Operação Liberdade: 251 suspeitos presos em 30 cidades - BONDE NEWS, 31/08/2011
Policiais civis e militares prenderam 251 suspeitos, principalmente de tráfico, e apreenderam drogas, armas e munições em 30 cidades paranaenses, durante a Operação Liberdade, que começou no fim de semana e foi encerrada nesta quarta-feira (31). O balanço foi divulgado em Maringá pelo secretário de Estado da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César. "Esta ação será desenvolvida regularmente, no combate sem tréguas ao tráfico de drogas, para libertar a população do medo", afirmou.
A operação foi precedida de quatro meses de investigação, conduzidas por delegacias de Curitiba e 20 subdivisões policiais no interior. Nas ações, foram apreendidos 267 quilos de maconha e 30 quilos de crack, além de armas, munições e veículos. O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinícius Michelotto, disse que essa é uma forma de combater a violência de maneira integrada e eficaz, já que o comércio de drogas está por trás de outros crimes, como roubos e homicídios.
Segundo o delegado da Divisão Policial do Interior, Julio Cezar dos Reis, o objetivo de operações dessa modalidade, com o fechamento em datas coincidentes, é identificar fornecedores de drogas e armas que possam estar abastecendo vários grupos de distribuidores em diferentes regiões do Estado. "A troca de informações entre as subdivisões foi fundamental para que os policiais chegassem a um número tão significativo de prisões", disse.
DENARC – As informações colhidas durante a operação serão compiladas e colocadas à disposição da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc). O material servirá como base para investigações futuras, identificação e prisões de fornecedores da região de fronteira. Os trabalhos contaram com apoio efetivo da Denarc e colaboração da Polícia Militar nos cumprimentos de mandados de prisão.
Para o secretário, o resultado da operação reflete o trabalho exemplar das polícias Civil e Militar na Operação Liberdade e nas ações diárias em prol da segurança pública. "O mérito é todo dos policiais, que se desdobram para trabalhar contra o crime diariamente, mesmo com poucos recursos e infraestrutura", ressaltou.
A Operação Liberdade foi executada pela primeira vez em abril, para combater o tráfico no centro de Curitiba e, de acordo com Almeida César, a partir de agora será permanente, em todas as regiões do Paraná.
FRONTEIRA – As ações de segurança serão intensificadas na fronteira do Estado, especialmente nos 19 municípios que fazem divisa com outros países. O governador Beto Richa e o ministro da Defesa, Celso Amorim, estão avançando na parceria que vai integrar as Polícias Federal e Rodoviária Federal e Forças Armadas com as ações das polícias paranaenses. "Vamos formar um cinturão para prevenir que drogas, armas e contrabando entrem no Estado e comprometam a segurança da população", explicou Almeida Cesar.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
ROCK IN RIO SEM DROGAS
'Eu vou sem drogas'. Rock in Rio 2011 lança campanha antidrogas - 27/08/2011 às 22h08m; O Globo
RIO - Sexo, drogas e rock'n roll têm necessariamente que andar juntos? Os organizadores do Rock in Rio 2011 acham que não. E, certos do poder de mobilização do festival, lançam esta semana a campanha "Eu vou sem drogas". A ideia é conscientizar os fãs do festival sobre os problemas inerentes ao consumo de entorpecentes, especialmente os causados pelo crack e pelo oxi (droga nova ainda mais potente), que têm avançado pelo Brasil.
A campanha, feita em parceria com o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), usará a imagem dos artistas para se comunicar com jovens de todo o país por meio de dois filmes publicitários que começam a ser veiculados terça-feira, na TV, no rádio, em anúncios e na web. Além disso, estão planejadas várias ações nas redes sociais, a partir da página oficial do Rock in Rio 2011.
- Esse público não gosta que ditem o certo e o errado. Quer ter liberdade para tomar suas próprias decisões. A campanha "Eu vou sem drogas" reflete exatamente essa questão. Mostra que é possível você dizer que vai a qualquer lugar sem drogas porque esta é a sua decisão - diz o empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio.
RIO - Sexo, drogas e rock'n roll têm necessariamente que andar juntos? Os organizadores do Rock in Rio 2011 acham que não. E, certos do poder de mobilização do festival, lançam esta semana a campanha "Eu vou sem drogas". A ideia é conscientizar os fãs do festival sobre os problemas inerentes ao consumo de entorpecentes, especialmente os causados pelo crack e pelo oxi (droga nova ainda mais potente), que têm avançado pelo Brasil.
A campanha, feita em parceria com o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), usará a imagem dos artistas para se comunicar com jovens de todo o país por meio de dois filmes publicitários que começam a ser veiculados terça-feira, na TV, no rádio, em anúncios e na web. Além disso, estão planejadas várias ações nas redes sociais, a partir da página oficial do Rock in Rio 2011.
- Esse público não gosta que ditem o certo e o errado. Quer ter liberdade para tomar suas próprias decisões. A campanha "Eu vou sem drogas" reflete exatamente essa questão. Mostra que é possível você dizer que vai a qualquer lugar sem drogas porque esta é a sua decisão - diz o empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
MENORES MATAVAM AULA PARA CONSUMIR DROGAS, BEBER E TRANSAR
Menores matavam aulas para consumir bebida alcoólica e fazer sexo no Mato Grosso do Sul - 25/08/2011 às 10h12m; Globo.com/TV Morena
CAMPO GRANDE - A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga a existência de um grupo de até 20 adolescentes que matava aulas para consumir drogas, bebidas alcoólicas e fazer sexo em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Segundo a polícia, os encontros dos jovens aconteciam numa casa de um conjunto habitacional, todas as quintas e sexta-feiras. Os jovens têm idades entre 16 e 12 anos e foram denunciados à polícia pela mãe de uma menina de 12 anos, que participava do grupo.
A Delegacia da Criança e do Adolescente já ouviu pelo menos dez integrantes do grupo, que se chamava Congresso do Bulimento. Uma menina de 12 anos contou aos policiais que há duas semanas participou de um das festas.
- Tinha bebida alcoólica, tinha relações sexuais. Tinha umas dez meninas que participavam - disse a menina.
A mãe, uma manicure, passava o dia fora de casa trabalhando e percebeu a mudança de comportamento da filha.
- Eu comecei a investigar sozinha. Um pessoa me falava uma coisa. Outra pessoa me dizia outra, e descobri que havia uma casa, onde um rapaz organizava festas. Eles tinham um grupo, que chamava Congresso do Bulimento, para consumir drogas, bebidas alcoólicas e fazer sexo. Fiquei sabendo que eles dão festinhas lá para as meninas. Eles vão na porta da escola convidá-las para ir para casa dele - contou a manicure.
Quando chegou à casa, a mãe encontrou grupos de jovens trancados nos quartos. A filha dela estava na cozinha.
- As meninas estavam de baby-doll, os meninos de cueca. Eu atrapalhei, porque quando abri a porta do quarto, eles estavam fazendo sexo lá dentro. Eu fiquei horrorizada e saí gritando, pedindo ajuda. Saí dizendo para os vizinhos: como vocês deixam isso acontecer. Um dos vizinhos falou que aquilo era normal - disse a mãe.
A polícia e o conselho tutelar já sabem que as festas aconteciam duas vezes por semana. Os investigadores querem descobrir agora quem fornecia as drogas e a bebida alcoólica para as crianças. O jovem apontado pela polícia como organizador da festa pode ser indiciado por estupro de vulnerável, já que muitas adolescentes envolvidas no caso tem menos de 14 anos.
CAMPO GRANDE - A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga a existência de um grupo de até 20 adolescentes que matava aulas para consumir drogas, bebidas alcoólicas e fazer sexo em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Segundo a polícia, os encontros dos jovens aconteciam numa casa de um conjunto habitacional, todas as quintas e sexta-feiras. Os jovens têm idades entre 16 e 12 anos e foram denunciados à polícia pela mãe de uma menina de 12 anos, que participava do grupo.
A Delegacia da Criança e do Adolescente já ouviu pelo menos dez integrantes do grupo, que se chamava Congresso do Bulimento. Uma menina de 12 anos contou aos policiais que há duas semanas participou de um das festas.
- Tinha bebida alcoólica, tinha relações sexuais. Tinha umas dez meninas que participavam - disse a menina.
A mãe, uma manicure, passava o dia fora de casa trabalhando e percebeu a mudança de comportamento da filha.
- Eu comecei a investigar sozinha. Um pessoa me falava uma coisa. Outra pessoa me dizia outra, e descobri que havia uma casa, onde um rapaz organizava festas. Eles tinham um grupo, que chamava Congresso do Bulimento, para consumir drogas, bebidas alcoólicas e fazer sexo. Fiquei sabendo que eles dão festinhas lá para as meninas. Eles vão na porta da escola convidá-las para ir para casa dele - contou a manicure.
Quando chegou à casa, a mãe encontrou grupos de jovens trancados nos quartos. A filha dela estava na cozinha.
- As meninas estavam de baby-doll, os meninos de cueca. Eu atrapalhei, porque quando abri a porta do quarto, eles estavam fazendo sexo lá dentro. Eu fiquei horrorizada e saí gritando, pedindo ajuda. Saí dizendo para os vizinhos: como vocês deixam isso acontecer. Um dos vizinhos falou que aquilo era normal - disse a mãe.
A polícia e o conselho tutelar já sabem que as festas aconteciam duas vezes por semana. Os investigadores querem descobrir agora quem fornecia as drogas e a bebida alcoólica para as crianças. O jovem apontado pela polícia como organizador da festa pode ser indiciado por estupro de vulnerável, já que muitas adolescentes envolvidas no caso tem menos de 14 anos.
VAMOS OUVIR A POPULAÇÃO
César Augusto Trinta Weber, Médico, mestre e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria/Unifesp - ZERO HORA 25/08/2011
O“como lidar” com pacientes que apresentam doenças clínicas com comorbidades psiquiátricas, entre as quais a dependência química pelo uso do crack, desafia e angustia, cada vez mais, as equipes de saúde responsáveis pelo tratamento desses doentes.
Muitas são as dificuldades, conhecidas e reconhecidas, que elencadas seriam apontadas como justificativas para esse fato. Todavia, todas essas questões estão abrigadas sob um efeito que se poderia chamar de guarda-chuva, ou ainda, em um cenário cujo pano de fundo reflete a saturação dada pelas cores da reforma psiquiátrica.
Em uma ocasião recente, assisti a um psiquiatra fazer uma abordagem geral sobre esse assunto. Reiterou as singularidades das opções terapêuticas para cada paciente, tangenciou as limitações impostas pela reforma à psiquiatria, mas não se esquivou em defender, pelas suas convicções e experiência profissional, a internação hospitalar para o tratamento da drogadição pelo crack.
Não dá para se pensar em formas terapêuticas capazes de enfrentar a epidemia do crack com algum êxito, sobretudo quando está associada a outras doenças – especialmente as infectocontagiosas de incidência e prevalência preocupantes em nosso meio, como a tuberculose e a aids –, se não atacarmos a centralidade desse problema, ou seja, a revisão do modelo de assistência à saúde mental.
Primeiro, é preciso que se entenda que a drogadição é uma doença psiquiátrica e que o crack é a droga da vez. Os efeitos desse substrato da cocaína são responsáveis por reproduzir no cérebro do usuário as percepções do esquizofrênico paranoide. Em surto, comporta-se como um psicótico, colocando a si e a todos os demais em risco, inclusive de morte.
Segundo, que, de um lado, a desintoxicação, a impregnação farmacológica e a psicoterapia são etapas que demandam certo tempo para que os efeitos desejados sejam sentidos. Que, de outro, é imprescindível para a superação do craving (fissura) que medidas de segurança, no âmbito técnico-assistencial, sejam instituídas para evitar a fuga e com ela o retorno ao uso da droga e o consequente abandono do tratamento.
Terceiro, que desconhecer que a família do dependente também adoece e torna-se hipossuficiente para, sozinha, dar conta do cuidado do seu familiar, é tentar negar o poder corrosivo do crack no tecido social.
Enfrentar tudo isso significa dizer que a sociedade precisa participar mais efetivamente dessas discussões e se fazer ouvir ao mostrar que sabe o que é melhor para a sua saúde: dispor de serviços de saúde que garantam a universalidade do acesso, que a atenção ofertada seja integral e resolutiva e, por sua vez, operacionalizada por uma capacidade instalada adequada a complexidade dos agravos a que está sujeita.
O“como lidar” com pacientes que apresentam doenças clínicas com comorbidades psiquiátricas, entre as quais a dependência química pelo uso do crack, desafia e angustia, cada vez mais, as equipes de saúde responsáveis pelo tratamento desses doentes.
Muitas são as dificuldades, conhecidas e reconhecidas, que elencadas seriam apontadas como justificativas para esse fato. Todavia, todas essas questões estão abrigadas sob um efeito que se poderia chamar de guarda-chuva, ou ainda, em um cenário cujo pano de fundo reflete a saturação dada pelas cores da reforma psiquiátrica.
Em uma ocasião recente, assisti a um psiquiatra fazer uma abordagem geral sobre esse assunto. Reiterou as singularidades das opções terapêuticas para cada paciente, tangenciou as limitações impostas pela reforma à psiquiatria, mas não se esquivou em defender, pelas suas convicções e experiência profissional, a internação hospitalar para o tratamento da drogadição pelo crack.
Não dá para se pensar em formas terapêuticas capazes de enfrentar a epidemia do crack com algum êxito, sobretudo quando está associada a outras doenças – especialmente as infectocontagiosas de incidência e prevalência preocupantes em nosso meio, como a tuberculose e a aids –, se não atacarmos a centralidade desse problema, ou seja, a revisão do modelo de assistência à saúde mental.
Primeiro, é preciso que se entenda que a drogadição é uma doença psiquiátrica e que o crack é a droga da vez. Os efeitos desse substrato da cocaína são responsáveis por reproduzir no cérebro do usuário as percepções do esquizofrênico paranoide. Em surto, comporta-se como um psicótico, colocando a si e a todos os demais em risco, inclusive de morte.
Segundo, que, de um lado, a desintoxicação, a impregnação farmacológica e a psicoterapia são etapas que demandam certo tempo para que os efeitos desejados sejam sentidos. Que, de outro, é imprescindível para a superação do craving (fissura) que medidas de segurança, no âmbito técnico-assistencial, sejam instituídas para evitar a fuga e com ela o retorno ao uso da droga e o consequente abandono do tratamento.
Terceiro, que desconhecer que a família do dependente também adoece e torna-se hipossuficiente para, sozinha, dar conta do cuidado do seu familiar, é tentar negar o poder corrosivo do crack no tecido social.
Enfrentar tudo isso significa dizer que a sociedade precisa participar mais efetivamente dessas discussões e se fazer ouvir ao mostrar que sabe o que é melhor para a sua saúde: dispor de serviços de saúde que garantam a universalidade do acesso, que a atenção ofertada seja integral e resolutiva e, por sua vez, operacionalizada por uma capacidade instalada adequada a complexidade dos agravos a que está sujeita.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
ACUADOS PELO TRÁFICO
Moradores e comerciantes dão comida para viciados em troca de segurança - Saulo Araújo e Antônio Machado - CORREIO BRAZILIENSE, 24/08/2011 07:36
A paz de moradores e comerciantes vizinhos às cracolândias não depende somente da atuação das forças de segurança. Acuados, eles passaram a fazer uma espécie de acordo com traficantes e viciados para trabalhar e transitar imunes à perseguição. Dinheiro, comida e até objetos de valor são usados para “comprar” a tranquilidade. É a sociedade, mais uma vez, pagando pela ineficiência do poder público. Em regiões dominadas pelo crack, a situação é dramática. Na quinta e última reportagem da série “A droga que consome Brasília”, o Correio mostra as estratégias da população para driblar a insegurança provocada pela livre circulação de entorpecentes.
Dona de um quiosque na QNN 19, em Ceilândia Norte, Izabel Vilarinho, 65 anos, teve o estabelecimento arrombado 12 vezes nos últimos nove anos. O comércio fica próximo a uma obra abandonada batizada pela comunidade de Castelo de Grayskull — uma referência ao desenho animado He-Man—, conhecido como reduto da criminalidade, como o Correio mostrou em diversas reportagens no segundo semestre de 2010 e este ano. Cansada dos prejuízos recorrentes, ela não só comprou muitos cadeados para fechar o quiosque como passou a distribuir comida aos viciados. “Da última vez que me furtaram, levaram até minhas panelas. No dia seguinte, eu vi um desses garotos drogado com uma delas. A única arma que tenho é oferecer comida para ver se eles ficam menos agressivos”, contou Izabel.
Na quadra ao lado, o proprietário de uma mercearia é outro que adotou a prática da esmola para se ver livre da ameaça de crianças e jovens sob efeito de crack. “Já dei carne, biscoito, chocolate, cigarro e até dinheiro. Vira e mexe, dou R$ 1 ou R$ 2. Ou você faz esse tipo de coisa ou tem de enfrentar a ira deles”, comentou Ailton Araújo Barreto, 44 anos. No centro de Taguatinga, mais precisamente na C-9, o gerente de um restaurante conta já ter perdido mais da metade de sua clientela depois que a rua passou a ser dominada pelo tráfico e pela prostituição. “São dezenas de meninas e meninos drogados, que ficam intimidando os clientes. Muitos pararam de frequentar por se sentirem coagidos. Já baixei o quilo do prato. Quando eles chegam, dou um pouco de comida e peço para ficarem longe. Infelizmente, não vejo outra forma de proteger meu negócio”, lamenta.
Na Rodoviária do Plano Piloto, usuários do transporte público também se incomodam com a abordagem sistemática de um grupo de viciados em crack que passa os dias acendendo pedras no canteiro em frente aos terminais de ônibus. O estudante Fábio Resende Matos, 18 anos, deu o troco que recebeu na compra de um pastel a um adolescente maltrapilho. “Dou logo dinheiro para eles, apesar de saber que vão comprar droga”, disse.
Problema coletivo
Para Maria Fátima Olivier Sudbrack, professora de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas, o medo faz com que as pessoas reajam individualmente, sem organização. Segundo ela, a esmola continua a fomentar o vício.
A professora também avalia que são necessárias atitudes conjuntas do governo e da comunidade para uma integração no tratamento de usuários de droga. “Não é adequado dar dinheiro e comida como se fossem mendigos. Pensar só no umbigo também não é o caso. A sociedade clama por segurança, mas isso não está ligado só ao controle repressor e jurídico e, sim, à saúde e à educação. A comunidade também precisa se organizar”, ressalta.
O professor do Núcleo de Segurança Pública da Fundação Universa George Felipe Dantas avalia que o problema é coletivo. “Os órgãos de segurança pública não conseguem erradicar, sozinhos, o narcotráfico e o consumo de crack em verdadeiras áreas tomadas”, reforça.
Aumento
As estatísticas apontam evolução nas apreensões de crack no DF. No primeiro semestre deste ano, foram recolhidos 35kg da substância ilícita, contra 16kg no mesmo período de 2010, um aumento de 118%. O número de traficantes presos também cresceu. De janeiro a junho, 1,7 mil pessoas foram parar na cadeia acusadas de vender entorpecentes. O de usuários levados às delegacias também cresceu. Passou de 1.739 para 2.296.
O que diz a lei
Consumir ou comercializar drogas no Brasil é crime. Porém, a Lei nº11.343, que está em vigor desde 23 de agosto de 2006, prevê punições distintas a usuários e traficantes. Aos primeiros, a lei estabelece três tipos de pena: advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade (que varia de cinco a 10 meses) e medida educativa de comparecimento a programas ou cursos educativos. Já a quem produz ou comercializa drogas, a legislação atribui pena de cinco a 15 anos de reclusão e pagamento de multa que pode chegar a R$ 1,5 mil. Cabe ao juiz responsável pelo caso definir se a finalidade da droga apreendida é para consumo pessoal ou comercialização. Essa avaliação do magistrados depende de inúmeros fatores, como a natureza e a quantidade da substância e os antecedentes do suposto criminoso.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
COMO O CRACK DESTRUIU A VIDA DE PAIS. FILHOS E COMPANHEIROS
Famílias contam como o crack destruiu a vida de pais, filhos e companheiros - Ariadne Sakkis e Saulo Araújo - CORREIO BRAZILIENSE, 23/08/2011 09:43.
As histórias contadas pelas famílias de usuários de crack são permeadas por muito sofrimento. As circunstâncias do vício variam de caso a caso, mas a dor de pais, mães, filhos e companheiros de dependentes costuma ser semelhante. E mesmo que o envolvimento com o entorpecente seja decidido apenas pelo usuário, ele tem efeito avalanche: pode desestabilizar todos os portos seguros que encontra pela frente. “Para entrar no vício, basta um. Para sair dele, é preciso o esforço de um enorme grupo”, resume Teresa*, mãe de um jovem de 24 anos que está na terceira internação para livrar-se do crack. Em alguns casos, as recaídas destroçam o restante da força de mães que veem, impotentes, a destruição dos filhos. “Eu não acredito mais no que ele diz. Rezo muito, quero que melhore, mas não suporto mais. Procuro não vê-lo”, admite Laura*, que já encontrou o filho em estado de transe após fumar centenas de pedras, ao custo de R$ 2 mil. Para mulheres como Benaia Lopes Ferreira resta lamentar a morte do marido e lutar para impedir que outros enveredem pelo caminho de seu companheiro. “A droga destruiu um futuro lindo. Tirou a vida dele e transformou a minha para sempre.” Na quarta reportagem da série “A droga que consome Brasília”, o Correio mostra três histórias de pessoas que tentam dar a volta por cima e salvar a vida de seus entes queridos.
Batalha perdida para a violência
A autônoma Benaia Lopes Ferreira, 32 anos, travou uma batalha contra o crack durante quatro anos para manter o marido longe do vício. Jorge*, 28, foi assassinado a facadas em abril de 2010 por pessoas também envolvidas com droga. Usuário de maconha desde os 13, caiu em desgraça há três anos, quando tentou ganhar a vida em Tocantins (TO), numa plantação de arroz. Lá, conheceu a pedra branca. Da primeira tragada até o dia em que foi assassinado, Jorge perdeu suas referências. Brigou com a família, vendeu tudo o que tinha e jogou fora as oportunidades de emprego. Abandonou até a paixão por tocar bateria na banda de uma igreja evangélica. Jorge sofria de depressão. Nas crises, buscava refúgio no crack. Disposto a largar o vício, chegou a internar-se numa clínica. Quando recebeu alta, voltou para Sobradinho 2, onde morava. Lá, reencontrou antigos lugares e companhias atreladas ao crack. Uma queda da mãe em casa o fez se sentir culpado. “A partir daí, desenvolveu mania de perseguição, afastou-se de novo da família e afundou-se no crack”, detalha Benaia. “Passou a fumar na minha frente, o que nunca tinha feito, e falava para a pedra: ‘Eu quero te largar, mas não consigo’. Ali, vi que a situação era realmente muito difícil”, relembra. Um dia, ele se armou com uma faca de cozinha e saiu disposto a cobrar uma dívida de um rapaz que estava com amigos. Desafiou o suposto devedor, mas o desafeto também estava armado. Depois de uma discussão, Jorge deu as costas ao grupo e foi atingido por várias facadas. Morreu a caminho do hospital. “A droga destruiu um futuro lindo. Tirou a vida dele e transformou a minha para sempre”, diz Benaia, que pretende desenvolver um projeto social voltado para jovens em situação de risco
Decepção e descrédito
Laura* não se impressiona mais com promessas de cura ou com o que diz João*, seu filho de 22 anos. Foram tantas indas e vindas com drogas diversas que ela não tem mais forças para lidar com a dependência química que está roubando a juventude do rapaz. Laura e o pai de João se separaram quando ele ainda era pequeno. Ela casou-se de novo e João presenciou o padrasto agredindo a mãe por diversas vezes. O primeiro cigarro de maconha chegou aos 10 anos. “Um dia, com 17, ele chegou em casa ensanguentado. Havia cheirado cocaína em uma festa e deu em cima de uma moça acompanhada”, lembra a mãe. Quando o rapaz completou 18 anos, foi ao banco e exigiu domínio sobre a conta em que recebia gorda pensão deixada pelo pai. Sumiu três meses.
A mãe o encontrou como indigente em uma rua de São Jorge (GO). Em outro sumiço, Laura viu que não havia solução a não ser interná-lo. “Ele ficou três dias sem contato com o mundo. Eu e a namorada dele decidimos arrombar a porta da quitinete e o que vi foi a cena mais terrível do mundo. Ele gastou R$ 2 mil em crack e fumou tudo nesses três dias. Havia fezes, comida, moscas, tudo misturado”, lembra. João ficou enclausurado por dois meses e sempre que a mãe o visitava, era ameaçada pelo filho.
Depois da reabilitação, eles tentaram morar juntos outra vez. A hostilidade do rapaz fez com que Laura decidisse expulsá-lo de casa. Hoje, ele mora com a avó, em Minas Gerais. “As drogas destruíram minha vida com meu filho. Estou desiludida, não quero vê-lo. Torço para que ele se recupere, mas escolhi cuidar de mim”, admite. “Com meu filho mais novo, estou fazendo tudo diferente”, completa.
Medida polêmica
Diante de tantas dificuldades para minimizar o impacto das drogas na sociedade, uma medida polêmica começa a ganhar força no Distrito Federal: a internação compulsória.
Os governos do Rio de Janeiro e de São Paulo têm adotado a prática, o que fez esquentar o debate sobre o tema. Em Brasília, o projeto não tem como sair do papel porque não há local para onde encaminhar adolescentes e crianças dependentes de drogas. A capital não dispõe de centros de internação para viciados em álcool e drogas. Todas as unidades existentes prestam apenas atendimento ambulatorial. No entanto, com a previsão do GDF de construir 46 Centros de Assistência Psicossocial (Caps), sendo 12 voltados para o atendimento a usuários de drogas, a proposta começa a ser levada em consideração.
O promotor da Infância e da Juventude do DF Renato Varalda acredita que obrigar o tratamento, em muitos casos, pode ser a única saída para salvar a vida de pessoas totalmente consumidas pelo vício. “É preciso haver uma ponderação de valores. Quando a droga coloca em risco a formação da personalidade de uma criança, quando sua integridade está ameaçada, o direito à vida deve prevalecer ao de ir e vir”, defende.
Nós também adoecemos
Já faz mais de 50 dias que Fábio* está longe dos pais. É a terceira internação do filho mais velho do casal de funcionários públicos Teresa* e Antônio*. O rapaz de 24 anos nunca preencheu o estereótipo de garoto problema. Era bom aluno, carinhoso com os pais, bem-educado. No fim da adolescência, reprovou na escola e emagreceu rapidamente. O filho afetuoso deu lugar a um jovem de rompantes agressivos. Em casa, objetos começaram a sumir. “O crack veio arrasando tudo”, diz Teresa. Mesmo apaixonado e esperando a primeira filha, o jovem se rendeu à droga. Chegou a forjar o próprio sequestro para tirar dinheiro dos pais e pagar traficantes. “Vendi meu carro para pagar dívida de droga. A mulher dele não aguentou a barra e foi embora. Chegou a depenar o apartamento que montamos para ele. Vendeu tudo, até botijão de gás, para comprar droga”, lembra a mãe. Teresa entrou em depressão e está licenciada do trabalho. Ela e Antônio frequentam a reunião dos pais na clínica onde Fábio está internado. “Nós também adoecemos. E só podemos ajudá-lo se estivermos bem”, diz. A terapia em grupo ajudou o casal a transformar a culpa em responsabilidade. “Se tivesse mais vivência, teria procurado ajuda antes. Você espera que o problema acabe antes de ter de contar para as pessoas”, lamenta Antônio. A família mudou-se de casa, de hábitos e amigos para evitar que Fábio passe por tentações e possa resistir quando receber alta. “A gente erra por amor. O medo paralisa. O que me segura é a fé. E ao Fábio também. Tenho certeza de que ele vai se recuperar”, espera a mãe.
Sem alternativa
Segundo o promotor, diariamente, pais e mães desesperados pedem aos representantes do Ministério Público que os filhos sejam privados de liberdade. “Tem mãe que implora para o filho ficar internado. Porém, como não temos unidade de internação no DF, muitas vezes recorremos ao Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), mesmo que o ato infracional cometido por ele não necessariamente seja passível de medida tão radical. Não é o ideal, mas diante da falta de opções, é preferível que ele fique no Caje do que rua alimentando o vício”, diz.
Na opinião do professor de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB) Roberto Bittencourt, especialista em saúde pública “nem o Caps nem a internação esgotam o tratamento de desintoxicação”. Para ele, é preciso promover um alinhamento entre as duas vertentes de tratamento para que o paciente tenha o maior leque de opções a fim de ser reinserido na sociedade.
As histórias contadas pelas famílias de usuários de crack são permeadas por muito sofrimento. As circunstâncias do vício variam de caso a caso, mas a dor de pais, mães, filhos e companheiros de dependentes costuma ser semelhante. E mesmo que o envolvimento com o entorpecente seja decidido apenas pelo usuário, ele tem efeito avalanche: pode desestabilizar todos os portos seguros que encontra pela frente. “Para entrar no vício, basta um. Para sair dele, é preciso o esforço de um enorme grupo”, resume Teresa*, mãe de um jovem de 24 anos que está na terceira internação para livrar-se do crack. Em alguns casos, as recaídas destroçam o restante da força de mães que veem, impotentes, a destruição dos filhos. “Eu não acredito mais no que ele diz. Rezo muito, quero que melhore, mas não suporto mais. Procuro não vê-lo”, admite Laura*, que já encontrou o filho em estado de transe após fumar centenas de pedras, ao custo de R$ 2 mil. Para mulheres como Benaia Lopes Ferreira resta lamentar a morte do marido e lutar para impedir que outros enveredem pelo caminho de seu companheiro. “A droga destruiu um futuro lindo. Tirou a vida dele e transformou a minha para sempre.” Na quarta reportagem da série “A droga que consome Brasília”, o Correio mostra três histórias de pessoas que tentam dar a volta por cima e salvar a vida de seus entes queridos.
Batalha perdida para a violência
A autônoma Benaia Lopes Ferreira, 32 anos, travou uma batalha contra o crack durante quatro anos para manter o marido longe do vício. Jorge*, 28, foi assassinado a facadas em abril de 2010 por pessoas também envolvidas com droga. Usuário de maconha desde os 13, caiu em desgraça há três anos, quando tentou ganhar a vida em Tocantins (TO), numa plantação de arroz. Lá, conheceu a pedra branca. Da primeira tragada até o dia em que foi assassinado, Jorge perdeu suas referências. Brigou com a família, vendeu tudo o que tinha e jogou fora as oportunidades de emprego. Abandonou até a paixão por tocar bateria na banda de uma igreja evangélica. Jorge sofria de depressão. Nas crises, buscava refúgio no crack. Disposto a largar o vício, chegou a internar-se numa clínica. Quando recebeu alta, voltou para Sobradinho 2, onde morava. Lá, reencontrou antigos lugares e companhias atreladas ao crack. Uma queda da mãe em casa o fez se sentir culpado. “A partir daí, desenvolveu mania de perseguição, afastou-se de novo da família e afundou-se no crack”, detalha Benaia. “Passou a fumar na minha frente, o que nunca tinha feito, e falava para a pedra: ‘Eu quero te largar, mas não consigo’. Ali, vi que a situação era realmente muito difícil”, relembra. Um dia, ele se armou com uma faca de cozinha e saiu disposto a cobrar uma dívida de um rapaz que estava com amigos. Desafiou o suposto devedor, mas o desafeto também estava armado. Depois de uma discussão, Jorge deu as costas ao grupo e foi atingido por várias facadas. Morreu a caminho do hospital. “A droga destruiu um futuro lindo. Tirou a vida dele e transformou a minha para sempre”, diz Benaia, que pretende desenvolver um projeto social voltado para jovens em situação de risco
Decepção e descrédito
Laura* não se impressiona mais com promessas de cura ou com o que diz João*, seu filho de 22 anos. Foram tantas indas e vindas com drogas diversas que ela não tem mais forças para lidar com a dependência química que está roubando a juventude do rapaz. Laura e o pai de João se separaram quando ele ainda era pequeno. Ela casou-se de novo e João presenciou o padrasto agredindo a mãe por diversas vezes. O primeiro cigarro de maconha chegou aos 10 anos. “Um dia, com 17, ele chegou em casa ensanguentado. Havia cheirado cocaína em uma festa e deu em cima de uma moça acompanhada”, lembra a mãe. Quando o rapaz completou 18 anos, foi ao banco e exigiu domínio sobre a conta em que recebia gorda pensão deixada pelo pai. Sumiu três meses.
A mãe o encontrou como indigente em uma rua de São Jorge (GO). Em outro sumiço, Laura viu que não havia solução a não ser interná-lo. “Ele ficou três dias sem contato com o mundo. Eu e a namorada dele decidimos arrombar a porta da quitinete e o que vi foi a cena mais terrível do mundo. Ele gastou R$ 2 mil em crack e fumou tudo nesses três dias. Havia fezes, comida, moscas, tudo misturado”, lembra. João ficou enclausurado por dois meses e sempre que a mãe o visitava, era ameaçada pelo filho.
Depois da reabilitação, eles tentaram morar juntos outra vez. A hostilidade do rapaz fez com que Laura decidisse expulsá-lo de casa. Hoje, ele mora com a avó, em Minas Gerais. “As drogas destruíram minha vida com meu filho. Estou desiludida, não quero vê-lo. Torço para que ele se recupere, mas escolhi cuidar de mim”, admite. “Com meu filho mais novo, estou fazendo tudo diferente”, completa.
Medida polêmica
Diante de tantas dificuldades para minimizar o impacto das drogas na sociedade, uma medida polêmica começa a ganhar força no Distrito Federal: a internação compulsória.
Os governos do Rio de Janeiro e de São Paulo têm adotado a prática, o que fez esquentar o debate sobre o tema. Em Brasília, o projeto não tem como sair do papel porque não há local para onde encaminhar adolescentes e crianças dependentes de drogas. A capital não dispõe de centros de internação para viciados em álcool e drogas. Todas as unidades existentes prestam apenas atendimento ambulatorial. No entanto, com a previsão do GDF de construir 46 Centros de Assistência Psicossocial (Caps), sendo 12 voltados para o atendimento a usuários de drogas, a proposta começa a ser levada em consideração.
O promotor da Infância e da Juventude do DF Renato Varalda acredita que obrigar o tratamento, em muitos casos, pode ser a única saída para salvar a vida de pessoas totalmente consumidas pelo vício. “É preciso haver uma ponderação de valores. Quando a droga coloca em risco a formação da personalidade de uma criança, quando sua integridade está ameaçada, o direito à vida deve prevalecer ao de ir e vir”, defende.
Nós também adoecemos
Já faz mais de 50 dias que Fábio* está longe dos pais. É a terceira internação do filho mais velho do casal de funcionários públicos Teresa* e Antônio*. O rapaz de 24 anos nunca preencheu o estereótipo de garoto problema. Era bom aluno, carinhoso com os pais, bem-educado. No fim da adolescência, reprovou na escola e emagreceu rapidamente. O filho afetuoso deu lugar a um jovem de rompantes agressivos. Em casa, objetos começaram a sumir. “O crack veio arrasando tudo”, diz Teresa. Mesmo apaixonado e esperando a primeira filha, o jovem se rendeu à droga. Chegou a forjar o próprio sequestro para tirar dinheiro dos pais e pagar traficantes. “Vendi meu carro para pagar dívida de droga. A mulher dele não aguentou a barra e foi embora. Chegou a depenar o apartamento que montamos para ele. Vendeu tudo, até botijão de gás, para comprar droga”, lembra a mãe. Teresa entrou em depressão e está licenciada do trabalho. Ela e Antônio frequentam a reunião dos pais na clínica onde Fábio está internado. “Nós também adoecemos. E só podemos ajudá-lo se estivermos bem”, diz. A terapia em grupo ajudou o casal a transformar a culpa em responsabilidade. “Se tivesse mais vivência, teria procurado ajuda antes. Você espera que o problema acabe antes de ter de contar para as pessoas”, lamenta Antônio. A família mudou-se de casa, de hábitos e amigos para evitar que Fábio passe por tentações e possa resistir quando receber alta. “A gente erra por amor. O medo paralisa. O que me segura é a fé. E ao Fábio também. Tenho certeza de que ele vai se recuperar”, espera a mãe.
Sem alternativa
Segundo o promotor, diariamente, pais e mães desesperados pedem aos representantes do Ministério Público que os filhos sejam privados de liberdade. “Tem mãe que implora para o filho ficar internado. Porém, como não temos unidade de internação no DF, muitas vezes recorremos ao Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), mesmo que o ato infracional cometido por ele não necessariamente seja passível de medida tão radical. Não é o ideal, mas diante da falta de opções, é preferível que ele fique no Caje do que rua alimentando o vício”, diz.
Na opinião do professor de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB) Roberto Bittencourt, especialista em saúde pública “nem o Caps nem a internação esgotam o tratamento de desintoxicação”. Para ele, é preciso promover um alinhamento entre as duas vertentes de tratamento para que o paciente tenha o maior leque de opções a fim de ser reinserido na sociedade.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
ASSISTÊNCIA A DEPENDENTES QUÍMICOS É PRECÁRIA
Assistência a dependentes químicos no DF não garante reabilitação - Saulo Araújo e Ariadne Sakkis - 22/08/2011 07:47
O caminho para a reabilitação social de um usuário de drogas, sobretudo de crack, é tortuoso. Para se chegar à independência do vício, a pessoa precisa contar com o amparo de uma rede de tratamento preparada para dar suporte às crises inerentes ao processo de desintoxicação. Esse é o papel do Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (Caps AD), modelo de assistência ao doente mental que substituiu, desde a Reforma Psiquiátrica, o formato baseado nas internações hospitalares. A terceira reportagem da série “A droga que consome Brasília” mostra, entretanto que a situação dessa estrutura é precária no Distrito Federal. Falta de tudo um pouco: investimento, pessoal e unidades de atendimento.
No cenário nacional, o Distrito Federal apresenta a pior proporção entre Caps e população: são apenas 12 unidades para mais de 2,6 milhões de moradores. O estado de Sergipe, mais pobre e com 600 mil habitantes a menos que o DF, tem 32. O cenário para o tratamento de dependentes químicos na capital federal é ainda mais preocupantes levando em conta que apenas quatro Caps AD estão distribuídos no Guará, Sobradinho, Ceilândia e Santa Maria. Crianças e adolescentes envolvidos com entorpecentes contam apenas com o Adolescentro para obter cuidado especializado. Em todas as unidades, profissionais fazem o impossível para garantir tratamento a milhares de dependentes — a Secretaria de Saúde não dispõe de estatística que estabeleça a média mensal de atendimentos.
No Caps AD do Guará, por exemplo, entre janeiro e junho deste ano, 579 pessoas foram acolhidas e, atualmente, 1.118 estão em acompanhamento ativo. A maioria dos centros não possui dados sobre quantos pacientes estão envolvidos com a droga. Apesar disso, a percepção de quem lida com a rede de amparo é de que o volume de usuários da droga cresceu. “Em comparação com o ano passado, mais dependentes de crack têm procurado os serviços”, diz Dalila Dourado, gerente do posto. Em Sobradinho, o fluxo é menor, mas comum receber pessoas que vivem em Sobradinho 1 e 2, Planaltina e no Paranoá. Estão em tratamento 320 pacientes. As consultas médicas, psicológicas e oficinas são agendadas, mas a unidade tem problemas com a escassez de profissionais, o que abala o sistema de reinserção social. No local, não há clínico geral ou psiquiatra trabalhando em esquema de dedicação exclusiva: os profissionais são cedidos por hospitais regionais e atendem no Caps AD 10 horas por semana.
Referência
O mais recente centro de referência no tratamento de viciados fica em Santa Maria e foi inaugurado em setembro de 2010. Ele deveria cobrir a área da cidade e do Gama, mas a unidade recebe pacientes do Entorno do DF. Lá, também não há um psiquiatra lotado na unidade. Um médico do Hospital São Vicente de Paula se ofereceu para prestar atendimento uma vez por semana. “Ainda não temos demanda reprimida. Conseguimos desenvolver bem o trabalho aqui”, conta Deise de Almeida Gomes, psicóloga do centro e gerente interina. Em um ano de funcionamento, foram abertos 807 prontuários. Desses, 224 pacientes seguem em tratamento e a média mensal de novas recepções é de 40 pessoas.
Mesmo com necessidade evidente de investimentos, um levantamento feito no Portal da Transparência do GDF mostra que nem um centavo dos R$ 4 milhões previstos no orçamento deste ano para o combater o uso de entorpecentes foi empregado na reabilitação psicossocial. Na pasta da Saúde, sabe-se apenas que R$ 2 milhões destinam-se a construção de novos Caps. O Ministério da Saúde repassa a estados e municípios valores custear parte dos equipamentos. Entre 2010 e 2011, o órgão liberou mais de R$ 440 mil ao DF: R$ 56 mil em dezembro de 2010 e R$ 384 mil há um mês.
A precariedade do sistema de amparo a portadores de transtornos mentais e usuários de drogas motivou o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) a mover uma ação civil pública contra o Distrito Federal. Juntas, a promotorias de Execuções Penais e Defesa da Saúde (Prosus) exigem que o governo crie seis residências terapêuticas para acompanhar as pessoas com necessidade de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico que não têm amparo familiar; implante mais sete Caps de diferentes portes; e constitua equipes multidisciplinares em número suficiente para desenvolver as atividades clínicas dos centros.
A Promotoria de Execuções Penais entrou na ação devido a situação de presos que sofrem dos dois problemas. “Não temos atenção de saúde mental adequada em Brasília e sentimos muito isso também dentro dos presídios. É um atendimento raso, que não regenera ninguém. Essas pessoas saem da cadeia e não têm para onde ir. Muitos cometeram crimes em função do uso de drogas”, diz Cleonice Varalda, titular do órgão.
Em entrevista ao Correio na semana passada, o governador Agnelo Queiroz anunciou o início de uma operação para “varrer o crack” do Distrito Federal. A ação será integrada entre secretarias do GDF, como as pastas de Segurança, Saúde e Desenvolvimento Social, e setores do governo federal. A princípio, a força-tarefa será concentrada no Plano Piloto, em Ceilândia e Taguatinga, regiões com maior incidência do tráfico dessa droga. Inicialmente, a operação seria realizada a partir de hoje, mas a iniciativa foi adiada. Na primeira reunião de secretários desde que chegou da China, o governador tomou conhecimento de detalhes sobre a cruzada contra o crack e resolveu fazer alguns ajustes no plano. A previsão é de que até o fim de agosto, a operação liderada pela Secretaria de Segurança estará na ruas.
“Em comparação com o ano passado, mais dependentes de crack têm procurado os serviços”, Dalila Dourado, gerente do Caps AD do Guará
46 - Total de CAPs AD previstos no Plano Diretor de Saúde Mental para o DF
320 - Total de pacientes em tratamento no Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Outras Drogas de Sobradinho
O caminho para a reabilitação social de um usuário de drogas, sobretudo de crack, é tortuoso. Para se chegar à independência do vício, a pessoa precisa contar com o amparo de uma rede de tratamento preparada para dar suporte às crises inerentes ao processo de desintoxicação. Esse é o papel do Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (Caps AD), modelo de assistência ao doente mental que substituiu, desde a Reforma Psiquiátrica, o formato baseado nas internações hospitalares. A terceira reportagem da série “A droga que consome Brasília” mostra, entretanto que a situação dessa estrutura é precária no Distrito Federal. Falta de tudo um pouco: investimento, pessoal e unidades de atendimento.
No cenário nacional, o Distrito Federal apresenta a pior proporção entre Caps e população: são apenas 12 unidades para mais de 2,6 milhões de moradores. O estado de Sergipe, mais pobre e com 600 mil habitantes a menos que o DF, tem 32. O cenário para o tratamento de dependentes químicos na capital federal é ainda mais preocupantes levando em conta que apenas quatro Caps AD estão distribuídos no Guará, Sobradinho, Ceilândia e Santa Maria. Crianças e adolescentes envolvidos com entorpecentes contam apenas com o Adolescentro para obter cuidado especializado. Em todas as unidades, profissionais fazem o impossível para garantir tratamento a milhares de dependentes — a Secretaria de Saúde não dispõe de estatística que estabeleça a média mensal de atendimentos.
No Caps AD do Guará, por exemplo, entre janeiro e junho deste ano, 579 pessoas foram acolhidas e, atualmente, 1.118 estão em acompanhamento ativo. A maioria dos centros não possui dados sobre quantos pacientes estão envolvidos com a droga. Apesar disso, a percepção de quem lida com a rede de amparo é de que o volume de usuários da droga cresceu. “Em comparação com o ano passado, mais dependentes de crack têm procurado os serviços”, diz Dalila Dourado, gerente do posto. Em Sobradinho, o fluxo é menor, mas comum receber pessoas que vivem em Sobradinho 1 e 2, Planaltina e no Paranoá. Estão em tratamento 320 pacientes. As consultas médicas, psicológicas e oficinas são agendadas, mas a unidade tem problemas com a escassez de profissionais, o que abala o sistema de reinserção social. No local, não há clínico geral ou psiquiatra trabalhando em esquema de dedicação exclusiva: os profissionais são cedidos por hospitais regionais e atendem no Caps AD 10 horas por semana.
Referência
O mais recente centro de referência no tratamento de viciados fica em Santa Maria e foi inaugurado em setembro de 2010. Ele deveria cobrir a área da cidade e do Gama, mas a unidade recebe pacientes do Entorno do DF. Lá, também não há um psiquiatra lotado na unidade. Um médico do Hospital São Vicente de Paula se ofereceu para prestar atendimento uma vez por semana. “Ainda não temos demanda reprimida. Conseguimos desenvolver bem o trabalho aqui”, conta Deise de Almeida Gomes, psicóloga do centro e gerente interina. Em um ano de funcionamento, foram abertos 807 prontuários. Desses, 224 pacientes seguem em tratamento e a média mensal de novas recepções é de 40 pessoas.
Mesmo com necessidade evidente de investimentos, um levantamento feito no Portal da Transparência do GDF mostra que nem um centavo dos R$ 4 milhões previstos no orçamento deste ano para o combater o uso de entorpecentes foi empregado na reabilitação psicossocial. Na pasta da Saúde, sabe-se apenas que R$ 2 milhões destinam-se a construção de novos Caps. O Ministério da Saúde repassa a estados e municípios valores custear parte dos equipamentos. Entre 2010 e 2011, o órgão liberou mais de R$ 440 mil ao DF: R$ 56 mil em dezembro de 2010 e R$ 384 mil há um mês.
A precariedade do sistema de amparo a portadores de transtornos mentais e usuários de drogas motivou o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) a mover uma ação civil pública contra o Distrito Federal. Juntas, a promotorias de Execuções Penais e Defesa da Saúde (Prosus) exigem que o governo crie seis residências terapêuticas para acompanhar as pessoas com necessidade de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico que não têm amparo familiar; implante mais sete Caps de diferentes portes; e constitua equipes multidisciplinares em número suficiente para desenvolver as atividades clínicas dos centros.
A Promotoria de Execuções Penais entrou na ação devido a situação de presos que sofrem dos dois problemas. “Não temos atenção de saúde mental adequada em Brasília e sentimos muito isso também dentro dos presídios. É um atendimento raso, que não regenera ninguém. Essas pessoas saem da cadeia e não têm para onde ir. Muitos cometeram crimes em função do uso de drogas”, diz Cleonice Varalda, titular do órgão.
Em entrevista ao Correio na semana passada, o governador Agnelo Queiroz anunciou o início de uma operação para “varrer o crack” do Distrito Federal. A ação será integrada entre secretarias do GDF, como as pastas de Segurança, Saúde e Desenvolvimento Social, e setores do governo federal. A princípio, a força-tarefa será concentrada no Plano Piloto, em Ceilândia e Taguatinga, regiões com maior incidência do tráfico dessa droga. Inicialmente, a operação seria realizada a partir de hoje, mas a iniciativa foi adiada. Na primeira reunião de secretários desde que chegou da China, o governador tomou conhecimento de detalhes sobre a cruzada contra o crack e resolveu fazer alguns ajustes no plano. A previsão é de que até o fim de agosto, a operação liderada pela Secretaria de Segurança estará na ruas.
“Em comparação com o ano passado, mais dependentes de crack têm procurado os serviços”, Dalila Dourado, gerente do Caps AD do Guará
46 - Total de CAPs AD previstos no Plano Diretor de Saúde Mental para o DF
320 - Total de pacientes em tratamento no Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Outras Drogas de Sobradinho
LEI ANTIDROGAS
ANTONIO GONÇALVES, ADVOGADO CRIMINALISTA- DIÁRIO CATARINENSE, 22/08/2011
Prestes a completar cinco anos, a Lei Antidrogas (11.343), criada com o objetivo de aliviar o sistema carcerário brasileiro, concedendo penas alternativas a usuários de drogas, causou efeito contrário. Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no número de presos por tráfico. Tal incremento da percentagem de presos se deve ao fato de o artigo 28, que tipifica a questão do usuário, ser silente no que toca ao procedimento para a caracterização do uso pessoal das drogas, pois, ao não prever a quantidade e/ou qualidade da droga, o legislador possibilitou uma análise completamente subjetiva por parte do Judiciário.
Somado a isso houve um aumento sensível na pena do traficante, que teve o mínimo elevado para cinco anos. Logo, para não ofertar ao usuário a possibilidade de uma transação penal, os juízes optam por uma pena mais elevada ao contrário do espírito da lei. O resultado não poderia ser outro senão o aumento desenfreado de presos com as mais variadas quantidades e qualidades de drogas, em um claro retrocesso normativo. Agora, o usuário, ao invés de ter uma pena mais branda, é considerado um traficante. A tal ponto que o Congresso estuda um projeto de lei para reduzir a punição do pequeno traficante.
Ora, não é preciso criar tantos tipos penais para descriminalizar ou criar meios alternativos. Basta que o legislador faça o trabalho normativo de forma adequada, isto é, crie o procedimento conjuntamente com a norma, para que, assim, essas disparidades normativas não continuem a ocorrer.
A Lei completará cinco anos com um aumento de prisões, com uma confusão entre usuário e traficante e sem solucionar a questão da quantificação para a dosimetria de pena. O “manual de instruções” de uma lei, por vezes, é muito mais importante do que a lei em si. Que o legislador não se perca uma vez mais nesta tarefa.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Esta "confusão" entre usuário e traficante é fruto das divergências, da insegurança jurídica e da falta de posicionamento dos governantes, políticos e magistrados nas questões de ordem pública. Por termos saído de um regime de exceção (Regime Militar) eles optaram por direitos, privilégios e benevolências em desprezo aos deveres, contrapartidas e coatividade, criando um sistema anárquico, inseguro e desordeiro favorável apenas para oportunistas, corruptos, bandidos, vândalos, traficantes e mafiosos. Os instrumentos de coação, justiça e cidadania foram enfraquecidos e uma constituição federal foi criada para dar muitos direitos e privilégios para os membros dos poderes, preservar a ordem pública de forma policialesca e abrir as portas da lei para remendos a favor de interesses escusos.
O caso citado pelo autor mostra uma Lei Antidrogas (11.343) criada com objetivos falaciosos como o de "aliviar o sistema carcerário brasileiro" e conceder "penas alternativas a usuários de drogas", deteriorou-se na medida em que não foi organizada uma estrutura de saúde ou de apoio para estas "penas alternativas", mas apenas foi usada para que o Judiciário não se indisponha com a classe política na pressão para construir presídios e aplicar de fato as políticas prisionais previstas em lei.
é lógico que está causando "efeito contrário". Como não existe local e postos de saúde para tratar as dependências, estes ficam reféns do tráfico e são executados se sairem da linha da justiça paralela. Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no número de presos por tráfico. É demonstração que legisladores e magistrados não se entendem, fazendo com que as leis não sejam aplicadas na sua totalidade.
De que adianta aumentar a pena do traficante se as penas são cumpridas apenas em 1/6, além de ser difícil distinguir o traficante do vapozeiro e do consumidor. Eles se juntam na hierarquia do tráfico quando o consumidor é pobre ou interessado em fazer poder e dinheiro com o tráfico.
Enquanto nossos parlamentares e magistrados continuarem legislando e aplicando a lei esquecendo a supremacia do interesse público, da paz social, e dando prioridade ao interesse individual e corporativo, o Brasil não conseguirá deter o tráfico e nem o consumo de drogas.
Prestes a completar cinco anos, a Lei Antidrogas (11.343), criada com o objetivo de aliviar o sistema carcerário brasileiro, concedendo penas alternativas a usuários de drogas, causou efeito contrário. Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no número de presos por tráfico. Tal incremento da percentagem de presos se deve ao fato de o artigo 28, que tipifica a questão do usuário, ser silente no que toca ao procedimento para a caracterização do uso pessoal das drogas, pois, ao não prever a quantidade e/ou qualidade da droga, o legislador possibilitou uma análise completamente subjetiva por parte do Judiciário.
Somado a isso houve um aumento sensível na pena do traficante, que teve o mínimo elevado para cinco anos. Logo, para não ofertar ao usuário a possibilidade de uma transação penal, os juízes optam por uma pena mais elevada ao contrário do espírito da lei. O resultado não poderia ser outro senão o aumento desenfreado de presos com as mais variadas quantidades e qualidades de drogas, em um claro retrocesso normativo. Agora, o usuário, ao invés de ter uma pena mais branda, é considerado um traficante. A tal ponto que o Congresso estuda um projeto de lei para reduzir a punição do pequeno traficante.
Ora, não é preciso criar tantos tipos penais para descriminalizar ou criar meios alternativos. Basta que o legislador faça o trabalho normativo de forma adequada, isto é, crie o procedimento conjuntamente com a norma, para que, assim, essas disparidades normativas não continuem a ocorrer.
A Lei completará cinco anos com um aumento de prisões, com uma confusão entre usuário e traficante e sem solucionar a questão da quantificação para a dosimetria de pena. O “manual de instruções” de uma lei, por vezes, é muito mais importante do que a lei em si. Que o legislador não se perca uma vez mais nesta tarefa.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Esta "confusão" entre usuário e traficante é fruto das divergências, da insegurança jurídica e da falta de posicionamento dos governantes, políticos e magistrados nas questões de ordem pública. Por termos saído de um regime de exceção (Regime Militar) eles optaram por direitos, privilégios e benevolências em desprezo aos deveres, contrapartidas e coatividade, criando um sistema anárquico, inseguro e desordeiro favorável apenas para oportunistas, corruptos, bandidos, vândalos, traficantes e mafiosos. Os instrumentos de coação, justiça e cidadania foram enfraquecidos e uma constituição federal foi criada para dar muitos direitos e privilégios para os membros dos poderes, preservar a ordem pública de forma policialesca e abrir as portas da lei para remendos a favor de interesses escusos.
O caso citado pelo autor mostra uma Lei Antidrogas (11.343) criada com objetivos falaciosos como o de "aliviar o sistema carcerário brasileiro" e conceder "penas alternativas a usuários de drogas", deteriorou-se na medida em que não foi organizada uma estrutura de saúde ou de apoio para estas "penas alternativas", mas apenas foi usada para que o Judiciário não se indisponha com a classe política na pressão para construir presídios e aplicar de fato as políticas prisionais previstas em lei.
é lógico que está causando "efeito contrário". Como não existe local e postos de saúde para tratar as dependências, estes ficam reféns do tráfico e são executados se sairem da linha da justiça paralela. Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no número de presos por tráfico. É demonstração que legisladores e magistrados não se entendem, fazendo com que as leis não sejam aplicadas na sua totalidade.
De que adianta aumentar a pena do traficante se as penas são cumpridas apenas em 1/6, além de ser difícil distinguir o traficante do vapozeiro e do consumidor. Eles se juntam na hierarquia do tráfico quando o consumidor é pobre ou interessado em fazer poder e dinheiro com o tráfico.
Enquanto nossos parlamentares e magistrados continuarem legislando e aplicando a lei esquecendo a supremacia do interesse público, da paz social, e dando prioridade ao interesse individual e corporativo, o Brasil não conseguirá deter o tráfico e nem o consumo de drogas.
domingo, 21 de agosto de 2011
CRIME DE BATOM - A CONEXÃO FEMININA DO TRÁFICO
Operação em bairro de Canoas teve maioria de mulheres presas sob suspeita de herdarem a vida criminosa de parceiros presos - HUMBERTO TREZZI, ZERO HORA 21/08/2011
Em vez de voz grossa e barba na cara, apliques de mega hair, luzes no cabelo, blusas de marca e batom. Com os bandidos trancafiados em presídios, o crime, no bairro Mathias Velho, um dos mais populosos de Canoas, teria passado a gerentes do sexo feminino.
Éo que assegura a Polícia Civil, que desencadeou, na quarta-feira passada, a Operação Paranoia a fim de impedir o crescimento do bando comandado de dentro da cadeia pelo traficante Fábio Rosa Carvalho, o Fábio Noia, e, assim, estancar uma onda de homicídios na região.
Os policiais prenderam oito mulheres e apreenderam uma adolescente – mais da metade dos 17 alvos da ação. Embora a proporção espante, a causa das prisões em Canoas não é novidade: 79,2% das 1.975 presidiárias do Estado estão presas por ligação com o tráfico, frequentemente influenciadas por namorados e companheiros.
Os principais alvos na quarta-feira eram mãe e filha: Cleusa, 36 anos, e sua primogênita, Angélica, 22 anos. As duas chamavam a atenção pelo padrão de vida, ao que a investigação indica, bancada pela ilegalidade. Elas ostentavam consumo e bens acima do padrão de muitos moradores – com elas, por exemplo, foram apreendidos um Civic, um Siena e um Fiesta.
Mulheres teriam controle de 60 bocas de fumo
Conforme os policiais, Cleusa e Angélica não tocavam em armas, mas contavam, para o trabalho sujo, com a segurança armada de dois homens, suspeitos de serem torturadores e carrascos de criminosos rivais.
– Com a prisão dos seus companheiros, Angélica e Cleusa estavam há meses controlando mais de 60 bocas de fumo do Mathias Velho – resume o delegado Eric Seixas, da 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas.
Desde maio, Cleusa e Angélica teriam passado para a linha de frente, quando foram presos Carlos Ezequiel Xavier, o Quel, 37 anos, companheiro de Cleusa, e Fábio Noia, namorado de Angélica, que responde por homicídio. Quel, preso como suspeito de assalto a um condomínio, seria um financiador do bando. Com dinheiro de roubos ele compraria carregamentos de drogas administradas por Fábio Noia. Por trás disso tudo, haveria um consórcio recente com os Bala na Cara, uma das maiores quadrilhas de Porto Alegre.
Como era a hierarquia no crime
Mãe e filha teriam passado a gerenciar o comércio de crack e cocaína. Mas tão logo ascenderam, trocaram a perigosa vizinhança de rivais no Mathias Velho por imóveis e carros confortáveis em Nova Santa Rita. Interceptações telefônicas mostram Fábio Noia, desde o Presídio Central, repassando indicações para a namorada sobre entregas de drogas e armas a serem feitas na Grande Porto Alegre.
Outras duas presas, Ariana e Lidiane, apontadas pela Polícia Civil como “gerentes de boca”, seriam as repassadoras de crack para os varejistas da droga (vapozeiros).
A versão dos policiais sobre as quatro mulheres, amparada em depoimentos, gravações e apreensões, levou a Justiça a decretar a prisão preventiva delas. As demais presas na Operação Paranoia foram flagradas com armas ou drogas em casa. Duas não eram ligadas à quadrilha, mas a bandos rivais. Uma delas, flagrada com uma pistola calibre 38, seria a viúva de Mano Louco, o traficante executado para dar lugar ao namorado de Angélica.
Sinal de que a rivalidade violenta, e sempre à espreita, tampouco é exclusividade masculina.
As principais suspeitas
- Cleusa, 36 anos – A ligação de Cleusa com o crime viria desde o primeiro relacionamento, com um traficante já morto (o segundo teria sido com um representante comercial, com o qual teve uma filha). O terceiro relacionamento seria com o assaltante Carlos Ezequiel Xavier , o Quel, que seria o principal financiador do tráfico no Mathias Velho. Com a prisão dele, ela teria passado a controlar os negócios da família. Basicamente, a distribuição de drogas no bairro.
- Angélica, 22 anos – Filha de Cleusa. Como a mãe, Angélica teria sido companheira de um traficante assassinado – Jaré Lima da Rosa, o Jareco. O peculiar é que ela teria passado a namorar justamente o principal suspeito de ordenar a morte do seu ex: Fábio Noia, atual chefe do tráfico no bairro mesmo enclausurado. Com base em escutas, os policiais asseguram que ela usava os veículos para transportar drogas.
- Lidiane, 25 anos – É apontada pela polícia como gerente de boca. Namoraria Fabiano Bastos Rodrigues, o Cabeludo, traficante preso. Suas ações chamaram a atenção pela estrutura: de uma TV de plasma no quarto, ela acompanhava a movimentação da boca por circuito fechado.
- Ariana, 24 anos – É namorada de Róbson Magaiver Fernandes, 21 anos, gerente de uma boca de fumo no Mathias Velho. Conforme a polícia, Ariana repassaria a varejistas a droga fornecida por Angélica e Cleusa.
Em vez de voz grossa e barba na cara, apliques de mega hair, luzes no cabelo, blusas de marca e batom. Com os bandidos trancafiados em presídios, o crime, no bairro Mathias Velho, um dos mais populosos de Canoas, teria passado a gerentes do sexo feminino.
Éo que assegura a Polícia Civil, que desencadeou, na quarta-feira passada, a Operação Paranoia a fim de impedir o crescimento do bando comandado de dentro da cadeia pelo traficante Fábio Rosa Carvalho, o Fábio Noia, e, assim, estancar uma onda de homicídios na região.
Os policiais prenderam oito mulheres e apreenderam uma adolescente – mais da metade dos 17 alvos da ação. Embora a proporção espante, a causa das prisões em Canoas não é novidade: 79,2% das 1.975 presidiárias do Estado estão presas por ligação com o tráfico, frequentemente influenciadas por namorados e companheiros.
Os principais alvos na quarta-feira eram mãe e filha: Cleusa, 36 anos, e sua primogênita, Angélica, 22 anos. As duas chamavam a atenção pelo padrão de vida, ao que a investigação indica, bancada pela ilegalidade. Elas ostentavam consumo e bens acima do padrão de muitos moradores – com elas, por exemplo, foram apreendidos um Civic, um Siena e um Fiesta.
Mulheres teriam controle de 60 bocas de fumo
Conforme os policiais, Cleusa e Angélica não tocavam em armas, mas contavam, para o trabalho sujo, com a segurança armada de dois homens, suspeitos de serem torturadores e carrascos de criminosos rivais.
– Com a prisão dos seus companheiros, Angélica e Cleusa estavam há meses controlando mais de 60 bocas de fumo do Mathias Velho – resume o delegado Eric Seixas, da 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas.
Desde maio, Cleusa e Angélica teriam passado para a linha de frente, quando foram presos Carlos Ezequiel Xavier, o Quel, 37 anos, companheiro de Cleusa, e Fábio Noia, namorado de Angélica, que responde por homicídio. Quel, preso como suspeito de assalto a um condomínio, seria um financiador do bando. Com dinheiro de roubos ele compraria carregamentos de drogas administradas por Fábio Noia. Por trás disso tudo, haveria um consórcio recente com os Bala na Cara, uma das maiores quadrilhas de Porto Alegre.
Como era a hierarquia no crime
Mãe e filha teriam passado a gerenciar o comércio de crack e cocaína. Mas tão logo ascenderam, trocaram a perigosa vizinhança de rivais no Mathias Velho por imóveis e carros confortáveis em Nova Santa Rita. Interceptações telefônicas mostram Fábio Noia, desde o Presídio Central, repassando indicações para a namorada sobre entregas de drogas e armas a serem feitas na Grande Porto Alegre.
Outras duas presas, Ariana e Lidiane, apontadas pela Polícia Civil como “gerentes de boca”, seriam as repassadoras de crack para os varejistas da droga (vapozeiros).
A versão dos policiais sobre as quatro mulheres, amparada em depoimentos, gravações e apreensões, levou a Justiça a decretar a prisão preventiva delas. As demais presas na Operação Paranoia foram flagradas com armas ou drogas em casa. Duas não eram ligadas à quadrilha, mas a bandos rivais. Uma delas, flagrada com uma pistola calibre 38, seria a viúva de Mano Louco, o traficante executado para dar lugar ao namorado de Angélica.
Sinal de que a rivalidade violenta, e sempre à espreita, tampouco é exclusividade masculina.
As principais suspeitas
- Cleusa, 36 anos – A ligação de Cleusa com o crime viria desde o primeiro relacionamento, com um traficante já morto (o segundo teria sido com um representante comercial, com o qual teve uma filha). O terceiro relacionamento seria com o assaltante Carlos Ezequiel Xavier , o Quel, que seria o principal financiador do tráfico no Mathias Velho. Com a prisão dele, ela teria passado a controlar os negócios da família. Basicamente, a distribuição de drogas no bairro.
- Angélica, 22 anos – Filha de Cleusa. Como a mãe, Angélica teria sido companheira de um traficante assassinado – Jaré Lima da Rosa, o Jareco. O peculiar é que ela teria passado a namorar justamente o principal suspeito de ordenar a morte do seu ex: Fábio Noia, atual chefe do tráfico no bairro mesmo enclausurado. Com base em escutas, os policiais asseguram que ela usava os veículos para transportar drogas.
- Lidiane, 25 anos – É apontada pela polícia como gerente de boca. Namoraria Fabiano Bastos Rodrigues, o Cabeludo, traficante preso. Suas ações chamaram a atenção pela estrutura: de uma TV de plasma no quarto, ela acompanhava a movimentação da boca por circuito fechado.
- Ariana, 24 anos – É namorada de Róbson Magaiver Fernandes, 21 anos, gerente de uma boca de fumo no Mathias Velho. Conforme a polícia, Ariana repassaria a varejistas a droga fornecida por Angélica e Cleusa.
sábado, 20 de agosto de 2011
TRAFICANDO 500 SELOS DE LSD
Traficante é preso com 500 selos de LSD que seriam comercializados em festa - 19/08/2011 23:17
Agentes da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) prenderam um traficante com 500 selos de LSD nesta sexta-feira (19/8). Segundo a polícia, a droga seria comercializada durante uma festa no Jardim Botânico neste fim de semana.
De acordo com o delegado Luiz Gratão, chefe da Cord, o traficante Bruno da Silva Varão, 25 anos, comprava a droga em Goiás para revendê-la em festas do Distrito Federal. "O LSD é mais barato em Goiânia, então ele comprava lá e voltava em transporte ilegal", contou.
A polícia chegou ao traficante após um mês de investigação. Bruno foi preso em frente à sua casa em Taguatinga Norte, quando voltava de uma das viagens a Goiânia. A droga foi encontrada em seu bolso e, segundo o delegado, cada selo seria vendido por R$ 40. "Ele ganharia R$ 20 mil com a venda", avaliou.
Bruno Varão não tinha passagens pela polícia e responderá por tráfico de drogas.
CRACK - EX-EMPRESÁRIO PERDEU TUDO O QUE TINHA
Ex-empresário conta como o crack o fez perder tudo o que tinha - Saulo Araújo - CORREIO BRAZILIENSE, 20/08/2011 08:00
"Estou longe das drogas há quase um ano e tento recuperar minha vida. Meu casamento acabou, meu filhos sentem vergonha de mim, roubei, tentei suicídio, amigos me viraram as costas"
Paulo Lúcio da Costa, hoje com 55 anos, viu tudo o que tinha conquistado na vida ser dizimado pelo crack. Ele trabalhava vendendo remédios homeopáticos, ganhava mais de R$ 3 mil por mês, mas faliu por não conseguir controlar o vício. Desesperado por não ter mais dinheiro para comprar as pedras da droga, Paulo fez um empréstimo de quase R$ 6 mil, que até hoje não conseguiu pagar. Em um lapso de sensatez, decidiu resgatar sua dignidade. Vendeu a casa que tinha e comprou uma loja de sapatos em Planaltina. Virou empreendedor. As vendas iam bem, até que Paulo teve uma recaída que lhe custou a curta carreira de microempresário.
Novamente afundado no submundo do crack, viu sua vida desandar pela segunda vez. Passou a viver na rua, quase morreu nas mãos de traficantes. Contrariando o padrão de um viciado em crack, conseguiu, espontaneamente, procurar por tratamento no Caps AD de Santa Maria. “Ou eu procurava ajuda ou me entregava para a morte. E eu não queria morrer daquela forma”, contou Paulo ao Correio.
Hoje, o ex-empresário mora de favor na casa de uma sobrinha, no Gama. O homem que já teve casa e carro próprios se sustenta com um salário mínimo (R$ 545) que recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por ter contraído úlcera varicosa, doença que provoca grandes feridas nas pernas. Mesmo não resgatando seu padrão financeiro, ele diz atravessar a fase mais feliz de sua vida.
“Limpo”
Há mais de um ano “limpo”, Paulo Lúcio passou a integrar recentemente a equipe de voluntários do Programa de Redução de Danos da Secretaria de Saúde do DF, que consiste em tentar evitar que usuários de drogas contraiam doenças como HIV, hepatite e sífilis. O redutor de dano atua levando aos viciados um kit que contém cachimbo individual para fumar crack, canudo para aspirar cocaína, seringa individual para aplicação de drogas injetáveis, preservativo e protetor labial.
A coordenadora substituta do Caps AD de Santa Maria, Deise de Almeida Gomes, explica que a distribuição do kit não é um estímulo aos dependentes de entorpecentes. A intenção é preservar a saúde do usuário, caso ele decida abandonar o vício. “Muitas vezes o dependente aceita o tratamento, mas, aí, já está com várias doenças que poderiam ser evitadas se ele tomasse alguns cuidados. A ideia desse projeto é possibilitar a recuperação da pessoa sem que ela esteja doente”, explicou Deise.
Paulo Lúcio já distribuiu centenas de kits para viciados nas cracolândias do DF e explica que a entrega dos objetos é acompanhada de um duro discurso. “Eu entrego o kit, ensino como a pessoa deve usar, mas falo para ela que se ela não sair dessa vida, vai morrer. Explico que o pulmão dela vai parar, que ela vai ter problemas cerebrais, que ela vai ter uma overdose e que ela é uma forte candidata a ir para o caixão. Nesse trabalho que executamos com eles, não podemos ter dó.”
DEPOIMENTO - "Abri a porta do cemitério e só não entrei por muito pouco" - Luiz (Nome fictício a pedido do entrevistado), 35 anos.
“Joguei fora duas carreiras promissoras por conta do crack. Era jogador habilidoso. Eu fazia parte do grupo do Gama em 1998, quando o time conquistou a Série B do Campeonato Brasileiro e entrou para a elite do futebol nacional. Joguei poucas partidas, mas estava lá. Naquela época, já vivia às voltas com a cocaína e com a merla. Perdi espaço no time e fui dispensado. Ainda lutava contra o vício da merla e da cocaína quando assinei contrato com o Samambaia Futebol Clube. Eu conciliava a carreira de atleta com a de vigilante. Com as funções, eu ganhava mais de R$ 2 mil por mês. Mas há quatro anos eu cheguei ao fundo do poço com o crack. Se já era difícil me manter longe da cocaína e da merla, impossível com o crack.
Passei a trabalhar drogado. No serviço armado, fiz até roleta-russa apontando a arma para minha cabeça e apertando o gatilho. Tentei suicídio algumas outras vezes. Primeiro deixei o futebol. O salário de R$ 1,7 mil como vigilante era todo gasto em pedras e mais pedras. Cheguei ao ponto de vender televisão, aparelho de som e geladeira de casa para comprar droga. No auge da abstinência, assaltei uma mulher e roubei sua bolsa. Fui preso em flagrante e condenado a quatro anos de prisão. Passei apenas uma semana na cadeia, pois a família conseguiu um advogado que entrou com pedido de soltura. A sorte foi eu não ter sido demitido. Me encaminharam para tratamento e graças a Deus, hoje, estou encostado pelo INSS recebendo auxílio-doença no valor do meu salário como vigilante.
Estou longe das drogas há quase um ano e tento recuperar minha vida. Meu casamento acabou, meu filhos sentem vergonha de mim, roubei, tentei suicídio, amigos me viraram as costas. Abri a porta do cemitério e só não entrei por muito pouco.”
"Estou longe das drogas há quase um ano e tento recuperar minha vida. Meu casamento acabou, meu filhos sentem vergonha de mim, roubei, tentei suicídio, amigos me viraram as costas"
Paulo Lúcio da Costa, hoje com 55 anos, viu tudo o que tinha conquistado na vida ser dizimado pelo crack. Ele trabalhava vendendo remédios homeopáticos, ganhava mais de R$ 3 mil por mês, mas faliu por não conseguir controlar o vício. Desesperado por não ter mais dinheiro para comprar as pedras da droga, Paulo fez um empréstimo de quase R$ 6 mil, que até hoje não conseguiu pagar. Em um lapso de sensatez, decidiu resgatar sua dignidade. Vendeu a casa que tinha e comprou uma loja de sapatos em Planaltina. Virou empreendedor. As vendas iam bem, até que Paulo teve uma recaída que lhe custou a curta carreira de microempresário.
Novamente afundado no submundo do crack, viu sua vida desandar pela segunda vez. Passou a viver na rua, quase morreu nas mãos de traficantes. Contrariando o padrão de um viciado em crack, conseguiu, espontaneamente, procurar por tratamento no Caps AD de Santa Maria. “Ou eu procurava ajuda ou me entregava para a morte. E eu não queria morrer daquela forma”, contou Paulo ao Correio.
Hoje, o ex-empresário mora de favor na casa de uma sobrinha, no Gama. O homem que já teve casa e carro próprios se sustenta com um salário mínimo (R$ 545) que recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por ter contraído úlcera varicosa, doença que provoca grandes feridas nas pernas. Mesmo não resgatando seu padrão financeiro, ele diz atravessar a fase mais feliz de sua vida.
“Limpo”
Há mais de um ano “limpo”, Paulo Lúcio passou a integrar recentemente a equipe de voluntários do Programa de Redução de Danos da Secretaria de Saúde do DF, que consiste em tentar evitar que usuários de drogas contraiam doenças como HIV, hepatite e sífilis. O redutor de dano atua levando aos viciados um kit que contém cachimbo individual para fumar crack, canudo para aspirar cocaína, seringa individual para aplicação de drogas injetáveis, preservativo e protetor labial.
A coordenadora substituta do Caps AD de Santa Maria, Deise de Almeida Gomes, explica que a distribuição do kit não é um estímulo aos dependentes de entorpecentes. A intenção é preservar a saúde do usuário, caso ele decida abandonar o vício. “Muitas vezes o dependente aceita o tratamento, mas, aí, já está com várias doenças que poderiam ser evitadas se ele tomasse alguns cuidados. A ideia desse projeto é possibilitar a recuperação da pessoa sem que ela esteja doente”, explicou Deise.
Paulo Lúcio já distribuiu centenas de kits para viciados nas cracolândias do DF e explica que a entrega dos objetos é acompanhada de um duro discurso. “Eu entrego o kit, ensino como a pessoa deve usar, mas falo para ela que se ela não sair dessa vida, vai morrer. Explico que o pulmão dela vai parar, que ela vai ter problemas cerebrais, que ela vai ter uma overdose e que ela é uma forte candidata a ir para o caixão. Nesse trabalho que executamos com eles, não podemos ter dó.”
DEPOIMENTO - "Abri a porta do cemitério e só não entrei por muito pouco" - Luiz (Nome fictício a pedido do entrevistado), 35 anos.
“Joguei fora duas carreiras promissoras por conta do crack. Era jogador habilidoso. Eu fazia parte do grupo do Gama em 1998, quando o time conquistou a Série B do Campeonato Brasileiro e entrou para a elite do futebol nacional. Joguei poucas partidas, mas estava lá. Naquela época, já vivia às voltas com a cocaína e com a merla. Perdi espaço no time e fui dispensado. Ainda lutava contra o vício da merla e da cocaína quando assinei contrato com o Samambaia Futebol Clube. Eu conciliava a carreira de atleta com a de vigilante. Com as funções, eu ganhava mais de R$ 2 mil por mês. Mas há quatro anos eu cheguei ao fundo do poço com o crack. Se já era difícil me manter longe da cocaína e da merla, impossível com o crack.
Passei a trabalhar drogado. No serviço armado, fiz até roleta-russa apontando a arma para minha cabeça e apertando o gatilho. Tentei suicídio algumas outras vezes. Primeiro deixei o futebol. O salário de R$ 1,7 mil como vigilante era todo gasto em pedras e mais pedras. Cheguei ao ponto de vender televisão, aparelho de som e geladeira de casa para comprar droga. No auge da abstinência, assaltei uma mulher e roubei sua bolsa. Fui preso em flagrante e condenado a quatro anos de prisão. Passei apenas uma semana na cadeia, pois a família conseguiu um advogado que entrou com pedido de soltura. A sorte foi eu não ter sido demitido. Me encaminharam para tratamento e graças a Deus, hoje, estou encostado pelo INSS recebendo auxílio-doença no valor do meu salário como vigilante.
Estou longe das drogas há quase um ano e tento recuperar minha vida. Meu casamento acabou, meu filhos sentem vergonha de mim, roubei, tentei suicídio, amigos me viraram as costas. Abri a porta do cemitério e só não entrei por muito pouco.”
CRACK ESCALA A PIRÂMIDE SOCIAL
Crack escala a pirâmide social e é cada vez mais utilizada na classe média - Saulo Araújo - CORREIO BRAZILIENSE, 20/08/2011 08:00
Durante muito tempo, o crack esteve associado aos miseráveis e excluídos. O perfil do usuário era sempre o mesmo: jovens pobres, da periferia ou mesmo moradores de rua, sem instrução e com poucos recursos para deixar a situação degradante em que se encontram. Hoje, quatro anos depois que a droga invadiu a capital da República, a realidade é bem diferente. A mistura mortal de pasta de coca, bicarbonato de sódio e água devasta cada vez mais a vida de pessoas adultas, escolarizadas e com razoável padrão financeiro.
No Distrito Federal, quem procura tratamento nas unidades públicas são homens e mulheres que entraram no submundo da mais barata e devastadora das drogas apesar da confortável situação financeira. O diagnóstico é traçado por uma pesquisa inédita desenvolvida no curso de biomedicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). No levantamento, foram entrevistados 100 usuários de crack que passam por tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas do DF (Caps ADs). E o dado é alarmante: mais da metade (52%) dos dependentes que procuram ajuda têm emprego fixo, com renda mensal entre R$ 1,1 mil e R$ 3 mil. Os números são a prova cabal de que o crack invadiu sim os lares da classe média brasiliense.
Outro dado que chama a atenção se refere à escolaridade. Quase 30% dos viciados em tratamento concluíram o ensino médio e 9% cursam uma faculdade. Para o autor do estudo, denominado “Caracterização da Cultura do Crack no DF”, os resultados comprovam que uma epidemia sem precedentes se instalou no Distrito Federal. “Sinceramente, as respostas me surpreenderam, pois fica claro que o crack já não respeita mais aspectos socioeconômicos, idade e nível de instrução escolar”, define o pesquisador Aurélio Matos Andrade, que passou mais de um ano desenvolvendo o trabalho.
A partir de hoje, na série de reportagens “A droga que consome Brasília”, o Correio mostra como há quatro anos o crack chegou ao DF e, diante da inércia do poder público, enraizou-se em quase todas as cidades, ceifando vidas e destruindo famílias.
Faixa etária
Os entrevistados que responderam aos questionários da pesquisa fazem acompanhamento nos Caps ADs do Guará e de Sobradinho II, os dois maiores centros de tratamento público do DF. A faixa etária das pessoas que buscam ajuda também difere do público que o brasiliense se acostumou a ver nas ruas, formado, em sua maioria, por crianças e adolescentes que passam os dias se drogando. Aqueles que recebem assistência dos psicólogos, psiquiatras e terapeutas apresentam idade mais avançada: 35% têm entre 25 e 35 anos; 30% entre 35 e 45 anos e 12% já passaram da casa dos 45 anos. Os outros 23% são formados por adolescentes e jovens na faixa etária entre 15 e 25 anos.
Na avaliação do pesquisador, a justificativa para esse cenário encontra fundamento no amparo da família. Ele acredita ainda que há muitos anos essas pessoas lutam para se libertar do vício das drogas. “Elas começaram a usar outros tipos de droga muito cedo e, agora, entraram no crack. Estão em tratamento porque possuem uma família estruturada e também porque já adquiriram experiência de vida suficiente para saber que chegou a hora de dar um basta nas drogas”, analisou Aurélio.
Para o professor Ronald Lamas, que orientou o estudo, a pesquisa reforça o que todos já sabem: o crack tornou-se um problema crônico de saúde pública que não faz mais distinção de classe social. “Atravessamos uma grande epidemia no Brasil, e, me arrisco a dizer, uma pandemia mundial. Não podemos esquecer que o Brasil teve grandes avanços, com programas consolidados nessa área, mas é fato que ainda falta muito investimento. Assistimos à descontinuidade de projetos por conta de ideologias partidárias, e isso tem de acabar se quisermos reduzir o impacto que a droga causa na sociedade”, avaliou Lemas, que é professor de biomedicina e pós-graduado em política e gestão em sistemas de saúde.
Preço baixo
A pedra de crack hoje é vendida por preços que variam de R$ 10 a R$ 20. Mas, em alguns lugares, a unidade da droga pode ser encontrada por R$ 5.
Resistência
O Distrito Federal foi um dos últimos lugares no país a ser invadido pelo crack. Até 2007, aqui era território da merla, outro produto da pasta-base de cocaína, consumido por usuários de periferia. Entre os jovens de classe média, era o ecstasy que passava de bolso em bolso para embalar festas.
Durante muito tempo, o crack esteve associado aos miseráveis e excluídos. O perfil do usuário era sempre o mesmo: jovens pobres, da periferia ou mesmo moradores de rua, sem instrução e com poucos recursos para deixar a situação degradante em que se encontram. Hoje, quatro anos depois que a droga invadiu a capital da República, a realidade é bem diferente. A mistura mortal de pasta de coca, bicarbonato de sódio e água devasta cada vez mais a vida de pessoas adultas, escolarizadas e com razoável padrão financeiro.
No Distrito Federal, quem procura tratamento nas unidades públicas são homens e mulheres que entraram no submundo da mais barata e devastadora das drogas apesar da confortável situação financeira. O diagnóstico é traçado por uma pesquisa inédita desenvolvida no curso de biomedicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). No levantamento, foram entrevistados 100 usuários de crack que passam por tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas do DF (Caps ADs). E o dado é alarmante: mais da metade (52%) dos dependentes que procuram ajuda têm emprego fixo, com renda mensal entre R$ 1,1 mil e R$ 3 mil. Os números são a prova cabal de que o crack invadiu sim os lares da classe média brasiliense.
Outro dado que chama a atenção se refere à escolaridade. Quase 30% dos viciados em tratamento concluíram o ensino médio e 9% cursam uma faculdade. Para o autor do estudo, denominado “Caracterização da Cultura do Crack no DF”, os resultados comprovam que uma epidemia sem precedentes se instalou no Distrito Federal. “Sinceramente, as respostas me surpreenderam, pois fica claro que o crack já não respeita mais aspectos socioeconômicos, idade e nível de instrução escolar”, define o pesquisador Aurélio Matos Andrade, que passou mais de um ano desenvolvendo o trabalho.
A partir de hoje, na série de reportagens “A droga que consome Brasília”, o Correio mostra como há quatro anos o crack chegou ao DF e, diante da inércia do poder público, enraizou-se em quase todas as cidades, ceifando vidas e destruindo famílias.
Faixa etária
Os entrevistados que responderam aos questionários da pesquisa fazem acompanhamento nos Caps ADs do Guará e de Sobradinho II, os dois maiores centros de tratamento público do DF. A faixa etária das pessoas que buscam ajuda também difere do público que o brasiliense se acostumou a ver nas ruas, formado, em sua maioria, por crianças e adolescentes que passam os dias se drogando. Aqueles que recebem assistência dos psicólogos, psiquiatras e terapeutas apresentam idade mais avançada: 35% têm entre 25 e 35 anos; 30% entre 35 e 45 anos e 12% já passaram da casa dos 45 anos. Os outros 23% são formados por adolescentes e jovens na faixa etária entre 15 e 25 anos.
Na avaliação do pesquisador, a justificativa para esse cenário encontra fundamento no amparo da família. Ele acredita ainda que há muitos anos essas pessoas lutam para se libertar do vício das drogas. “Elas começaram a usar outros tipos de droga muito cedo e, agora, entraram no crack. Estão em tratamento porque possuem uma família estruturada e também porque já adquiriram experiência de vida suficiente para saber que chegou a hora de dar um basta nas drogas”, analisou Aurélio.
Para o professor Ronald Lamas, que orientou o estudo, a pesquisa reforça o que todos já sabem: o crack tornou-se um problema crônico de saúde pública que não faz mais distinção de classe social. “Atravessamos uma grande epidemia no Brasil, e, me arrisco a dizer, uma pandemia mundial. Não podemos esquecer que o Brasil teve grandes avanços, com programas consolidados nessa área, mas é fato que ainda falta muito investimento. Assistimos à descontinuidade de projetos por conta de ideologias partidárias, e isso tem de acabar se quisermos reduzir o impacto que a droga causa na sociedade”, avaliou Lemas, que é professor de biomedicina e pós-graduado em política e gestão em sistemas de saúde.
Preço baixo
A pedra de crack hoje é vendida por preços que variam de R$ 10 a R$ 20. Mas, em alguns lugares, a unidade da droga pode ser encontrada por R$ 5.
Resistência
O Distrito Federal foi um dos últimos lugares no país a ser invadido pelo crack. Até 2007, aqui era território da merla, outro produto da pasta-base de cocaína, consumido por usuários de periferia. Entre os jovens de classe média, era o ecstasy que passava de bolso em bolso para embalar festas.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
AS GERENTES DO TRÁFICO
GUERRA DO TRÁFICO. Mulheres suspeitas de gerenciar quadrilhas. Namoradas de presos teriam assegurado o controle de bairro em Canoas - EDUARDO TORRES, zero hora 18/08/2011
A Operação Paranoia, uma ofensiva da Polícia Civil contra a quadrilha que comandava o tráfico de drogas no bairro Mathias Velho, em Canoas, prendeu 17 pessoas ontem. Destas, oito eram mulheres. Sob ordens dos namorados trancafiados, elas teriam mantido a “empresa” funcionando.
Além dos 17 presos, outros dois adolescentes foram apreendidos. Todos são suspeitos de participar do bando liderado pelo traficante Fábio Rosa Carvalho, o Fábio Noia, preso no Presídio Central.
Nos postos mais altos da quadrilha, duas mulheres teriam papel de destaque. Angélica Ferreira Rodrigues, 22 anos, seria namorada de Fábio Noia, e a mãe dela, Cleusa Martins Ferreira, 36 anos, ex-mulher de Carlos Ezequiel Xavier, traficante conhecido como Quel, que cumpre pena por assalto a um condomínio e seria um dos financiadores do grupo. Mãe e filha, suspeitas de atuar como gerentes da quadrilha, foram presas ontem assim como outras seis mulheres.
Líder executou rival durante fuga do semiabero
De acordo com o titular da 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas, delegado Eric Seixas, um dos objetivos da operação é estancar os homicídio da guerra do tráfico no local. O grupo responderia, segundo a polícia, pela maioria dos 27 homicídios deste ano no Mathias Velho.
– Nós tínhamos dado um golpe neles, mas da cadeia eles mantiveram seus contatos e o grupo continuou no comando. Agora, esperamos ter desarticulado o que sobrou da quadrilha – afirmou Eric.
O medo de quem mora ali é que o “rodízio” do tráfico apenas mude de mãos com a ação da polícia, como de praxe. Fábio Noia e seu bando haviam chegado ao poder com a execução de Irineu Antônio de Oliveira, o Mano Louco, 36 anos, em março. Três meses depois, Fábio Noia foi preso em Tramandaí.
A Polícia Civil divulgou vídeo (ver quadro abaixo) que mostra a execução de Mano Louco em um minimercado. A emboscada teria sido articulada por Fábio Noia durante uma fuga do Instituto Penal de Viamão, em que ele cumpria pena no regime semiaberto, mas fugia durante a noite. No dia 5 de março, o assassinato teria sido executado por um segurança do traficante e um comparsa.
A Operação Paranoia mobilizou 200 policiais em Canoas, Nova Santa Rita e na Vila Santa Rosa, em Porto Alegre.
Imagens de câmera de segurança captam a execução de Mano Louco - DIÁRIO GAÚCHO.
Execução do traficante Irineu Antônio de Oliveira, o Mano Louco, 36 anos, no dia 5 de março de 2011, por Fábio Nóia e seus aliados. Mano Louco comandava o tráfico no Bairro Mathias Velho, em Canoas, até então.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
TRÁFICO DESARTICULADO EM PELOTAS/RS
AÇÃO NO SUL. Operação desarticula tráfico em Pelotas - RAFAEL DIVERIO, ZERO HORA 17/08/2011
Dois anos depois de deflagrar a Operação Castelo, que prendeu 68 pessoas na zona sul do Estado em 2009, a Polícia Federal voltou a agir contra o tráfico internacional na região. Denominada Operação Torre, a segunda investida da PF resultou na prisão, em Pelotas, de 15 pessoas pertencentes a cinco quadrilhas com conexão internacional e apreendeu drogas, veículos e mais de R$ 18 mil em dinheiro.
As prisões ocorreram durante a madrugada, sem resistência dos suspeitos. Em dois casos, foi registrado flagrante por tráfico de entorpecentes.
Segundo o delegado Cássio Berg, o esquema começava no Paraguai e na Bolívia, passava por Tramandaí e chegava ao sul do Estado. A praia do Litoral Norte seria um entreposto para a distribuição pelo Estado.
Além disso, Berg confirmou que um laboratório para a confecção das drogas estava prestes a ser montado pela quadrilha em Gravataí, na Região Metropolitana. Em Pelotas, ontem, a PF apreendeu 4,3 quilos de crack, 6,5 quilos de cocaína e cinco quilos de maconha. Oito automóveis e cinco motos foram confiscados, bem como R$ 18.804,50.
O comércio funcionava no atacado e no varejo, segundo o delegado Alexandre Paulli, que comandou a ação. Nos vídeos gravados e divulgados pela polícia, há imagens de traficantes agindo no centro da cidade, à luz do dia.
– Eles eram muito caras-de-pau. Vendiam drogas até em frente a supermercados. Era a crença na impunidade – comenta Berg.
As investigações se iniciaram em dezembro de 2010. Segundo a polícia, parte dos suspeitos ocupou o espaço, dentro de quadrilhas, de alguns que já haviam sido retirados de circulação durante a Operação Castelo. Eles seriam desde “funcionários” e até clientes dos grupos. Os nomes dos presos não foram divulgados.
RBS Notícias - Quadrilha de tráfico de drogas foi desarticulada em Pelotas, 16/8/2011.
Uma quadrilha de tráfico internacional de drogas foi desarticulada em Pelotas, no sul do Estado. Nesta tarde, foram apreendidas oito malas com cocaína no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
Dois anos depois de deflagrar a Operação Castelo, que prendeu 68 pessoas na zona sul do Estado em 2009, a Polícia Federal voltou a agir contra o tráfico internacional na região. Denominada Operação Torre, a segunda investida da PF resultou na prisão, em Pelotas, de 15 pessoas pertencentes a cinco quadrilhas com conexão internacional e apreendeu drogas, veículos e mais de R$ 18 mil em dinheiro.
As prisões ocorreram durante a madrugada, sem resistência dos suspeitos. Em dois casos, foi registrado flagrante por tráfico de entorpecentes.
Segundo o delegado Cássio Berg, o esquema começava no Paraguai e na Bolívia, passava por Tramandaí e chegava ao sul do Estado. A praia do Litoral Norte seria um entreposto para a distribuição pelo Estado.
Além disso, Berg confirmou que um laboratório para a confecção das drogas estava prestes a ser montado pela quadrilha em Gravataí, na Região Metropolitana. Em Pelotas, ontem, a PF apreendeu 4,3 quilos de crack, 6,5 quilos de cocaína e cinco quilos de maconha. Oito automóveis e cinco motos foram confiscados, bem como R$ 18.804,50.
O comércio funcionava no atacado e no varejo, segundo o delegado Alexandre Paulli, que comandou a ação. Nos vídeos gravados e divulgados pela polícia, há imagens de traficantes agindo no centro da cidade, à luz do dia.
– Eles eram muito caras-de-pau. Vendiam drogas até em frente a supermercados. Era a crença na impunidade – comenta Berg.
As investigações se iniciaram em dezembro de 2010. Segundo a polícia, parte dos suspeitos ocupou o espaço, dentro de quadrilhas, de alguns que já haviam sido retirados de circulação durante a Operação Castelo. Eles seriam desde “funcionários” e até clientes dos grupos. Os nomes dos presos não foram divulgados.
RBS Notícias - Quadrilha de tráfico de drogas foi desarticulada em Pelotas, 16/8/2011.
Uma quadrilha de tráfico internacional de drogas foi desarticulada em Pelotas, no sul do Estado. Nesta tarde, foram apreendidas oito malas com cocaína no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
OITO MALAS COM COCAÍNA
PF apreende oito malas com cocaína no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Dois homens e uma mulher foram presos em flagrante - ZERO HORA ONLINE, 16/08/2011 | 15h15min
A Polícia Federal (PF) apreendeu no final da manhã desta terça-feira oito malas que continham cocaína no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Análise na droga apontou alto grau de pureza.
A abordagem foi realizada durante inspeção de rotina.Os agentes da PF desconfiaram dos passageiros e acionaram a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que localizou a droga. Dois homens e uma mulher foram presos em flagrante.
Os homens são naturais de Pinheiro (MA) e Porto Velho (RO) e têm 28 e 34 anos, respectivamente. A mulher é natural de Florianópolis (SC) e tem 22 anos. Além das quatro malas grandes e quatro pequenas, os policiais também apreenderam a quantia de mil euros.
O trio vinha de Porto Velho (RO) em voo com conexão em São Paulo (SP) e foi abordado enquanto desembarcava em Porto Alegre (RS). Eles ainda seguiriam viagem até a cidade de Florianópolis (SC).
— Eles estavam em um voo da classe econômica, desses que vai parando em vários lugares. E essa droga possivelmente vem da Bolívia, até pela proximidade do local de origem desse trio, que partiu Rondônia — explicou o titular da DRE, delegado Mário Luiz Vieira.
A DRE investigará a possível conexão de envio da droga para a Europa. A PF deverá confirmar a pesagem da droga assim que for extraída das bagagens durante o trabalho de perícia.
A Polícia Federal (PF) apreendeu no final da manhã desta terça-feira oito malas que continham cocaína no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Análise na droga apontou alto grau de pureza.
A abordagem foi realizada durante inspeção de rotina.Os agentes da PF desconfiaram dos passageiros e acionaram a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que localizou a droga. Dois homens e uma mulher foram presos em flagrante.
Os homens são naturais de Pinheiro (MA) e Porto Velho (RO) e têm 28 e 34 anos, respectivamente. A mulher é natural de Florianópolis (SC) e tem 22 anos. Além das quatro malas grandes e quatro pequenas, os policiais também apreenderam a quantia de mil euros.
O trio vinha de Porto Velho (RO) em voo com conexão em São Paulo (SP) e foi abordado enquanto desembarcava em Porto Alegre (RS). Eles ainda seguiriam viagem até a cidade de Florianópolis (SC).
— Eles estavam em um voo da classe econômica, desses que vai parando em vários lugares. E essa droga possivelmente vem da Bolívia, até pela proximidade do local de origem desse trio, que partiu Rondônia — explicou o titular da DRE, delegado Mário Luiz Vieira.
A DRE investigará a possível conexão de envio da droga para a Europa. A PF deverá confirmar a pesagem da droga assim que for extraída das bagagens durante o trabalho de perícia.
NEGOCIA A CASA PARA FUGIR DE TRAFICANTES
REFÉM DA DROGA. Jovem negocia casa para fugir de traficantes - LETÍCIA BARBIERI, zero hora 16/08/2011
A Delegacia da Polícia Civil de São Sebastião do Caí foi invadida na manhã de ontem por um jovem de 20 anos pedindo socorro. Segundo o rapaz, foi uma alternativa desesperada para se livrar de traficantes, que caminhavam com ele rumo a um cartório em que ele passaria aos criminosos um imóvel em troca da sua liberdade.
– Foi tudo muito rápido, nós estávamos entrando da DP e ele trombou comigo. Pedia por socorro – conta a escrivã Simone Ribeiro.
O martírio do rapaz teria começado na quinta-feira quando, viciado em crack, ele teve uma recaída e buscou uma boca de fumo. Sem dinheiro, o jovem de 20 anos ofereceu um celular aos traficantes, em troca de droga. Diante da negativa, ele colocou em negociação a casa da família, na Vila São Martim, por R$ 10 mil.
A oferta interessou ao traficante, que manteve o rapaz trancado na boca de fumo desde a noite de quinta-feira até ontem de manhã, quando o conduzia até o cartório para a transferência do imóvel. Ao criminoso, o rapaz disse que a casa estava em seu nome. Estaria, entretanto, no nome do seu pai, já falecido.
Rapaz correu na direção dos policiais, pedindo socorro
No caminho do cartório, porém, estava a delegacia. Em um momento de distração do traficante, o jovem conseguiu correr em busca dos policiais e gritar por socorro. A agilidade dos agentes garantiu a prisão da mulher, comparsa do traficante, que os acompanhava. Com Claudia Darliani Pons Meirelles, 21 anos, foi encontrado um revólver calibre 38. Acabou presa em flagrante por cárcere privado, porte ilegal de arma e receptação (a arma estava em ocorrência de furto desde 1998). A mulher foi encaminhada à Penitenciária Modulada de Montenegro.
– Ela nega o cárcere, diz que era uma negociação e que eles teriam pago R$ 5 mil pelo terreno com a casa, mas não existe o dinheiro. O rapaz relata que queria sair e não conseguia, que estava sendo obrigado a ir ao cartório sob ameaça de uma arma – expõe a delegada Cleusa Spinato.
Até uma falsa testemunha o traficante havia arrumado para ir junto ao cartório. Lá, não se sabe como se desenrolaria a história. A casa de alvenaria, de quatro cômodos, estava desocupada.
– Acho que eles teriam dificuldades de concretizar uma coisa dessa forma, alguém do cartório desconfiaria – acredita a delegada.
A Delegacia da Polícia Civil de São Sebastião do Caí foi invadida na manhã de ontem por um jovem de 20 anos pedindo socorro. Segundo o rapaz, foi uma alternativa desesperada para se livrar de traficantes, que caminhavam com ele rumo a um cartório em que ele passaria aos criminosos um imóvel em troca da sua liberdade.
– Foi tudo muito rápido, nós estávamos entrando da DP e ele trombou comigo. Pedia por socorro – conta a escrivã Simone Ribeiro.
O martírio do rapaz teria começado na quinta-feira quando, viciado em crack, ele teve uma recaída e buscou uma boca de fumo. Sem dinheiro, o jovem de 20 anos ofereceu um celular aos traficantes, em troca de droga. Diante da negativa, ele colocou em negociação a casa da família, na Vila São Martim, por R$ 10 mil.
A oferta interessou ao traficante, que manteve o rapaz trancado na boca de fumo desde a noite de quinta-feira até ontem de manhã, quando o conduzia até o cartório para a transferência do imóvel. Ao criminoso, o rapaz disse que a casa estava em seu nome. Estaria, entretanto, no nome do seu pai, já falecido.
Rapaz correu na direção dos policiais, pedindo socorro
No caminho do cartório, porém, estava a delegacia. Em um momento de distração do traficante, o jovem conseguiu correr em busca dos policiais e gritar por socorro. A agilidade dos agentes garantiu a prisão da mulher, comparsa do traficante, que os acompanhava. Com Claudia Darliani Pons Meirelles, 21 anos, foi encontrado um revólver calibre 38. Acabou presa em flagrante por cárcere privado, porte ilegal de arma e receptação (a arma estava em ocorrência de furto desde 1998). A mulher foi encaminhada à Penitenciária Modulada de Montenegro.
– Ela nega o cárcere, diz que era uma negociação e que eles teriam pago R$ 5 mil pelo terreno com a casa, mas não existe o dinheiro. O rapaz relata que queria sair e não conseguia, que estava sendo obrigado a ir ao cartório sob ameaça de uma arma – expõe a delegada Cleusa Spinato.
Até uma falsa testemunha o traficante havia arrumado para ir junto ao cartório. Lá, não se sabe como se desenrolaria a história. A casa de alvenaria, de quatro cômodos, estava desocupada.
– Acho que eles teriam dificuldades de concretizar uma coisa dessa forma, alguém do cartório desconfiaria – acredita a delegada.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
AMEAÇA AO PROGRAMA ANTICRACK
-OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 15/08/2011
Seguindo a trilha aberta pela prefeitura do Rio de Janeiro, que passou a promover a internação compulsória de moradores de rua - inclusive menores de idade - viciados em crack, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o governo federal poderá ajudar financeiramente os Estados e municípios que adotarem a mesma estratégia. Em São Paulo, a Secretaria de Negócios Jurídicos da Prefeitura divulgou, há duas semanas, um parecer técnico que dá a base jurídica para a implementação dessa política, por parte das Secretarias Municipais da Saúde e de Assistência Social.
Preparado pela Procuradoria-Geral do Município, o parecer afirma que toxicômanos são considerados civilmente incapazes pela legislação em vigor, podendo assim ser levados à avaliação de um psiquiatra mesmo contra a vontade, desde que haja avaliação clínica prévia e autorização da Justiça. O parecer também afirma que crianças e adolescentes viciados não têm capacidade para decidir o que querem fazer.
O argumento do ministro da Saúde é idêntico. Segundo Padilha, os viciados em crack, nos casos de dependência extrema, perdem o discernimento. "A internação clínica compulsória é ação de proteção à vida, desde que haja profissionais de saúde e de assistência social e após avaliação individual dos dependentes", diz ele.
O problema é que, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo as duas prefeituras mobilizaram-se institucionalmente para adotar essa estratégia, procurando agir de comum acordo com o Ministério Público e com os juízes das Varas da Infância e Juventude, em Brasília o ministro da Saúde não tem apoio nem mesmo na pasta que chefia. Subordinado a ele, o Departamento de Saúde Mental não chegou a um consenso sobre sua proposta. E esta, além disso, tem a oposição frontal da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).
Em entrevista concedida há três meses, quando anunciou a conclusão de uma pesquisa nacional sobre o consumo de drogas feita pela Senad, em colaboração com a Fiocruz e a Universidade de Princeton, a secretária Paulina Duarte afirmou que não há "epidemia de crack" e classificou como "pedagogia do terror" as campanhas institucionais contra o consumo de entorpecentes. "O que se tem no imaginário popular é que o Brasil está tomado pelo crack. Não há um exército de zumbis consumindo num só lugar, mas pequenas "cenas de uso". No levantamento, vimos pequenas cracolândias móveis, que migram em busca de melhores condições de sobrevivência. Combatem-se essas "cenas" com atendimento na rua, não com abordagem higienista, de recolher usuários", disse Paulina.
A divergência entre o ministro da Saúde e a chefe da Senad é só um dos aspectos da questão da internação compulsória de moradores de rua viciados. Outro aspecto envolve o financiamento dessa política. Embora a presidente Dilma Rousseff tenha afirmado durante a campanha eleitoral que o combate à droga seria uma das prioridades de sua gestão, desde sua posse o governo cortou pela metade as verbas previstas para o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack. Em audiência pública realizada recentemente no Congresso, a secretária Paulina Duarte deixou claro que, com o dinheiro à disposição, não conseguirá cumprir compromissos firmados no ano passado pelo governo do presidente Lula.
Desde então, dirigentes do Conselho Federal de Medicina (CFM) acusam Dilma de ser "incoerente com compromissos assumidos durante a campanha" e afirmam que o corte das verbas federais mostra que ela jamais teria considerado o combate às drogas prioritário. Integrante da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, o médico Ricardo Paiva diz que há um déficit de 7,5 mil leitos para atendimento de pacientes dependentes de crack que estão em fase de desintoxicação. "Existem atualmente 2,5 mil leitos e o próprio Ministério da Saúde afirma serem necessários 10 mil", afirma Paiva.
Com o abandono das promessas de campanha e as divergências entre ministros com relação a questões importantes, o governo Dilma aos poucos vai pecando pela falta de ações coerentes em áreas essenciais, como saúde e segurança.
Seguindo a trilha aberta pela prefeitura do Rio de Janeiro, que passou a promover a internação compulsória de moradores de rua - inclusive menores de idade - viciados em crack, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o governo federal poderá ajudar financeiramente os Estados e municípios que adotarem a mesma estratégia. Em São Paulo, a Secretaria de Negócios Jurídicos da Prefeitura divulgou, há duas semanas, um parecer técnico que dá a base jurídica para a implementação dessa política, por parte das Secretarias Municipais da Saúde e de Assistência Social.
Preparado pela Procuradoria-Geral do Município, o parecer afirma que toxicômanos são considerados civilmente incapazes pela legislação em vigor, podendo assim ser levados à avaliação de um psiquiatra mesmo contra a vontade, desde que haja avaliação clínica prévia e autorização da Justiça. O parecer também afirma que crianças e adolescentes viciados não têm capacidade para decidir o que querem fazer.
O argumento do ministro da Saúde é idêntico. Segundo Padilha, os viciados em crack, nos casos de dependência extrema, perdem o discernimento. "A internação clínica compulsória é ação de proteção à vida, desde que haja profissionais de saúde e de assistência social e após avaliação individual dos dependentes", diz ele.
O problema é que, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo as duas prefeituras mobilizaram-se institucionalmente para adotar essa estratégia, procurando agir de comum acordo com o Ministério Público e com os juízes das Varas da Infância e Juventude, em Brasília o ministro da Saúde não tem apoio nem mesmo na pasta que chefia. Subordinado a ele, o Departamento de Saúde Mental não chegou a um consenso sobre sua proposta. E esta, além disso, tem a oposição frontal da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).
Em entrevista concedida há três meses, quando anunciou a conclusão de uma pesquisa nacional sobre o consumo de drogas feita pela Senad, em colaboração com a Fiocruz e a Universidade de Princeton, a secretária Paulina Duarte afirmou que não há "epidemia de crack" e classificou como "pedagogia do terror" as campanhas institucionais contra o consumo de entorpecentes. "O que se tem no imaginário popular é que o Brasil está tomado pelo crack. Não há um exército de zumbis consumindo num só lugar, mas pequenas "cenas de uso". No levantamento, vimos pequenas cracolândias móveis, que migram em busca de melhores condições de sobrevivência. Combatem-se essas "cenas" com atendimento na rua, não com abordagem higienista, de recolher usuários", disse Paulina.
A divergência entre o ministro da Saúde e a chefe da Senad é só um dos aspectos da questão da internação compulsória de moradores de rua viciados. Outro aspecto envolve o financiamento dessa política. Embora a presidente Dilma Rousseff tenha afirmado durante a campanha eleitoral que o combate à droga seria uma das prioridades de sua gestão, desde sua posse o governo cortou pela metade as verbas previstas para o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack. Em audiência pública realizada recentemente no Congresso, a secretária Paulina Duarte deixou claro que, com o dinheiro à disposição, não conseguirá cumprir compromissos firmados no ano passado pelo governo do presidente Lula.
Desde então, dirigentes do Conselho Federal de Medicina (CFM) acusam Dilma de ser "incoerente com compromissos assumidos durante a campanha" e afirmam que o corte das verbas federais mostra que ela jamais teria considerado o combate às drogas prioritário. Integrante da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, o médico Ricardo Paiva diz que há um déficit de 7,5 mil leitos para atendimento de pacientes dependentes de crack que estão em fase de desintoxicação. "Existem atualmente 2,5 mil leitos e o próprio Ministério da Saúde afirma serem necessários 10 mil", afirma Paiva.
Com o abandono das promessas de campanha e as divergências entre ministros com relação a questões importantes, o governo Dilma aos poucos vai pecando pela falta de ações coerentes em áreas essenciais, como saúde e segurança.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
RELATOS
Relatos. BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL, 12 de Agosto de 2011.
A história da menina Léia, divulgada aqui ontem, produziu uma quantidade considerável de e-mails relatando tragédias familiares.
No meu programa na Rádio Caiçara 1020 AM, a partir das 6h, divulgamos as últimas ocorrências policiais e de trânsito, afinal, o compromisso é manter os amigos até o meio-dia informados sem estresse, atualizados sobre tudo o que acontece em nosso cotidiano. Sobra tempo para entretenimento e bom humor. Sem medo de errar, posso afirmar que pelo menos duas execuções ligadas ao tráfico de drogas noticiamos diariamente. Um dia, apenas um cadáver, no dia seguinte três, ou quatro. A maioria homens entre 15 e 30 anos, moradores da periferia da Capital e Região Metropolitana.
Segundo informações talvez já defasadas, 80% das prisões relacionadas ao tráfico no Rio Grande do Sul têm sido flagrantes com venda de crack. Quem dera a desgraça produzida pela pedra e suas ?primas' (maconha, cocaína etc) conseguissem das autoridades a mesma atenção concedida ao vírus H1N1, o qual produziu um verdadeiro frenesi no planeta garantindo aos laboratórios produtores da vacina grandes lucros com a venda de todo o seu estoque para a maioria dos governos.
A gripe A não produziu nem um milésimo do número de vítimas das drogas, porém, a determinação mundial de combater a pretensa pandemia causa inveja a todos aqueles que se preocupam em conhecer pelo menos a ponta de iceberg no qual estão congelados milhões de usuários a espera da prisão ou da morte.
A história da menina Léia, divulgada aqui ontem, produziu uma quantidade considerável de e-mails relatando tragédias familiares. Respondi a todos e lamento a cada uma delas.
Uma jovem, moradora do bairro Moinhos de Vento, contou que está casada há três anos com um executivo de grande empresa aqui do Estado. Segundo ela, antes do casamento já tinha conhecimento sobre o consumo de maconha, a qual segundo ele servia para relaxar depois de um dia de tensões. Porém, num congresso ele passou a fumar crack, e ela revela detalhes:
"Há cerca de seis meses ele vendeu o laptop, depois foi levando suas roupas de grife, em seguida começou a subtrair objetos da casa, e no último final de semana foi expulso da casa dos pais, pois roubou dinheiro da bolsa de sua mãe. Em março fiquei grávida e me desesperei. Felizmente, juro, felizmente, sofri um aborto espontâneo e perdi meu primeiro bebê. Não pense que sou desumana, apenas não sei o que fazer com o monstro que tenho como companheiro. Sinto ódio, raiva e desprezo, mas ao mesmo tempo não sei o que fazer, pois eu seria covarde o abandonando a beira do precipício. O que devo fazer?" Não sei!
Outro e-mail pode ter uma resposta:
"Sou Regina, 62 anos, professora aposentada. Eu tinha 46 anos quando meu filho menor se desestruturou (hoje tem 28 anos, trabalha com informática e estuda engenharia elétrica). Por causa de sua desestruturação aos 13 anos, participo do Programa Amor-Exigente desde 1995. Hoje já não participo do Grupo de Apoio em Sapucaia do Sul, mas promovo o Curso de Prevenção com Amor-Exigente: antes que coisas ruins aconteçam, de 15 semanas, para pais que ainda não enfrentam problemas. Fazemos esses cursos em associações de bairro, igrejas, escolas. Onde nos chamarem, lá estamos. Voluntariamente. Por isto proponho que sugiras à avó da menina de 15 anos cuja história descreve no jornal O Sul que ela busque logo participar do Amor-Exigente, para que aprenda a lidar com a doença e se encoraje a promover as mudanças necessárias. Na Apaex (Associação Porto-Alegrense de Amor-Exigente) ela poderá ter a indicação do grupo mais próximo de sua residência: (51) 3225-2768, www.apaex.com.br.
A indicação pode servir para muitos. Oremos!
A história da menina Léia, divulgada aqui ontem, produziu uma quantidade considerável de e-mails relatando tragédias familiares.
No meu programa na Rádio Caiçara 1020 AM, a partir das 6h, divulgamos as últimas ocorrências policiais e de trânsito, afinal, o compromisso é manter os amigos até o meio-dia informados sem estresse, atualizados sobre tudo o que acontece em nosso cotidiano. Sobra tempo para entretenimento e bom humor. Sem medo de errar, posso afirmar que pelo menos duas execuções ligadas ao tráfico de drogas noticiamos diariamente. Um dia, apenas um cadáver, no dia seguinte três, ou quatro. A maioria homens entre 15 e 30 anos, moradores da periferia da Capital e Região Metropolitana.
Segundo informações talvez já defasadas, 80% das prisões relacionadas ao tráfico no Rio Grande do Sul têm sido flagrantes com venda de crack. Quem dera a desgraça produzida pela pedra e suas ?primas' (maconha, cocaína etc) conseguissem das autoridades a mesma atenção concedida ao vírus H1N1, o qual produziu um verdadeiro frenesi no planeta garantindo aos laboratórios produtores da vacina grandes lucros com a venda de todo o seu estoque para a maioria dos governos.
A gripe A não produziu nem um milésimo do número de vítimas das drogas, porém, a determinação mundial de combater a pretensa pandemia causa inveja a todos aqueles que se preocupam em conhecer pelo menos a ponta de iceberg no qual estão congelados milhões de usuários a espera da prisão ou da morte.
A história da menina Léia, divulgada aqui ontem, produziu uma quantidade considerável de e-mails relatando tragédias familiares. Respondi a todos e lamento a cada uma delas.
Uma jovem, moradora do bairro Moinhos de Vento, contou que está casada há três anos com um executivo de grande empresa aqui do Estado. Segundo ela, antes do casamento já tinha conhecimento sobre o consumo de maconha, a qual segundo ele servia para relaxar depois de um dia de tensões. Porém, num congresso ele passou a fumar crack, e ela revela detalhes:
"Há cerca de seis meses ele vendeu o laptop, depois foi levando suas roupas de grife, em seguida começou a subtrair objetos da casa, e no último final de semana foi expulso da casa dos pais, pois roubou dinheiro da bolsa de sua mãe. Em março fiquei grávida e me desesperei. Felizmente, juro, felizmente, sofri um aborto espontâneo e perdi meu primeiro bebê. Não pense que sou desumana, apenas não sei o que fazer com o monstro que tenho como companheiro. Sinto ódio, raiva e desprezo, mas ao mesmo tempo não sei o que fazer, pois eu seria covarde o abandonando a beira do precipício. O que devo fazer?" Não sei!
Outro e-mail pode ter uma resposta:
"Sou Regina, 62 anos, professora aposentada. Eu tinha 46 anos quando meu filho menor se desestruturou (hoje tem 28 anos, trabalha com informática e estuda engenharia elétrica). Por causa de sua desestruturação aos 13 anos, participo do Programa Amor-Exigente desde 1995. Hoje já não participo do Grupo de Apoio em Sapucaia do Sul, mas promovo o Curso de Prevenção com Amor-Exigente: antes que coisas ruins aconteçam, de 15 semanas, para pais que ainda não enfrentam problemas. Fazemos esses cursos em associações de bairro, igrejas, escolas. Onde nos chamarem, lá estamos. Voluntariamente. Por isto proponho que sugiras à avó da menina de 15 anos cuja história descreve no jornal O Sul que ela busque logo participar do Amor-Exigente, para que aprenda a lidar com a doença e se encoraje a promover as mudanças necessárias. Na Apaex (Associação Porto-Alegrense de Amor-Exigente) ela poderá ter a indicação do grupo mais próximo de sua residência: (51) 3225-2768, www.apaex.com.br.
A indicação pode servir para muitos. Oremos!
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
PROGRAMA ANTICRACK DO GOVERNO FEDERAL É AMEAÇADO COM CORTES
Programa anticrack é ameaçado com cortes. Promessa de campanha de Dilma, área deve ter verba reduzida pela metade - 11 de agosto de 2011 | 0h 00 - Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo
Um corte pela metade das verbas previstas para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) ameaça o programa de combate ao crack do governo federal, uma das prioridades do governo Dilma Rousseff e tema da campanha eleitoral. O alerta foi dado pela própria titular da pasta, Paulina Duarte, durante audiência pública no Congresso. Ela alertou que a diminuição da verba coloca em risco os programas de prevenção e tratamento.
A previsão era de que a secretaria deveria receber, até 2015, R$ 100 milhões por ano para alcançar as metas, ou R$ 400 milhões no total. A tendência, no entanto, é que a fatia prevista no Plano Plurianual para a Senad seja de R$ 200 milhões no período, segundo o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), da Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas, presente na audiência. O Plano Plurianual será apresentado no Congresso pelo governo até fim de agosto.
No encontro no Congresso, Paulina avisou: sem recursos, a secretaria não terá como cumprir compromissos apresentados ano passado, durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Reação. A notícia de ameaça aos R$ 400 milhões para a área provocou uma rápida resposta entre integrantes do Conselho Federal de Medicina (CFM). "Isso demonstra uma incoerência com compromissos assumidos durante a campanha. Como justificar um corte tão significativo para uma área dita prioritária?", questionou o vice-presidente do CFM, Carlos Vital Lima.
Lima lembrou que o tratamento dos dependentes tem de ser feito de forma sistematizada, por uma rede integrada de assistência. "Pacientes não podem esperar", ressaltou.
O deputado Reginaldo Lopes ouviu de Paulina que a redução colocaria em risco a instalação de parte dos 65 centros regionais sob a coordenação de instituição de ensino superior para capacitação de profissionais de saúde e para realização de pesquisas. "É uma espécie de centro de inteligência, onde vários estudos sobre o assunto seriam realizados", explicou.
No entanto, Lopes disse acreditar que cortes para ações contra crack não serão generalizados. "Atualmente, verbas para medidas de combate e prevenção da droga estão pulverizadas em várias áreas do governo. Temos recursos no Ministério da Saúde, no MEC (Ministério da Educação). Não significa que toda a verba do crack será reduzida pela metade", ponderou.
Demanda. Integrante da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, o médico Ricardo Paiva diz que hoje há um déficit de 7,5 mil leitos para atendimento de pacientes dependentes do crack que estão em fase de desintoxicação. "Existem atualmente 2,5 mil. E o próprio Ministério da Saúde afirma ser necessário 10 mil", contou Paiva.
A oferta de centros de Atendimento Psicossocial (Caps) também está muito aquém do necessário. "O ideal seria ter um Caps para cada 70 mil habitantes. Claro que esse número está longe de ser alcançado." Para Paiva, a redução de recursos sinaliza uma tendência preocupante. "É preciso colocar todo o discurso em prática, transformar em ações aquilo que foi anunciado com tanta animação."
Um corte pela metade das verbas previstas para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) ameaça o programa de combate ao crack do governo federal, uma das prioridades do governo Dilma Rousseff e tema da campanha eleitoral. O alerta foi dado pela própria titular da pasta, Paulina Duarte, durante audiência pública no Congresso. Ela alertou que a diminuição da verba coloca em risco os programas de prevenção e tratamento.
A previsão era de que a secretaria deveria receber, até 2015, R$ 100 milhões por ano para alcançar as metas, ou R$ 400 milhões no total. A tendência, no entanto, é que a fatia prevista no Plano Plurianual para a Senad seja de R$ 200 milhões no período, segundo o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), da Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas, presente na audiência. O Plano Plurianual será apresentado no Congresso pelo governo até fim de agosto.
No encontro no Congresso, Paulina avisou: sem recursos, a secretaria não terá como cumprir compromissos apresentados ano passado, durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Reação. A notícia de ameaça aos R$ 400 milhões para a área provocou uma rápida resposta entre integrantes do Conselho Federal de Medicina (CFM). "Isso demonstra uma incoerência com compromissos assumidos durante a campanha. Como justificar um corte tão significativo para uma área dita prioritária?", questionou o vice-presidente do CFM, Carlos Vital Lima.
Lima lembrou que o tratamento dos dependentes tem de ser feito de forma sistematizada, por uma rede integrada de assistência. "Pacientes não podem esperar", ressaltou.
O deputado Reginaldo Lopes ouviu de Paulina que a redução colocaria em risco a instalação de parte dos 65 centros regionais sob a coordenação de instituição de ensino superior para capacitação de profissionais de saúde e para realização de pesquisas. "É uma espécie de centro de inteligência, onde vários estudos sobre o assunto seriam realizados", explicou.
No entanto, Lopes disse acreditar que cortes para ações contra crack não serão generalizados. "Atualmente, verbas para medidas de combate e prevenção da droga estão pulverizadas em várias áreas do governo. Temos recursos no Ministério da Saúde, no MEC (Ministério da Educação). Não significa que toda a verba do crack será reduzida pela metade", ponderou.
Demanda. Integrante da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, o médico Ricardo Paiva diz que hoje há um déficit de 7,5 mil leitos para atendimento de pacientes dependentes do crack que estão em fase de desintoxicação. "Existem atualmente 2,5 mil. E o próprio Ministério da Saúde afirma ser necessário 10 mil", contou Paiva.
A oferta de centros de Atendimento Psicossocial (Caps) também está muito aquém do necessário. "O ideal seria ter um Caps para cada 70 mil habitantes. Claro que esse número está longe de ser alcançado." Para Paiva, a redução de recursos sinaliza uma tendência preocupante. "É preciso colocar todo o discurso em prática, transformar em ações aquilo que foi anunciado com tanta animação."
TEIA ASSASSINA DO CRACK
BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL, 11 de Agosto de 2011.
Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.
Estou acompanhando de perto a luta de uma avó para resgatar sua única neta da teia assassina do crack.
Viúva, Lúcia, 65 anos, professora aposentada, perdeu sua única filha há dois anos vítima de leucemia. Mãe solteira, sua filha lhe deixou como consolo a pequena Léia (nomes fictícios), hoje com 15 anos. Nas primeiras horas da madrugada do dia 1 de janeiro deste ano, Lúcia encontrou sua neta desfalecida no quarto após ter ingerido uísque e fumado vários baseados na companhia de três amigos. Com afeto e muita compreensão, Lúcia encaminhou a menina para um psicólogo em busca de respostas para a evidente insatisfação emocional da pequena órfã. Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.
"Não dá nada, pensei", relatou a menina numa das tantas conversas que temos mantido. "Mentira!, tia, eu tô ferrada", me disse ontem chorando. Chorei junto.
Léia já emagreceu mais de 10 quilos, vive como um zumbi, e para manter o vício já praticou atos que certamente jamais ousaria se não tivesse experimentado pela primeira vez em 2010 a inofensiva maconha.
Na noite de domingo para segunda a avó, hoje com um aspecto cansado e envelhecido acordou os amigos na madrugada para implorar ajuda, pois precisava resgatar a menina numa boca de fumo na Zona Leste da Capital. Foram horas de extrema tensão e revolta para todos nós. De comum acordo, todos resolveram manter a polícia longe da tragédia.
Hoje, a pequena está internada numa clínica para desintoxicação, pois na última viagem permaneceu dois dias e duas noites consumindo a pedra na companhia de marginais, e filhos perdidos de nossa sociedade perplexa e sem alternativas.
Absolutamente arrasada com a situação, li que o ex-governador de São Paulo e secretário municipal de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (sem partido), afirmou ao Terra, ne terça-feira, que é contra a liberalização da maconha e não vê novidade no apoio do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à liberalização da droga no País. Lembo fez uma revelação absolutamente perturbadora:
"Ele [FHC] se disse maconheiro quando da eleição do Jânio Quadros, portanto não há novidade nenhuma. Ele apenas está registrando no presente o que falou no passado. Eu sou contra a liberação da maconha. Eu sou contra porque acredito que seja perigoso. Perigoso porque é uma droga fraca, mas que pode levar a drogas mais pesadas. Vamos pensar com calma e não fazer bravatinhas de fim de vida, porque não é bom. Quem tá no fim da vida tem de dar bom exemplo e acima de tudo ser sensato no que diz", afirma.
Não sou ingênua, sei que devemos esgotar as possibilidades civilizadas de enfrentamento a essa epidemia global das drogas, porém a ser verdade a afirmação de Lembo, um homem que, em princípio, merece credibilidade a posição do ex-presidente, surge como absolutamente nefasta sob toda e qualquer circunstância.
O mundo na década de 1960 era outro, a própria maconha mantinha certo ar de ingenuidade e liberdade poética, e talvez o ex-presidente tenha alcançado deixar no passado a experiência com a droga que hoje ele defende e considera leve. Afinal, deve imaginar que se ele usou e parou quando bem desejou, a mesma vitória deve ser natural para todos os jovens que em algum momento passarem pela sua mesma experiência. A vida de Léia, salvo um milagre e com a ajuda que deverá ser permanente, já foi interrompida, e não tem garantido um futuro brilhante e feliz. Resolvi expor com alguns detalhes a triste história de minha amiga, para deixar registrado o lamento desesperado e silencioso de milhares de pais, mães, avós, filhos e amigos de personagens que ontem esbanjavam alegria de viver e que hoje são meros rascunhos de si mesmos. São fantasmas, que assombram nossas ruas e lares desfeitos.
Sinto imensa pena de todos nós, e lamento profundamente que uma liderança política do peso de FHC se preste para um papel absolutamente deprimente e potencialmente deletério. É isso!
Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.
Estou acompanhando de perto a luta de uma avó para resgatar sua única neta da teia assassina do crack.
Viúva, Lúcia, 65 anos, professora aposentada, perdeu sua única filha há dois anos vítima de leucemia. Mãe solteira, sua filha lhe deixou como consolo a pequena Léia (nomes fictícios), hoje com 15 anos. Nas primeiras horas da madrugada do dia 1 de janeiro deste ano, Lúcia encontrou sua neta desfalecida no quarto após ter ingerido uísque e fumado vários baseados na companhia de três amigos. Com afeto e muita compreensão, Lúcia encaminhou a menina para um psicólogo em busca de respostas para a evidente insatisfação emocional da pequena órfã. Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.
"Não dá nada, pensei", relatou a menina numa das tantas conversas que temos mantido. "Mentira!, tia, eu tô ferrada", me disse ontem chorando. Chorei junto.
Léia já emagreceu mais de 10 quilos, vive como um zumbi, e para manter o vício já praticou atos que certamente jamais ousaria se não tivesse experimentado pela primeira vez em 2010 a inofensiva maconha.
Na noite de domingo para segunda a avó, hoje com um aspecto cansado e envelhecido acordou os amigos na madrugada para implorar ajuda, pois precisava resgatar a menina numa boca de fumo na Zona Leste da Capital. Foram horas de extrema tensão e revolta para todos nós. De comum acordo, todos resolveram manter a polícia longe da tragédia.
Hoje, a pequena está internada numa clínica para desintoxicação, pois na última viagem permaneceu dois dias e duas noites consumindo a pedra na companhia de marginais, e filhos perdidos de nossa sociedade perplexa e sem alternativas.
Absolutamente arrasada com a situação, li que o ex-governador de São Paulo e secretário municipal de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (sem partido), afirmou ao Terra, ne terça-feira, que é contra a liberalização da maconha e não vê novidade no apoio do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à liberalização da droga no País. Lembo fez uma revelação absolutamente perturbadora:
"Ele [FHC] se disse maconheiro quando da eleição do Jânio Quadros, portanto não há novidade nenhuma. Ele apenas está registrando no presente o que falou no passado. Eu sou contra a liberação da maconha. Eu sou contra porque acredito que seja perigoso. Perigoso porque é uma droga fraca, mas que pode levar a drogas mais pesadas. Vamos pensar com calma e não fazer bravatinhas de fim de vida, porque não é bom. Quem tá no fim da vida tem de dar bom exemplo e acima de tudo ser sensato no que diz", afirma.
Não sou ingênua, sei que devemos esgotar as possibilidades civilizadas de enfrentamento a essa epidemia global das drogas, porém a ser verdade a afirmação de Lembo, um homem que, em princípio, merece credibilidade a posição do ex-presidente, surge como absolutamente nefasta sob toda e qualquer circunstância.
O mundo na década de 1960 era outro, a própria maconha mantinha certo ar de ingenuidade e liberdade poética, e talvez o ex-presidente tenha alcançado deixar no passado a experiência com a droga que hoje ele defende e considera leve. Afinal, deve imaginar que se ele usou e parou quando bem desejou, a mesma vitória deve ser natural para todos os jovens que em algum momento passarem pela sua mesma experiência. A vida de Léia, salvo um milagre e com a ajuda que deverá ser permanente, já foi interrompida, e não tem garantido um futuro brilhante e feliz. Resolvi expor com alguns detalhes a triste história de minha amiga, para deixar registrado o lamento desesperado e silencioso de milhares de pais, mães, avós, filhos e amigos de personagens que ontem esbanjavam alegria de viver e que hoje são meros rascunhos de si mesmos. São fantasmas, que assombram nossas ruas e lares desfeitos.
Sinto imensa pena de todos nós, e lamento profundamente que uma liderança política do peso de FHC se preste para um papel absolutamente deprimente e potencialmente deletério. É isso!
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
GUERRA CONTRA AS DROGAS PASSA POR FRONTEIRAS
EDITORIAL O GLOBO, 09/08/2011 às 16h10m
As autoridades precisam cuidar das fronteiras para evitar a entrada de drogas (e, por extensão, de armas para o crime organizado) no Brasil. São uma obviedade tanto a preocupação com as portas abertas para o contrabando de entorpecentes quanto o conselho para asfixiar, com o controle das áreas de limite com outras nações, o abastecimento aos principais mercados do país. A novidade é que, no caso, as recomendações partem de alguém com inegável conhecimento de causa - o ex-traficante Tuchinha, que foi chefe do comércio de drogas na Mangueira e agora, após 21 anos de prisão, renega o passado ligado ao banditismo para trabalhar com o AfroReggae.
Os dois mais importantes centros brasileiros de receptação de drogas e armas, as regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e São Paulo, têm registrado estimulantes reduções dos indicadores da criminalidade decorrente do tráfico. Mas são números que ainda estão aquém dos limites aceitáveis para uma sociedade em que a violência deixe de ser a causa de frequentes tragédias. Em grande parte, ações de combate ao crime em todo o país são comprometidas pela inexistência de uma política de segurança estratégica, de que o controle de fronteiras deve ser um princípio, em vez de episódicas iniciativas policiais.
O tamanho do problema é proporcional à extensão das nossas áreas limítrofes. São quase 17 mil quilômetros, dos quais 11 mil quilômetros ligam o Brasil aos três maiores produtores de cocaína do mundo - Peru, Bolívia e Colômbia. Somente os dois primeiros respondem por 60% a 70% desse tipo de droga que entra no território nacional. São carregamentos para o mercado interno e outras regiões do mundo. Segundo um relatório das Nações Unidas sobre drogas e crime, o Brasil tornou-se o maior intermediário sul-americano do tráfico para a Europa em termos de cargas apreendidas.
Um perfil moldado pela tíbia fiscalização de fronteiras. O ex-traficante Tuchinha deu seu parecer sobre a entrada de drogas no país poucas semanas depois de o governo brasileiro ter medido na prática a importância do controle dos limites geográficos.
Graças a uma operação de fiscalização ostensiva, aliada a ações de inteligência e de colaboração com outros países, forças de segurança conseguiram aumentar, entre junho e julho, as apreensões de drogas em áreas limítrofes críticas. O volume de cocaína apreendida cresceu 233 vezes em relação a igual período de 2010, ao passo que a quantidade de maconha subtraída ao tráfico aumentou 65% desde o início de 2011. Tais números mostram que são fundamentais ações concretas de fiscalização na guerra contra o tráfico. Também embutem outra evidência: movimentos pontuais levam a resultados imediatos, mas é inescapável que o país precisa de uma política estratégica, de Estado, com iniciativas permanentes de controle de fronteiras e programas que incluam não só a atuação da Polícia Federal, mas a essencial colaboração das Forças Armadas como forças auxiliares. É importante também incrementar a presença das instituições do Estado nos municípios fronteiriços. É uma questão a ser tratada como prioridade pelo poder público. O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, deveria tratar do assunto com prioridade.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - PARABÉNS, EDITORES DO O GLOBO! é preciso "cuidar das fronteiras para evitar a entrada de drogas (e, por extensão, de armas para o crime organizado) no Brasil." É "uma obviedade" que as autoridades brasileiras tratam com desleixo e negligência. Atualmente estão "as portas abertas para o contrabando de entorpecentes", e para o tráfico de armas, munições, animais, pessoas e valores, diante de iniciativas superficiais, imediatistas, isoladas, "episódicas" e sem continuidade que favorecem a ação criminosa.
O editorial acerta em afirmar que "ações de combate ao crime em todo o país são comprometidas pela inexistência de uma política de segurança estratégica" e que o governo não observa que o "controle de fronteiras deve ser um princípio"
Concordo com a conclusão do Editorial que só "uma operação de fiscalização ostensiva, aliada a ações de inteligência e de colaboração com outros países, forças de segurança" possam tornar este controle mais eficientes e aumentar as apreensões de drogas em áreas limítrofes críticas e que é preciso "uma política estratégica, de Estado, com iniciativas permanentes de controle de fronteiras e programas que incluam não só a atuação da Polícia Federal, mas a essencial colaboração das Forças Armadas como forças auxiliares". Entretanto, saliento que a medida principal para o sucesso desta política de segurança nas fronteiras passa pela criação e instalação de uma POLÍCIA NACIONAL DE FRONTEIRAS para manter ligações entre as demais forças, estabelecer bases fixas e móveis e executar o patrulhamento ostensivo, discreto e repressivo permanente e contínuo ao longo das fronteiras, pelo comprometimento institucional da missão e pela permanência na vigilância das fronteiras do Brasil.
Daí sim veríamos sucesso no Projeto PEFRON
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
CASAL É PRESO POR TRÁFICO DE ENTORPECENTES NO INTERIOR DO RS
A Brigada Militar de Lagoa Vermelha efetuou na noite de sábado, dia 6 de agosto, a prisão em flagrante delito de um casal por Tráfico de Entorpecentes na Av Presidente Vargas. Jornal Folha do Nordeste de Lagoa Vermelha/RS
Através da verificação de denúncias de que no local era realizado comércio de Entorpecentes, na noite deste sábado, foi constatado que os acusados estavam no interior de um veículo, em frente sua residência, realizando o comércio de drogas.
Momento em que uma Guarnição da Patrulha de Combate ao Tráfico de Entorpecentes abordou o veículo GM/Corsa, que encontrava-se estacionado no local, no veículo havia um casal. Foi efetuado busca pessoal nos tripulantes do veículo e localizado com os mesmos 33 buchas de cocaínas, as quais estavam acondicionadas em dois frascos de kinderovo. Foi encontrada ainda, uma quantia de 1.950 reais e também 21 dólares americanos, bem como dois celulares que eram utilizados pelo casal.
O casal residia na Av Presidente Vargas, ele com 55 anos de idade natural da cidade de Garibaldi e ela com 35 anos, natural de Lagoa Vermelha.
Foi dado voz de prisão em flagrante delito e conduzido os mesmos para a Delegacia de Policia, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante e posterior recolhidos ao Presídio Estadual de Lagoa Vermelha.
IMPUNIDADE - TRAFICANTE SUSPEITO EM SEIS HOMICÍDIOS PODE TER ESTUPRADO REFÉM.
Operação prende traficante suspeito de estuprar jovem em NH. Mulher de 21 anos foi entregue como pagamento de dívida de droga - ZERO HORA E DIÁRIO GAÚCHO - 08/08/2011às 08h35min
Uma operação conjunta da Policia Civil com a Brigada Militar prendeu na manhã desta segunda-feira o traficante suspeito de estuprar uma jovem de 21 anos na última sexta-feira em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Suspeito de 6 homicídios, criminoso conhecido como "Jundiá" teria sido o autor do estupro da jovem.
A operação, que deve cumprir dois mandados de prisão e oito de busca e apreensão no bairro Canudos busca esclarecer o caso da jovem que foi entregue a traficantes como pagamento de uma dívida do irmão.
Na sexta-feira, o pai da jovem teria recebido uma ligação avisando que a filha havia sido sequestrada e exigindo o pagamento de R$ 600 para libertá-la. Para tanto, deveria entregar o dinheiro no viaduto da ERS-239 sobre a Avenida Engenheiro Jorge Schury, no Bairro São José, em Novo Hamburgo. Após fazer o pagamento e receber a filha de volta, o homem chamou a Brigada Militar.
Aos PMs, a vítima contou ter ficado em poder de dois homens por cerca de uma hora e 30 minutos, período em que foi violentada. De acordo com a polícia, ela recebeu atendimento médico e, levada à delegacia, reconheceu dois homens como sendo os indivíduos que a sequestraram e estupraram.
Segundo o tenente-coronel Carlos Armindo Thomé Marques, que responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Sinos, o irmão da jovem é usuário de drogas e estaria devendo a traficantes. Por isso a teria atraído até o local onde a dupla a sequestrou.
Uma operação conjunta da Policia Civil com a Brigada Militar prendeu na manhã desta segunda-feira o traficante suspeito de estuprar uma jovem de 21 anos na última sexta-feira em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Suspeito de 6 homicídios, criminoso conhecido como "Jundiá" teria sido o autor do estupro da jovem.
A operação, que deve cumprir dois mandados de prisão e oito de busca e apreensão no bairro Canudos busca esclarecer o caso da jovem que foi entregue a traficantes como pagamento de uma dívida do irmão.
Na sexta-feira, o pai da jovem teria recebido uma ligação avisando que a filha havia sido sequestrada e exigindo o pagamento de R$ 600 para libertá-la. Para tanto, deveria entregar o dinheiro no viaduto da ERS-239 sobre a Avenida Engenheiro Jorge Schury, no Bairro São José, em Novo Hamburgo. Após fazer o pagamento e receber a filha de volta, o homem chamou a Brigada Militar.
Aos PMs, a vítima contou ter ficado em poder de dois homens por cerca de uma hora e 30 minutos, período em que foi violentada. De acordo com a polícia, ela recebeu atendimento médico e, levada à delegacia, reconheceu dois homens como sendo os indivíduos que a sequestraram e estupraram.
Segundo o tenente-coronel Carlos Armindo Thomé Marques, que responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Sinos, o irmão da jovem é usuário de drogas e estaria devendo a traficantes. Por isso a teria atraído até o local onde a dupla a sequestrou.
domingo, 7 de agosto de 2011
PARA PAGAR DÍVIDA DE DROGAS, ENTREGA A IRMÃ PARA BANDIDOS ESTUPRAREM
Adolescente entrega irmã como pagamento de dívida de droga em Novo Hamburgo - ZERO HORA, DIÁRIO GAÚCHO, 07/08/2011 | 18h41min
A Polícia Civil de Novo Hamburgo deve começar a investigar nesta segunda-feira o caso do sequestro e estupro de uma jovem de 21 anos no Vale do Sinos.
Na sexta-feira, o pai da jovem teria recebido uma ligação avisando que a filha havia sido sequestrada e exigindo o pagamento de R$ 600 para libertá-la. Para tanto, deveria entregar o dinheiro no viaduto da ERS-239 sobre a Avenida Engenheiro Jorge Schury, no Bairro São José, em Novo Hamburgo. Após fazer o pagamento e receber a filha de volta, o homem chamou a Brigada Militar.
Aos PMs, ela contou ter ficado em poder de dois homens por cerca de uma hora e 30 minutos, período em que foi violentada.
Levada à delegacia, a jovem reconheceu dois homens como sendo os indivíduos que a sequestraram e estupraram.
Segundo o tenente-coronel Carlos Armindo Thomé Marques, que responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Sinos, o irmão da jovem é usuário de drogas e estaria devendo a traficantes. Por isso a teria atraído até o local onde a dupla a sequestrou.
Buscas foram feitas para tentar prender os homens, mas até a tarde de hoje nenhum deles havia sido localizado.
A Polícia Civil de Novo Hamburgo deve começar a investigar nesta segunda-feira o caso do sequestro e estupro de uma jovem de 21 anos no Vale do Sinos.
Na sexta-feira, o pai da jovem teria recebido uma ligação avisando que a filha havia sido sequestrada e exigindo o pagamento de R$ 600 para libertá-la. Para tanto, deveria entregar o dinheiro no viaduto da ERS-239 sobre a Avenida Engenheiro Jorge Schury, no Bairro São José, em Novo Hamburgo. Após fazer o pagamento e receber a filha de volta, o homem chamou a Brigada Militar.
Aos PMs, ela contou ter ficado em poder de dois homens por cerca de uma hora e 30 minutos, período em que foi violentada.
Levada à delegacia, a jovem reconheceu dois homens como sendo os indivíduos que a sequestraram e estupraram.
Segundo o tenente-coronel Carlos Armindo Thomé Marques, que responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Sinos, o irmão da jovem é usuário de drogas e estaria devendo a traficantes. Por isso a teria atraído até o local onde a dupla a sequestrou.
Buscas foram feitas para tentar prender os homens, mas até a tarde de hoje nenhum deles havia sido localizado.
sábado, 6 de agosto de 2011
JUSTIÇA DO TRÁFICO - DEPENDENTE DE 17 ANOS PEDE REFÚGIO PARA NÃO MORRER
AMEAÇA DO TRÁFICO. Garoto pede ajuda para não morrer. Adolescente procurou refúgio em Conselho Tutelar de Cachoeirinha - LETÍCIA BARBIERI, ZERO HORA 03/08/2011
Vestido com a roupa do corpo há sete dias, um adolescente de 17 anos vive momentos de tensão em um quarto improvisado do Conselho Tutelar de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Hoje, completa uma semana que ele bateu à porta das conselheiras com um pedido de socorro: ele quer se livrar das drogas e teme perder a vida por conta de uma dívida com os traficantes da região.
No sábado passado, recebeu um ultimato: ou deixa o Conselho Tutelar e paga a dívida ou os traficantes vão invadir o local. Ele implora às conselheiras que o tirem de lá. Elas correm contra o tempo em busca de uma internação para o adolescente que somente hoje deve sair do papel.
Ontem, às 17h, o promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude de Cachoeirinha, André Carvalho Leite, determinou a internação compulsória. Assim que acatada pelo juiz, a medida deve ser cumprida imediatamente. Agora, a prefeitura é a responsável por conseguir um leito para o garoto.
Dívida com traficante inclui dinheiro e drogas
O adolescente chegou a ser levado, na última sexta-feira, ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, onde foi averiguado que ele precisa ser internado.
– Ele já foi internado no ano passado e devolvido à família, mas a mãe sempre se demonstrou completamente omissa e largou ele à própria sorte – lamenta o promotor.
Em uma família estruturada, o garoto aguardaria um leito em casa, mas, como morador de rua, não tem para onde voltar. E a dívida é grande. Segundo ele, a mochila que ele carregava com R$ 2 mil, sete quilos de maconha e 17 quilos de cocaína foi levada por homens que se identificaram como policiais sem farda. Ele mesmo admite, porém, que pode ter perdido a droga para traficantes concorrentes. O adolescente conta que seu envolvimento com o tráfico começou quando tinha 11 anos (leia a entrevista ao lado).
– Esse menino está em situação de risco e agora todos nós estamos correndo risco também. Mas se a gente não der abrigo, o guri pode ser morto em qualquer esquina – alerta a conselheira tutelar Salete Trajano.
Um registro do caso foi feito na Brigada Militar, mas a Polícia Civil deverá ser informada também ainda hoje.
Eles vão invadir aqui e me matar”. Entrevista: Adolescente ameaçado
De bermuda e chinelo, o garoto de 17 anos (foto acima) enfrenta o frio com um cobertor improvisado em um quarto do Conselho Tutelar. Veja entrevista ao jornal Diário Gaúcho:
Diário Gaúcho – Por que esse pedido de socorro ao Conselho Tutelar?
Adolescente – Eu estava usando muita droga na rua. Quero me internar, fazer um tratamento e largar essa vida do mal. Cansei. Quero fazer uma tratamento e ser outra pessoa.
Diário – Quando você entrou nessa vida?
Adolescente – Desde os 11 anos comecei a traficar e até tiro levei. Isso não é vida. Não cheguei a ponto de matar, mas traficava, roubava, isso tudo eu já fiz.
Diário – O que aconteceu agora?
Adolescente – Perdi parte da mercadoria e agora tenho de pagar por ela. Foi muita droga, tinha sete quilos de maconha e 17 de cocaína. Fora as armas que caíram.
Diário – O que pode acontecer se você não conseguir a internação logo?
Adolescente – Eles vão invadir isso aqui e me matar, eu conheço eles.
Gangue na Capital
Uma das gangues que disputam o controle das bocas de fumo no bairro Restinga Velha, na Capital, foi desarticulada ontem, com as prisões de três homens – um de 18, um de 27 e outro de 28 anos. De acordo com a polícia, eles formariam a Gangue da Evangelista, atuante na rua de mesmo nome e que só no mês passado seria responsável por duas tentativas de homicídio e uma morte.
Vestido com a roupa do corpo há sete dias, um adolescente de 17 anos vive momentos de tensão em um quarto improvisado do Conselho Tutelar de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Hoje, completa uma semana que ele bateu à porta das conselheiras com um pedido de socorro: ele quer se livrar das drogas e teme perder a vida por conta de uma dívida com os traficantes da região.
No sábado passado, recebeu um ultimato: ou deixa o Conselho Tutelar e paga a dívida ou os traficantes vão invadir o local. Ele implora às conselheiras que o tirem de lá. Elas correm contra o tempo em busca de uma internação para o adolescente que somente hoje deve sair do papel.
Ontem, às 17h, o promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude de Cachoeirinha, André Carvalho Leite, determinou a internação compulsória. Assim que acatada pelo juiz, a medida deve ser cumprida imediatamente. Agora, a prefeitura é a responsável por conseguir um leito para o garoto.
Dívida com traficante inclui dinheiro e drogas
O adolescente chegou a ser levado, na última sexta-feira, ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, onde foi averiguado que ele precisa ser internado.
– Ele já foi internado no ano passado e devolvido à família, mas a mãe sempre se demonstrou completamente omissa e largou ele à própria sorte – lamenta o promotor.
Em uma família estruturada, o garoto aguardaria um leito em casa, mas, como morador de rua, não tem para onde voltar. E a dívida é grande. Segundo ele, a mochila que ele carregava com R$ 2 mil, sete quilos de maconha e 17 quilos de cocaína foi levada por homens que se identificaram como policiais sem farda. Ele mesmo admite, porém, que pode ter perdido a droga para traficantes concorrentes. O adolescente conta que seu envolvimento com o tráfico começou quando tinha 11 anos (leia a entrevista ao lado).
– Esse menino está em situação de risco e agora todos nós estamos correndo risco também. Mas se a gente não der abrigo, o guri pode ser morto em qualquer esquina – alerta a conselheira tutelar Salete Trajano.
Um registro do caso foi feito na Brigada Militar, mas a Polícia Civil deverá ser informada também ainda hoje.
Eles vão invadir aqui e me matar”. Entrevista: Adolescente ameaçado
De bermuda e chinelo, o garoto de 17 anos (foto acima) enfrenta o frio com um cobertor improvisado em um quarto do Conselho Tutelar. Veja entrevista ao jornal Diário Gaúcho:
Diário Gaúcho – Por que esse pedido de socorro ao Conselho Tutelar?
Adolescente – Eu estava usando muita droga na rua. Quero me internar, fazer um tratamento e largar essa vida do mal. Cansei. Quero fazer uma tratamento e ser outra pessoa.
Diário – Quando você entrou nessa vida?
Adolescente – Desde os 11 anos comecei a traficar e até tiro levei. Isso não é vida. Não cheguei a ponto de matar, mas traficava, roubava, isso tudo eu já fiz.
Diário – O que aconteceu agora?
Adolescente – Perdi parte da mercadoria e agora tenho de pagar por ela. Foi muita droga, tinha sete quilos de maconha e 17 de cocaína. Fora as armas que caíram.
Diário – O que pode acontecer se você não conseguir a internação logo?
Adolescente – Eles vão invadir isso aqui e me matar, eu conheço eles.
Gangue na Capital
Uma das gangues que disputam o controle das bocas de fumo no bairro Restinga Velha, na Capital, foi desarticulada ontem, com as prisões de três homens – um de 18, um de 27 e outro de 28 anos. De acordo com a polícia, eles formariam a Gangue da Evangelista, atuante na rua de mesmo nome e que só no mês passado seria responsável por duas tentativas de homicídio e uma morte.
INTERNAR À FORÇA RESOLVE?
Para combater a epidemia de crack, autoridades decidem internar os dependentes compulsoriamente. ÉPOCA foi ver de perto se isso funciona. MARIANA SANCHES, MATHEUS PAGGI (TEXTO) E ANDRÉ VALENTIM (FOTOS), COM EDUARDO DUARTE ZANELATO. Revista Época 06/08/2011 - 09:51
A boca ferida, maltratada pelo uso contínuo de cachimbos precários, era uma das poucas partes do rosto de R. que o cobertor marrom e sujo deixava entrever. O corpo miúdo poderia facilmente ser confundido com o de um garoto de 14 anos. Os passos que o conduziam para fora da Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, eram apenas resignados, não mais relutantes. Enquanto caminhava, R. experimentava momentos de lucidez nos quais tentava resumir sua trajetória. Aos 25 anos, viciado em crack, sem ter onde dormir, exceto a rua, ele enfrentava o quarto dia sem comer. No dia 19 de julho, foi encontrado e levado à força pela equipe da Secretaria de Assistência Social do município do Rio de Janeiro. “Se for a salvação para mim, eu vou. Sabe por quê? Porque eu tô vendo que se eu ficar aqui, fumando oito, nove pedras por dia, eu não vou aguentar mais. Eu vou morrer.” Antes das 10 horas da manhã, R. já embarcara numa das quatro vans da prefeitura que levaria os usuários de crack recolhidos ali à delegacia e, depois, a algum abrigo para tratamento de dependentes químicos.
A ação da Secretaria de Assistência Social carioca é estridente. Desde maio, três vezes por semana, os agentes sobem os morros da cidade que continuam sob domínio do crime organizado para levar, na marra, os dependentes de crack que povoam as cracolândias da cidade. ÉPOCA acompanhou uma dessas operações no final do mês passado. O trabalho só é possível porque é apoiado por policiais civis e militares, empunhando armas de grosso calibre. Antes dos agentes, o blindado da PM conhecido como “caveirão” sobe o morro. Há troca de tiros entre a polícia e traficantes. Abordados pelos agentes, os usuários costumam reagir de modo arredio. A resposta vem na mesma proporção. O porte físico avantajado e a experiência como segurança de boate, constantes entre os agentes da secretaria, possibilitam que eles terminem por dominar os dependentes, embora com dificuldades.
As operações já resultaram no acolhimento de 1.319 pessoas (1.065 adultos e 254 crianças e adolescentes) em cracolândias. Segundo a prefeitura do Rio, nas áreas onde os viciados são tirados das ruas, o índice de pequenos roubos e furtos costuma cair até 50% nos primeiros dias. Depois de levados das favelas, crianças, adolescentes e adultos têm destinos diferentes. Todos os menores de 18 anos encontrados, de quem o Estado passa a ser o tutor, ficarão cerca de três meses internados contra a própria vontade (e de sua família, eventualmente) em alguma unidade terapêutica da prefeitura. São casas com psiquiatras, clínicos gerais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e grades. Grades por todos os lados. A prefeitura do Rio está convencida de que, sem elas, de nada adianta ter os melhores profissionais. A recuperação seria inviável. Ainda assim, nem sempre se consegue evitar a fuga dos pacientes. Para os adultos, a internação compulsória ainda não é a regra, embora já ocorra em alguns casos, sempre autorizados por um juiz. A prefeitura do Rio afirma que gostaria de adotá-la em larga escala, mas que ainda não encontrou um meio legal de promovê-la.
A medida de internação à força do Rio de Janeiro é pioneira, tem provocado polêmica, mas conquistado cada vez mais adeptos entre os gestores públicos. No Congresso, tramita um projeto de lei que propõe extinguir a necessidade de ação judicial para internar alguém à força. No governo federal, há autoridades simpáticas à ideia. Em São Paulo, onde há a maior cracolândia do país, depois de dois anos de uma política de convencimento de dependentes para que aceitassem voluntariamente ser tratados, a experiência carioca poderá ser repetida em breve. A Procuradoria-Geral da cidade deu um parecer favorável à internação compulsória de usuários de crack. A decisão agora cabe ao prefeito Gilberto Kassab, que já admitiu publicamente ver a internação forçada como uma resposta para o histórico problema do município. Estima-se que, pela cracolândia paulistana, perambulem quase 2 mil pessoas diariamente. A internação na marra funciona? Representa uma solução para as famílias que sofrem o drama de ter dependentes em crack?
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