COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O PERIGOSO AVANÇO DOS COMPRIMIDOS

Relatório mundial da ONU sobre o consumo de drogas mostra uma preocupante preferência por medicamentos. JULIANA BUBLITZ, zero hora 24/06/2011

Em todo o planeta, 56,4 milhões de pessoas (1,8 milhão delas na América Latina) admitiram o uso de pílulas como estimulantes. Pílulas e comprimidos que vendem prazer, euforia, capacidade de concentração ou doses artificiais de paz e serenidade estão ocupando o lugar das drogas ilícitas na preferência dos dependentes químicos.

Segundo um relatório mundial divulgado ontem pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), o uso abusivo de remédios vem se tornando uma tendência no Brasil e no mundo, com consequências perigosas.

Em todo o planeta, 56,4 milhões de pessoas (equivalente à população da Itália, aproximadamente) admitiram usar compostos sintéticos para aplacar suas angústias ou simplesmente para se divertir – 1,8 milhão delas na América Latina. São usuários de substâncias do grupo das anfetaminas, poderosos estimulantes do sistema nervoso central, e também dos opioides, potentes analgésicos entre os quais o mais conhecido é a morfina, normalmente usada para anestesiar as dores do câncer.

Enquanto o uso abusivo de medicamentos desse tipo cresce, especialistas do UNODC constataram que os mercados globais de entorpecentes tradicionais, como cocaína, heroína e maconha, diminuíram ou se mantiveram estáveis. Segundo o relatório, “o uso não prescrito de drogas de prescrição parece ser um problema de saúde cada vez maior em grande parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento”. Inclusive entre os brasileiros.

– A verdade é que as pessoas descobriram que podem tomar um comprimido para se ligar e se desligar quando bem entendem. Antes, usavam a maconha e a cocaína – analisa Carla Bicca, coordenadora do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

Em vez de subir o morro e arriscar a vida por uma carreira de pó ou um cigarro de maconha, usuários encontraram na legalidade a brecha que precisavam para alimentar o vício. Passaram a procurar nos balcões das farmácias os substitutivos para os produtos que antes buscavam com traficantes. É o que poderia se chamar de “droga limpa”.

Multifacetados, os estimulantes farmacológicos servem tanto para quem pretende se divertir numa festa quanto para estudantes decididos a turbinar o desempenho no vestibular.

– Já vínhamos percebendo o aumento dos anfetamínicos há pelo menos dois anos. Pode-se dizer que a América Latina é um mercado em expansão. O problema é que nem todos os usuários sabem os riscos que correm – alerta o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas.

O uso indiscriminado pode trazer sequelas irreversíveis. No caso das anfetaminas, por exemplo, ataques cardíacos fulminantes e surtos psicóticos são apenas duas possibilidades de efeitos colaterais, de uma lista longa e assustadora.

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