poderoso, a aceitação será maior. O serviço municipal de saúde está rendido e ficará em situação ainda pior", diz Ronaldo Laranjeira, psiquiatra e especialista em dependência química.
Nas ruas, o oxi deixa um rastro degradante, que começa pelos resíduos de querosene nos cachimbos e avança até o vômito e a diarreia persistentes, algumas das diferenças em relação aos efeitos do crack. "Causa um isolamento e eles (os dependentes) têm "barato" até na própria sujeira", diz Correa, do Denarc.
Mais destrutivo e viciante do que o crack, o oxi chegou à cracolândia. As pedras, que são vendidas por R$ 2, cinco vezes menos do que o crack, matam um terço dos viciados já no primeiro ano de uso. Especialistas dizem que a nova droga deve agravar ainda mais os problemas de saúde pública na Luz, região central, onde centenas de dependentes químicos vagam dia e noite.
As pedras de oxi são feitas de pasta base de cocaína acrescida de cal virgem, querosene ou gasolina, ingredientes mais baratos e corrosivos do que o bicarbonato de sódio e o amoníaco, que compõem o crack. Segundo especialistas, assim como o crack, o oxi é capaz de viciar nas primeiras vezes em que é consumido.
Entre os dependentes que circulam pela cracolândia, o oxi é conhecido como "a pedra de R$ 2". O comércio de drogas nas proximidades da Estação Júlio Prestes é livre, a qualquer hora do dia ou da noite, como em uma feira livre com mais de 150 pessoas. As pedras de R$ 2 surgem em pequena quantidade nas mãos dos traficantes, que também são usuários e fazem a venda para sustentar o próprio vício.
Na Rua Helvétia, há também uma feira do rolo, onde viciados negociam roupas usadas, tênis, produtos eletrônicos e até objetos sem valor aparente em um escambo frenético, sempre tendo a obtenção das pedras como objetivo final. Lá, o oxi é oferecido aos gritos de "pedra de R$ 2!". A droga é uma opção ao crack, cuja pedra custa R$ 10 e permanece no topo da preferência dos "noias". Assim são chamados os dependentes de droga da região, que reagem de forma agressiva. Confundido com policial à paisana, o repórter do Estado foi agredido por um grupo de usuários na última semana.
As apreensões realizadas na cracolândia ainda não foram capazes de detectar o oxi, mais por questão de método do que por falta da droga no mercado. "No exame do Instituto de Criminalística, dá positivo para cocaína. Como é em pedra, fica caracterizado como crack, mas também pode ser oxi", afirma o diretor da Divisão de Educação e Prevenção do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), Reinaldo Correa.
A partir de agora, as pedras apreendidas serão testadas também para oxi. Há indícios de que 60 quilos de crack apreendidos em março na capital sejam, na verdade, oxi. Amostras foram queimadas e restou óleo, característica da nova droga.
Mudança. Para especialistas, oxi deve ganhar espaço entre usuários de crack. "Se oferecer àqueles que já estão na sarjeta algo mais barato e poderoso, a aceitação será maior. O serviço municipal de saúde está rendido e ficará em situação ainda pior", diz Ronaldo Laranjeira, psiquiatra e especialista em dependência química.
Nas ruas, o oxi deixa um rastro degradante, que começa pelos resíduos de querosene nos cachimbos e avança até o vômito e a diarreia persistentes, algumas das diferenças em relação aos efeitos do crack. "Causa um isolamento e eles (os dependentes) têm "barato" até na própria sujeira", diz Correa, do Denarc.
COM LIMITES
O filme Sem Limites, projetado recentemente em Porto Alegre, é uma brutal propaganda das drogas pesadas. Sua mensagem é a seguinte: “O sucesso, a capacidade de defender-se, a prática da inteligência que leva à felicidade, dependem do uso adequado de substâncias químicas que geram dependências cruéis. Mas vale a pena”. Essa é a mensagem principal.
Na noite em que assisti ao filme, enganado pela propaganda do seu conteúdo (que me pareceu interessante), o cinema estava cheio de jovens de várias idades. Pensei: “Esta semana teremos protestos pela imprensa, porque isto aqui passou todos os limites”. O filme não era uma conversa franca com jovens num final de aula, na qual alguém dizia que certas drogas são mais nocivas que as outras, embora não fosse apropriado legalizar nenhuma. O filme era simplesmente propaganda explícita da drogadição. Esperei os protestos em vão.
Esperei, também, alguma manchete tipo: “Filme em tal lugar defende explicitamente o uso de drogas”. Foi em vão. Decerto porque uma coisa é o mercado, no qual aparentemente vale tudo, e outra é o final de uma aula magna que não afeta o mercado. Nesta, no final, é verdade que se mostrou uma certa tolerância – não concordância – com centenas de jovens, que em diversas universidades do mundo já experimentaram ou às vezes fumam um “baseado”.
Depois do filme, na sequência da semana, li várias críticas iradas e injuriosas às opi-niões que NÃO manifestei sobre a Cannabis, embora o jornal Zero Hora, que divulgou o evento, fizesse, de forma clara, a ressalva de que sequer eu defendera a legalização da maconha.
Só posso tomar, portanto, as críticas que recebi (a uma posição que não sustentei) como uma defesa da criminalização dos jovens que fumam “baseados”, posição que efetivamente não defendo. Criminalizar os jovens porque eles fumam maconha é lançá-los na clandestinidade e, logo, torná-los mais próximos dos traficantes. Seria como prender, internar compulsoriamente, os fumantes porque não se pode, em função do mercado, fechar as fumageiras.
Combater duramente a produção e o tráfico de qualquer droga, inclusive da maconha, é a posição que tenho como correta e que pratiquei fortemente como ministro da Justiça. Não defendo, porém, punir os usuários eventuais da Cannabis e aqueles jovens que são instrumentalizados pelos traficantes. Atacar nas fontes – o produtor e o traficante – é o que pode reduzir o uso das drogas para minimizar esse mercado infernal. Um mercado que gera outros delitos e também os modismos que estimulam o falso astral que encanta os jovens para a experimentação.
TARSO GENRO, Governador do Estado - ZERO HORA 01/05/2011
Na noite em que assisti ao filme, enganado pela propaganda do seu conteúdo (que me pareceu interessante), o cinema estava cheio de jovens de várias idades. Pensei: “Esta semana teremos protestos pela imprensa, porque isto aqui passou todos os limites”. O filme não era uma conversa franca com jovens num final de aula, na qual alguém dizia que certas drogas são mais nocivas que as outras, embora não fosse apropriado legalizar nenhuma. O filme era simplesmente propaganda explícita da drogadição. Esperei os protestos em vão.
Esperei, também, alguma manchete tipo: “Filme em tal lugar defende explicitamente o uso de drogas”. Foi em vão. Decerto porque uma coisa é o mercado, no qual aparentemente vale tudo, e outra é o final de uma aula magna que não afeta o mercado. Nesta, no final, é verdade que se mostrou uma certa tolerância – não concordância – com centenas de jovens, que em diversas universidades do mundo já experimentaram ou às vezes fumam um “baseado”.
Depois do filme, na sequência da semana, li várias críticas iradas e injuriosas às opi-niões que NÃO manifestei sobre a Cannabis, embora o jornal Zero Hora, que divulgou o evento, fizesse, de forma clara, a ressalva de que sequer eu defendera a legalização da maconha.
Só posso tomar, portanto, as críticas que recebi (a uma posição que não sustentei) como uma defesa da criminalização dos jovens que fumam “baseados”, posição que efetivamente não defendo. Criminalizar os jovens porque eles fumam maconha é lançá-los na clandestinidade e, logo, torná-los mais próximos dos traficantes. Seria como prender, internar compulsoriamente, os fumantes porque não se pode, em função do mercado, fechar as fumageiras.
Combater duramente a produção e o tráfico de qualquer droga, inclusive da maconha, é a posição que tenho como correta e que pratiquei fortemente como ministro da Justiça. Não defendo, porém, punir os usuários eventuais da Cannabis e aqueles jovens que são instrumentalizados pelos traficantes. Atacar nas fontes – o produtor e o traficante – é o que pode reduzir o uso das drogas para minimizar esse mercado infernal. Um mercado que gera outros delitos e também os modismos que estimulam o falso astral que encanta os jovens para a experimentação.
TARSO GENRO, Governador do Estado - ZERO HORA 01/05/2011
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