Internada por overdose jovem viciada em óxi. Mãe da adolescente afirma que outras pessoas estão usando substância - ADRIANO DUARTE E GUILHERME A.Z. PULITA | CAXIAS DO SUL, ZERO HORA 21/05/2011
A mãe da adolescente que teve uma overdose ao engolir uma pedra de óxi afirma que traficantes estão vendendo a substância há pelo menos um mês na região do bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul. Ela formalizou a denúncia na tarde de ontem na Polícia Civil, um dia depois de a filha ter sido internada no Pronto-atendimento 24 horas.
Até o fechamento desta edição, a garota seguia em observação. Assim que for liberada pelos médicos, ela deve ser encaminhada para tratamento em Porto Alegre.
Agentes da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) fizeram diligências ontem, para tentar identificar quem seriam os traficantes. Mas a responsável pelo caso, delegada Suely Rech, prefere não confirmar a existência da droga em Caxias. Por ser mais barato que o crack e conter produtos como querosene e cal virgem, o óxi pode matar um viciado em até um ano.
– Tenho dois conhecidos que estão usando o tal óxi. Tá todo mundo falando. Outro dia, teve um rapaz me oferecendo umas roupas por dois reais porque disse que chegou um negócio mais barato – conta a mãe.
Somente exames poderão confirmar caso de overdose
A possibilidade de a droga, que se alastrou em várias regiões do país, estar sendo disseminada em Caxias surgiu por meio de uma ocorrência registrada pela mãe da adolescente. A mulher de 37 anos relatou que a filha furtou panelas e pratos da família para trocar pelo óxi em um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, região do Desvio Rizzo. O traficante estaria vendendo cada pedra a R$ 3. Na quinta-feira, a menor confirmou ao Pioneiro que estava consumindo o tóxico desde o começo da última semana. Ainda na quinta, a adolescente recebeu mais drogas de uma traficante na porta de casa, segundo a mãe:
– Expulsei aquela mulher (traficante). Minha filha tava fumando a pedra no pátio. Ela me mostrou as outras pedras que tinha mão.
Pouco depois, mãe e filha brigaram. A adolescente se refugiou no banheiro e contou ao irmão de 11 anos que havia engolido uma pedra. Segundo a mãe, a substância tinha a coloração roxa – uma das três cores do óxi depois de processado. Em seguida, a jovem surtou e teria ameaçado a mãe com uma faca. Na confusão, a garota gritou que sentia o corpo queimar e passou mal.
– Ela estava gelada, queria tirar a pedra de dentro da garganta. Quando vi, desmaiei – conta a mãe.
Vizinhos comunicaram à Brigada Militar (BM) que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A paciente foi levada ao Pronto-atendimento 24 horas como vítima de overdose por óxi. Entretanto, isso só poderá ser confirmado por exames mais complexos. A Secretaria Municipal da Saúde não divulgou o prontuário médico da adolescente.
MP tenta manter família unida
A intenção da Secretaria da Saúde é encaminhar a adolescente ao Centro de Dependência Química (CDQUIM) do Hospital Parque Belém, em Porto Alegre, onde deverá permanecer por tempo indeterminado. Essa será a sétima vez que a jovem passará pela unidade, segundo a mãe. O caso está sendo acompanhado pela promotora de Justiça Adriana Diesel Chesani:
– Já atendemos muitas vezes essa menina. O tratamento agora deve durar cerca de um mês, como é de costume. Após, ela deve ser levada para um comunidade terapêutica.
O óxi é apenas um dos problemas na família de nove irmãos. Cinco deles moram com a mãe, no Vila Amélia. Uma irmã de 16 anos também é viciada em crack. Um outro menino também seria usuário. Apesar de a família ser desestruturada e pobre, a promotora Adriana diz que se tenta de todas as formas manter a mãe e os filhos juntos, pois a separação poderia ser pior para as crianças.
A mãe da jovem também se diz ameaçada. Na quinta-feira, suspeitos teriam efetuado tiros na rua em frente à casa da família. As ameaças, porém, não foram formalizadas na Polícia Civil ou na Brigada Militar.
Sem mudança - Autoridades policiais e da saúde declararam ao Pioneiro que as ações de prevenção ao uso do óxi e de combate ao tráfico de drogas serão mantidas no ritmo atual.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O tratamento e a assistência familiar deveriam ser de responsabilidade dos órgãos de Saúde dos Poderes Executivo Estadual e Municipal, cabendo às Forças Policiais a segurança contra retaliações do tráfico. Entretanto, é bom louvar a iniciativa da promotora pública local.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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