GUILHERME A.Z. PULITA | CAXIAS DO SUL - ZERO HORA 20/05/2011
A dificuldade em diagnosticar e combater o crack ganhou na semana passada um agravante, quando as primeiras pedras de óxi – também derivadas da cocaína, porém mais destrutivas e mais baratas que o crack – foram apreendidas. À frente da Coordenação da Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde há dois meses, o psiquiatra Roberto Tykanori avalia que a disseminação do óxi no território brasileiro não muda a estratégia de assistência aos dependentes químicos, mas requer reforço na prevenção:
– Para a assistência de saúde, não há grande mudança. A base do crack e do óxi é a mesma, a cocaína. Como é uma droga de menor preço, o óxi tende a se tornar mais acessível à população mais vulnerável. Por isso, temos de ter uma atenção cada vez maior na prevenção.
O caminho de uma pedra a outra pior vem sendo atravessado por adolescentes em Caxias do Sul há pelo menos quatro dias. O óxi é oferecido aos viciados que frequentam um ponto de tráfico no loteamento Vila Amélia, zona oeste da cidade. Vendidas a R$ 3 (R$ 2 mais barato que o crack) as pedras da nova droga estariam atraindo cada dia mais pessoas ao ponto.
Uma adolescente de 17 anos é uma das que abandonaram o crack e contraiu novos problemas. Durante os três anos em que fumou crack, ela afirma nunca ter furtado nada. Em três dias mergulhada no óxi, ela começou a dilacerar o já precário patrimônio da família moradora do loteamento vizinho, o São Gabriel. Da casa com três cadeiras, poucos e danificados móveis, a jovem levou ao traficante seis pratos, um batedeira e uma jaqueta. Tudo trocado por algumas pedras de óxi.
Sem pai, que a garota disse ter morrido atropelado, ela vive com a mãe, que trabalha durante a manhã, e pelo menos um casal de irmãos menores. A irmã que a apresentou para o crack, um ano mais nova que ela, teria passado por uma clínica de recuperação e hoje moraria em uma fazenda. A menina não tem muita perspectiva para o futuro. Disse ter abandonado a escola no 1º ano do Ensino Médio porque a caminho do colégio encontrava amigos que a convidavam para usar drogas. Hoje, nem amigos ela tem mais. Passa os dias na casa imunda, com restos de comida pelo chão e sobre uma mesa, ou perambulando pelas ruas, em busca de R$ 3.
LUTA CONTRA A PEDRA - “Me escurece as vistas na hora e me dá uma tristeza”
Os cabelos curtos e o corpo esquelético fazem a adolescente de 17 anos parecer um menino doente. Usuária de crack há quatro anos, ela perambula nos últimos dias pelas ruas de Caxias do Sul em busca de dinheiro para consumir mais do óxi, droga que chegou à Serra na última semana. Ontem, ela conversou com a reportagem do jornal Pioneiro (assista ao depoimento em vídeo em www.zerohora.com) sobre a nova droga.
Quando você conheceu o óxi? Há quanto tempo está fumando?
Dois ou três dias.
Foi o traficante quem te ofereceu outro tipo de droga?
Sim. Eu fui buscar e ele (o traficante) perguntou se queria experimentar essa que era melhor. Daí, perguntei se era mais cara ou mais barata. Daí ele disse que era R$ 2 mais barato que o crack.
E o efeito, é mais forte que o crack?
É mais forte. Com crack eu só me travo, não falo com ninguém. Essa aí (óxi) me escurece as vistas na hora e me dava uma tristeza, sabe. São uns efeitos muito estranhos...
E a fissura (necessidade de consumir mais droga) é maior?
É maior. Antes, quando eu só fumava crack eu não roubava nada da minha mãe, mas agora que comecei a pegar essa (óxi) comecei a roubar. Jaqueta, os pratos, essas coisas...
Você acha que consegue parar de fumar?
Acho que não consigo.
Você sabia da existência da droga nova?
Sabia que tinha em Porto Alegre. Tá vendendo mais que o crack. Vai um monte de gente. É cheio lá (no ponto de tráfico da Vila Amélia).
A pedra é do mesmo tamanho que a de crack?
Do mesmo tamanho. É dois pilas mais barato, para nós é melhor.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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