COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

BARATAS DA CRACOLÂNDIA


Juremir Machado da Silva, CORREIO DO POVO, 11/01/2012


O Brasil ficou chocado na semana passada com as imagens das pessoas saindo, como baratas tontas, dos buracos em que se escondiam no centro de São Paulo. Eram cenas de filme de terror. Homens e mulheres zanzando sem saber para onde ir. Alguns dias depois, os jornais revelaram a existência de cracolândias de classe média em apartamentos e casas de bairros nobres da capital paulista. E aí vem a pergunta que não pode mesmo calar:

- Por que alguém se submete a tal degradação?

Existem por aí caras que se acham muito avançados e que defendem o consumo de drogas pelo prazer e por abrirem as "portas da percepção", um papo-furado dos anos 60, do tempo em que bacana era a vida alternativa. Encontrei um deles, não faz muito, que me falou assim:

- As críticas ao consumo de drogas são caretas.

Careta era um termo muito usado algumas décadas atrás para desqualificar quem não acreditava em certas "utopias" como a libertação do espírito pelas drogas, o amor livre e até mesmo as virtudes de enlouquecer.

- Careta, cara, é ficar dependente de algo que degrada o corpo, aprisiona a mente e acaba com a vida - respondi.

Ele riu, um risinho irônico, superior. Lembro-me que esse tipo de risinho era comum há alguns anos e que isso desconcertava os espíritos mais fracos. Mais recentemente, o filme "Tropa de Elite", o primeiro, causou polêmica ao responsabilizar os consumidores pela violência em torno do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Eis que aquela outra pergunta que não pode calar volta e pede passagem:

- Pode-se responsabilizar o consumidor pelo que ocorre?

Tem o consumidor que já afundou e não passa mais de uma pobre vítima, uma mosca presa na teia, mas tem o consumidor festeiro que se vê acima de qualquer perigo:

- Posso parar quando quiser, é só querer - afirma.

Como não tenho a menor vergonha de ser careta, posso ser categórico: submeter-se a uma droga, o que vale também para o álcool, que cause uma dependência devastadora e degradante é, muitas vezes, pobreza de espírito, falta de capacidade para saber se divertir sem combustível. Por outro lado, é o sintoma de uma época, um tempo de falta de grandes causas e de perda de referências. Só que a saída não parece estar em voltar ao passado ou em inventar novas cruzadas, guerras e mitos, mas em viver o presente, o cotidiano, as pequenas coisas. Piegas? Modesto? Medíocre? Nada disso. Quer dizer, um pouco de pieguice e de modéstia não faz mal a ninguém.

Meu argumento fundamental contra o uso de drogas vai além do moralismo: tudo o que aprisiona o corpo é ruim. Tudo aquilo que elimina nossa parca margem de escolha na vida deve ser evitado. O grande barato da existência é escancarar as portas da percepção com inteligência. Tornar-se dependente é burrice. Não é burrice por ser uma doença? É uma doença social também, uma doença estimulada por uma sociedade que hipervaloriza o risco, as sensações radicais e as experiências sem limites. Uma ratoeira.

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