COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

TEIA ASSASSINA DO CRACK

BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL, 11 de Agosto de 2011.

Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.

Estou acompanhando de perto a luta de uma avó para resgatar sua única neta da teia assassina do crack.

Viúva, Lúcia, 65 anos, professora aposentada, perdeu sua única filha há dois anos vítima de leucemia. Mãe solteira, sua filha lhe deixou como consolo a pequena Léia (nomes fictícios), hoje com 15 anos. Nas primeiras horas da madrugada do dia 1 de janeiro deste ano, Lúcia encontrou sua neta desfalecida no quarto após ter ingerido uísque e fumado vários baseados na companhia de três amigos. Com afeto e muita compreensão, Lúcia encaminhou a menina para um psicólogo em busca de respostas para a evidente insatisfação emocional da pequena órfã. Tudo ia bem até o aniversário da menina, em março, quando, mais uma vez em grupo, pela ausência de maconha, ela aceitou experimentar a pedra.

"Não dá nada, pensei", relatou a menina numa das tantas conversas que temos mantido. "Mentira!, tia, eu tô ferrada", me disse ontem chorando. Chorei junto.

Léia já emagreceu mais de 10 quilos, vive como um zumbi, e para manter o vício já praticou atos que certamente jamais ousaria se não tivesse experimentado pela primeira vez em 2010 a inofensiva maconha.

Na noite de domingo para segunda a avó, hoje com um aspecto cansado e envelhecido acordou os amigos na madrugada para implorar ajuda, pois precisava resgatar a menina numa boca de fumo na Zona Leste da Capital. Foram horas de extrema tensão e revolta para todos nós. De comum acordo, todos resolveram manter a polícia longe da tragédia.

Hoje, a pequena está internada numa clínica para desintoxicação, pois na última viagem permaneceu dois dias e duas noites consumindo a pedra na companhia de marginais, e filhos perdidos de nossa sociedade perplexa e sem alternativas.

Absolutamente arrasada com a situação, li que o ex-governador de São Paulo e secretário municipal de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (sem partido), afirmou ao Terra, ne terça-feira, que é contra a liberalização da maconha e não vê novidade no apoio do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à liberalização da droga no País. Lembo fez uma revelação absolutamente perturbadora:

"Ele [FHC] se disse maconheiro quando da eleição do Jânio Quadros, portanto não há novidade nenhuma. Ele apenas está registrando no presente o que falou no passado. Eu sou contra a liberação da maconha. Eu sou contra porque acredito que seja perigoso. Perigoso porque é uma droga fraca, mas que pode levar a drogas mais pesadas. Vamos pensar com calma e não fazer bravatinhas de fim de vida, porque não é bom. Quem tá no fim da vida tem de dar bom exemplo e acima de tudo ser sensato no que diz", afirma.

Não sou ingênua, sei que devemos esgotar as possibilidades civilizadas de enfrentamento a essa epidemia global das drogas, porém a ser verdade a afirmação de Lembo, um homem que, em princípio, merece credibilidade a posição do ex-presidente, surge como absolutamente nefasta sob toda e qualquer circunstância.

O mundo na década de 1960 era outro, a própria maconha mantinha certo ar de ingenuidade e liberdade poética, e talvez o ex-presidente tenha alcançado deixar no passado a experiência com a droga que hoje ele defende e considera leve. Afinal, deve imaginar que se ele usou e parou quando bem desejou, a mesma vitória deve ser natural para todos os jovens que em algum momento passarem pela sua mesma experiência. A vida de Léia, salvo um milagre e com a ajuda que deverá ser permanente, já foi interrompida, e não tem garantido um futuro brilhante e feliz. Resolvi expor com alguns detalhes a triste história de minha amiga, para deixar registrado o lamento desesperado e silencioso de milhares de pais, mães, avós, filhos e amigos de personagens que ontem esbanjavam alegria de viver e que hoje são meros rascunhos de si mesmos. São fantasmas, que assombram nossas ruas e lares desfeitos.

Sinto imensa pena de todos nós, e lamento profundamente que uma liderança política do peso de FHC se preste para um papel absolutamente deprimente e potencialmente deletério. É isso!

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