AMEAÇA DO TRÁFICO. Garoto pede ajuda para não morrer. Adolescente procurou refúgio em Conselho Tutelar de Cachoeirinha - LETÍCIA BARBIERI, ZERO HORA 03/08/2011
Vestido com a roupa do corpo há sete dias, um adolescente de 17 anos vive momentos de tensão em um quarto improvisado do Conselho Tutelar de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Hoje, completa uma semana que ele bateu à porta das conselheiras com um pedido de socorro: ele quer se livrar das drogas e teme perder a vida por conta de uma dívida com os traficantes da região.
No sábado passado, recebeu um ultimato: ou deixa o Conselho Tutelar e paga a dívida ou os traficantes vão invadir o local. Ele implora às conselheiras que o tirem de lá. Elas correm contra o tempo em busca de uma internação para o adolescente que somente hoje deve sair do papel.
Ontem, às 17h, o promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude de Cachoeirinha, André Carvalho Leite, determinou a internação compulsória. Assim que acatada pelo juiz, a medida deve ser cumprida imediatamente. Agora, a prefeitura é a responsável por conseguir um leito para o garoto.
Dívida com traficante inclui dinheiro e drogas
O adolescente chegou a ser levado, na última sexta-feira, ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, onde foi averiguado que ele precisa ser internado.
– Ele já foi internado no ano passado e devolvido à família, mas a mãe sempre se demonstrou completamente omissa e largou ele à própria sorte – lamenta o promotor.
Em uma família estruturada, o garoto aguardaria um leito em casa, mas, como morador de rua, não tem para onde voltar. E a dívida é grande. Segundo ele, a mochila que ele carregava com R$ 2 mil, sete quilos de maconha e 17 quilos de cocaína foi levada por homens que se identificaram como policiais sem farda. Ele mesmo admite, porém, que pode ter perdido a droga para traficantes concorrentes. O adolescente conta que seu envolvimento com o tráfico começou quando tinha 11 anos (leia a entrevista ao lado).
– Esse menino está em situação de risco e agora todos nós estamos correndo risco também. Mas se a gente não der abrigo, o guri pode ser morto em qualquer esquina – alerta a conselheira tutelar Salete Trajano.
Um registro do caso foi feito na Brigada Militar, mas a Polícia Civil deverá ser informada também ainda hoje.
Eles vão invadir aqui e me matar”. Entrevista: Adolescente ameaçado
De bermuda e chinelo, o garoto de 17 anos (foto acima) enfrenta o frio com um cobertor improvisado em um quarto do Conselho Tutelar. Veja entrevista ao jornal Diário Gaúcho:
Diário Gaúcho – Por que esse pedido de socorro ao Conselho Tutelar?
Adolescente – Eu estava usando muita droga na rua. Quero me internar, fazer um tratamento e largar essa vida do mal. Cansei. Quero fazer uma tratamento e ser outra pessoa.
Diário – Quando você entrou nessa vida?
Adolescente – Desde os 11 anos comecei a traficar e até tiro levei. Isso não é vida. Não cheguei a ponto de matar, mas traficava, roubava, isso tudo eu já fiz.
Diário – O que aconteceu agora?
Adolescente – Perdi parte da mercadoria e agora tenho de pagar por ela. Foi muita droga, tinha sete quilos de maconha e 17 de cocaína. Fora as armas que caíram.
Diário – O que pode acontecer se você não conseguir a internação logo?
Adolescente – Eles vão invadir isso aqui e me matar, eu conheço eles.
Gangue na Capital
Uma das gangues que disputam o controle das bocas de fumo no bairro Restinga Velha, na Capital, foi desarticulada ontem, com as prisões de três homens – um de 18, um de 27 e outro de 28 anos. De acordo com a polícia, eles formariam a Gangue da Evangelista, atuante na rua de mesmo nome e que só no mês passado seria responsável por duas tentativas de homicídio e uma morte.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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