Operação em bairro de Canoas teve maioria de mulheres presas sob suspeita de herdarem a vida criminosa de parceiros presos - HUMBERTO TREZZI, ZERO HORA 21/08/2011
Em vez de voz grossa e barba na cara, apliques de mega hair, luzes no cabelo, blusas de marca e batom. Com os bandidos trancafiados em presídios, o crime, no bairro Mathias Velho, um dos mais populosos de Canoas, teria passado a gerentes do sexo feminino.
Éo que assegura a Polícia Civil, que desencadeou, na quarta-feira passada, a Operação Paranoia a fim de impedir o crescimento do bando comandado de dentro da cadeia pelo traficante Fábio Rosa Carvalho, o Fábio Noia, e, assim, estancar uma onda de homicídios na região.
Os policiais prenderam oito mulheres e apreenderam uma adolescente – mais da metade dos 17 alvos da ação. Embora a proporção espante, a causa das prisões em Canoas não é novidade: 79,2% das 1.975 presidiárias do Estado estão presas por ligação com o tráfico, frequentemente influenciadas por namorados e companheiros.
Os principais alvos na quarta-feira eram mãe e filha: Cleusa, 36 anos, e sua primogênita, Angélica, 22 anos. As duas chamavam a atenção pelo padrão de vida, ao que a investigação indica, bancada pela ilegalidade. Elas ostentavam consumo e bens acima do padrão de muitos moradores – com elas, por exemplo, foram apreendidos um Civic, um Siena e um Fiesta.
Mulheres teriam controle de 60 bocas de fumo
Conforme os policiais, Cleusa e Angélica não tocavam em armas, mas contavam, para o trabalho sujo, com a segurança armada de dois homens, suspeitos de serem torturadores e carrascos de criminosos rivais.
– Com a prisão dos seus companheiros, Angélica e Cleusa estavam há meses controlando mais de 60 bocas de fumo do Mathias Velho – resume o delegado Eric Seixas, da 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas.
Desde maio, Cleusa e Angélica teriam passado para a linha de frente, quando foram presos Carlos Ezequiel Xavier, o Quel, 37 anos, companheiro de Cleusa, e Fábio Noia, namorado de Angélica, que responde por homicídio. Quel, preso como suspeito de assalto a um condomínio, seria um financiador do bando. Com dinheiro de roubos ele compraria carregamentos de drogas administradas por Fábio Noia. Por trás disso tudo, haveria um consórcio recente com os Bala na Cara, uma das maiores quadrilhas de Porto Alegre.
Como era a hierarquia no crime
Mãe e filha teriam passado a gerenciar o comércio de crack e cocaína. Mas tão logo ascenderam, trocaram a perigosa vizinhança de rivais no Mathias Velho por imóveis e carros confortáveis em Nova Santa Rita. Interceptações telefônicas mostram Fábio Noia, desde o Presídio Central, repassando indicações para a namorada sobre entregas de drogas e armas a serem feitas na Grande Porto Alegre.
Outras duas presas, Ariana e Lidiane, apontadas pela Polícia Civil como “gerentes de boca”, seriam as repassadoras de crack para os varejistas da droga (vapozeiros).
A versão dos policiais sobre as quatro mulheres, amparada em depoimentos, gravações e apreensões, levou a Justiça a decretar a prisão preventiva delas. As demais presas na Operação Paranoia foram flagradas com armas ou drogas em casa. Duas não eram ligadas à quadrilha, mas a bandos rivais. Uma delas, flagrada com uma pistola calibre 38, seria a viúva de Mano Louco, o traficante executado para dar lugar ao namorado de Angélica.
Sinal de que a rivalidade violenta, e sempre à espreita, tampouco é exclusividade masculina.
As principais suspeitas
- Cleusa, 36 anos – A ligação de Cleusa com o crime viria desde o primeiro relacionamento, com um traficante já morto (o segundo teria sido com um representante comercial, com o qual teve uma filha). O terceiro relacionamento seria com o assaltante Carlos Ezequiel Xavier , o Quel, que seria o principal financiador do tráfico no Mathias Velho. Com a prisão dele, ela teria passado a controlar os negócios da família. Basicamente, a distribuição de drogas no bairro.
- Angélica, 22 anos – Filha de Cleusa. Como a mãe, Angélica teria sido companheira de um traficante assassinado – Jaré Lima da Rosa, o Jareco. O peculiar é que ela teria passado a namorar justamente o principal suspeito de ordenar a morte do seu ex: Fábio Noia, atual chefe do tráfico no bairro mesmo enclausurado. Com base em escutas, os policiais asseguram que ela usava os veículos para transportar drogas.
- Lidiane, 25 anos – É apontada pela polícia como gerente de boca. Namoraria Fabiano Bastos Rodrigues, o Cabeludo, traficante preso. Suas ações chamaram a atenção pela estrutura: de uma TV de plasma no quarto, ela acompanhava a movimentação da boca por circuito fechado.
- Ariana, 24 anos – É namorada de Róbson Magaiver Fernandes, 21 anos, gerente de uma boca de fumo no Mathias Velho. Conforme a polícia, Ariana repassaria a varejistas a droga fornecida por Angélica e Cleusa.
COMPROMETIMENTO DOS PODERES
As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.
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