COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

CRACOLÂNDIA - CINCO NOITES EM UM TERRITÓRIO DE GUERRA


Repórter passou a semana na cracolândia, dormindo em hotéis da região e conversando com moradores, usuários de drogas e policiais. Artur Rodrigues, de O Estado de S. Paulo - 14/01/2012

“O doce de leite chegou”, grita um traficante de crack, antes de ser rapidamente cercado por viciados. De repente, uma explosão. Uma bomba é atirada do alto de um prédio, na direção dos usuários de drogas. Alguns fogem e outros, com dedos em riste, simulando um revólver, fazem ameaças aos moradores.

Essa foi uma entre várias cenas dramáticas presenciadas pela reportagem do Estado nos cinco dias em que viveu na cracolândia, área no centro ocupada pela Polícia Militar desde 3 de janeiro. As noites foram passadas em dois hotéis diferentes, nas Ruas Guaianases e Helvétia.

Por toda a região, percebe-se o clima de tensão e guerra. De um lado, moradores e comerciantes acuados pela multidão de viciados que anda sem rumo. De outro, “noias” sendo tocados por PMs e seguranças armados de porretes. Atos simples como ir ao trabalho ou à padaria tornaram-se um problema para quem vive não só na Luz como em bairros próximos, como Santa Cecília e Santa Ifigênia, para onde os dependentes têm migrado. Em várias ruas, há grupos de viciados nas calçadas, intimidando quem passa a pé. “Minha filha já tem 13 anos, mas agora tive de voltar a levá-la à escola. E eu que gostava tanto de morar aqui”, lamenta o garçom Elcio Dias, de 46 anos, morador da Rua Guaianases, na Santa Ifigênia.

Da janela dele, é possível ver o mercado livre da droga em que se transforma a rua todo dia, a partir das 18h. Traficantes gritam alto para vender, enquanto viciados aparecem com toda sorte de objetos, na tentativa de conseguir ao menos meia pedra. Em uma ocasião, um rapaz carregava até um enorme exaustor. Enquanto isso, viciados com mais dinheiro se refugiam da repressão policial em hotéis baratos.

Passar no meio da multidão de “noias” é assustador. A todo momento, rapazes com cachimbos na mão oferecem crack. O cheiro forte provoca tosse e embrulha o estômago. Há pessoas rindo e outras chorando. Crianças, idosos e deficientes físicos acendem seus cachimbos simultaneamente. Alguns estouram isqueiros, atirando-os ao chão. Como não aceitou as ofertas dos vários traficantes, a reportagem chamou a atenção e foi seguida até o hotel onde estava hospedada. Um menino de no máximo 12 anos disse em tom de ameaça: “A gente já conhece você, seu verme”.

A banca de jornais de Massaiti Norisada, de 63 anos, fica bem na rota das “procissões do crack”, formadas por viciados seguidos por PMs, que tomam a Avenida Duque de Caxias à noite. Quando Norisada chega de manhã, o local está imundo, cheirando a urina. “Passei a fechar às 16h30”, diz ele, que prefere não saber quem faz a sujeira que limpa todos os dias.

Algumas ruas do centro se tornaram lugares inóspitos – a saída achada por moradores foi fechar-se em casa. Para sair, só de táxi. “O pior é que nem visitas recebemos mais”, diz Deuzita Santos, de 46 anos, moradora de Santa Ifigênia.

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